Figura I.41 Inervação somática e visceral através dos nervos espinais, esplâncnicos e cranianos. O sistema motor somático permite o movimento voluntário e reflexo causado por contração dos músculos esqueléticos, como ocorre quando uma pessoa toca um ferro quente.
Figura I.42 Neurônios do SNP. Observe os tipos de neurônios presentes nos sistemas nervosos somático e visceral, a localização geral de seus corpos celulares em relação ao SNC e seus órgãos receptores ou efetores.
As fibras nervosas
eferentes
e os gânglios
da DASN
são organizados em dois
sistemas ou partes: a parte simpática
(toracolombar) e a parte parassimpática (craniossacral). Ao contrário da inervação
motora ou sensitiva somática, em que a passagem de impulsos entre o SNC e a terminação sensitiva ou o órgão efetor depende de um único neurônio, nas duas partes da DASN a condução de impulsos do SNC para o órgão efetor
depende de uma série de dois neurônios multipolares (Figura I.42). O corpo celular do primeiro neurônio, pré-sináptico (pré-ganglionar) está
localizado na substância cinzenta do SNC. Sua fibra (axônio) faz sinapse apenas no corpo celular de um neurônio pós-sináptico (pós-ganglionar), o segundo neurônio na série. Os corpos celulares desses segundos neurônios estão localizados fora do
SNC nos gânglios autônomos, com fibras terminando no órgão efetor (músculo liso, músculo cardíaco
modificado ou glândulas).
A distinção anatômica entre as partes simpática e parassimpática da DASN tem como base principalmente:
1. A localização dos corpos celulares pré-sinápticos e
2. Os nervos que conduzem as fibras pré-sinápticas originadas no SNC.
Uma distinção funcional de importância farmacológica para a prática médica é que os neurônios pós-sinápticos das duas partes geralmente
liberam diferentes
substâncias neurotransmissoras: a parte
simpática libera norepinefrina (exceto no caso das glândulas sudoríferas) e a parte parassimpática, acetilcolina.
PARTE SIMPÁTICA (TORACOLOMBAR) DA DASN
Os corpos celulares dos neurônios
pré-sinápticos
da parte simpática da DASN são encontrados em apenas um local: as colunas intermédias (IM)
ou núcleos da medula espinal (Figura I.43). Os pares de colunas IM (direita e esquerda)
fazem parte da substância cinzenta dos segmentos torácico (T1–T12) e lombar superior (L1–L2
ou L3) da medula espinal (daí o nome alternativo “toracolombar” dessa
parte). Em cortes
transversais dessa
parte da medula, as colunas IM apresentam-se
como pequenos cornos
laterais da substância cinzenta em forma de H, assemelhando-se
a uma extensão
do traço transversal
do H entre os cornos
posterior e anterior. As colunas IM têm organização somatotópica (isto é, dispostas
como o corpo, os corpos celulares responsáveis pela
inervação da cabeça estão localizados
na
parte
superior,
e aqueles responsáveis pela inervação das vísceras pélvicas e membros
inferiores, na parte inferior). Assim, é possível
deduzir a localização dos corpos celulares simpáticos pré-sinápticos responsáveis pela inervação
de uma parte específica do corpo.

Figura I.43 Colunas celulares intermédias. Cada coluna ou núcleo IM forma o corno lateral de substância cinzenta dos segmentos T1–L2 ou L3 da medula espinal e é formada por corpos celulares dos neurônios pré-sinápticos da parte simpática do sistema nervoso, organizados de modo somatotópico.
Os corpos celulares dos neurônios pós-sinápticos da parte simpática do sistema nervoso
estão situados em dois locais, nos gânglios paravertebrais e nos pré-vertebrais (Figura I.44):
•
Os gânglios paravertebrais
estão
associados para
formar os troncos
simpáticos
direito
e esquerdo de cada lado
da coluna vertebral e se estendem
praticamente por todo o comprimento
da coluna. O gânglio paravertebral superior (o
gânglio cervical superior de cada tronco simpático) situa-se
na base do crânio. O gânglio ímpar forma-se na parte inferior onde os dois troncos se unem no nível do cóccix
•
Os gânglios pré-vertebrais estão situados nos plexos que circundam
as origens dos principais ramos
da parte abdominal
da aorta (cujos nomes eles recebem), como os dois grandes gânglios celíacos
que cercam a origem do tronco celíaco (uma grande artéria originada da aorta).
Como são fibras motoras,
os axônios dos neurônios pré-sinápticos deixam a medula espinal através das raízes anteriores e
entram nos ramos anteriores dos nervos espinais T1–L2 ou L3 (Figuras I.45 e I.46). Quase imediatamente
após a entrada, todas as fibras simpáticas pré-sinápticas deixam os ramos anteriores desses nervos espinais e seguem até os troncos simpáticos através
dos ramos comunicantes
brancos. Nos troncos simpáticos, as fibras pré-sinápticas podem seguir quatro trajetos:
• Ascender
no tronco simpático para fazer sinapse com um neurônio pós-sináptico de um gânglio paravertebral mais alto
• Descer no tronco simpático para fazer sinapse com um neurônio pós-sináptico de um gânglio paravertebral mais baixo.
• Entrar e fazer sinapse imediatamente
com um neurônio pós-sináptico do gânglio paravertebral naquele nível
• Atravessar
o tronco simpático
sem fazer sinapse, continuando
através de um nervo
esplâncnico abdominopélvico
(um ramo do tronco responsável pela inervação das vísceras abdominais e pélvicas) para chegar aos gânglios pré-vertebrais.
As fibras simpáticas pré-sinápticas responsáveis pela
inervação autônoma na cabeça, pescoço,
parede
do
corpo,
membros e cavidade torácica seguem um dos três primeiros trajetos, fazendo sinapse nos gânglios paravertebrais. As fibras
simpáticas pré-sinápticas que inervam
vísceras na cavidade abdominopélvica seguem o quarto trajeto.
As fibras simpáticas pós-sinápticas são
muito mais numerosas
do que as fibras pré-sinápticas; cada fibra simpática pré- sináptica faz sinapse com 30 ou mais fibras pós-sinápticas. As fibras simpáticas
pós-sinápticas, destinadas à distribuição no pescoço, parede do corpo
e membros, seguem
dos
gânglios
paravertebrais dos troncos simpáticos até ramos
anteriores adjacentes dos nervos espinais através de ramos comunicantes
cinzentos (Figura I.46). Desse modo, entram
em todos os ramos de todos os 31 pares de nervos espinais, inclusive os ramos posteriores.
As fibras simpáticas pós-sinápticas estimulam a
contração dos vasos sanguíneos
(vasomotricidade) e dos músculos eretores dos pelos (piloereção, que deixa a “pele arrepiada”), além de causarem sudorese.
Todas as fibras simpáticas pós- sinápticas que realizam essas funções na cabeça (mais a
inervação do músculo dilatador
da íris) têm seus corpos celulares no gânglio cervical superior, na extremidade superior do
tronco simpático. Elas saem do
gânglio por meio de
um ramo arterial cefálico para
formar
plexos periarteriais
dos nervos, que seguem os ramos das artérias
carótidas ou podem seguir
diretamente até nervos cranianos adjacentes, para chegar ao seu destino na cabeça (Maklad et al., 2001).

Figura I.44 Gânglios da parte simpática do sistema nervoso. Na parte simpática do sistema nervoso, os corpos celulares
dos neurônios pós-sinápticos são encontrados nos gânglios paravertebrais dos troncos simpáticos ou nos gânglios pré-vertebrais relacionados principalmente com as origens dos principais ramos da parte abdominal da aorta.
Os
gânglios pré-vertebrais estão
associados
especificamente à inervação das vísceras abdominopélvicas. Os corpos celulares dos neurônios pós-sinápticos distribuídos para o restante do corpo estão nos gânglios paravertebrais.
Os nervos esplâncnicos conduzem fibras eferentes
(autônomas) e aferentes
viscerais que entram e saem das vísceras
nas cavidades do corpo.
As fibras simpáticas pós-sinápticas destinadas às vísceras da cavidade torácica (p. ex., coração, pulmões e esôfago) atravessam os nervos esplâncnicos cardiopulmonares para entrar nos plexos cardíaco,
pulmonar
e esofágico (Figuras I.45 e I.46). As fibras simpáticas pré-sinápticas responsáveis pela inervação
de vísceras da cavidade abdominopélvica (p. ex., o estômago e o
intestino) seguem até os gânglios pré-vertebrais através dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos
(inclusive
os
nervos
esplâncnicos
maior,
menor, imo
e lombares)
(Figuras I.45
a I.47). Todas
as
fibras simpáticas pré- sinápticas dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos, exceto aquelas responsáveis pela inervação
das glândulas suprarrenais, fazem sinapse nos gânglios pré-vertebrais. As fibras pós-sinápticas dos gânglios pré-vertebrais formam plexos periarteriais, que seguem ramos da parte abdominal da aorta até chegarem ao seu destino.
Algumas fibras simpáticas pré-sinápticas atravessam os gânglios pré-vertebrais celíacos sem fazer sinapse, continuando até terminar diretamente nas células da medula da glândula suprarrenal (Figura I.47). As células da
medula da glândula suprarrenal funcionam como um tipo especial de neurônio pós-sináptico; em vez de liberarem seu neurotransmissor para as células de um órgão
efetor
específico, liberam-no
na corrente sanguínea
a fim
de circular em todo o corpo,
produzindo uma resposta
simpática difusa. Assim, a inervação
simpática dessa glândula é excepcional.
Figura I.45
Trajetos seguidos pelas fibras motoras simpáticas. Todas as fibras pré-sinápticas seguem o mesmo trajeto até chegarem aos troncos simpáticos. Nos troncos,
podem seguir
quatro trajetos. As fibras associadas à inervação simpática da parede do corpo e membros ou das vísceras acima do nível do diafragma seguem os trajetos 1–3 e fazem sinapse nos gânglios paravertebrais dos troncos simpáticos. As fibras responsáveis pela inervação das vísceras abdominopélvicas seguem o trajeto 4 até o gânglio pré-vertebral através dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos.
Figura I.46 A parte simpática (toracolombar) da DASN. As fibras simpáticas pós-sinápticas saem dos troncos simpáticos por diferentes meios, dependendo de seu destino: aquelas destinadas à distribuição parietal no pescoço, parede do corpo e membros seguem dos troncos simpáticos até ramos anteriores adjacentes de todos os nervos espinais através dos ramos comunicantes cinzentos; aquelas destinadas à cabeça saem dos gânglios cervicais através dos ramos arteriais cefálicos para formar um
plexo periarterial carotídeo; e aquelas destinadas às vísceras da cavidade torácica (p. ex., o coração) seguem através dos nervos esplâncnicos cardiopulmonares. As fibras simpáticas pré-sinápticas responsáveis pela inervação de vísceras da cavidade
abdominopélvica (p.
ex., o estômago) seguem através dos troncos simpáticos até os gânglios pré-vertebrais por meio dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos. As fibras pós-sinápticas dos gânglios pré-vertebrais formam plexos periarteriais que seguem
ramos da parte abdominal da aorta até chegarem ao seu destino.
Figura I.47 Inervação simpática da medula da glândula suprarrenal. A inervação simpática da glândula suprarrenal é excepcional. As células secretoras da medula são neurônios simpáticos pós-sinápticos que não têm
axônios nem dendritos. Consequentemente, a
medula da
glândula
suprarrenal
é inervada diretamente por neurônios simpáticos pré-sinápticos. Os neurotransmissores produzidos pelas células medulares são liberados na
corrente sanguínea para produzir resposta simpática em larga escala.
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