Fonte : Livro Anatomia Orientada Para A Clínica - 7ª Ed.
Autores: Keith L. Moore / Arthur F. Dalley / Anne M. R. Agur
O mediastino, ocupado pela massa de tecido entre as duas cavidades pulmonares, é o compartimento central da cavidade
torácica (Figura 1.42). É coberto de cada lado pela
parte mediastinal da pleura parietal
e
contém
todas
as
vísceras
e estruturas torácicas, exceto os pulmões. O mediastino estende-se da abertura superior do tórax até o diafragma inferiormente e do esterno
e cartilagens costais anteriormente até os corpos
das vértebras torácicas posteriormente. Ao contrário da estrutura rígida observada no cadáver fixado, o mediastino em pessoas vivas é uma região com alta mobilidade, porque contém principalmente estruturas viscerais ocas (cheias de líquido ou ar) unidas apenas por tecido conectivo frouxo, não raro infiltrado com gordura. As principais estruturas no mediastino também
são circundadas por vasos sanguíneos
e linfáticos, linfonodos, nervos e gordura.
Figura 1.42 Subdivisões e níveis do mediastino. As subdivisões do mediastino são mostradas como se a pessoa estivesse em decúbito dorsal. O nível das vísceras em relação às subdivisões definidas pelos pontos de referência na caixa torácica depende da posição do indivíduo porque os tecidos moles do mediastino pendem com a força da gravidade.
Figura 1.42 Subdivisões e níveis do mediastino. As subdivisões do mediastino são mostradas como se a pessoa estivesse em decúbito dorsal. O nível das vísceras em relação às subdivisões definidas pelos pontos de referência na caixa torácica depende da posição do indivíduo porque os tecidos moles do mediastino pendem com a força da gravidade.
A frouxidão do tecido conectivo e a elasticidade dos pulmões e da pleura parietal de cada lado do mediastino permitem a acomodação
do movimento,
bem como de alterações de volume e pressão
na cavidade torácica, como
as decorrentes de movimentos do diafragma, da parede torácica e da árvore
traqueobronquial durante
a respiração, contração (batimentos) do coração e pulsações
das grandes artérias, e passagem de substâncias ingeridas através do esôfago. O tecido conectivo torna-se
mais fibroso e rígido com a idade;
assim, as estruturas
do mediastino tornam-se menos móveis. Para fins descritivos, o mediastino é dividido em partes superior e inferior (Figura 1.42).
O mediastino
superior estende-se inferiormente
da abertura superior do tórax até o plano horizontal, que inclui o ângulo do esterno anteriormente e atravessa aproximadamente a junção (disco IV) das vértebras T IV e
T V posteriormente, em geral denominado plano transverso do tórax. O mediastino inferior — situado entre
o plano transverso do tórax e o diafragma — é subdividido, ainda, pelo pericárdio em partes
anterior, média e posterior. O pericárdio e seu conteúdo (o coração e as raízes
de seus grandes vasos) constituem o mediastino médio. Algumas estruturas, como o esôfago, seguem verticalmente
através do mediastino e, portanto,
ocupam mais de um compartimento mediastinal..
Pericárdio
O mediastino
médio inclui o pericárdio, o coração e as raízes
de seus grandes vasos
(Figura 1.34) — parte ascendente da aorta, tronco pulmonar e VCS — que entram e saem do coração. O pericárdio é uma membrana fibrosserosa que cobre o coração e o início de seus grandes vasos (Figuras 1.33B e 1.43). O pericárdio é um saco fechado
formado por duas camadas. A camada externa resistente, o pericárdio fibroso, é contínua com o centro tendíneo
do diafragma (Figura 1.32). A face interna do pericárdio fibroso é revestida por uma membrana serosa brilhante,
a lâmina parietal do pericárdio seroso. Essa lâmina é refletida sobre o coração nos grandes
vasos (aorta, tronco
e veias pulmonares
e veias cavas superior e inferior) como a lâmina visceral do pericárdio
seroso. O pericárdio
seroso é composto principalmente
por mesotélio, uma única camada de células achatadas que formam um epitélio de revestimento da face interna do pericárdio fibroso e da face externa do coração.
O pericárdio fibroso é:
• Contínuo superiormente
com a túnica adventícia (tecido conectivo perivascular) dos grandes vasos que entram e saem do coração e com a lâmina pré-traqueal da fáscia cervical.
• Fixado
anteriormente à face
posterior do esterno
pelos ligamentos esternopericárdicos,
cujo
desenvolvimento
varia muito.
• Unido posteriormente
por tecido conectivo frouxo às estruturas
no mediastino posterior.
• Contínuo inferiormente
com o centro tendíneo do diafragma (Figura 1.43C e D).
A parede
inferior
(assoalho) do saco pericárdico fibroso
apresenta-se
bem
fixada e confluente
(parcialmente fundida) centralmente
com o centro tendíneo do diafragma. O local de continuidade foi denominado ligamento pericardicofrênico;
entretanto, o pericárdio fibroso e o centro tendíneo
não são estruturas separadas que sofreram
fusão secundária, nem são separáveis por dissecção.
Graças às fixações
descritas, o coração
está relativamente
bem preso
no lugar dentro
desse saco fibroso. O pericárdio é influenciado por movimentos do coração e dos grandes vasos,
do esterno e do diafragma.
Figura 1.43 Pericárdio e coração. A. O coração ocupa o mediastino médio e é envolvido pelo pericárdio, formado por duas partes. O pericárdio fibroso externo e resistente estabiliza o coração e ajuda a evitar a dilatação excessiva. Entre o pericárdio fibroso e o coração há um saco “colapsado”, o pericárdio seroso. O coração embrionário invagina a parede do saco seroso (B) e logo praticamente oblitera a cavidade pericárdica (C), deixando apenas um espaço virtual entre as camadas de pericárdio seroso.
Aparência dos pulmões e inalação de partículas de carbono e irritantes
A cor dos pulmões é rosa-claro em crianças saudáveis e em pessoas que não fumam e vivem em um ambiente limpo. Os pulmões costumam ser escuros e manchados na maioria dos adultos que vivem em áreas urbanas ou agrícolas, principalmente naqueles que fumam, em razão do acúmulo de partículas de carbono e poeira presentes no ar e de irritantes do tabaco inalado. A
tosse do fumante resulta da inalação desses irritantes. Entretanto, os pulmões conseguem acumular uma quantidade considerável de
carbono sem prejuízo. A linfa dos pulmões tem “células de poeira” (fagócitos) especiais que removem o carbono das superfícies de
troca gasosa e o depositam no tecido conectivo “inativo”, que sustenta o pulmão, ou nos linfonodos que recebem a linfa
dos pulmões.
C e D. O ligamento pericardicofrênico é a continuidade do pericárdio fibroso com o centro tendíneo do diafragma.
O coração e as raízes
dos grandes vasos no interior do saco pericárdico apresentam relação anterior com o esterno,
as cartilagens costais e as extremidades anteriores
das costelas
III a V no lado esquerdo (Figura 1.44). O coração
e o saco pericárdico estão situados obliquamente, cerca de dois terços
à esquerda e um terço à direita do plano mediano. Se você girar o rosto para a esquerda cerca de 45° sem girar os ombros, a rotação da cabeça é semelhante à rotação
do coração em relação ao tronco. O pericárdio fibroso protege o coração
contra o superenchimento súbito, porque é inflexível e intimamente
relacionado aos grandes vasos que o perfuram superiormente. A parte ascendente da aorta leva o pericárdio superiormente, além do coração, até o nível do ângulo do esterno.
A cavidade do pericárdio é
um espaço virtual entre as camadas
opostas das lâminas parietal e visceral do pericárdio
seroso. Normalmente contém uma fina película de líquido que permite ao coração
se movimentar e bater sem atrito.
A lâmina visceral do pericárdio seroso forma o epicárdio, a mais externa das três camadas da parede cardíaca. Estende- se sobre o início dos grandes vasos e torna-se
contínuo com a lâmina parietal do pericárdio seroso (1) no local onde a aorta e o tronco pulmonar deixam o coração e (2) no local
onde a VCS, a veia cava inferior (VCI) e as veias pulmonares
entram no coração. O seio transverso do pericárdio é uma passagem transversal dentro da cavidade pericárdica entre esses dois grupos de vasos e as reflexões do pericárdio seroso ao seu redor. A reflexão do pericárdio seroso
ao redor do segundo grupo de vasos forma
o
seio
oblíquo
do
pericárdio. Os seios
do
pericárdio
formam-se
durante
o
desenvolvimento do coração em consequência do pregueamento
do tubo cardíaco primitivo. À medida que o
tubo cardíaco se dobra, sua extremidade venosa desloca-se em sentido posterossuperior (Figura 1.45), de modo que a extremidade venosa do tubo coloca-se adjacente à extremidade arterial, separadas apenas pelo seio transverso do pericárdio
(Figura 1.46). Assim,
o seio transverso situa-se posteriormente às partes intrapericárdicas
do tronco pulmonar e parte ascendente da aorta,
anteriormente
à VCS
e superiormente aos átrios. À medida que as veias do coração
se desenvolvem e se expandem,
uma reflexão pericárdica ao seu redor forma o seio oblíquo do pericárdio, um recesso semelhante a
uma bolsa larga na cavidade pericárdica posterior à base (face posterior) do coração, formada
pelo átrio esquerdo
(Figuras 1.45 e 1.46). O seio oblíquo é limitado lateralmente pelas reflexões pericárdicas
que circundam as veias pulmonares e a VCI, e posteriormente
pelo pericárdio que cobre a face anterior do esôfago. O seio oblíquo pode ser aberto
inferiormente e permite a passagem
de vários dedos;
entretanto, não é possível
passar o dedo ao redor de nenhuma
dessas estruturas porque
o seio é um saco cego (fundo de saco). A irrigação
arterial do pericárdio (Figura 1.47) provém principalmente
de um ramo fino da artéria torácica interna,
a artéria pericardicofrênica, que não raro acompanha o nervo frênico, ou pelo
menos
segue paralelamente a ele,
até
o diafragma. Contribuições menores
de sangue provêm da(s):
• Artéria musculofrênica, um ramo terminal da artéria torácica interna
• Artérias bronquial, esofágica e frênica superior, ramos da parte torácica da aorta
• Artérias coronárias (apenas a lâmina visceral do pericárdio seroso),
os primeiros ramos da aorta.
A drenagem venosa do pericárdio é feita por:
• Veias pericardicofrênicas, tributárias das veias braquiocefálicas (ou torácicas internas)
• Tributárias variáveis do sistema venoso ázigo (analisadas adiante, neste capítulo).
A inervação do pericárdio provém dos:
Figura 1.44
Saco pericárdico em relação ao esterno e aos nervos frênicos. Esta dissecção expõe o saco pericárdico posteriormente ao corpo do esterno, desde logo acima do ângulo do esterno até o nível da sínfise xifosternal.
Cerca de um terço do saco pericárdico (e, portanto, do coração) situa-se à direita da linha mediana e dois terços
à esquerda (detalhe).
Figura 1.45 Desenvolvimento do coração e pericárdio. O tubo cardíaco embrionário longitudinal causa invaginação do saco pericárdico que tem duas camadas (semelhante à colocação da salsicha no pão de cachorro-quente). A
seguir, o tubo cardíaco
primitivo curva-se ventralmente, aproximando as extremidades arterial e venosa primitivas do coração e criando o seio transverso
do pericárdio primitivo (T) entre elas. Com o crescimento do embrião, as veias se expandem e se afastam, inferior e lateralmente. O pericárdio refletido ao redor delas forma os limites do seio oblíquo do pericárdio. VCI = veia cava inferior; VCS = veia cava superior.
• Nervos
vagos, função incerta
• Troncos simpáticos, vasomotores.
A inervação do pericárdio pelos nervos frênicos e o trajeto desses nervos somáticos entre o coração e os pulmões fazem pouco sentido quando não se leva em conta o desenvolvimento do pericárdio fibroso. A membrana (membrana pleuropericárdica) que inclui o nervo frênico é dividida ou separada da parede do corpo em desenvolvimento pela formação das cavidades pleurais, que se ampliam para acomodar os pulmões que crescem rápido (Figura 1.48). Os pulmões se desenvolvem nos canais pericardioperitoneais que seguem de ambos os lados do intestino anterior, unindo as cavidades torácica e abdominal de cada lado do septo transverso. Os canais (cavidades pleurais primordiais) são pequenos demais para acomodar o rápido crescimento dos pulmões, e começam a invadir o mesênquima da parede do corpo em sentido posterior, lateral e anterior, dividindo-o em duas camadas: uma camada externa que se torna a parede torácica definitiva (costelas e músculos intercostais) e uma camada interna ou profunda (as membranas pleuropericárdicas) que contém os nervos frênicos e forma o pericárdio fibroso (Moore, Persaud e Torchia, 2012). Assim, o saco pericárdico pode ser uma sede de dor, do mesmo modo que a caixa torácica ou a pleura parietal, embora essa dor tenda a ser referida em dermátomos da parede do corpo — áreas sensitivas mais comuns.
Figura 1.47
Irrigação arterial e drenagem venosa do pericárdio. As artérias do pericárdio são derivadas principalmente das artérias torácicas internas, com pequenas contribuições de seu ramos musculofrênicos e da parte torácica da aorta. As veias são tributárias das veias braquiocefálicas.
Figura 1.48 Desenvolvimento do pericárdio fibroso e deslocamento do nervo frênico. O crescimento exuberante dos pulmões nas cavidades pleurais primitivas (canais pleuroperitoneais) separa as pregas pleuropericárdicas da parede do corpo,
criando as membranas pleuropericárdicas. As membranas incluem o nervo frênico e dão origem ao pericárdio fibroso que envolve o coração e separa as cavidades pleural e pericárdica.







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