As fáscias envolvem, acondicionam e isolam as estruturas profundas do corpo. Em quase todos os locais, sob a tela subcutânea está a fáscia dos músculos (Figura I.9). A fáscia profunda é um tecido conjuntivo denso, organizado, desprovido de gordura, que cobre a maior parte do corpo paralelamente (profundamente) à pele e à tela subcutânea. Extensões de sua face interna revestem estruturas profundas, como músculos individuais e feixes neurovasculares, como fáscia de revestimento. A espessura da fáscia muscular varia muito. Por exemplo, na face não há camadas distintas de fáscia profundaNos membros, grupos de músculos com funções semelhantes e que têm a mesma inervação estão localizados em compartimentos fasciais, separados por lâminas espessas de fáscia, denominadas septos intermusculares, que se estendem centralmente a partir da bainha fascial adjacente e se fixam aos ossos. Esses compartimentos podem refrear ou direcionar a disseminação de uma infecção ou tumor.Em alguns locais, a fáscia serve como local de fixação (origem) dos músculos subjacentes (embora geralmente não seja mencionada em listas ou quadros de origens e inserções); mas na maioria das áreas, os músculos são livres, contraindo-se e deslizando sob a fáscia. No entanto, a fáscia propriamente dita nunca passa livremente sobre o osso; no lugar onde toca o osso, ela se funde firmemente ao periósteo (revestimento ósseo). A fáscia relativamente firme que reveste os músculos, e sobretudo aquela que circunda os compartimentos fasciais nos membros, limita a expansão externa dos ventres dos músculos esqueléticos que se contraem. Assim, o sangue é expulso quando as veias dos músculos e o compartimentos são comprimidos. As válvulas existentes nas veias permitem o fluxo sanguíneo unidirecional (em direção ao coração) e impedem o refluxo que poderia ocorrer com o relaxamento muscular. Assim, a fáscia profunda, os músculos que se contraem e as válvulas venosas atuam em conjunto como uma bomba musculovenosa para reconduzir o sangue ao coração, sobretudo nos membros inferiores, onde o sangue precisa fluir contra a força da gravidade.
Figura I.8 Os
retináculos da pele
e a tela subcutânea. A. A espessura da tela subcutânea pode ser estimada em aproximadamente metade da espessura de uma prega cutânea pinçada (i. e., a prega cutânea tem o dobro da espessura da tela subcutânea). O dorso da mão tem relativamente pouca pele subcutânea. B. Os retináculos da pele longos e relativamente esparsos permitem a mobilidade da pele demonstrada em A. C. A pele da palma da mão (como a da planta dos pés) está firmemente fixada à fáscia profunda subjacente.
Figura I.9 Corte escavado da perna mostrando a fáscia profunda e as formações fasciais.
Perto de algumas articulações (p.
ex., punho e tornozelo),
a fáscia muscular sofre espessamento acentuado e forma um retináculo
para manter no lugar os tendões na região em que cruzam a articulação durante
a flexão e a extensão, impedindo que formem um “atalho”, ou um arco, através do ângulo criado (Figura I.19).
A fáscia subserosa, com quantidades variáveis de tecido adiposo,
situa-se
entre as faces internas
das paredes musculoesqueléticas e as membranas serosas que revestem as cavidades do corpo.
São as fáscias endotorácica,
endoabdominal (fáscia
parietal do abdome) e endopélvica
(fáscia parietal
da
pelve); as duas
últimas
podem
ser coletivamente
denominadas fáscias extraperitoneais.
As bolsas são
sacos ou envoltórios fechados de membrana serosa (uma delicada
membrana de tecido conjuntivo
que secreta líquido para
lubrificar uma face interna
lisa). As bolsas normalmente encontram-se colapsadas. Ao contrário
dos espaços
tridimensionais ou reais, esses espaços potenciais não têm profundidade; suas paredes
são apostas, tendo
entre elas apenas uma fina
película
de líquido lubrificante,
que
é secretado pelas membranas em seu interior. Quando a parede é interrompida
em
qualquer ponto, ou quando um líquido é secretado
ou formado em excesso
no seu interior,
tornam-se espaços reais; entretanto, essa situação
é anormal ou patológica.
Geralmente encontradas em locais sujeitos a atrito, as bolsas permitem o movimento mais livre de uma estrutura sobre outra. As bolsas subcutâneas são encontradas na tela subcutânea entre a pele e as proeminências ósseas, como o cotovelo ou o joelho; as bolsas subfasciais situam-se sob a fáscia profunda;
e as bolsas subtendíneas facilitam o movimento dos tendões sobre o osso. As bainhas sinoviais dos tendões
são um tipo especializado
de bolsas alongadas que envolvem os tendões,
geralmente quando atravessam túneis osteofibrosos que fixam os tendões
no lugar (Figura I.10A).
Às vezes há
comunicação entre
as bolsas
e as
cavidades sinoviais das articulações. Como são formadas apenas por delicadas membranas
serosas transparentes e encontram-se colapsadas,
as bolsas não são facilmente
notadas ou dissecadas
em laboratório. Podem ser exibidas por meio da injeção de líquido colorido, que causa sua distensão.
Essas bolsas colapsadas
circundam muitos órgãos (p. ex., coração,
pulmões e vísceras abdominais) e estruturas (p. ex., partes dos tendões) importantes.
Essa configuração pode ser comparada
à mão fechada envolta por um balão grande, mas vazio
(Figura I.10B). O objeto é
circundado pelas duas camadas do balão vazio,
mas
não
está
dentro
do
balão, que permanece vazio. Para que a comparação
seja ainda mais exata, primeiro deve-se
encher o balão com água e depois esvaziá-
lo, deixando molhado o interior do balão vazio. Exatamente
dessa forma, o coração é circundado
pelo saco pericárdico, mas não está dentro dele. Cada pulmão é
circundado por um saco pleural,
mas não está dentro dele; e as vísceras abdominais são circundadas pelo peritônio, mas não estão dentro
dele. Nesses casos, a camada
interna
do balão ou saco seroso (aquela
adjacente à mão, ao órgão ou à víscera)
é denominada camada visceral; a camada externa do balão (ou aquela que fica em contato com a parede
do corpo) é denominada camada parietal. Essa dupla camada
de membranas de revestimento, com suas superfícies
apostas úmidas,
proporciona liberdade
de movimento
à estrutura circundada quando
está contida
em um espaço fechado, como o coração
em seu saco fibroso (pericárdio) ou
os tendões dos músculos flexores nos túneis fibrosos que
mantêm os tendões
perto dos ossos dos dedos.
Figura I.10 Bainha sinovial do tendão e bolsas. A. As bainhas sinoviais do tendão são bolsas longitudinais que circundam os tendões em sua passagem profundamente aos retináculos ou
através das bainhas fibrosas dos dedos. B. As bolsas encerram
várias estruturas, como o coração, os pulmões, as vísceras abdominais e os tendões, o que pode ser comparado ao modo como esse balão esvaziado envolve o punho. Uma fina película de líquido lubrificante entre as camadas parietal
e visceral
confere
mobilidade à estrutura circundada pela bolsa em um compartimento fechado. As pregas transitórias de membrana sinovial entre as camadas parietal e visceral que circundam os pedículos de união (o punho neste exemplo) e/ou
estruturas neurovasculares que servem à massa circundada são denominadas mesentérios. No caso da bainha sinovial do tendão, o mesentério é denominado mesotendão.
PLANOS FACIAIS E CIRURGIA
PLANOS FACIAIS E CIRURGIA
Nas pessoas vivas, os planos fasciais (interfasciais e
intrafasciais) são espaços potenciais existentes entre fáscias adjacentes ou estruturas revestidas por fáscia, ou no interior de fáscias areolares livres, como as fáscias subserosas. Os cirurgiões tiram vantagem desses planos interfasciais, separando estruturas para criar espaços que permitam o
movimento e o acesso a estruturas profundas. Em alguns procedimentos, os cirurgiões usam planos fasciais extrapleurais ou extraperitoneais, que permitem o procedimento fora das membranas que revestem as cavidades do corpo, minimizando o risco de contaminação, a
disseminação de
infecções e a consequente formação de aderências nas cavidades. Infelizmente,
muitas vezes esses planos estão fundidos e a distinção ou observação em cadáveres fixados é difícil.
Pontos-chave-FÁSCIAS E BOLSAS
A fáscia muscular é uma camada de tecido conjuntivo organizado que reveste completamente o corpo sob a tela subcutânea abaixo da pele. A s extensões e modificações da fáscia muscular: ♦ dividem os músculos em grupos (septos intermusculares),♦ revestem
músculos
individualmente e feixes neurovasculares (fáscia de revestimento),
♦ situam-se entre as paredes musculoesqueléticas e as membranas serosas que revestem as cavidades do corpo (fáscia subserosa) e ♦ mantêm os tendões no lugar durante os movimentos articulares (retináculos). A s bolsas são sacos fechados de membrana serosa, situados em locais sujeitos a atrito; elas permitem o livre movimento de uma estrutura sobre a outra.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MOORE, K.L. - ANATOMIA ORIENTADA PARA A CLÍNICA, 6ªED, GUANABARA KOOGAN, 2011.



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