sábado, 24 de junho de 2017

DIVISÃO SOMÁTICA DO SISTEMA NERVOSO


Fonte : Livro Anatomia Orientada Para A Clínica - 7ª Ed. 

Autores: Keith L. Moore / Arthur F. Dalley / Anne M. R. Agur


A divisão somática do sistema nervoso (DSSN), formada pelas partes somáticas do SNC e do SNP, proporciona inervação sensitiva e motora a todas as partes do corpo, exceto as vísceras nas cavidades, músculo liso e glândulas (Figuras I.41 e I.42). O sistema sensitivo somático  transmite sensações de tato, dor, temperatura e posição a partir dos receptores sensitivos. A maioria  dessas  sensações  alcança  níveis  conscientes  (isto  é,  tomamos  conhecimento  delas).  O  sistema  motor somático inerva apenas o músculo esquelético, estimula o movimento voluntário e reflexo, causando contração muscular, como ocorre quando uma pessoa toca um ferro quente.

 

Divisão autônoma do sistema nervoso


A divisão autônoma do sistema nervoso (DASN), classicamente descrita como sistema nervoso visceral ou sistema motor visceral (Figuras I.41 e I.42), consiste em fibras motoras que estimulam  o músculo liso (involuntário),  o músculo cardíaco modificado (o complexo estimulante do coração) e as lulas glandulares (secretoras). Entretanto, as fibras eferentes viscerais da  DASN  são  acompanhadas  por  fibras  aferentes  viscerais.  Como  componente  aferente  dos  reflexos  autônomos  e  na condução de impulsos viscerais, essas fibras aferentes viscerais também atuam no controle da função visceral.
Figura I.41 Inervação somática e visceral através dos nervos espinais, esplâncnicos e cranianos. O sistema motor somático permite o movimento voluntário e reflexo causado por contração dos músculos esqueléticos, como ocorre quando uma pessoa toca um ferro quente.





Figura I.42 Neurônios do SNP. Observe os tipos de neurônios presentes nos sistemas nervosos somático e visceral, a localização geral de seus corpos celulares em relação ao SNC e seus órgãos receptores ou efetores.


As fibras  nervosas  eferentes  e os gânglios  da DASN  são  organizados  em  dois  sistemas  ou partes: a parte  simpática (toracolombar) e a parte parassimpática (craniossacral). Ao contrário da inervação motora ou sensitiva somática, em que a passagem de impulsos entre o SNC e a terminação sensitiva ou o órgão efetor depende de um único neurônio, nas duas partes da DASN a condução de impulsos do SNC para o órgão efetor depende de uma série de dois neurônios multipolares (Figura I.42). O corpo celular do primeiro neurônio, pré-sináptico (pré-ganglionar) está localizado na substância cinzenta do SNC. Sua fibra (axônio) faz sinapse apenas no corpo celular de um neurônio pós-sináptico (pós-ganglionar), o segundo neurônio na série. Os corpos celulares desses segundos neurônios estão localizados fora do SNC nos gânglios autônomos, com fibras terminando no órgão efetor (músculo liso, músculo cardíaco modificado ou glândulas).
 
A distinção anatômica entre as partes simpática e parassimpática da DASN tem como base principalmente:

1.  A localização dos corpos celulares pré-sinápticos e
2.  Os nervos que conduzem as fibras pré-sinápticas originadas no SNC.

Uma distinção funcional de importância farmacológica para a prática médica é que os neurônios pós-sinápticos das duas partes geralmente  liberam diferentes substâncias neurotransmissoras: a parte simpática  libera norepinefrina  (exceto no caso das glândulas sudoríferas) e a parte parassimpática, acetilcolina.


PARTE SIMPÁTICA (TORACOLOMBAR) DA DASN



Os  corpos  celulares  dos  neurônios  pré-sinápticos  da parte  simpática  da DASN  são  encontrados  em apenas  um  local: as colunas intermédias (IM) ou núcleos da medula espinal (Figura I.43). Os pares de colunas IM (direita e esquerda) fazem parte da substância cinzenta dos segmentos torácico (T1–T12) e lombar superior (L1–L2 ou L3) da medula espinal (daí o nome alternativo  “toracolombar”  dessa parte). Em cortes transversais dessa parte da medula, as colunas IM apresentam-se como pequenos cornos laterais da substância cinzenta em forma de H, assemelhando-se  a uma extensão do traço transversal do H entre os cornos posterior e anterior. As colunas IM têm organização somatotópica (isto é, dispostas como o corpo, os corpos  celulares  responsáveis  pela  inervação  da  cabeça  estão  localizados  na  parte  superior,  e  aqueles responsáveis  pela inervação das vísceras lvicas e membros inferiores, na parte inferior). Assim, é possível deduzir a localização  dos corpos celulares simpáticos pré-sinápticos responsáveis pela inervação de uma parte específica do corpo.





Figura I.43 Colunas celulares intermédias. Cada coluna ou cleo IM forma o corno lateral de substância cinzenta dos segmentos T1–L2 ou L3 da medula espinal e é formada por corpos celulares dos neurônios pré-sinápticos da parte simtica do sistema nervoso, organizados de modo somatotópico.


Os corpos celulares dos neurônios pós-sinápticos da parte simpática do sistema nervoso estão situados em dois locais, nos gânglios paravertebrais e nos pré-vertebrais (Figura I.44):

   Os gânglios  paravertebrais  estão  associados  para  formar  os troncos  simpáticos  direito  e esquerdo  de cada  lado  da coluna vertebral e se estendem praticamente  por todo o comprimento  da coluna.  O gânglio paravertebral  superior  (o gânglio cervical superior de cada tronco simpático) situa-se na base do crânio. O gânglio ímpar forma-se na parte inferior onde os dois troncos se unem no nível do cóccix
   Os gânglios pré-vertebrais estão situados nos plexos que circundam as origens dos principais ramos da parte abdominal da aorta (cujos nomes eles recebem),  como os dois grandes gânglios celíacos que cercam a origem do tronco celíaco (uma grande artéria originada da aorta).

Como são fibras motoras, os axônios dos neurônios pré-sinápticos deixam a medula espinal através das raízes anteriores e
entram nos ramos anteriores dos nervos espinais T1–L2 ou L3 (Figuras I.45 e I.46). Quase imediatamente  após a entrada, todas as fibras simpáticas pré-sinápticas deixam os ramos anteriores desses nervos espinais e seguem até os troncos simpáticos através dos ramos comunicantes brancos. Nos troncos simpáticos, as fibras pré-sinápticas podem seguir quatro trajetos:

   Ascender no tronco simpático para fazer sinapse com um neurônio pós-sináptico de um gânglio paravertebral mais alto
   Descer no tronco simpático para fazer sinapse com um neurônio pós-sináptico de um gânglio paravertebral mais baixo.
   Entrar e fazer sinapse imediatamente com um neurônio pós-sináptico do gânglio paravertebral naquele nível
   Atravessar  o tronco simpático  sem fazer sinapse,  continuando  através de um nervo esplâncnico  abdominopélvico  (um ramo do tronco responsável pela inervação das vísceras abdominais e lvicas) para chegar aos gânglios pré-vertebrais.

As  fibras  simpáticas  pré-sinápticas  responsáveis  pela  inervação  autônoma  na  cabeça,  pescoço,  parede  do  corpo,
membros e cavidade torácica seguem um dos três primeiros trajetos,  fazendo sinapse nos gânglios paravertebrais.  As fibras simpáticas pré-sinápticas que inervam vísceras na cavidade abdominopélvica seguem o quarto trajeto.
As fibras simpáticas pós-sinápticas são muito mais numerosas do que as fibras pré-sinápticas; cada fibra simpática pré- sináptica faz sinapse com 30 ou mais fibras pós-sinápticas.  As fibras simpáticas  pós-sinápticas,  destinadas à distribuição no pescoço,  parede  do  corpo  e  membros,  seguem  dos  gânglios  paravertebrais  dos  troncos  simpáticos  até  ramos  anteriores adjacentes dos nervos espinais através de ramos comunicantes cinzentos (Figura I.46). Desse modo, entram em todos os ramos de todos os 31 pares de nervos espinais, inclusive os ramos posteriores.
As  fibras  simpáticas  pós-sinápticas  estimulam  a  contração  dos  vasos  sanguíneos  (vasomotricidade)  e  dos  músculos eretores dos pelos (piloereção,  que deixa a “pele arrepiada”),  além de causarem sudorese.  Todas as fibras simpáticas  pós- sinápticas que realizam essas funções na cabeça (mais a inervação do músculo dilatador da íris) têm seus corpos celulares no gânglio cervical superior, na extremidade superior do tronco simpático. Elas saem do gânglio por meio de um ramo arterial cefálico  para  formar  plexos  periarteriais  dos  nervos,  que  seguem  os  ramos  das  artérias  carótidas  ou  podem  seguir diretamente até nervos cranianos adjacentes, para chegar ao seu destino na cabeça (Maklad et al., 2001).


Figura I.44 Gânglios da parte simpática do sistema nervoso. Na parte simtica do sistema nervoso, os corpos celulares dos neurônios s-sinápticos são encontrados nos nglios paravertebrais dos troncos simticos ou nos nglios pré-vertebrais relacionados principalmente com as origens dos principais ramos da parte abdominal da aorta. Os nglios pré-vertebrais estão associados  especificamente  à inervação  das vísceras abdominopélvicas.  Os corpos celulares dos neurônios s-sinápticos distribuídos para o restante do corpo estão nos nglios paravertebrais.



Os nervos esplâncnicos conduzem fibras eferentes (autônomas) e aferentes viscerais que entram e saem das vísceras nas cavidades do corpo. As fibras simpáticas pós-sinápticas destinadas às vísceras da cavidade torácica (p. ex., coração, pulmões e esôfago) atravessam  os nervos esplâncnicos  cardiopulmonares  para entrar nos plexos cardíaco,  pulmonar  e esofágico (Figuras I.45 e I.46). As fibras simpáticas pré-sinápticas responsáveis pela inervação de vísceras da cavidade abdominopélvica (p. ex., o estômago e o intestino) seguem até os gânglios pré-vertebrais através dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos (inclusive  os  nervos  esplâncnicos  maior,  menor,  imo  e  lombares)  (Figuras  I.45  a  I.47).  Todas  as  fibras  simpáticas  pré- sinápticas dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos,  exceto aquelas responsáveis pela inervação das glândulas suprarrenais, fazem sinapse nos gânglios pré-vertebrais. As fibras pós-sinápticas dos gânglios pré-vertebrais formam plexos periarteriais, que seguem ramos da parte abdominal da aorta até chegarem ao seu destino.

Algumas fibras simpáticas pré-sinápticas atravessam os gânglios pré-vertebrais celíacos sem fazer sinapse, continuando até terminar diretamente nas lulas da medula da glândula suprarrenal (Figura I.47). As lulas da medula da glândula suprarrenal funcionam como um tipo especial de neurônio pós-sináptico; em vez de liberarem seu neurotransmissor para as lulas de um órgão  efetor  específico,  liberam-no  na  corrente  sanguínea  a fim  de  circular  em  todo  o corpo,  produzindo  uma  resposta simpática difusa. Assim, a inervação simpática dessa glândula é excepcional.





Figura I.45 Trajetos seguidos pelas fibras motoras simpáticas. Todas as fibras pré-sinápticas seguem o mesmo trajeto até chegarem aos troncos simticos. Nos troncos, podem seguir quatro trajetos. As fibras associadas à inervação simtica da parede do corpo e membros ou das vísceras acima do nível do diafragma seguem os trajetos 1–3 e fazem sinapse nos nglios paravertebrais dos troncos simticos. As fibras responsáveis pela inervação das vísceras abdominopélvicas seguem o trajeto 4 até o nglio pré-vertebral através dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos.




Figura I.46 A parte simpática (toracolombar) da DASN. As fibras simticas s-sinápticas saem dos troncos simticos por diferentes meios, dependendo de seu destino: aquelas destinadas à distribuição parietal no pescoço, parede do corpo e membros seguem dos troncos simticos até ramos anteriores adjacentes de todos os nervos espinais através dos ramos comunicantes cinzentos; aquelas destinadas à cabeça saem dos nglios cervicais através dos ramos arteriais cefálicos para formar um plexo periarterial carotídeo; e aquelas destinadas às vísceras da cavidade torácica (p. ex., o coração) seguem através dos nervos esplâncnicos cardiopulmonares. As fibras simticas pré-sinápticas responsáveis pela inervação de vísceras da cavidade abdominopélvica (p. ex., o estômago) seguem através dos troncos simticos até os nglios pré-vertebrais por meio dos nervos esplâncnicos abdominopélvicos. As fibras s-sinápticas dosnglios pré-vertebrais formam plexos periarteriais que seguem ramos da parte abdominal da aorta até chegarem ao seu destino.


Figura I.47 Inervação simpática da medula da glândula suprarrenal. A inervação simtica da glândula suprarrenal é excepcional. As células secretoras da medula são neurônios simticos s-sinápticos que não têm axônios nem dendritos. Consequentemente,  a  medula  da  glândula  suprarrenal  é  inervada  diretamente  por neurônios  simticos  pré-sinápticos.  Os neurotransmissores produzidos pelas células medulares são liberados na corrente sanguínea para produzir resposta simtica em larga escala.

Como descrito  antes,  as fibras simpáticas  pós-sinápticas  são componentes  de praticamente  todos os ramos dos nervos espinais.  Desse modo, e por intermédio dos plexos periarteriais,  elas se estendem e inervam todos os vasos sanguíneos do corpo (a função primária  do sistema  simpático),  bem como as glândulas  sudoríferas, os músculos eretores dos pelos e as estruturas viscerais. Assim, o sistema nervoso simpático alcança praticamente todas as partes do corpo, com a rara exceção de tecidos avasculares como cartilagem  e unhas. Como os dois grupos de gânglios simpáticos (paravertebrais  e pré-vertebrais) ocupam posição central no corpo e estão próximos da linha mediana (portanto, relativamente  próximos da medula espinal), nessa divisão  as fibras pré-sinápticas  são relativamente  curtas,  enquanto  as fibras pós-sinápticas  são relativamente  longas, devendo estender-se a todas as partes do corpo.


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