Fonte: Livro Imunologia Celular e Molecular - 8ª Ed.
Autores: Abul Lichtman, Andrew Abbas
DIFERENCIAÇÃO DAS CÉLULAS T CD8+ EM LINFÓCITOS T CITOTÓXICOS
Natureza dos Antígenos e das Células Apresentadoras de Antígeno para Ativação
dos Linfócitos T CD8+
Papel das Células T Auxiliares
Papel das Citocinas
Inibição das Respostas por Células T CD8+: O Conceito de Exaustão das Células T
FUNÇÕES EFETORAS DOS LINFÓCITOS T CD8+ CITOTÓXICOS
Mecanismos de Citotoxicidade Mediada por CTLs
Produção de Citocinas pelas Células T CD8+ EfetorasFUNÇÕES DOS CTLs CD8+ NA DEFESA DO HOSPEDEIRO
RESUMO
Os vírus evoluíram para utilizar várias moléculas da superfície celular para obter
entrada nas células do hospedeiro e para usar a maquinaria genética e de síntese proteica
das células do hospedeiro para se replicar e disseminar de uma célula para outra. Os
vírus podem infectar e sobreviver em uma ampla variedade de células. Os vírus não
podem ser destruídos se as células infectadas não possuírem mecanismos microbicidas
intrínsecos, ou se os vírus estiverem no citosol onde são inacessíveis a estes mecanismos
de morte. Nessas situações, a única maneira de erradicar a infecção estabelecida é
matando a célula infectada, liberando o vírus para o meio extracelular e paralisando sua
capacidade de sobreviver e se replicar. Esta função de promoção de morte de células com
vírus em seu citosol é mediada por linfócitos T citotóxicos CD8
+
(CTLs), as células
efetoras da linhagem T CD8
+
(Fig. 10-1, B). As citocinas produzidas por células efetoras T
CD8
+
também contribuem para a eliminação de uma variedade de microrganismos
intracelulares. Além do seu papel na defesa contra micróbios, a segunda função
importante dos CTLs CD8
+ é a erradicação de diversos tumores. Essas células também
desempenham papéis fundamentais na rejeição aguda de enxertos de órgãos.
No Capítulo 6, discutimos a natureza dos peptídios do complexo de MHC que são
reconhecidos por células T CD8
+
. Abordamos os primeiros passos de ativação de células
T no Capítulo 9. Mencionamos algumas das características da ativação de células CD8
+
,
incluindo sua notável expansão clonal após a ativação por antígenos e outros sinais. A
diferenciação das células CD8
+
imaturas, que não possuem capacidade de matar, em
CTLs funcionais, apresenta várias características especiais que devem ser consideradas
separadamente. Neste capítulo, descreveremos o quão funcionalmente eficaz os CTLs
são produzidos e como eles matam outras células e, em seguida, discutiremos os papéis
dos CTLs na defesa do hospedeiro.
Diferenciação das células T CD8 + em linfócitos T citotóxicos
A ativação de células T CD8
+
imaturas requer o reconhecimento do antígeno e sinais
secundários e prossegue em passos muito semelhantes aos de outras respostas de células
T (Fig. 11-1). No entanto, a ativação de células T CD8
+
imaturas é dependente de uma via
específica de apresentação de antígeno em um subconjunto especializado de células
dendríticas e pode também exigir auxílio das células T CD4
+ .
FIGURA 11-1 Fases indutora e efetora das respostas das células T CD8 + .
Indução da resposta: as células T CD8 + reconhecem os peptídios derivados de antígenos proteicos
que são apresentados por células dendríticas em órgãos linfoides periféricos. Os linfócitos T são
estimulados a proliferar e diferenciar-se em CTLs (e células de memória), que entram na circulação.
Migração de células T efetoras e outros leucócitos para o local do antígeno: as células T efetoras
migram para locais teciduais infectados, de crescimento tumoral ou de rejeição de enxerto. Funções
efetoras de células T: CTLs CD8
+
reconhecem o antígeno nos tecidos e respondem matando as
células nas quais o antígeno é produzido.
A diferenciação das células T CD8
+ em CTLs efetores envolve a aquisição da maquinaria
para matar as células-alvo. A célula infectada ou tumoral que é morta por CTLs é
geralmente chamada de célula-alvo. Células CD8
+
imaturas reconhecem antígenos, mas
precisam se proliferar e diferenciar para gerar um conjunto suficientemente grande de
CTLs para destruir a origem do antígeno. Dentro do citoplasma de CTLs diferenciados,
existem numerosos lisossomos modificados (denominados grânulos) que contêm
proteínas, incluindo perforinas e granzimas, cuja função é matar outras células (descrito
mais adiante). Além disso, os CTLs diferenciados são capazes de secretar citocinas,
principalmente IFN-γ, que têm a função de ativar os fagócitos.
Os eventos moleculares na diferenciação dos CTLs envolvem a transcrição dos genes
que codificam estas moléculas efetoras. Dois fatores de transcrição necessários para a
expressão desses genes são T-bet (que discutimos em relação à diferenciação para Th1 no
Cap. 10) e a eomesodermina, que é estruturalmente relacionada com T-bet. T-bet e
eomesodermina contribuem para o elevado nível de expressão de perforina, granzimas e
algumas citocinas, especialmente IFN-γ.
Natureza dos Antígenos e das Células Apresentadoras de Antígeno para Ativação dos Linfócitos T CD8 +
A ativação de células T CD8
+
imaturas, como a de todas as células T imaturas, é mais bem
iniciada pelos antígenos apresentados por células dendríticas. Este requisito levanta o
problema de que os antígenos reconhecidos pelas células T CD8
+ podem ser vírus que
infectam os diferentes tipos celulares, incluindo outras células além das células
dendríticas, ou eles podem ser antígenos de tumores que também são derivados a partir
de uma variedade de tipos celulares. A via do MHC de classe I de apresentação de
antígenos a células T CD8
+ requer que os antígenos proteicos estejam presentes no
citosol de células infectadas de modo que estas proteínas possam ser degradadas em
proteossomas, para, em seguida, entrar no retículo endoplasmático por meio do
transportador TAP. Proteínas de um vírus que infecta um tipo específico de célula, tais
como células do fígado, podem acessar o citosol e proteossomas nestas células, mas são
incapazes de fazê-lo na maioria das células apresentadoras de antígenos (APCs), uma vez
que estas APCs não são infectadas pelo vírus e não sintetizam endogenamente o
antígeno viral. Como discutimos no Capítulo 6, o sistema imunológico lida com este
problema pelo processo de apresentação cruzada. Neste processo, as células dendríticas
especializadas ingerem as células infectadas, células tumorais ou proteínas expressas por
estas células, transferem os antígenos proteicos para o citosol e processam os antígenos
para entrada na via de apresentação de antígenos por MHC de classe I para o
reconhecimento por células T CD8
+
(Fig. 6-20). Apenas alguns subconjuntos de células
dendríticas são eficientes na apresentação cruzada e, consequentemente, estes
subconjuntos de células dendríticas são cruciais para a ativação de células T CD8
+
imaturas. Resultados obtidos a partir de experimentos em camundongos sugerem que as
APCs de apresentação cruzada mais eficientes são as células dendríticas de tecidos
linfoides que expressam CD8 ou o subconjunto do tecido periférico que expressa a
integrina CD103 (Cap. 6). As células dendríticas especializadas em apresentação cruzada
correspondentes nos tecidos humanos expressam altos níveis de CD141, também
conhecida como BDCA-3. Além disso, as células dendríticas plasmocitoides podem
também realizar apresentação cruzada de proteínas derivadas de vírus presentes no
sangue para as células T CD8
+
imaturas no baço.
Além da apresentação de antígenos na forma de complexos peptídio-MHC, as células
dendríticas provavelmente também proporcionam coestimulação via B7 ou outras
moléculas (Cap. 9).
Papel das Células T Auxiliares
A ativação completa de células T CD8
+
imaturas e sua diferenciação em CTLs funcionais e
células de memória podem requerer a participação de células CD4
+ auxiliares. Em outras
palavras, as células T auxiliares podem proporcionar sinais secundários para as células T
CD8
+
. As células T auxiliares são ativadas pelos antígenos apresentados em moléculas
MHC de classe II e por coestimuladores B7 expressos em células dendríticas.
A necessidade de células auxiliares pode variar de acordo com o tipo de exposição
antigênica. No cenário de uma intensa resposta imune inata frente a um micróbio, ou se
as APCs tiverem sido diretamente infectadas pelo micróbio, as células T CD4
+ auxiliares
podem não ser essenciais. As células T CD4
+ auxiliares podem ser necessárias para
respostas de células T CD8
+
frente a infecções virais latentes, transplantes de órgãos e
tumores, os quais tendem a provocar reações relativamente fracas da imunidade inata. A
importância variável das células T CD4
+ para o desenvolvimento de respostas por CTLs é
ilustrada por estudos com camundongos onde células T auxiliares são depletadas. Nesses
camundongos, algumas infecções virais não conseguem gerar CTLs eficazes ou células T
CD8
+ de memória, não sendo erradicadas, ao passo que outros vírus estimulam respostas
eficazes por CTL. A falta da função das células T CD4
+ auxiliares é a explicação aceita para
os defeitos de geração de CTLs observados em indivíduos infectados pelo HIV, que
infecta e elimina apenas as células T CD4
+
. Existem também evidências de que as células
T auxiliadoras CD4
+ são mais importantes para a geração de células T CD8
+ de memória
do que para a diferenciação de células T CD8
+
imaturas em CTLs efetores.
As células T auxiliares podem promover a ativação das células T CD8
+ por meio de
diversos mecanismos (Fig. 11-2).
FIGURA 11-2 Papel das células T auxiliares na diferenciação de linfócitos T CD8
+
.
As células T CD4
+ auxiliares promovem o desenvolvimento de CTLs CD8
+ e células de memória
por meio da secreção de citocinas, que atuam diretamente sobre a célula CD8
+
(A), ou por ativação
de APCs para se tornarem mais eficazes na estimulação da diferenciação das células T CD8
+
(B).
• As células T auxiliares podem secretar citocinas que estimulam a diferenciação das
células T CD8
+
. A natureza destas citocinas será discutida na seção seguinte.
• Células T auxiliares ativadas expressam o ligante CD40 (CD40L), o qual pode ligar-se a
CD40 nas células dendríticas carregadas com antígenos. Esta interação ativa as APCs
para torná-las mais eficientes para estimular a diferenciação de células T CD8
+
, em
parte, induzindo a expressão dos coestimuladores. Este processo tem sido denominado
licenciamento das APCs.
Papel das Citocinas
Várias citocinas contribuem para a diferenciação das células T CD8
+ e para a manutenção
de células efetoras e de memória dessa linhagem.
• IL-2 promove a proliferação e diferenciação de células T CD8
+ em CTLs e células de
memória. As células T CD8
+ expressam as cadeias β e γ do receptor de IL-2 e podem
expressar níveis elevados da cadeia α após a ativação (Cap. 9).
• IL-12 e IFN de tipo I têm demonstrado estimular a diferenciação de células T CD8
+
imaturas em CTLs efetores. Estas citocinas podem ser produzidas por diferentes
populações de células dendríticas durante a resposta imune inata frente a infecções
virais e algumas infecções bacterianas. Recorde-se que as mesmas citocinas estão
envolvidas na diferenciação de células T CD4
+ em células TH1. Esta semelhança pode
refletir o fato de que o desenvolvimento de ambas as populações de células, TH1 e
CTLs, depende de fatores de transcrição semelhantes, tais como T-bet (para ambos) e a
eomesodermina relacionada (para CTLs).
• IL-15 é importante para a sobrevivência das células CD8
+ de memória. IL-15 pode ser
produzida por muitos tipos de células, incluindo as células dendríticas. Camundongos
sem IL-15 mostram uma perda significativa de células T CD8
+ de memória.
• IL-21 produzida por células T CD4
+ ativadas desempenha uma função na indução das
células T CD8
+ de memória e na prevenção da exaustão das células T CD8
+
(discutida
na seção seguinte).
Inibição das Respostas por Células T CD8 + : O Conceito de Exaustão das Células T
Em algumas infecções virais crônicas, as respostas das células T CD8 + podem ser
iniciadas, mas gradualmente extintas, um fenômeno que é chamado de exaustão (Fig. 11-3).
O termo exaustão tem sido utilizado para atribuir que a resposta efetora se desenvolve,
mas está ativamente suprimida (ao contrário de tolerância, quando os linfócitos
normalmente não se desenvolvem em células efetoras). Este fenômeno de exaustão foi
descrito pela primeira vez em uma infecção viral crônica em camundongos, que resultou
na persistência prolongada do vírus. As células T CD8
+ exaustas mostram numerosas
alterações funcionais e fenotípicas, incluindo diminuição da produção de IFN-γ e
aumento da expressão de múltiplos receptores inibitórios, notadamente PD-1 (Cap. 9).
Um mecanismo documentado de extinção da resposta são sinais inibitórios de PD-1, que
bloqueiam a ativação de CTLs. O mesmo fenômeno de exaustão de células T mediado por
PD-1 pode contribuir para a cronicidade de algumas infecções virais em seres humanos,
tais como o HIV e o vírus da hepatite C (HCV), e a capacidade de alguns tumores de
evadir a resposta imunitária (Cap. 18). Os anticorpos que bloqueiam PD-1 são eficazes na
imunoterapia de tumores e estão sendo testados em infecções virais crônicas. A exaustão
pode ter evoluído como uma forma de atenuar as consequências de dano tecidual em
infecções virais crônicas.
FIGURA 11-3 Exaustão de células T.
Em infecções agudas, as células T CD8
+ diferenciam-se em CTLs que eliminam as células
infectadas. Em situações de exposição persistente ou crônica a antígenos, a resposta das células T
CD8
+ é suprimida pela expressão e acoplamento de PD-1 e outros receptores inibitórios.
Funções efetoras dos linfócitos T CD8 + citotóxicos
Os CTLs CD8
+ eliminam micróbios intracelulares principalmente matando as células
infectadas (Fig. 10-1, B). Além da morte celular direta, as células T CD8
+ secretam IFN-γ
e, assim, contribuem para a ativação clássica dos macrófagos na defesa do hospedeiro e
em reações de hipersensibilidade. Aqui, abordaremos os mecanismos pelos quais CTLs
diferenciados matam as células portadoras de micróbios.
Fonte: Livro Imunologia Celular e Molecular - 8ª Ed.
Autores: Abul Lichtman, Andrew Abbas
Mecanismos de Citotoxicidade Mediada por CTLs
A morte mediada por CTLs envolve o reconhecimento específico de células-alvo e a
liberação de proteínas que induzem a morte celular. Os CTLs matam os alvos que
expressam o antígeno associado à MHC I de mesma classe que desencadeou a
proliferação e diferenciação de células T CD8
+
imaturas a partir da qual eles são
derivados, e não matam as células adjacentes não infectadas que não expressam este
antígeno. Na verdade, até mesmo os CTLs não sofrem danos durante a morte de alvos
que expressam o antígeno. Esta especificidade da função efetora dos CTLs garante que as
células normais não sofram danos por CTLs que reagem contra as células infectadas. Esta
morte é altamente específica porque uma justaposição estreita, conhecida como sinapse
(Cap. 7), é formada no local de contato do CTL e do alvo que expressa o antígeno, e as
moléculas que realmente executam a morte são secretadas na sinapse e não podem se
difundir para outras células vizinhas.
O processo de morte dos alvos mediada por CTLs consiste em reconhecimento do
antígeno, ativação dos CTLs, execução do golpe letal que mata as células-alvo e liberação
do CTLs (Fig. 11-4). Cada uma dessas etapas é controlada por interações moleculares
específicas.
FIGURA 11-4 Passos na lise das células-alvo mediada por CTLs.
Um CTL reconhece a célula-alvo que expressa o antígeno, sendo posteriormente ativado. Aativação
resulta na liberação de conteúdo granular do CTL na célula-alvo por meio da área de contato
(sinapse imunológica). O conteúdo dos grânulos é letal para a célula-alvo. O CTL pode desacoplar e
matar outras células-alvo. Aformação de conjugados entre um CTL e o seu alvo e a ativação do CTL
também requerem interações entre moléculas acessórias (LFA-1, CD8) expressas no CTL e seus
ligantes específicos (ICAM-1 e MHC de classe I, respectivamente) expressos na célula-alvo (não
demonstrado).
Reconhecimento de Antígenos e Ativação de CTLs
Os CTLs ligam-se e reagem com a célula-alvo por meio da utilização do seu receptor
antigênico, o correceptor (CD8), e moléculas de adesão. Para serem eficientemente
reconhecidas pelos CTLs, as células-alvo devem expressar moléculas MHC de classe I
complexadas a um peptídio (o complexo serve como um ligante para o receptor de
células T [TCR] e também se liga ao correceptor de CD8) e a molécula de adesão
intercelular 1 (ICAM 1, o principal ligante da integrina LFA-1). Os CTLs e suas células-
alvo formam conjugados firmes (Fig. 11-5). Este sinapse imune (Cap. 7) formada entre as
duas células é caracterizada por um anel que compõe uma justaposição estreita entre os
CTLs e as membranas celulares alvo, mediada por LFA-1 ligando-se a ICAM-1, e uma
lacuna ou espaço fechado no interior do anel. Regiões distintas da membrana de CTL
podem ser observadas dentro do anel por meio de microscopia de imunofluorescência,
incluindo um domínio proteico conservado, que inclui TCR, proteína quinase C-θ, Lck e
um domínio secretor, que aparece como uma lacuna em um lado do domínio proteico.
Esta interação resulta na iniciação de sinais bioquímicos que ativam os CTLs, os quais são
essencialmente os mesmos sinais envolvidos na ativação de células T auxiliares. Citocinas
e coestimuladores fornecidos pelas células dendríticas, que são necessários para a
diferenciação de células T CD8
+
imaturas em CTLs, não são requeridos para desencadear
a função efetora dos CTLs (ou seja, promover a morte celular). Portanto, uma vez que as
células T CD8
+ específicas para um antígeno foram diferenciadas em CTLs totalmente
funcionais, eles podem matar qualquer célula nucleada que exiba este antígeno.
FIGURA 11-5 Formação de conjugados entre os CTLs e as células-alvo.
A, Micrografia eletrônica de três CTLs, derivados de uma linhagem celular específica para a
molécula MHC humana HLA-A2, ligando-se a uma célula-alvo (CA) expressando HLA-A2 1 minuto
após a mistura dos alvos e CTLs. Note que no CTL do canto superior esquerdo, os grânulos foram
redistribuídos na direção da célula-alvo. B, Micrografia eletrônica do ponto de contato entre a
membrana do CTL (à esquerda) e da célula-alvo (à direita). Dois grânulos de CTL estão perto da
sinapse. Várias mitocôndrias também são visíveis. C, Micrografia de fluorescência confocal de uma
sinapse imune entre um CTL (esquerda) e uma célula-alvo (direita) marcados com anticorpos
contra as catepsinas presentes em um grânulo secretor (azul), LFA-1 (verde) e a proteína talina do
citoesqueleto (vermelho). Aimagem mostra a localização central do grânulo secretor e a localização
periférica da molécula de adesão LFA-1, bem como a proteína talina associada ao citoesqueleto. (A,
Cortesia de Dr. P. Peters, Netherlands Cancer Institute, Amsterdam. B, Reimpresso de Stinchcombe JC, Bossi G, Booth
S, Griffiths GM: The immunological synapse of CTL contains a secretory domain and membrane bridges, Immunity
8:751-761, 2001. Copyright © Cell Press, with permission from Elsevier. C, Reimpresso de Stinchcombe JC, Griffiths
GM: The role of the secretory immunological synapse in killing by CD8
+ CTL, Seminars in Immunology 15:301-205.
Copyright © 2003 Elsevier Science Ltd., com permissão da Elsevier.)
Além dos receptores de células T, os CTLs CD8
+ expressam receptores que também são
expressos pelas células NK, as quais contribuem para a regulação e ativação dos CTLs.
Alguns destes receptores pertencem à família dos receptores de imunoglobulina
assassina (KIR), discutida no Capítulo 4, e reconhecem as moléculas MHC de classe I em
células-alvo, mas não são específicos para um determinado complexo MHC-peptídio.
Estes KIRs transduzem sinais inibidores que podem servir para evitar que os CTLs
matem as células normais. Além disso, os CTLs expressam o receptor NKG2D, descrito
no Capítulo 4, que reconhece moléculas semelhantes ao MHC de classe I MIC-A, MICB e
ULBP, expressas em células submetidas a estresse (infectadas ou transformadas). NKG2D
pode servir para fornecer sinais que atuam em conjunto com o reconhecimento do
antígeno por TCR para aumentar a atividade de morte.
Morte das Células-Alvo por CTLs
Dentro de alguns minutos, após o receptor de antígenos de CTL reconhecer seu antígeno em
uma célula-alvo, o CTL fornece proteínas granulosas que conduzem à morte apoptótica da
célula-alvo. A morte de células-alvo ocorre 2 a 6 horas após o reconhecimento do
antígeno e prossegue mesmo após desacoplamento do CTL. Assim, o CTL executa um
golpe letal na célula-alvo. O principal mecanismo de morte de alvos celulares mediada
por CTLs é a liberação de proteínas citotóxicas armazenadas dentro de grânulos
citoplasmáticos (também chamados lisossomos secretores) na célula-alvo,
desencadeando a apoptose da mesma (Fig. 11-6). Como discutido anteriormente, o
reconhecimento da célula-alvo por CTL leva à ativação do CTL, tendo como consequência
a reorganização do citoesqueleto. Neste processo, o centro organizador dos microtúbulos
do CTL se move para a área do citoplasma perto da área de contato com a célula-alvo. Os
grânulos citoplasmáticos do CTL são transportados ao longo dos microtúbulos e tornamse
concentrados na região da sinapse, e os grânulos da membrana fundem-se com a
membrana plasmática no domínio secretor. A fusão de membrana resulta na exocitose de
conteúdo granuloso dos CTLs para o espaço confinado dentro do anel sináptico, entre as
membranas plasmáticas da célula-alvo e do CTL.
FIGURA 11-6 Mecanismos de morte das células-alvo mediada por CTLs.
CTLs matam células-alvo por dois mecanismos principais. A, Complexos de perforina e granzimas
são liberados do CTL por exocitose de grânulos e entram nas células-alvo. As granzimas são
liberadas no citoplasma das células-alvo por um mecanismo dependente de perforina e induzem a
apoptose. B, FasL é expresso em CTLs ativados, liga-se ao Fas expresso na superfície das célulasalvo
e induz a apoptose.
As principais proteínas citotóxicas dos grânulos de CTLs (e células NK) são granzimas e
perforinas. Granzimas A, B, e C são serino-proteases que partilham uma sequência HisAsp-Ser
nos seus domínios catalíticos. A granzima B cliva proteínas após resíduos de
aspartato, sendo a única inequivocamente necessária para citotoxicidade de CTL in vivo.
Ela pode ativar caspases que induzem a morte celular (as caspases executoras). Perforina
é uma molécula causadora de perturbação membranar que é homóloga da proteína C9 do
complemento. Os grânulos também contêm um proteoglicano sulfatado, serglicina, que
serve para a montagem de um complexo contendo perforina e granzimas.
A principal função da perforina é a facilitação da liberação das granzimas dentro do
citosol da célula-alvo. A maneira pela qual isso é feito ainda não é bem compreendida.
Perforina pode se polimerizar e formar poros aquosos na membrana da célula-alvo, mas
esses poros podem não ser de tamanho suficiente para permitir a entrada das granzimas.
De acordo com um modelo atual, os complexos de granzima B, perforina e serglicina são
liberados dos CTLs nas células-alvo, sendo que a inserção de perforina na membrana da
célula-alvo provoca um processo de reparo da membrana, que leva à internalização tanto
da perforina quanto de granzimas em endossomos. A perforina pode, então, atuar sobre
a membrana endossomal para facilitar a liberação das granzimas no citosol da célulaalvo.
Uma vez no citosol, as granzimas clivam vários substratos, incluindo caspases,
iniciando a morte da célula por apoptose. Por exemplo, a granzima B ativa caspase 3,
assim como um membro da família Bcl-2, denominado Bid, que desencadeia a via
mitocondrial de apoptose (Fig. 15-8). Outra proteína encontrada em grânulos de CTLs
humanos (e células NK), chamada granulisina, pode alterar a permeabilidade das
membranas microbianas e das células-alvo, entretanto a sua importância na morte
celular por CTLs não está estabelecida.
Os CTLs também usam um mecanismo de morte independente dos grânulos, que é
mediado por interações de moléculas da membrana dos CTLs com as células-alvo.
Durante sua ativação, os CTLs expressam uma proteína de membrana denominada
ligante Fas (FasL), que se liga ao receptor de morte Fas, que é expresso em muitos tipos
celulares. Esta interação também resulta na ativação de caspases e apoptose de alvos que
expressam Fas (Fig. 15-8). Estudos com camundongos deficientes em perforina, granzima
B ou FasL indicam que perforina e granzima B são os principais mediadores da morte por
CTLs CD8
+
. Algumas células T CD4
+
, encontradas no intestino, e muitas vezes induzidas
em infecções virais, expressam perforinas e granzimas, e também são capazes de matar
as células-alvo (que, naturalmente, devem expressar peptídios associados ao MHC de
classe II para serem reconhecidos pelas células T CD4
+
).
Após o golpe letal, o CTL desacopla da sua célula-alvo, o que geralmente ocorre mesmo
antes de a célula-alvo morrer. CTLs em si não sofrem danos durante a morte da célulaalvo,
o que se atribui ao fato de que o processo de exocitose dirigida por grânulos durante
a morte mediada por CTLs, preferencialmente, entrega os conteúdos granulosos para a
célula-alvo longe do CTL. Além disso, os grânulos de CTL contêm uma enzima
proteolítica denominada catepsina B, que é exposta à superfície do CTL na exocitose
granular, onde ela degrada as moléculas de perforina errantes que vêm para a vizinhança
da membrana do CTL.
Produção de Citocinas pelas Células T CD8 + Efetoras
Células T CD8
+ produzem IFN-γ, uma citocina ativadora de macrófagos. Na verdade, a
secreção de IFN-γ em resposta a peptídios específicos é um ensaio sensível para a
avaliação da presença de células T CD8
+ antígeno-específicas em uma população de
linfócitos. A produção desta citocina é outra semelhança entre as células T CD8
+ e as
células TH1. É provável que estes dois subconjuntos de células T contribuam para a
eliminação fagocítica de micróbios induzida por IFN-γ. As células CD8
+ podem também
desempenhar um papel em algumas reações inflamatórias induzidas por citocinas, tais
como reações cutâneas de sensibilidade de contato induzida por produtos químicos
ambientais, em que as células T CD8
+ produtoras de IFN-γ algumas vezes chegam mais
cedo e em maior número do que as células T CD4
+
.
Funções dos CTLs CD8 + na defesa do hospedeiro
Em infecções por micróbios intracelulares, a atividade citolítica dos CTLs é importante
para a erradicação do reservatório de infecção (Fig. 10-1, B). Isso é particularmente
importante em dois tipos de situações nas quais as células não podem destruir micróbios
que as infectam. Em primeiro lugar, a maioria dos vírus vive e se replica em células que
não possuem a maquinaria fagossomo/lisossomo para destruir micróbios (tais como os
vírus da hepatite em células do fígado). Em segundo lugar, mesmo em fagócitos, alguns
micróbios escapam das vesículas e vivem no citoplasma, onde mecanismos microbicidas
são ineficazes, uma vez que os mesmos são em grande parte restritos a vesículas (para
proteger as células dos danos). Essas infecções podem ser eliminadas apenas pela
destruição das células infectadas, e em respostas imunes adaptativas, os CTLs CD8
+
constituem o principal mecanismo para matar as células infectadas (Fig. 16-4). Além
disso, as caspases que são ativadas nas células-alvo por granzimas e FasL clivam vários
substratos e ativam as enzimas que degradam o DNA, mas elas não distinguem entre as
proteínas microbianas e as do hospedeiro. Por conseguinte, por meio da ativação de
nucleases nas células-alvo, os CTLs podem iniciar a destruição do DNA microbiano, bem
como do genoma da célula-alvo, eliminando, desse modo, o DNA potencialmente
infeccioso. A enorme expansão de células T CD8
+ que se segue às infecções (Fig. 9-12)
fornece um grande arsenal de CTLs para combatê-las. Defeitos no desenvolvimento e na
atividade dos CTLs resultam em aumento da suscetibilidade a infecções virais e algumas
infecções bacterianas e reativação de infecções virais latentes (como a infecção pelo vírus
Epstein-Barr), que normalmente são mantidas em xeque pelos CTLs específicos de vírus.
Além do seu papel de eliminar as células infectadas por vírus, os CTLs parecem ser
cruciais na defesa do hospedeiro contra certas bactérias intracelulares, incluindo
Mycobacterium tuberculosis, e na eliminação de um número de outros organismos,
incluindo o parasita protozoário causador da malária (Cap. 16).
Destruição de células infectadas por CTLs é uma causa de lesão tecidual em algumas
doenças infecciosas. Por exemplo, nos casos de infecção pelos vírus da hepatite B e C, as
células do fígado infectadas são mortas pela resposta do hospedeiro mediada por CTLs (e
células NK) e não pelos vírus. Estes vírus não são citopáticos, mas o hospedeiro sente e
reage contra o micróbio infeccioso e não é capaz de distinguir os micróbios que são
intrinsecamente prejudiciais ou relativamente inofensivos (Cap. 19).
CTLs são importantes mediadores da imunidade contra tumores e na rejeição de
transplantes de órgãos. Estas funções dos CTLs serão descritas em capítulos posteriores.
Resumo
Células T do subtipo CD8
+ se proliferam e diferenciam em linfócitos T citotóxicos
(CTLs), que expressam grânulos citotóxicos e podem matar células infectadas.
A diferenciação das células T CD8
+ em CTLs funcionais e células de memória requer o
reconhecimento do antígeno apresentado pelas células dendríticas, sinais de células T
CD4
+ auxiliares em algumas situações, coestimulação e citocinas. A diferenciação em
CTLs envolve a aquisição da maquinaria para matar as células-alvo e é determinada por
vários fatores de transcrição.
Em algumas situações de exposição crônica a antígenos (p. ex., tumores e infecções virais
crônicas), as células T CD8
+
iniciam uma resposta, mas começam a expressar
receptores inibitórios que suprimem a resposta, um processo chamado de exaustão.
Os CTLs CD8
+ matam as células que expressam os peptídios derivados de antígenos
citossólicos (p. ex., antígenos virais) que são apresentados em associação com
moléculas MHC de classe I. A morte mediada por CTLs é mediada principalmente por
exocitose de grânulos, que liberam granzimas e perforina. A perforina facilita a entrada
da granzima no citoplasma das células-alvo, e as granzimas iniciam diversas vias que
levam à apoptose.
As células T CD8
+
também secretam IFN-γ e, portanto, podem participar na defesa
contra micróbios fagocitados e em reações de DTH.






Nenhum comentário:
Postar um comentário