sábado, 21 de outubro de 2017

Organização Anatômica dos Linfócitos B e T

Fonte: Livro Imunologia Celular e Molecular - 8ª Ed.

Autores: Abul Lichtman, Andrew Abbas

Os linfócitos B e T são sequestrados em regiões distintas do córtex dos linfonodos, cada região com sua própria arquitetura de fibras reticulares e células estromais (Fig. 2-13). Os folículos são as zonas de célula B. Eles estão localizados no córtex do linfonodo e organizam-se em torno das FCs, que têm processos que interdigitam para formar uma malha reticular densa. Os folículos primários contêm principalmente linfócitos B virgens maduros. Os centros germinativos se desenvolvem em resposta à estimulação antigênica. Eles são locais de grande proliferação de célula B, seleção de células B produtoras de anticorpos de alta afinidade e geração de células B de memória e plasmócitos de vida longa.
FIGURA 2-13 Segregação das células B e células T em um linfonodo.

A, Diagrama esquemático ilustrando a via pela qual os linfócitos T e B imaturos migram para diferentes áreas do linfonodo. Os linfócitos imaturos entram no nodo através de uma artéria, deixam a circulação pelo movimento através da parede da vênula endotelial alta e, então, as células B e T migram para diferentes zonas do linfonodo direcionadas pelas quimiocinas que são produzidas nestas áreas e ligam seletivamente a um dos tipos celulares. Também está mostrada a migração das células dendríticas, que captam antígenos dos locais de entrada desses antígenos, entram através dos vasos linfáticos aferentes e migram para as áreas ricas em célula T no nodo. B, Nesta seção do linfonodo, os linfócitos B, localizados nos folículos, estão corados em verde; as células T, no córtex parafolicular, estão vermelhas. O método usado para corar essas células é chamado de imunofluorescência. (Cortesia de Dr. Kathyn Pape e Jennifer Walter, University of Minnesota School of Medicine, Minneapolis). A segregação anatômica das células T e B também é mostrada no baço (Fig. 2-15).


Os linfócitos T estão localizados principal e mais centralmente sob os folículos, nas cordas paracorticais. Estas zonas ricas em células T, frequentemente denominadas paracórtex, contêm uma rede de células reticulares fibroblásticas (FRCs), muitas das quais formas a camada externa de estruturas similares a tubos chamadas de conduítes FRC (Fig. 2-14). Os conduítes variam em diâmetro entre 0,2 a 3 μm e possuem matrizes organizadas de moléculas da matriz extracelular, incluindo feixes paralelos de fibras de colágeno embebidas em uma malha de microfibras de fibrilina, todas firmemente rodeadas por uma membrana basal produzida por uma malha de FRCs. Estes conduítes se iniciam no sino subcapsular e se estendem para ambos os vasos linfáticos do sino medular e vasos linfáticos corticais, denominados vênulas endoteliais altas (HEVs). As células T imaturas entram nas zonas da célula T através das HEVs. As células T são densamente presas em torno dos conduites no córtex do linfonodo. A maioria (∼70%) das células T corticais consiste em células T auxiliares CD4+, intercaladas com células CD8+ relativamente esparsas. Estas proporções podem mudar drasticamente durante o curso de uma infecção. Por exemplo, durante uma infecção viral, pode ocorrer um grande aumento nas células T CD8+. As células dendríticas também são concentradas no paracórtex dos linfonodos, muitas das quais estão intimamente associadas aos conduítes FRC.
FIGURA 2-14 Microanatomia do córtex do linfonodo.
A, Esquema da microanatomia do linfonodo mostrando a rota de drenagem da linfa a partir do sino subcapsular, através dos conduítes de células fibrorreticulares, para o canal perivenular em torno da vênular alta (HEV). B, Micrografia eletrônica de transmissão de um conduíte FRC cercado de células reticulares fibroblastos (pontas de seta) e linfócitos adjacentes (L). (De Gretz JE, Norbury CC, Anderson AO, Proudfoot AEI, Shaw S: Lymph-borne chemokines and other low molecular weight molecules reach high endothelial venules via specialized conduits while a functional barrier limits access to the lymphocyte microenvironments in lymph node cortex, The Journal of Experimental Medicine 192:1425–1439, 2000.) C, Coloração imunofluorescente de um conduíte FRC formado pela
proteína laminina, pela membrana basal (em vermelho) e por fibrilas de colágeno (em verde). (De Sixt M, Nobuo K, Selg M, Samson T, Roos G, Reinhardt DP, Pabst R, Lutz M, Sorokin L: The conduit system transports soluble antigens from the afferent lymph to resident dendritic cells in the T cell area of the lymph node, Immunity 22:19-29, 2006. Copyright © 2005 by Elsevier Inc.)


A segregação anatômica dos linfócitos B e T nas áreas distintas do nódulo é dependente de citocinas que são secretadas pelas células estromais do linfonodo em cada área e que direcionam a migração dos linfócitos (Fig. 2-13). Linfócitos B e T imaturos são liberados para um nódulo através da artéria e deixam a circulação para entrar no estroma do nódulo através das HEVs, que estão localizadas no centro dos cordões corticais. O tipo de citocinas que determina onde as células B e T residem no nódulo é denominado quimiocinas (citocinas quimioatraentes), que se ligam aos receptores de quimiocinas nos linfócitos. As quimiocinas incluem uma grande família de citocinas de 8 a 10 kD que estão envolvidas em uma grande variedade de funções da motilidade celular no desenvolvimento, manutenção da arquitetura tecidual e respostas imune e inflamatória.
As células T imaturas expressam um receptor denominado CCR7 que liga as quimiocinas CCL19 e CCL21 produzidas pelas células estromais nas zonas da célula T do linfonodo. Estas quimiocinas promovem o movimento da célula T imatura do sangue, através da parede das HEVs, para dentro da zona da célula T. As células dendríticas que foram ativadas pelos microrganismos e entram no nódulo através dos linfáticos também expressam CCR7, e esta é a razão de eles migrarem para a mesma área dos nódulos como fazem as células T imaturas. As células B imaturas expressam baixos níveis de CCR7 e níveis maiores de outro receptor de quimiocina, CXCR5, que reconhece uma quimiocina, CXCL13, produzida somente nos folículos pelas FDCs. Assim, as células B imaturas circulantes também entram nos linfonodos através das HEVs e são, então, atraídas para dentro dos folículos. Outra citocina denominada linfotoxina (que não é uma quimiocina) tem papel na estimulação da produção de CXCL13, especialmente nos folículos. As funções das quimiocinas e outras citocinas na regulação da localização dos linfócitos nos órgãos linfoides e na formação destes órgãos foram estabelecidas por numerosos estudos em camundongos. Por exemplo, os camundongos knockout em CXCR5 não têm folículos contendo célula B nos linfonodos e baço e os camundongos knockout em CCR7 não apresentam zonas de célula T.
Os linfonodos em desenvolvimento, assim como outros órgãos linfoides periféricos, dependem de células indutoras de tecido linfoide e das ações coordenadas de várias citocinas, quimiocinas e fatores de transcrição. Durante a vida fetal, as células indutoras de tecido linfoide, que são um subgrupo de células linfoides inatas discutidas anteriormente, estimulam o desenvolvimento dos linfonodos e outros órgãos linfoides secundários. Esta função é mediada por várias proteínas expressas pelas células indutoras, sendo as mais profundamente estudadas a citocina linfotoxina-α (LTα) e a linfotoxina-β (LTβ). Camundongos knockout sem qualquer uma dessas citocinas não
desenvolvem linfonodos ou tecidos linfoides secundários nos intestinos. O desenvolvimento da polpa branca esplênica também é desorganizado nestes camundongos. A LTβ produzida pelas células indutoras estimula as células estromais em diferentes localizações de um órgão linfoide secundário em desenvolvimento para secretar quimiocinas que auxiliam na organização da estrutura dos órgãos linfoides. As FDCs são ativadas pela LTβ para produzirem a quimiocina CXCL13, que serve para recrutar as células B e organizar o folículo em desenvolvimento. As células reticulares fibroblásticas (FRCs, mencionadas anteriormente) são ativadas para produzir CCL19 e CCL21, que recrutam células T e células dendríticas e formam a zona da célula T.
A segregação anatômica das células B e T garante que cada população de linfócito esteja em contato com as APCs apropriadas, que são células B com FDCs e células T com células dendríticas. Além disso, por causa desta segregação precisa, as populações de linfócitos B e T são mantidas separadas até que seja o momento de interagirem de maneira funcional. Como veremos nos Capítulos 9 e 12, após a estimulação por antígenos, as células B e T alteram sua expressão de receptores de quimiocinas e começam a migrar uma em direção a outra em resposta aos sinais das quimiocinas e outros mediadores. As células T ativadas migram em direção aos folículos para auxiliar as células B ou saem do nódulo e entram na circulação. As células B ativadas migram em direção dos centros germinativos e, após diferenciação em plasmócitos, podem se dirigir para a medula óssea.

Nenhum comentário:

Postar um comentário