Fonte : Livro Anatomia Orientada Para A Clínica - 7ª Ed.
Autores: Keith L. Moore / Arthur F. Dalley / Anne M. R. Agur
Quando seccionada transversalmente, a cavidade torácica é reniforme: um espaço com diâmetro transversal ovoide, entalhe
profundo na região posterior causado
pela coluna vertebral torácica e pelas cabeças e colos das costelas que se articulam com ela (Figura 1.30A). A cavidade torácica é dividida em três compartimentos (Figura 1.30A e C):
• Cavidades pulmonares direita e esquerda, compartimentos bilaterais, que contêm
os pulmões e as pleuras e ocupam
a maior parte da cavidade torácica.
Figura 1.30 Divisões da cavidade torácica e revestimento das cavidades pulmonares. A. A TC e o diagrama de interpretação acima são imagens em corte transversal da cavidade torácica, mostram o formato reniforme e a divisão em três compartimentos. Os diagramas dimensional (B) e transversal coronal (C) mostram os revestimentos das cavidades pleurais e pulmões (pleuras). Cada pulmão é revestido pela lâmina interna de um saco fechado que foi invaginado pelo pulmão. Detalhe: Um punho invaginando um balão pouco cheio mostra a relação entre o pulmão (representado pelo punho) e as paredes do saco pleural (lâminas parietal e visceral da pleura).
Figura 1.30 Divisões da cavidade torácica e revestimento das cavidades pulmonares. A. A TC e o diagrama de interpretação acima são imagens em corte transversal da cavidade torácica, mostram o formato reniforme e a divisão em três compartimentos. Os diagramas dimensional (B) e transversal coronal (C) mostram os revestimentos das cavidades pleurais e pulmões (pleuras). Cada pulmão é revestido pela lâmina interna de um saco fechado que foi invaginado pelo pulmão. Detalhe: Um punho invaginando um balão pouco cheio mostra a relação entre o pulmão (representado pelo punho) e as paredes do saco pleural (lâminas parietal e visceral da pleura).
•
Um mediastino central, um compartimento interposto
entre
as
duas
cavidades pulmonares e
separando-as
completamente, que contém
praticamente todas as outras estruturas torácicas — coração, partes torácicas
dos grandes vasos,
parte
torácica da traqueia,
esôfago, timo
e outras estruturas (p. ex., linfonodos). Estende-se verticalmente
da abertura
superior do tórax até o diafragma e anteroposteriormente do esterno
até os corpos vertebrais torácicos.
Pleuras, pulmões e árvore traqueobronquial
Cada cavidade pulmonar (direita e esquerda)
é revestida por uma membrana
pleural (pleura) que
também se reflete e cobre a face externa dos pulmões que ocupam as cavidades (Figura 1.30B e C). Para visualizar a relação entre pleuras e pulmões, empurre seu punho dentro
de um balão de ar quase vazio (Figura 1.30C). A parte interna
da parede do balão (adjacente ao seu punho,
que representa o pulmão) é semelhante à pleura visceral;
a parede externa do balão representa a pleura parietal. A
cavidade entre as paredes
do balão, cheia de ar, é análoga à cavidade pleural, embora a cavidade pleural contenha
apenas uma fina película de líquido. No punho (que representa a raiz
do
pulmão), as paredes interna e
externa do balão são contínuas, assim como as pleuras visceral e parietal, que, juntas, formam
o saco pleural. Observe
que o pulmão está situado fora do saco pleural, mas é circundado
por ele, assim como o punho é envolvido pelo balão, mas está fora dele.
O detalhe na Figura 1.30C também é útil para compreender o desenvolvimento dos pulmões e das pleuras. Durante o período embrionário, os pulmões em desenvolvimento invaginam os (crescem
para dentro dos) canais pericardioperitoneais,
os precursores das cavidades pleurais. O epitélio celômico invaginado cobre os primórdios dos pulmões e transforma-se na pleura visceral da mesma forma que o
balão cobre o punho. O epitélio que reveste
as paredes dos canais pericardioperitoneais forma a pleura parietal. Durante a embriogênese, as cavidades pleurais separam-se das cavidades pericárdica e peritoneal.
PLEURAS
Cada pulmão é revestido e envolvido por um saco pleural seroso formado
por duas membranas contínuas: a pleura visceral,
que reveste toda a superfície pulmonar, formando sua face externa brilhante, e a pleura parietal, que reveste as cavidades pulmonares (Figura 1.30B e C).
A cavidade
pleural — o espaço
virtual entre as camadas
de pleura — contém uma camada
capilar de líquido pleural seroso, que lubrifica as superfícies pleurais e permite que as camadas
de pleura deslizem suavemente uma sobre a outra, durante a respiração. A tensão
superficial do líquido pleural também propicia a coesão
que mantém a superfície pulmonar em contato
com a parede torácica; assim, o pulmão se expande e se enche de ar quando o tórax expande, ainda permitindo o deslizamento, de forma muito semelhante a uma película de água entre duas placas de vidro.
A pleura visceral
(pleura pulmonar)
está aposta ao pulmão e aderida a todas as suas superfícies,
inclusive as fissuras horizontal e oblíqua (Figuras 1.30B e C e 1.31A). Na dissecção
de cadáveres, em geral não é possível
dissecar a pleura visceral da superfície do pulmão. Ela torna a superfície do pulmão lisa e escorregadia, permitindo o livre movimento sobre a pleura parietal. A pleura visceral é contínua com a pleura parietal no hilo do pulmão, onde
estruturas que formam
a raiz do pulmão (p. ex., o brônquio e os vasos pulmonares) entram e saem (Figura 1.30C).
A pleura parietal reveste as cavidades pulmonares,
aderindo, assim, à parede torácica, ao mediastino e ao diafragma. É mais espessa
do que a pleura visceral,
e durante
cirurgias e dissecções
de cadáver,
pode ser separada das superfícies que reveste. A pleura parietal tem três partes — costal,
mediastinal e diafragmática — e a cúpula da pleura (pleura cervical).
A parte costal da pleura parietal (pleura costovertebral ou costal) cobre as faces internas da parede torácica (Figuras1.30B e C e 1.32).
Está
separada
da face interna
da parede torácica
(esterno,
costelas e cartilagens
costais, músculos
e membranas
intercostais e faces
laterais das vértebras
torácicas) pela fáscia endotorácica. Essa
camada extrapleural fina de tecido conectivo frouxo forma um plano de clivagem natural para a separação cirúrgica da pleura costal
da parede torácica (ver no boxe azul “Acesso cirúrgico intratorácico extrapleural”, anteriormente).
A parte mediastinal da pleura parietal (pleura mediastinal) cobre as faces laterais do mediastino, a divisória de tecidos e órgãos que separam as cavidades pulmonares
e seus sacos pleurais. Continua superiormente
até a raiz do pescoço
na forma de cúpula da pleura. É contínua com a pleura costal
anterior e posteriormente
e com a pleura diafragmática na parte inferior.
Superiormente à raiz do pulmão, a parte
mediastinal é uma lâmina contínua
em sentido anteroposterior entre
o esterno e a coluna vertebral.
No hilo do pulmão, é a parte mediastinal que se reflete lateralmente
sobre a raiz do pulmão e torna-se contínua com a pleura visceral.
A parte diafragmática da pleura parietal (pleura diafragmática) cobre
a face superior (torácica) do diafragma de cada lado do mediastino, exceto ao longo de suas fixações (origens) costais e no local onde o diafragma está fundido ao pericárdio, a membrana fibrosserosa
que envolve
o coração (Figuras 1.30B e C e 1.32). Uma camada
fina, mais
elástica
de fáscia endotorácica, a fáscia frenicopleural, une
a parte diafragmática da pleura às fibras musculares do diafragma (Figura 1.30C).
A cúpula da pleura cobre o ápice do pulmão
(a parte
do pulmão que se estende superiormente
através
da abertura
superior do tórax até a raiz do pescoço — Figuras 1.30B e C e 1.31A). É uma continuação
superior das partes costal
e mediastinal da pleura parietal. A cúpula da pleura forma uma abóboda sobre o ápice, cuja parte mais alta situa-se 2 a 3 cm superiormente ao terço medial da clavícula, no nível do colo da costela I. A cúpula da pleura é reforçada
por uma extensão fibrosa da fáscia
endotorácica, a membrana
suprapleural
(fáscia
de Sibson). A membrana
fixa-se à margem interna da costela I e ao processo
transverso da vértebra
C VII (Figura 1.30C).
Figura 1.31 Relação entre o conteúdo torácico e o revestimento da caixa torácica. A. Os ápices dos pulmões e da cúpula da pleura estendem-se até o pescoço. A reflexão esternal esquerda da pleura parietal e margem anterior do pulmão esquerdo
desviam-se do plano mediano, contornando a área em que está o coração, adjacente à parede anterior do tórax. Nessa “área nua”, o saco pericárdico é acessível para punção com agulha, havendo menor risco de
perfuração da cavidade pleural ou do
pulmão. B– D.
São mostrados os formatos dos pulmões e dos sacos pleurais maiores que os circundam durante a respiração tranquila. Os recessos costodiafragmáticos, não ocupados pelos pulmões, são os locais de acúmulo de exsudato pleural quando o corpo está em posição ortostática. O contorno da fissura horizontal
no
pulmão direito é paralelo à costela IV. As costelas são identificadas por números.
As linhas relativamente
abruptas ao longo das quais a pleura parietal muda de direção quando passa (é refletida) de uma parede da cavidade pleural para a outra são as linhas de reflexão pleural
(Figuras 1.31 e 1.32). Três linhas de reflexão pleural delimitam a extensão
das cavidades pulmonares
de cada lado: esternal, costal
e diafragmática.
Os contornos das cavidades pulmonares direita e esquerda
são assimétricos (i. e., não são imagens especulares) porque o
coração está voltado para o
lado esquerdo, pressionando mais a cavidade esquerda do que a direita.
O desvio do coração
para a esquerda afeta principalmente
as linhas esternais direita e esquerda de reflexão pleural, que são assimétricas.
As linhas esternais são agudas ou abruptas e ocorrem no local onde a pleura costal torna-se
contínua com a pleura mediastinal anteriormente. As linhas de reflexão esternal
direita e esquerda
começam superiormente
às cúpulas (Figura 1.31A) e seguem em sentido inferomedial, posteriormente às articulações esternoclaviculares
para encontrarem-se na linha mediana anterior (LMA), posteriormente
ao esterno, no nível do ângulo do esterno. Entre os níveis da 2a–4a cartilagens costais, as linhas direita e esquerda
descem em contato.
Pode haver até mesmo leve superposição dos sacos pleurais.
Figura 1.32
Diafragma, base das cavidades pulmonares e mediastino, e recessos costodiafragmáticos. Quase toda a parte diafragmática da pleura parietal foi removida. Nesse nível,
o mediastino consiste em saco pericárdico (mediastino médio) e mediastino posterior,
contendo principalmente o esôfago e a aorta. O sulco profundo que circunda a convexidade do diafragma é o recesso costodiafragmático, revestido por pleura parietal. Anteriormente nesse nível, o pericárdio e os recessos costomediastinais e,
entre as reflexões esternais da pleura, uma área de pericárdio apenas (a área nua) situam-se entre o coração e a parede torácica.
A linha esternal de reflexão pleural
no lado direito segue inferiormente
na LMA até a face posterior do processo
xifoide (nível da 6a cartilagem
costal), onde
se volta lateralmente
(Figura 1.31). A linha
esternal de reflexão no lado esquerdo, porém, desce na LMA apenas até o nível da 4a cartilagem costal. Aí, ela passa para a margem esquerda do esterno e continua descendo até a 6a cartilagem costal, deixando uma impressão
superficial enquanto segue lateralmente a uma área de contato direto entre o pericárdio e a parede
torácica anterior.
Essa impressão superficial no saco pleural e a “área nua” de contato pericárdico com a parede
anterior são importantes para a pericardiocentese .
As linhas costais de reflexão
pleural também são continuações agudas das linhas esternais, que ocorrem
no local onde a pleura costal torna-se
contínua com a pleura diafragmática inferiormente. A linha costal direita prossegue lateralmente, a partir da LMA. No entanto,
por causa
da área nua do pericárdio no lado esquerdo,
a linha costal
esquerda tem início na linha medioclavicular; fora isso, as linhas costais direita e
esquerda são simétricas e avançam em sentido lateral, posterior e, depois, medial, atravessando obliquamente a costela VIII na linha medioclavicular (LMC) e
a costela X na linha axilar média (LAM), tornando-se contínuas posteriormente com as linhas vertebrais nos colos das costelas XII ou inferiormente
a elas.
As linhas vertebrais de reflexão pleural são
reflexões muito mais arredondadas e graduais, que ocorrem no local onde a pleura costal torna-se
contínua com a pleura mediastinal posteriormente. As linhas vertebrais de reflexão pleural são paralelas à coluna vertebral, seguindo nos planos paravertebrais desde o nível
de T
I até T XII, onde se tornam contínuas com as linhas costais.
Os pulmões
não
ocupam
por
completo as cavidades
pulmonares durante a expiração; assim,
a
pleura diafragmática periférica está em contato
com as partes mais inferiores da parte costal. Os espaços pleurais virtuais aqui são os recessos costodiafragmáticos, “fossas” revestidas por pleura, que circundam a convexidade superior do diafragma dentro da parede torácica (Figuras 1.30B, 1.32 e 1.33C). Recessos
pleurais semelhantes,
porém menores, estão localizados posteriormente ao esterno, onde a
parte costal está em contato com a
parte mediastinal. Os espaços pleurais virtuais são os recessos costomediastinais. O recesso esquerdo
é maior (menos ocupado)
porque a incisura cardíaca do
pulmão esquerdo é mais
acentuada do que a
impressão correspondente
no
saco
pleural.
As margens inferiores
dos
pulmões
aproximam-se dos recessos pleurais durante a inspiração profunda
e afastam-se deles durante a expiração (Figura 1.33B e C).
PULMÕES
Os pulmões
são os órgãos
vitais da respiração.
Sua principal função é oxigenar o sangue
colocando o ar inspirado
bem próximo do sangue venoso nos capilares pulmonares. Embora
os pulmões de cadáver
sejam retraídos, firmes ou duros ao toque, e com
alteração
da cor,
os pulmões
saudáveis em
pessoas vivas
são normalmente
leves, macios
e esponjosos, e ocupam totalmente
as cavidades pulmonares.
Também são elásticos e retraem-se a aproximadamente um terço do tamanho original quando a cavidade torácica é aberta (Figura 1.30C). Os pulmões são separados um do outro pelo mediastino.
Cada pulmão tem (Figuras 1.33 e 1.34):
• Um ápice, a extremidade superior arredondada do pulmão que ascende
acima do nível da costela I até a raiz do pescoço;
o ápice recoberto pela cúpula da pleura
• Uma base, a face inferior côncava do pulmão, oposta ao ápice, que acomoda
a cúpula ipsilateral do diafragma e se apoia
nela.
Figura 1.33
Faces costais dos pulmões. Os pulmões são mostrados separados em vistas anterior (A) e lateral (B), sendo possível ver os lobos e as fissuras. C. O coração e os pulmões são mostrados in situ. O pulmão esquerdo está afastado do coração (coberto pelo pericárdio fibroso) revelando o nervo frênico em sua passagem anterior à raiz do pulmão, enquanto o nervo vago (NC X) segue posteriormente à raiz. O lobo superior do pulmão esquerdo em C é uma variação sem incisura cardíaca acentuada nem língulas.
Figura 1.34 Faces mediastinais e hilos dos pulmões. As impressões surgem em pulmões fixados pelo contato com estruturas
adjacentes. Superiormente à raiz do pulmão direito (A), forma-se um sulco enquanto o arco da veia ázigo segue anteriormente para entrar na veia cava superior (VCS); no pulmão esquerdo (C),
um sulco semelhante, porém maior, se forma superiormente à raiz, enquanto o arco da aorta se curva posteriormente e desce como a parte torácica da aorta. O
hilo de cada pulmão está centralizado na face mediastinal. No hilo (B, D), a raiz de cada pulmão
é circundada por uma bainha
pleural que desce inferiormente à raiz como o ligamento pulmonar. As veias pulmonares são
as
mais anteriores e inferiores na raiz, com os brônquios em posição central e posterior.
• Dois ou três lobos,
criados por uma ou duas fissuras
• Três faces (costal, mediastinal e diafragmática)
• Três margens (anterior, inferior e posterior).
O pulmão direito
apresenta
fissuras oblíqua direita e horizontal,
que o dividem
em três lobos direitos: superior,
médio e inferior. O pulmão direito é maior e mais pesado do que o esquerdo, porém é mais curto e mais largo, porque a cúpula direita do diafragma é mais alta e o coração e o pericárdio estão mais voltados para a esquerda.
A margem anterior do pulmão direito é
relativamente reta.
O pulmão esquerdo tem uma única fissura oblíqua esquerda,
que o divide em dois lobos esquerdos, superior e inferior. A margem anterior do pulmão
esquerdo tem
uma incisura cardíaca profunda, uma impressão deixada
pelo desvio do ápice do coração
para o lado esquerdo. Essa impressão
situa-se principalmente na face anteroinferior do lobo superior e costuma moldar a parte mais inferior e anterior do lobo superior, transformando-a em um processo estreito e linguiforme, a língula,
que se estende
abaixo da incisura cardíaca e desliza para dentro e para fora do recesso
costomediastinal durante a inspiração e a expiração (Figuras 1.30B, 1.31A e 1.34C).
Os
pulmões de um cadáver fixado, geralmente firmes
ao
toque,
têm
impressões que são deixadas pelas
estruturas adjacentes a eles, como as costelas, o coração
e os grandes vasos (Figuras 1.33A e 1.34A e C). Essas
impressões fornecem indicações sobre as relações dos pulmões; entretanto, apenas
as impressões cardíacas são visíveis durante
a cirurgia ou em peças frescas de cadáver ou post mortem.
A face costal do pulmão é
grande, lisa e convexa. Está relacionada à parte costal da pleura, que a separa das costelas,cartilagens costais e dos músculos intercostais íntimos (Figura 1.33C). A parte posterior da face costal está relacionada
aos corpos
das vértebras torácicas e às vezes é denominada parte vertebral
da face costal.
A face mediastinal do pulmão é côncava porque está relacionada com o mediastino médio, que contém o pericárdio e o coração
(Figura 1.34). A face mediastinal compreende o hilo, que recebe a raiz do pulmão. No cadáver fixado, há um sulco do esôfago e uma impressão cardíaca na
face mediastinal do pulmão direito. Como dois terços do coração estão à esquerda
da linha mediana, a
impressão cardíaca na face mediastinal do pulmão esquerdo é muito maior. Essa face do pulmão esquerdo também tem um sulco contínuo
e proeminente para o arco da aorta e a parte descendente da aorta, além de uma área menor para o esôfago (Figura 1.34C).
A face diafragmática
do
pulmão, que também é côncava, forma a base
do
pulmão, apoiada sobre a
cúpula do diafragma. A concavidade é mais profunda no pulmão direito em vista da posição mais alta da cúpula direita do diafragma, que fica sobre o
fígado. Nas partes lateral e posterior, a face diafragmática é limitada por uma margem fina e aguda (margem inferior) que se projeta para o recesso costodiafragmático da pleura (Figuras 1.33C e 1.34).
A margem
anterior do pulmão é o ponto
de encontro anterior
entre as faces costal e mediastinal,
que recobrem o coração.
A incisura cardíaca deixa uma
impressão nessa
margem do pulmão esquerdo. A margem inferior do
pulmão circunscreve a face diafragmática do pulmão, separando-a das faces costal e mediastinal. A margem posterior do pulmão é o ponto de encontro
posterior das faces costal
e mediastinal; é larga e arredondada e situa-se na cavidade ao lado da parte torácica da coluna vertebral.
Os pulmões
estão
fixados ao
mediastino pelas
raízes
dos pulmões — isto é, os brônquios
(e
vasos
brônquicos
associados), artérias pulmonares,
veias pulmonares
superior e
inferior, plexos
pulmonares de nervos (fibras aferentes
simpáticas, parassimpáticas e viscerais) e vasos linfáticos (Figura 1.34). Se a raiz
for
seccionada antes da (medial
à) ramificação do brônquio principal (primário) e da artéria pulmonar, sua configuração geral é:
• Artéria pulmonar: no
extremo superior à esquerda (o brônquio lobar superior ou “epiarterial”
pode estar localizado
no extremo superior à direita).
• Veias pulmonares superior e inferior: nas extremidades anterior e inferior, respectivamente
• Brônquio principal: aproximadamente no meio do limite posterior, e os vasos brônquicos seguem em sua face externa (geralmente na face posterior nesse ponto).
O hilo do pulmão
é uma área cuneiforme na face mediastinal de cada pulmão através
da qual entram ou saem do pulmão as estruturas que formam sua raiz (Figura 1.34B e D). O hilo pode ser comparado
à área da terra na qual as raízes de uma planta penetram
o solo. Medialmente ao hilo, a raiz está encerrada na área de continuidade entre
as lâminas parietal e visceral de
pleura — a bainha pleural (mesopneumônio).Inferiormente à raiz do pulmão, essa continuidade entre pleura parietal e visceral forma o ligamento
pulmonar,
que se estende
entre
o pulmão
e
o mediastino, imediatamente anterior
ao
esôfago (Figura 1.34A-D). O ligamento pulmonar
é formado por
uma camada dupla de pleura separada por
uma pequena quantidade de tecido
conectivo. Quando a raiz do pulmão é seccionada e o pulmão é removido, o ligamento
pulmonar parece
pender da raiz. Para ter uma ideia de como são a raiz do pulmão, a bainha pleural que o circunda e o ligamento
pulmonar pendente, vista um jaleco extragrande e abduza o membro superior. O antebraço
corresponde à raiz do pulmão e a manga do jaleco representa a bainha pleural que circunda a raiz. O ligamento pulmonar corresponde à folga da manga pendente
do antebraço; e o
punho, a mão e os dedos abduzidos representam as estruturas ramificadas da raiz — os brônquios e os vasos pulmonares.
ÁRVORE TRAQUEOBRONQUIAL
A partir da laringe,
as paredes das vias respiratórias são sustentadas por anéis de cartilagem hialina em formato de ferradura ou em C. As vias
respiratórias
sublaríngeas
formam
a
árvore
traqueobronquial. A traqueia
(descrita junto com o mediastino superior,
adiante neste capítulo), situada no mediastino superior, é o tronco da árvore.
Ela se bifurca no nível do plano transverso
do tórax (ou ângulo do esterno)
em brônquios principais,
um para cada pulmão, que seguem em sentido inferolateral
e entram nos hilos dos pulmões (Figura 1.35E).
• O brônquio principal direito é mais largo, mais curto
e mais vertical do que o brônquio principal esquerdo porque
entra diretamente no hilo do pulmão.
• O brônquio principal
esquerdo segue inferolateralmente,
inferiormente ao arco da aorta e anteriormente
ao esôfago e à parte torácica da aorta, para chegar ao hilo do pulmão.
Nos pulmões, os brônquios ramificam-se de modo constante e dão origem
à árvore traqueobronquial. Observe que os ramos da
árvore traqueobronquial são
componentes da raiz de
cada pulmão (formada pelos ramos
da artéria e das veias
pulmonares, além dos brônquios).
Figura 1.35
Árvore traqueobronquial e segmentos broncopulmonares. A–D. Os segmentos broncopulmonares são mostrados após a injeção de látex de diferentes cores em cada brônquio segmentar terciário, como mostrado em E. O brônquio principal direito dá origem ao brônquio lobar superior direito antes
de
entrar no hilo
do
pulmão.
Cada brônquio principal (primário) divide-se em brônquios lobares secundários, dois à esquerda e três à direita, e cada um deles supre um lobo do pulmão. Cada brônquio lobar divide-se em vários brônquios segmentares terciários, que suprem os
segmentos broncopulmonares (Figuras 1.35 e 1.36).
Os segmentos broncopulmonares são:
• As maiores subdivisões de um lobo
• Segmentos
piramidais do pulmão, com seus ápices voltados para a raiz do pulmão e suas bases na superfície pleural
• Separados dos segmentos
adjacentes por septos de tecido conectivo
• Supridos independentemente por um brônquio segmentar e um ramo arterial pulmonar terciário
• Nominados de acordo com o brônquio segmentar que os supre
• Drenados por partes
intersegmentares das
veias pulmonares que estão situadas no tecido conectivo interposto
e drenam segmentos adjacentes
• Geralmente, 18 a 20 (10 no pulmão direito; 8 a 10 no pulmão esquerdo, dependendo da associação de segmentos)
• Cirurgicamente ressecáveis.
Além dos brônquios segmentares
terciários (Figura 1.35E), há 20 a 25 gerações de bronquíolos condutores
ramificados
que terminam como bronquíolos terminais,
os menores
bronquíolos condutores (Figura 1.36). A parede dos bronquíolos
não tem cartilagem. Os bronquíolos condutores transportam ar, mas não têm glândulas nem
alvéolos. Cada
bronquíolo terminal dá origem a
diversas gerações de bronquíolos respiratórios, caracterizados por bolsas (alvéolos) de paredes finas e dispersos, que se originam de suas luzes. O alvéolo
pulmonar é a unidade estrutural básica de troca gasosa no pulmão. Graças à presença dos alvéolos,
os bronquíolos
respiratórios
participam
tanto do transporte de ar quanto
da troca gasosa. Cada bronquíolo respiratório dá origem a 2 a 11 ductos alveolares,
e cada um deles dá origem a 5 a 6 sacos alveolares.
Os ductos alveolares
são vias respiratórias alongadas, densamente revestidas por
alvéolos, que levam a espaços
comuns, os sacos alveolares, nos quais se abrem grupos de alvéolos. Novos alvéolos continuam a se desenvolver até cerca de 8 anos de idade, período
em que há aproximadamente 300 milhões de alvéolos.
Figura 1.36
Estrutura interna e organização dos pulmões. Nos pulmões, os brônquios e as artérias pulmonares são pares e ramificam-se juntos. Os ramos segmentares terciários suprem os segmentos broncopulmonares. Cada artéria pulmonar intrassegmentar, que conduz sangue pouco oxigenado, termina em um plexo capilar nas paredes dos sacos alveolares e alvéolos, onde ocorre a troca de oxigênio e dióxido de carbono. As
veias pulmonares intersegmentares originam-se dos capilares pulmonares, conduzindo sangue bem
oxigenado para o coração. As artérias bronquiais são distribuídas ao longo da árvore bronquial e são responsáveis por sua irrigação. Seus ramos mais distais suprem os leitos capilares drenados pelas veias pulmonares,
como os da pleura visceral. Assim, pouco sangue pobre em oxigênio drena para o sangue rico
em
oxigênio conduzido
pelas veias pulmonares.
VASCULATURA DOS PULMÕES E DAS PLEURAS
Cada pulmão tem uma grande artéria pulmonar para irrigação e duas veias pulmonares que drenam seu sangue (Figura 1.37). As artérias pulmonares direita e esquerda originam-se
do tronco pulmonar no
nível do ângulo do esterno e conduzem sangue pouco oxigenado (“venoso”) aos pulmões para oxigenação. (Nas ilustrações anatômicas, geralmente são coloridas de azul, como as veias.) Cada artéria pulmonar torna-se parte da raiz do pulmão correspondente e divide-se em artérias lobares
secundárias. As artérias lobares superiores direita e esquerda,
que irrigam os lobos superiores,
surgem primeiro,
antes da entrada no hilo. Entrando no pulmão, a artéria desce posterolateralmente
ao brônquio principal, como a artéria lobar inferior
do pulmão esquerdo e como uma artéria intermediária, que se divide em artérias lobares média e inferior do pulmão direito. As
artérias lobares dividem-se em artérias segmentares terciárias. As artérias e os brônquios formam pares no pulmão, com ramificações simultâneas
e trajetos paralelos. Consequentemente, cada lobo é
servido por um par formado pela artéria lobar e brônquio secundários, e cada
segmento broncopulmonar é suprido por uma artéria
segmentar e brônquio
terciários.
Geralmente as artérias estão posicionadas na face anterior do brônquio correspondente.
Duas veias pulmonares de
cada lado, uma veia pulmonar superior e uma veia pulmonar inferior, conduzem sangue rico em oxigênio (“arterial”) dos
lobos correspondentes de cada pulmão para o átrio esquerdo
do coração. A veia do lobo médio é uma tributária da veia pulmonar direita superior. (Nas ilustrações anatômicas, as veias pulmonares geralmente
são coloridas de vermelho, como as artérias, ou de roxo.) O trajeto
das veias pulmonares
é independente do trajeto das artérias e brônquios no pulmão, elas seguem entre segmentos broncopulmonares adjacentes e recebem sangue no trajeto em direção ao hilo. Exceto na região central, peri-hilar do pulmão, as veias da pleura visceral e da circulação venosa
bronquial drenam para as veias pulmonares
e o volume relativamente pequeno de sangue pobre em oxigênio se junta ao grande volume de sangue rico em oxigênio que retorna
ao coração. As veias da pleura parietal unem-se
às veias sistêmicas
em partes adjacentes
da parede torácica.
Figura 1.37
Circulação pulmonar. Embora as relações intrapulmonares sejam bem
demonstradas, a separação dos vasos da raiz
do
pulmão foi exagerada na região hilar para mostrar sua entrada e sua saída do pulmão. Observe que a artéria pulmonar direita passa sob o
arco da aorta para chegar ao pulmão direito e que a
artéria pulmonar esquerda situa-se completamente à esquerda do arco.
As artérias bronquiais levam
sangue para a
nutrição das estruturas
que
formam
a raiz
dos
pulmões, os tecidos
de sustentação dos pulmões e
a pleura visceral (Figura 1.38A). As duas artérias bronquiais esquerdas geralmente originam-se diretamente
da parte torácica da aorta. A artéria bronquial direita, única, pode originar-se
diretamente da aorta; contudo, geralmente a
origem é indireta, seja através da parte proximal de uma das artérias
intercostais
posteriores superiores (geralmente a 3a artéria intercostal posterior direita) ou de um tronco comum com a artéria bronquial superior esquerda.
Figura 1.38 Artérias
e veias bronquiais. A. As artérias bronquiais irrigam os tecidos de sustentação dos pulmões e a pleura visceral. B. As veias bronquiais drenam os leitos capilares mais proximais supridos pelas artérias bronquiais; o restante é drenado pelas
veias pulmonares.
As pequenas artérias bronquiais emitem ramos para a parte
superior do esôfago. Depois, costumam seguir ao longo das faces posteriores
dos
brônquios principais,
suprindo estes e
seus ramos distalmente até os bronquíolos respiratórios.
(Entretanto, veja a variação mostrada nas Figuras 1.63 e 1.69, desenhada
com base em uma dissecção de cadáver.) Os ramos mais distais das artérias bronquiais
anastomosam-se com
ramos das artérias pulmonares
nas paredes
dos bronquíolos e na pleura visceral. A pleura parietal é irrigada por artérias que suprem a parede torácica.
As veias bronquiais (Figura 1.38B) drenam apenas parte do sangue levado aos pulmões pelas artérias bronquiais,
principalmente o sangue distribuído para a parte mais proximal das raízes dos pulmões ou para a região próxima. O restante do sangue é
drenado pelas
veias pulmonares,
especificamente
aquele que retorna da pleura visceral, das regiões
mais periféricas do pulmão e dos componentes distais da raiz do pulmão. A veia bronquial direita drena
para a veia ázigo, e a veia bronquial esquerda drena para a
veia hemiázigo acessória ou a veia intercostal
superior esquerda. As veias bronquiais
também recebem sangue das veias esofágicas.
Os plexos linfáticos pulmonares comunicam-se livremente
(Figura 1.39). O plexo linfático
superficial/subpleural situa-se profundamente à pleura visceral e drena o parênquima (tecido) pulmonar e a pleura visceral. Os vasos linfáticos desse plexo superficial drenam para os linfonodos broncopulmonares no hilo do pulmão.
O plexo
linfático
profundo
está
localizado
na
submucosa
dos
brônquios e
no tecido
conectivo peribrônquico. Sua principal função é
a drenagem das estruturas que formam a raiz do pulmão. Os vasos linfáticos desse plexo profundo
drenam inicialmente para os linfonodos pulmonares intrínsecos, localizados ao longo dos brônquios lobares. Os vasos linfáticos que saem desses linfonodos continuam a seguir os brônquios e vasos pulmonares
até o hilo do pulmão, onde também
drenam para os linfonodos
broncopulmonares. A
partir daí, a linfa dos plexos linfáticos superficial e profundo drena para os linfonodos traqueobronquiais
superiores e inferiores, superiores e inferiores à bifurcação da traqueia e brônquios principais, respectivamente.
O pulmão direito drena principalmente
através dos grupos consecutivos de linfonodos no lado direito, e o lobo superior
do pulmão
esquerdo
drena principalmente
através dos respectivos linfonodos
do lado esquerdo. Entretanto, muitos, mas não todos os
vasos linfáticos do lobo inferior do
pulmão esquerdo drenam para os
linfonodos traqueobronquiais
superiores direitos; a linfa, então,
continua a seguir a via do lado direito.
A linfa dos linfonodos
tranqueobronquiais segue para os troncos linfáticos broncomediastinais direito e esquerdo, os principais condutos linfáticos de drenagem
das
vísceras
torácicas. Esses troncos geralmente terminam de
cada lado
nos ângulos venosos
(junções das veias subclávia e jugular interna);
entretanto, o tronco
broncomediastinal direito pode primeiro unir-se
a outros troncos linfáticos, convergindo para
formar o ducto linfático direito
curto.
O tronco broncomediastinal esquerdo pode terminar no ducto torácico. A linfa proveniente da pleura parietal drena para os linfonodos
da parede torácica (intercostais, paraesternais, mediastinais
e frênicos).
Alguns vasos linfáticos da cúpula da pleura parietal drenam para
os linfonodos axilares.
Figura 1.39
Drenagem linfática dos pulmões. Os vasos linfáticos têm origem nos plexos linfáticos subpleurais superficiais e profundos. Toda a linfa pulmonar sai pela raiz do pulmão e drena para os linfonodos traqueobronquiais inferiores ou superiores. O lobo inferior de ambos os pulmões drena para os linfonodos traqueobronquiais (carinais) inferiores centrais, que drenam principalmente para o lado direito. Os outros lobos de cada pulmão drenam principalmente para os linfonodos traqueobronquiais superiores ipsilaterais. Daí, a linfa atravessa um número variável de linfonodos paratraqueais e entra nos troncos broncomediastinais.
NERVOS DOS PULMÕES E DAS PLEURAS
Os nervos dos pulmões e da pleura visceral são derivados dos plexos pulmonares anteriores e (principalmente)
posteriores às raízes dos pulmões (Figura 1.40). Essas redes de nervos contêm fibras aferentes
parassimpáticas, simpáticas e vicerais.
As fibras parassimpáticas conduzidas até o plexo pulmonar
são fibras
pré-ganglionares
do nervo vago (NC X).
Elas fazem sinapse com as células
ganglionares
parassimpáticas
(corpos
celulares
de neurônios
pós-ganglionares)
nos plexos
pulmonares e ao longo dos ramos da árvore
bronquial. As fibras parassimpáticas são motoras para o músculo liso da árvore bronquial (broncoconstritoras), inibidoras para os
vasos pulmonares
(vasodilatadoras)
e secretoras para as glândulas da árvore bronquial (secretomotoras).
As fibras simpáticas dos
plexos pulmonares
são fibras
pós-ganglionares.
Seus
corpos
celulares
(células
ganglionares simpáticas) estão
situados nos
gânglios simpáticos paravertebrais dos troncos
simpáticos.
As fibras
simpáticas
são inibitórias para o músculo brônquico (broncodilatadoras), motoras para os vasos pulmonares
(vasoconstritoras) e inibitórias
para as glândulas alveolares da árvore bronquial — células epiteliais secretoras do tipo II dos alvéolos (Figura 1.36).
As fibras aferentes viscerais dos plexos
pulmonares são reflexas (conduzem sensações subconscientes associadas
aos reflexos que controlam a função)
ou nociceptivas (conduzem
impulsos álgicos gerados em resposta
a estímulos dolorosos ou prejudiciais, como
irritantes químicos, isquemia ou estiramento
excessivo).
Fibras aferentes viscerais reflexas com corpos celulares no gânglio sensitivo do nervo vago (NC X) acompanham as fibras parassimpáticas, conduzindo em direção central os impulsos de terminações nervosas
relacionadas com:
• A mucosa
dos brônquios, provavelmente em associação à sensibilidade tátil para reflexos da tosse
• Os músculos dos brônquios, possivelmente associados à percepção do estiramento










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