Fonte : Livro Anatomia Orientada Para A Clínica - 7ª Ed.
Autores: Keith L. Moore / Arthur F. Dalley / Anne M. R. Agur
A anatomia radiológica
é o
estudo da estrutura e da função do corpo com uso de técnicas de imagem. É uma parte
importante da anatomia clínica e é a base anatômica da radiologia, o ramo da ciência médica que estuda o uso da energia radiante no diagnóstico
e tratamento das doenças. A capacidade de identificar
estruturas normais em radiografias facilita o reconhecimento das
alterações causadas por doenças e traumas.
A familiaridade com
as técnicas de imagem
médica mais usadas em situações clínicas permite reconhecer anomalias congênitas, tumores e fraturas. As técnicas de imagem mais usadas
são:
• Radiografia simples
• Tomografia computadorizada (TC)
• Ultrassonografia (US)
• Ressonância magnética (RM)
• Medicina nuclear.
Embora as técnicas sejam diferentes, todas têm como base a recepção de feixes atenuados de energia que atravessaram os tecidos do
corpo ou
foram por eles
refletidos
ou gerados.
As
técnicas de imagem permitem
a observação de estruturas anatômicas em pessoas vivas e a avaliação
de seus movimentos em atividades normais e anormais (p. ex., o coração
e o estômago).
Radiografia simples
A radiografia convencional, sem uso de técnicas especiais, como meios de contraste, é chamada clinicamente
de radiografia simples (Figura I.49), embora
hoje a maioria das imagens seja obtida e avaliada em monitores por técnica digital, e não em filme. No exame radiológico, um feixe de raios X altamente
penetrante transilumina o paciente e mostra tecidos de diferentes
densidades de massa no corpo como imagens de diferentes
intensidades (áreas claras e escuras) em filme ou monitor (Figura I.50). Um tecido ou órgão com massa relativamente densa (p. ex., osso compacto)
absorve ou reflete mais raios X do que um tecido menos denso (p. ex., osso esponjoso).
Consequentemente,
um tecido ou órgão denso produz
uma área um pouco transparente no filme de raios X ou uma área brilhante no monitor, porque menos raios X
chegam ao filme ou detector. Uma substância densa é radiopaca, enquanto uma substância de menor densidade é radiotransparente.
Muitos dos mesmos princípios aplicados
ao produzir uma sombra
são aplicados à radiografia simples. Ao projetar
uma sombra da mão na parede, quanto
mais perto a mão estiver da parede,
mais
nítida é a sombra produzida. Quanto mais distante a mão estiver da parede (e, portanto, mais próxima da fonte luminosa),
mais a sombra é ampliada. As radiografias são feitas com a
parte do corpo do paciente avaliada próximo do filme ou detector
para que a nitidez da imagem seja máxima e os artefatos
de ampliação,
mínimos. Na nomenclatura radiológica
básica, a incidência
posteroanterior
(PA)
refere-se a uma radiografia na qual os raios X atravessaram o paciente da face posterior (P) para a anterior (A); o tubo de raios X estava localizado posteriormente
ao
paciente e o filme
de
raios X ou detector, anteriormente
(Figura I.51A). A
incidência anteroposterior (AP) é o oposto. As duas incidências, PA e AP, são vistas como se você e o paciente estivessem de frente um para o outro
(o lado
direito
do paciente
fica à sua esquerda); isso é denominado
vista
anteroposterior
(AP).
(Assim,
a radiografia
de tórax tradicional, feita para examinar o coração e os pulmões,
é uma vista AP de uma incidência PA.) Nas radiografias laterais, são usadas letras radiopacas
(D ou E) para indicar o lado mais próximo do filme ou detector, e a imagem
é vista na mesma direção em que foi
projetado o feixe (Figura I.51B).
A introdução
de meios de contraste
(líquidos radiopacos
como compostos de iodo ou bário) permite o estudo de vários órgãos com lúmen ou vasculares e de espaços virtuais ou reais — como trato digestório, vasos sanguíneos, rins, cavidades
sinoviais e espaço subaracnóideo — que não são visíveis em radiografias
simples
(Figura I.52). A maioria dos exames radiológicos é realizada
em
pelo menos duas incidências
perpendiculares. Como cada radiografia
exibe uma imagem
bidimensional de uma estrutura tridimensional, há
superposição das estruturas penetradas
em sequência pelo feixe de
raios X. Assim, geralmente é necessário mais de uma vista para detectar e localizar com precisão uma anormalidade.
Tomografia computadorizada
A tomografia computadorizada (TC)
produz
imagens
radiográficas do corpo que se assemelham
a cortes anatômicos
transversais (Figura I.53). Nessa técnica, um feixe de raios X atravessa
o corpo enquanto o tubo de raios X e o detector giram em torno
do
eixo. Múltiplas
absorções
de
energia radial superpostas são medidas,
registradas e comparadas por um computador para determinar a densidade radiológica de cada elemento de volume (voxel) do plano do corpo escolhido.
Figura I.49 Radiografia do
tórax. Vista AP de uma radiografia em incidência PA mostra o arco da aorta, partes
do
coração e as cúpulas do diafragma. Observe que a cúpula do diafragma é mais alta do lado direito. (Cortesia do Dr. E. L. Lansdown, Professor of Medical Imaging, University of Toronto, Toronto, ON, Canada.)
Figura I.50 Princípios de formação da imagem por raios X. Partes do feixe de raios X que atravessam o corpo são atenuadas em vários graus de acordo com a espessura e a densidade do tecido. O feixe é diminuído por estruturas que o absorvem ou refletem, causando menor reação no filme ou no detector, em comparação com áreas que permitem sua passagem relativamente ininterrupta.
Figura I.51
Orientação do tórax do paciente durante radiografia. A. Na incidência PA, os raios X do tubo de raios X atravessam o tórax por trás para chegar ao
filme de
raios X ou ao detector
localizado na frente da
pessoa. B. Na incidência lateral, os raios X
atravessam o tórax lateralmente para chegar ao filme de raios X encostado no outro lado da pessoa.
Figura I.52 Radiografia do estômago, intestino delgado e vesícula biliar. Observar as pregas gástricas (pregas longitudinais da mucosa). Observar também a onda peristáltica deslocando o conteúdo gástrico em
direção ao duodeno, que mantém relação íntima com a vesícula biliar. (Cortesia do Dr. J. Heslin, Toronto, ON, Canada.)
Figura I.53
Técnica para produzir uma TC abdominal. O tubo de raios X gira ao redor da pessoa no tomógrafo e emite um feixe de raios X em forma de leque, em vários ângulos, através da parte superior do abdome. Detectores de raios X no lado oposto do corpo medem a quantidade de radiação que atravessa um
corte horizontal. Um
computador reconstrói as imagens de várias varreduras para produzir a imagem abdominal. A imagem é orientada como se o examinador estivesse aos pés do leito, olhando para a cabeça de uma pessoa em decúbito dorsal.
A densidade radiológica de cada voxel (quantidade de radiação absorvida pelo voxel) é determinada por fatores
que incluem a quantidade de ar, água, gordura ou osso naquele elemento. O computador mapeia os voxels em uma imagem plana (corte) que é exibida em um monitor ou impressa.
As imagens de TC têm boa correlação com as radiografias simples, porque as áreas onde
há grande absorção (p. ex., osso) são relativamente
transparentes (brancas) e aquelas nas quais a absorção é pequena são
pretas (Figura I.53). As imagens de TC são sempre
exibidas como se o observador estivesse aos
pés do paciente em decúbito dorsal, isto é, uma vista inferior.
Ultrassonografia
A ultrassonografia (US) é a técnica que permite ver estruturas superficiais ou profundas do corpo mediante registro de pulsos de ondas ultrassônicas refletidas pelos tecidos (Figura I.54). A vantagem da US é o custo menor do que a TC e a RM, e fato de o aparelho ser portátil. A
técnica pode ser realizada praticamente
em qualquer lugar, inclusive na sala de exame clínico, à beira do leito ou na mesa de cirurgia. Um transdutor
em contato com
a pele gera ondas sonoras de alta frequência que atravessam o corpo e são refletidas pelas interfaces
de tecidos de diferentes características, como
os tecidos moles e o osso. Os ecos refletidos pelo corpo chegam ao transdutor e são convertidos em energia elétrica. Os sinais elétricos são registrados
e exibidos em um monitor como uma imagem seccional, que pode ser vista em tempo real e registrada
como uma única imagem
ou em fita de vídeo.
Uma grande vantagem da US é a produção de imagens em tempo real, que mostram o movimento de estruturas e o fluxo nos vasos sanguíneos. Na ultrassonografia Doppler,
as diferenças de frequência entre
ondas ultrassônicas
emitidas
e seus ecos são usadas para medir a velocidade dos objetos em movimento. Essa técnica baseia-se no princípio do efeito Doppler. O fluxo sanguíneo através dos vasos é exibido em cores, superposto à imagem seccional bidimensional.
O exame das vísceras
pélvicas a partir da superfície do abdome requer distensão completa da bexiga urinária. A urina serve como “janela
acústica”, permitindo a
passagem de ida e
volta de ondas sonoras
das
vísceras
pélvicas
posteriores com atenuação mínima.
A bexiga urinária distendida também
afasta da pelve alças intestinais
cheias de gás. A ultrassonografia transvaginal permite que o transdutor seja posicionado mais próximo do órgão de interesse (p. ex., o ovário) e evita gordura e gás, que absorvem
ou refletem as ondas sonoras. O osso reflete quase todas as ondas de ultrassom,
enquanto a condução
no ar é inadequada. Sendo assim, a US geralmente não é usada para exame do SNC e dos pulmões aerados
dos adultos.
Figura I.54 Técnica de ultrassonografia da parte superior do abdome. A imagem é formada pelo eco das ondas de ultrassom emitido pelas estruturas abdominais de diferentes densidades. A
imagem do rim direito é exibida em um monitor.
O apelo da ultrassonografia
em
obstetrícia se
deve ao fato de ser um procedimento
não
invasivo
que
não
emprega radiação; pode fornecer informações úteis sobre a
gravidez, como determinar se é intrauterina ou extrauterina (ectópica) e
se o
embrião ou feto está vivo. Também se tornou um método padrão
de avaliação do crescimento e desenvolvimento do embrião e do feto.
Ressonância magnética
As imagens do corpo obtidas por ressonância magnética (RM) são semelhantes às imagens obtidas por TC, porém permitem
melhor diferenciação tecidual. As imagens de RM são muito semelhantes a cortes anatômicos, sobretudo
no encéfalo (Figura I.55). A pessoa
é colocada em um escâner com forte campo magnético, e o corpo é exposto a pulsos de ondas de rádio. A seguir, os sinais emitidos pelos tecidos do paciente são armazenados em um computador e reconstruídos em várias imagens do corpo.
A aparência dos tecidos nas imagens geradas pode variar de acordo com o controle do envio e da recepção
dos pulsos de radiofrequência.
Os prótons livres nos tecidos alinhados
pelo campo magnético adjacente
são excitados (oscilados) com um pulso de onda de rádio. Quando voltam à posição inicial, os prótons emitem sinais de energia pequenos, mas mensuráveis. Os tecidos com alta densidade protônica, como a gordura
e a água, emitem mais sinais do que os tecidos com baixa densidade protônica. O sinal tecidual
baseia-se principalmente
em
três
propriedades dos prótons em uma determinada região
do
corpo.
Essas propriedades são denominadas relaxamento T1 e T2 (que produzem imagens ponderadas em T1 e
T2)
e densidade protônica.
Embora os líquidos tenham alta densidade de prótons livres, os prótons livres excitados nos líquidos em movimento, como o sangue, tendem a sair do campo antes de serem excitados e emitirem seu sinal
e são
substituídos por prótons não excitados. Consequentemente, os líquidos em movimento apresentam-se pretos
nas imagens ponderadas em T1.
Os computadores associados aos escâneres de RM têm a capacidade de reconstruir tecidos em qualquer plano a partir dos dados
adquiridos: transverso, mediano, sagital, frontal, e até mesmo em planos oblíquos arbitrários. Os dados também
podem ser usados para gerar reconstruções tridimensionais. Os escâneres
de RM produzem boas imagens de tecidos moles sem o uso de radiação ionizante. O movimento feito pelo paciente durante
longas sessões de exame criava problemas para os escâneres das primeiras gerações,
mas os escâneres rápidos utilizados atualmente podem ser sincronizados ou
ajustados para visualizar estruturas em movimento,
como o coração e o fluxo sanguíneo, em tempo real.
Figura I.55 RM mediana da cabeça. A imagem mostra muitos detalhes do SNC e das estruturas nas cavidades nasal e oral e na parte superior do pescoço. As áreas pretas de baixo sinal
localizadas superiormente às superfícies anterior e posterior da cavidade nasal são os seios frontal e esfenoidal cheios de ar.
Medicina nuclear
A medicina nuclear
fornece
informações sobre a distribuição
ou
concentração
de
pequenas
quantidades de substâncias radioativas introduzidas no corpo.
A medicina nuclear mostra
imagens de órgãos específicos após injeção
intravenosa (IV) de uma pequena
dose de material radioativo. O radionuclídeo é marcado
com uma substância que é seletivamente
captada por um órgão, como o difosfonato
de metileno marcado com tecnécio-99m (99mTc-MDP) para cintigrafia óssea (Figura I.56).
A tomografia por emissão de pósitrons (PET) usa isótopos
produzidos por cíclotron, com meia-vida extremamente
curta e que emitem pósitrons. A PET é empregada para avaliar a função fisiológica de órgãos, como o encéfalo, de forma dinâmica.
Há captação seletiva do isótopo injetado
nas áreas de aumento da atividade encefálica.
As imagens podem mostrar todo o órgão ou cortes transversais. A tomografia
computadorizada por
emissão de fóton único (SPECT) é semelhante, mas
usa marcadores com maior permanência. O custo é mais baixo, porém,
é mais demorada e tem menor resolução.
Figura I.56 Cintigrafias ósseas da cabeça, do
pescoço, do tórax e da pelve. Essas imagens de medicina nuclear podem ser vistas
como um todo ou em corte transversal.
Pontos-chave
TÉCNICAS DE IMAGEM
A s técnicas de imagem permitem a visualização da anatomia em pessoas vivas. Essas técnicas permitem o exame das estruturas com seu tônus normal, volumes de líquido, pressões internas etc., que não existem no cadáver. Sem dúvida, o principal objetivo da imagem médica é
detectar doenças. No entanto, é
necessário um sólido conhecimento de anatomia radiológica para distinguir doenças e anormalidades da anatomia normal.








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