domingo, 6 de maio de 2018

COLUNA VERTEBRAL

A coluna vertebral é uma estrutura agregada, normalmente composta por 33 vértebras e os componentes que as unem para formar uma unidade funcional e estrutural — o “eixo” do esqueleto axial. Como proporciona o “núcleo” central semirrígido em torno do qual ocorrem os movimentos do tronco, as estruturas “moles” ou ocas que seguem um trajeto longitudinal estão sujeitas a lesão ou torção (p. ex., a medula espinal, parte descendente da aorta, veias cavas, ducto torácico e esôfago). Entretanto, como situam-se muito próximas do eixo vertebral, onde recebem sua sustentação semirrígida os estresses de torção sobre elas são minimizados. Articulações da coluna vertebral As articulações da coluna vertebral incluem: Articulações dos corpos vertebrais Articulações dos arcos vertebrais Articulações craniovertebrais (atlantoaxiais e atlantoccipitais) Articulações costovertebrais (ver Capítulo 1) Articulações sacroilíacas (ver Capítulo 3). ARTICULAÇÕES DOS CORPOS VERTEBRAIS As articulações dos corpos vertebrais são sínfises (articulações cartilagíneas secundárias) destinadas a sustentação de peso e resistência. As faces articulares das vértebras adjacentes são unidas por discos intervertebrais e ligamentos (Figura 4.14). Os discos intervertebrais oferecem fixações fortes entre os corpos vertebrais, unindo-os em uma coluna vertebral semirrígida contínua e formando a metade inferior da margem anterior do forame intervertebral. Ao todo, os discos representam 20 a 25% do comprimento (altura) da coluna vertebral (Figura 4.1). Além de possibilitarem o movimento entre vértebras adjacentes, sua deformabilidade elástica permite que absorvam o choque. Cada disco intervertebral é formado por um anel fibroso, uma parte fibrosa externa, composta de lamelas concêntricas de fibrocartilagem, e uma massa central gelatinosa, denominada núcleo pulposo. Figura 4.14 Vértebras lombares e discos intervertebrais. Esta vista da região lombar superior mostra a estrutura dos anéis fibrosos dos discos e as estruturas envolvidas na formação dos forames intervertebrais. O disco forma a metade inferior do limite anterior de um forame intervertebral (exceto na região cervical). Assim, a herniação do disco não afetará o nervo espinal que sai da parte óssea superior daquele forame, limitada por osso. O anel fibroso é um anel saliente que consiste em lamelas concêntricas de fibrocartilagem que formam a circunferência do disco intervertebral (Figuras 4.14 e 4.15A). Os anéis se inserem nas margens epifisiais lisas e arredondadas nas faces articulares dos corpos vertebrais formadas pelas epífises anulares fundidas (Figuras 4.2B e 4.15B e C). As fibras que formam cada lamela seguem obliquamente de uma vértebra até a outra, formando um ângulo de cerca de 30 graus ou mais com o eixo vertical. As fibras das lamelas adjacentes cruzam-se obliquamente em direções opostas, formando ângulos maiores do que 60 graus (Figura 4.14). Essa organização permite rotação limitada entre vértebras adjacentes, enquanto proporciona uma forte ligação entre elas. O anel é mais fino posteriormente e pode ser incompleto posteriormente na região cervical no adulto (Mercer e Bogduk, 1999). A vascularização do anel diminui progressivamente em direção central, e apenas o terço externo do anel recebe inervação sensitiva. Figura 4.15 Estrutura e função dos discos intervertebrais. A. O disco é formado por um núcleo pulposo e um anel fibroso. As camadas superficiais do anel foram seccionadas e afastadas para mostrar a direção das fibras. Observe que a espessura combinada dos anéis é reduzida posteriormente — isto é, o anel é mais fino na parte posterior. B. O núcleo pulposo fibrogelatinoso ocupa o centro do disco e atua como coxim e mecanismo de absorção de choque. C. O núcleo pulposo achata-se e o anel protraise quando é aplicado peso, como ocorre ao ficar de pé e principalmente ao levantar um objeto pesado. D. Durante os movimentos de flexão e extensão, o núcleo pulposo serve como fulcro. O anel sofre simultaneamente compressão de um lado e tensão do outro. O núcleo pulposo é o núcleo central do disco intervertebral (Figura 4.15A). Ao nascimento, esses núcleos pulposos consistem em aproximadamente 88% de água e no início são mais cartilaginosos do que fibrosos. Sua natureza semilíquida é responsável por grande parte da flexibilidade e resiliência do disco intervertebral e da coluna vertebral como um todo. Forças verticais deformam os discos intervertebrais, que absorvem o choque. Os núcleos tornam-se mais largos quando são comprimidos e mais finos quando são tensionados ou distendidos (como ocorre quando estão pendentes ou suspensos) (Figura 4.15C). Há compressão e tensão simultâneas no mesmo disco durante a flexão anterior e lateral e a extensão da coluna vertebral (Figura 4.15D). Durante esses movimentos, e também durante a rotação, o núcleo túrgido atua como fulcro semilíquido. Como as lamelas do anel fibroso são mais finas e menos numerosas posteriormente do que anterior ou lateralmente, o núcleo pulposo não está centralizado no disco, e sim posicionado entre o centro e a face posterior do disco (Figura 4.15A). O núcleo pulposo é avascular; é nutrido por difusão de vasos sanguíneos situados na periferia do anel fibroso e do corpo vertebral. Não há disco intervertebral entre as vértebras C I e C II; o disco funcional mais inferior está entre as vértebras L V e S I. A espessura dos discos varia em diferentes regiões, aumentando à medida que a coluna vertebral desce. No entanto, sua espessura em relação ao tamanho dos corpos unidos está relacionada mais claramente com a amplitude de movimento, e a espessura relativa é maior nas regiões cervical e lombar. A espessura é mais uniforme na região torácica. Os discos são mais espessos na parte anterior nas regiões cervical e lombar, e a variação de formatos é responsável pelas curvaturas secundárias da coluna vertebral (ver Figura 4.1B). As “articulações” uncovertebrais* (fendas de Luschka) costumam se desenvolver entre os uncos dos corpos das vértebras C III ou C IV–C VI ou C VII e as faces inferolaterais biseladas dos corpos vertebrais superiores a elas após os 10 anos de idade (Figura 4.16). As articulações estão situadas nas margens lateral e posterolateral dos discos intervertebrais. As faces articulares dessas estruturas semelhantes a articulações são cobertas por cartilagem umedecida por líquido contido em um espaço virtual interposto, ou “cápsula”. Alguns as consideram articulações sinoviais; outros, espaços degenerativos (fendas) nos discos ocupados por líquido extracelular. As “articulações” uncovertebrais são locais frequentes de surgimento de osteófitos numa idade mais avançada, podendo causar dor cervical. Figura 4.16 Articulações uncovertebrais. Essas pequenas estruturas, semelhantes a articulações sinoviais, estão situadas entre os uncos dos corpos das vértebras inferiores e as faces biseladas dos corpos vertebrais superiores a elas. Essas articulações estão situadas nas margens posterolaterais dos discos intervertebrais. O ligamento longitudinal anterior é uma faixa fibrosa forte e larga que cobre e une as faces anterolaterais dos corpos vertebrais e discos intervertebrais (Figura 4.17). O ligamento estende-se longitudinalmente da face pélvica do sacro até o tubérculo anterior da vértebra C I e o osso occipital anteriormente ao forame magno são as partes superiores, os ligamentos atlantoaxial e atlantoccipital anteriores. Embora seja mais espesso na face anterior dos corpos vertebrais (as ilustrações costumam mostrar apenas essa parte), o ligamento longitudinal anterior também cobre as faces laterais dos corpos até o forame intervertebral. Esse ligamento impede a hiperextensão da coluna vertebral, mantendo a estabilidade das articulações entre os corpos vertebrais. O ligamento longitudinal anterior é o único ligamento que limita a extensão; todos os outros ligamentos intervertebrais limitam formas de flexão. O ligamento longitudinal posterior é uma faixa muito mais estreita, um pouco mais fraca, do que o ligamento longitudinal anterior (Figura 4.17; ver também 4.18B). O ligamento longitudinal posterior segue dentro do canal vertebral ao longo da face posterior dos corpos vertebrais. Está fixado principalmente aos discos intervertebrais e menos às faces posteriores dos corpos vertebrais de C II ao sacro, frequentemente unindo gordura e vasos entre o ligamento e a superfície óssea. Esse ligamento resiste pouco à hiperflexão da coluna vertebral e ajuda a evitar ou redirecionar a herniação posterior do núcleo pulposo. É bem suprido por terminações nervosas nociceptivas (de dor). Figura 4.17 Relação entre os ligamentos e as vértebras e discos intervertebrais. Vértebras torácicas inferiores (T IX a T XII) e lombares superiores (L I e L II), com discos e ligamentos associados. Os pedículos das vértebras T IX a T XI foram serrados e seus corpos e discos interpostos foram removidos para propiciar uma vista anterior da parede posterior do canal vertebral. Entre os pedículos esquerdo ou direito adjacentes, os processos articulares inferiores e superiores e as articulações dos processos articulares entre eles (das quais foram removidas as cápsulas articulares) e a extensão lateral dos ligamentos amarelos formam os limites posteriores dos forames intervertebrais. O ligamento longitudinal anterior é largo, enquanto o ligamento longitudinal posterior é estreito. ARTICULAÇÕES DOS ARCOS VERTEBRAIS As articulações dos arcos vertebrais são as articulações dos processos articulares ou zigapofisárias (articulações facetárias). Estas são articulações sinoviais planas entre os processos articulares superiores e inferiores de vértebras adjacentes (Figuras 4.15 e 4.17). Cada articulação é circundada por uma cápsula articular fina. Na região cervical, elas são mais finas e frouxas, refletindo a grande amplitude de movimento (Figura 4.18). A cápsula articular é fixada às margens das faces articulares dos processos articulares de vértebras adjacentes. Ligamentos acessórios unem as lâminas, processos transversos e processos espinhosos e ajudam a estabilizar as articulações. As articulações dos processos articulares permitem movimentos de deslizamento entre os processos articulares; o formato e a disposição das faces articulares determinam os tipos de movimento possíveis. A amplitude de movimento é determinada pelo tamanho do disco intervertebral em relação ao tamanho do corpo vertebral. Nas regiões cervical e lombar essas articulações sustentam algum peso, compartilhando a função com os discos intervertebrais, sobretudo durante a flexão lateral. As articulações dos processos articulares são inervadas por ramos articulares que se originam dos ramos mediais dos ramos posteriores dos nervos espinais (Figura 4.19). Como esses nervos seguem em direção posteroinferior, situam-se em sulcos nas faces posteriores das partes mediais dos processos transversos. Cada ramo articular inerva duas articulações adjacentes; portanto, cada articulação é suprida por dois nervos. LIGAMENTOS ACESSÓRIOS DAS ARTICULAÇÕES INTERVERTEBRAIS As lâminas de arcos vertebrais adjacentes são unidas por faixas largas e amarelo-claras de tecido elástico, denominadas ligamentos amarelos. Esses ligamentos estendem-se quase verticalmente entre a lâmina superior e a lâmina inferior, e os ligamentos de lados opostos encontram-se e fundem-se na linha mediana (Figuras 4.14 e 4.17). Os ligamentos amarelos unem as lâminas das vértebras adjacentes, formando seções alternadas da parede posterior do canal vertebral. São ligamentos longos, finos e largos na região cervical, tornam-se mais espessos na região torácica e têm espessura máxima na região lombar. Esses ligamentos resistem à separação da lâmina vertebral por limitação da flexão abrupta da coluna vertebral, evitando, assim, a lesão dos discos intervertebrais. Os ligamentos amarelos, fortes e elásticos, ajudam a preservar as curvaturas normais da coluna vertebral e auxiliam na extensão da coluna após a flexão. Os processos espinhosos adjacentes são unidos por ligamentos interespinais fracos, muitas vezes membranáceos, e por ligamentos supraespinais fortes e fibrosos (Figura 4.18A e B). Os finos ligamentos interespinais unem processos espinhosos adjacentes, fixando-se da raiz até o ápice de cada processo. Os ligamentos supraespinais, semelhantes a cordões, unem as extremidades dos processos espinhosos desde C VII até o sacro e fundem-se na parte superior com o ligamento nucal na região cervical posterior (Figura 4.18A). Ao contrário dos ligamentos interespinais e supraespinais, o ligamento nucal, forte e largo, é constituído de tecido fibroelástico espesso, que se estende como uma faixa mediana desde a protuberância occipital externa e a margem posterior do forame magno até os processos espinhosos das vértebras cervicais. Em razão do curto comprimento e da profundidade dos processos espinhosos de C III a C V, o ligamento nucal é o local de fixação dos músculos que se fixam nos processos espinhosos das vértebras em outros níveis. Os ligamentos intertransversários, que unem processos transversos adjacentes, consistem em fibras dispersas na região cervical e cordões fibrosos na região torácica (Figura 4.18B). Na região lombar esses ligamentos são finos e membranáceos. ARTICULAÇÕES CRANIOVERTEBRAIS Existem dois grupos de articulações craniovertebrais, as articulações atlantoccipitais, formadas entre o atlas (vértebra C I) e o occipital no crânio, e as articulações atlantoaxiais, entre o atlas e o áxis (vértebra C II) (Figura 4.20). A palavra grega atlanto refere-se ao atlas (vértebra C I). As articulações craniovertebrais são articulações sinoviais que não têm discos intervertebrais. Sua arquitetura permite uma amplitude de movimento maior do que o restante da coluna vertebral. As articulações incluem os côndilos occipitais, o atlas e o áxis. Figura 4.18 Articulações e ligamentos da coluna vertebral. A. Ligamentos na região cervical. Superiormente ao processo espinhoso proeminente de C VII (vértebra proeminente), os processos espinhosos estão profundamente posicionados e fixados a um ligamento nucal sobrejacente. B. Ligamentos na região torácica. Os pedículos das duas vértebras superiores foram serrados e os arcos vertebrais foram removidos para mostrar o ligamento longitudinal posterior. Os ligamentos intertransversários, supraespinais e interespinais são mostrados em associação às vértebras com arcos vertebrais intactos. Figura 4.19 Inervação das articulações dos processos articulares. Os ramos posteriores originam-se dos nervos espinais fora do forame intervertebral e dividem-se em ramos mediais e laterais. O ramo medial dá origem a ramos articulares que são distribuídos para a articulação dos processos articulares naquele nível e para a articulação um nível inferior a sua saída. Assim, cada articulação do processo articular recebe ramos articulares oriundos do ramo medial dos ramos posteriores de dois nervos espinais adjacentes. Na desnervação de uma articulação do processo articular é preciso realizar ablação dos ramos mediais dos dois ramos posteriores. Articulações atlantoccipitais. As articulações situam-se entre as faces articulares superiores das massas laterais do atlas e os côndilos occipitais (Figuras 4.6A e B e 4.20A). Essas articulações permitem acenar com a cabeça, como na flexão e extensão da cabeça indicativa de aprovação. Essas articulações também possibilitam a inclinação lateral da cabeça. O principal movimento é de flexão, com leve flexão lateral e rotação. São articulações sinoviais do tipo elipsóideo e têm cápsulas articulares finas e frouxas. O crânio e C I também estão unidos por membranas atlantoccipitais anterior e posterior, que se estendem dos arcos anterior e posterior de C I até as margens anterior e posterior do forame magno (Figuras 4.20B e 4.21). As membranas anteriores são formadas por fibras largas e densamente entrelaçadas (sobretudo na parte central, onde são contínuas com o ligamento longitudinal anterior). As membranas posteriores são largas, mas relativamente fracas. As membranas atlantoccipitais ajudam a evitar o movimento excessivo das articulações atlantoccipitais. Articulações atlantoaxiais. Existem três articulações atlantoaxiais (Figura 4.20A–D): duas articulações atlantoaxiais laterais (direita e esquerda) (entre as faces inferiores das massas laterais de C I e as faces superiores de C II), e uma articulação atlantoaxial mediana (entre o dente de C II e o arco anterior do atlas). As articulações atlantoaxiais laterais são sinoviais planas, enquanto a articulação atlantoaxial mediana é trocóidea. Figura 4.20 Articulações e ligamentos craniovertebrais. A. Ligamentos das articulações atlantoccipitais e atlantoaxiais. A membrana tectória e o lado direito do ligamento cruciforme do atlas foram removidos para mostrar a fixação do ligamento alar direito ao dente de C II (áxis). B. A região craniovertebral hemisseccionada mostra as articulações medianas e as continuidades membranáceas dos ligamentos amarelos e ligamentos longitudinais na região craniovertebral. C. Atlas e áxis articulados, mostrando que a articulação atlantoaxial mediana é formada quando o arco anterior e o ligamento transverso do atlas formam um encaixe para o dente do áxis. D. Durante a rotação da cabeça, o crânio e o atlas rodam como uma unidade ao redor do eixo do dente do áxis quando a cabeça é virada de um lado para outro (o movimento do “não”). O movimento das três articulações atlantoaxiais permite que a cabeça gire de um lado para outro (Figura 4.20D), como ocorre ao girar a cabeça para indicar desaprovação (o movimento de “não”). Durante esse movimento, o crânio e C I giram sobre C II como uma unidade. Durante a rotação da cabeça, o dente de C II é o eixo ou pivô, que é mantido em uma cavidade ou colar formado anteriormente pelo arco anterior do atlas e posteriormente pelo ligamento transverso do atlas (Figura 4.20A a D); essa faixa resistente estende-se entre os tubérculos nas faces mediais das massas laterais da vértebra C I. • • • • • • Figura 4.21 Membranas das articulações craniovertebrais. A. Somente a parte mais espessa e mais anterior do ligamento longitudinal anterior é incluída na figura para demonstrar sua continuação superior como a membrana atlantoaxial anterior e membrana atlantoccipital anterior. Lateralmente, as membranas se fundem às cápsulas articulares das articulações atlantoaxiais e atlantoccipitais laterais. B. As membranas atlantoccipital e atlantoaxial posteriores cobrem os espaços entre o arco posterior do atlas (C I) e o occipital (margem posterior do forame magno) superiormente e as lâminas do áxis (C II) inferiormente. As artérias vertebrais penetram na membrana atlantoccipital antes de atravessarem o forame magno. Fascículos longitudinais superiores e inferiores com orientação vertical, porém muito mais fracos, seguem do ligamento transverso do atlas até o occipital superiormente e até o corpo de C II inferiormente. O ligamento cruciforme do atlas, assim denominado em razão de sua semelhança com uma cruz, é formado pelo ligamento transverso do atlas junto com os fascículos longitudinais (Figura 4.20A). Os ligamentos alares estendem-se das laterais do dente do áxis até as margens laterais do forame magno. Esses cordões arredondados e curtos, com diâmetro aproximado de 0,5 cm, fixam o crânio à vértebra C I e servem como ligamentos de contenção, evitando a rotação excessiva nas articulações. A membrana tectória (Figura 4.20A e B) é a forte continuação superior do ligamento longitudinal posterior que se alarga e segue posteriormente sobre a articulação atlantoaxial mediana e seus ligamentos. Segue superiormente a partir do corpo de C II, atravessa o forame magno e se fixa à parte central do assoalho da cavidade craniana, formado pela face interna do osso occipital. Movimentos da coluna vertebral A amplitude de movimento da coluna vertebral varia de acordo com a região e o indivíduo. Os contorcionistas, que iniciam seu treinamento nos primeiros anos de vida, conseguem fazer movimentos extraordinários. A amplitude de movimento normal possível em adultos jovens saudáveis sofre tipicamente uma redução de 50% ou mais com o envelhecimento. A mobilidade da coluna vertebral decorre principalmente da compressibilidade e elasticidade dos discos intervertebrais. A coluna vertebral faz movimentos de flexão, extensão, flexão e extensão laterais, e rotação (torção) (Figura 4.22). A flexão da coluna vertebral para a direita ou esquerda a partir da posição neutra (ereta) é a flexão lateral; o retorno à postura ereta a partir de uma posição de flexão lateral é a extensão lateral. A amplitude de movimento da coluna vertebral é limitada por: Espessura, elasticidade e compressibilidade dos discos intervertebrais. Formato e orientação das articulações dos processos articulares Tensão das cápsulas articulares das articulações dos processos articulares Resistência dos músculos e ligamentos do dorso (p. ex., os ligamentos amarelos e o ligamento longitudinal posterior) Fixação à caixa torácica Volume de tecido adjacente. Os movimentos não são produzidos exclusivamente pelos músculos do dorso. Eles são auxiliados pela gravidade e pela ação dos músculos anterolaterais do abdome. Os movimentos entre vértebras adjacentes ocorrem nos núcleos pulposos resilientes dos discos intervertebrais (que atuam como eixo de movimento) e nas articulações dos processos articulares (Figuras 4.14 e 4.15). • • • • A orientação das articulações dos processos articulares permite alguns movimentos e restringe outros. Com exceção talvez de C I–C II, nunca há movimento isolado em um único segmento da coluna. Embora os movimentos entre vértebras adjacentes sejam relativamente pequenos, sobretudo na região torácica, a soma de todos os pequenos movimentos produz considerável amplitude de movimento da coluna vertebral como um todo (p. ex., ao fletir o corpo para tocar o chão; Figura 4.22A). Os movimentos da coluna vertebral são mais livres nas regiões cervical e lombar do que nas outras partes. A flexão, a extensão, a flexão lateral e a rotação do pescoço são mais livres porque: Os discos intervertebrais, embora sejam finos em relação à maioria dos outros discos, são espessos em relação ao tamanho dos corpos vertebrais nesse nível As faces articulares das articulações dos processos articulares são relativamente grandes e os planos articulares são quase horizontais As cápsulas articulares das articulações dos processos articulares são frouxas O pescoço é relativamente delgado (com menor volume de tecidos moles adjacente em comparação com o tronco). A flexão da coluna vertebral é máxima na região cervical. Os planos articulares sagitais da região lombar conduzem à flexão e extensão. A extensão da coluna vertebral é mais acentuada na região lombar e geralmente tem maior amplitude do que a flexão; entretanto, nessa região os processos articulares entrelaçados impedem a rotação (Figura 4.9). A região lombar, como a cervical, tem discos intervertebrais grandes em relação ao tamanho dos corpos vertebrais. A flexão lateral da coluna vertebral é máxima nas regiões cervical e lombar (Figura 4.22B). A região torácica, em contrapartida, tem discos intervertebrais finos em relação ao tamanho dos corpos vertebrais. Essa parte da coluna vertebral também tem relativa estabilidade porque está unida ao esterno pelas costelas e cartilagens costais. Nesse local, os planos articulares estão no arco centralizado no corpo vertebral, permitindo rotação na região torácica (Figura 4.22C). A rotação da parte superior do tronco, associada à rotação permitida na região cervical e àquela nas articulações atlantoaxiais, possibilita a torção do esqueleto axial que ocorre quando se olha para trás sobre o ombro. No entanto, a flexão na região torácica é limitada, inclusive a flexão lateral. Curvaturas da coluna vertebral A coluna vertebral em adultos tem quatro curvaturas que ocorrem nas regiões cervical, torácica, lombar e sacral (Figura 4.23). As cifoses torácica e sacral são côncavas anteriormente, enquanto as lordoses cervical e lombar são côncavas posteriormente. Quando se observa a face posterior do tronco, principalmente em vista lateral, as curvaturas normais da coluna vertebral são mais aparentes (Figura 4.24). As cifoses torácica e sacral são curvaturas primárias que se desenvolvem durante o período fetal em relação à posição fetal (fletida) (Moore et al., 2012). Compare as curvaturas na Figura 4.23, observando que as curvaturas primárias estão na mesma direção que as principais curvaturas da coluna vertebral fetal. As curvaturas primárias são mantidas durante toda a vida em consequência de diferenças na altura entre as partes anterior e posterior das vértebras. Figura 4.22 Movimentos da coluna vertebral. A. Flexão e extensão, ambas no plano mediano. Basicamente há flexão e extensão nas regiões cervical e lombar. B. Flexão lateral (para a direita ou esquerda em um plano frontal), também ocorrendo principalmente nas regiões cervical e lombar. C. Rotação em torno de um eixo longitudinal, que ocorre basicamente nas articulações craniovertebrais (aumentadas pela região cervical) e na região torácica. Figura 4.23 Curvaturas da coluna vertebral. As quatro curvaturas da coluna vertebral do adulto — cervical, torácica, lombar e sacral — são comparadas à curvatura em C da coluna durante a vida fetal, quando existem apenas as curvaturas primárias. As curvaturas secundárias desenvolvem-se durante a lactância e a infância. As lordoses cervical e lombar são curvaturas secundárias que resultam da extensão a partir da posição fetal fletida. Elas começam a aparecer durante o período fetal, mas só se tornam evidentes na lactância. As curvaturas secundárias são mantidas basicamente por diferenças de espessura entre as partes anterior e posterior dos discos intervertebrais. A lordose cervical torna-se bem evidente quando um lactente começa a levantar (estender) a cabeça em decúbito ventral e a manter a cabeça ereta na posição sentada. A lordose lombar torna-se aparente quando crianças de 1 a 2 anos começam a assumir a postura vertical, ficar de pé e caminhar. Essa curvatura, em geral mais acentuada nas mulheres, termina no ângulo lombossacral formado na junção da vértebra L V com o sacro (Figura 4.1D). A cifose sacral também é diferente em homens e mulheres; na mulher ela é reduzida de modo que haja menor protrusão do cóccix para a abertura inferior da pelve (ver Capítulo 3). As curvaturas da coluna vertebral proporcionam flexibilidade adicional (resiliência com absorção de choque), aumentando ainda mais a flexibilidade proporcionada pelos discos. Quando a carga sustentada pela coluna vertebral é muito aumentada (como ao carregar um objeto pesado), há compressão dos discos e das curvaturas flexíveis (ou seja, as curvaturas tendem a aumentar). Embora a flexibilidade proporcionada pelos discos seja passiva e limitada principalmente pelas articulações dos processos articulares e ligamentos longitudinais, a flexibilidade proporcionada pelas curvaturas sofre a resistência ativa (dinâmica) da contração de grupos musculares antagonistas ao movimento (p. ex., os longos extensores do dorso resistem à cifose torácica excessiva, ao passo que os flexores abdominais resistem à lordose lombar excessiva). • • • • • Figura 4.24 Anatomia de superfície das curvaturas da coluna vertebral. A sustentação de peso adicional anterior ao eixo gravitacional normal do corpo (p. ex., mamas muito grandes, abdome em avental nos homens ou na gravidez avançada, ou carregar uma criança pequena no colo) também tende a aumentar essas curvaturas. Muitas vezes os músculos que oferecem resistência ao aumento da curvatura doem quando a pessoa sustenta peso por longos períodos. Quando uma pessoa está sentada, principalmente se não houver sustentação das costas por longos períodos, geralmente ocorre revezamento entre a flexão (curvatura) e a extensão (postura ereta) para minimizar a rigidez e a fadiga. Isso permite a alternância entre a sustentação ativa oferecida pelos músculos extensores do dorso e a resistência passiva à flexão propiciada pelos ligamentos. Vasculatura da coluna vertebral As vértebras são irrigadas por ramos periosteais e equatoriais das principais artérias cervicais e segmentares e por seus ramos espinais (Figura 4.25). As artérias que dão origem aos ramos periosteais, equatoriais e espinais ocorrem em todos os níveis da coluna vertebral, em íntima associação a ela, e incluem as seguintes artérias (descritas em detalhes em outros capítulos): Artérias vertebrais e cervicais ascendentes no pescoço (Capítulo 8) As principais artérias segmentares do tronco: Artérias intercostais posteriores na região torácica (Capítulo 1) Artérias subcostais e lombares no abdome (Capítulo 2) Artérias iliolombar e sacrais lateral e mediana na pelve (Capítulo 3). Os ramos periosteais e equatoriais originam-se dessas artérias enquanto cruzam as faces externas (anterolaterais) das vértebras. Os ramos espinais entram nos forames intervertebrais e se dividem. Os ramos anteriores e posteriores do canal vertebral, menores, seguem até o corpo vertebral e arco vertebral, respectivamente, e dão origem aos ramos ascendentes e descendentes que se anastomosam com os ramos do canal vertebral de níveis adjacentes (Figura 4.25). Os ramos anteriores do canal vertebral enviam artérias nutrícias anteriormente para os corpos vertebrais que suprem a maior parte da medula óssea vermelha do corpo vertebral central (Bogduk, 2012). Os ramos maiores dos ramos espinais continuam como artérias medulares radiculares ou segmentares terminais distribuídas para as raízes posteriores e anteriores dos nervos espinais e seus revestimentos e para a medula espinal, respectivamente (ver “Vasculatura da medula espinal e das raízes dos nervos espinais”, mais adiante). Figura 4.25 Vascularização das vértebras. As vértebras típicas são irrigadas por artérias segmentares — aqui artérias lombares. Nas regiões torácica e lombar, cada vértebra é circundada nos três lados por pares de artérias intercostais ou lombares que se originam da aorta. As artérias segmentares enviam ramos equatoriais para o corpo vertebral, e ramos posteriores suprem as estruturas do arco vertebral e os músculos do dorso. Os ramos espinais entram no canal vertebral através dos forames intervertebrais para suprir os ossos, periósteo, ligamentos e meninges que limitam o espaço extradural e as artérias radiculares ou medulares segmentares que suprem o tecido nervoso (raízes dos nervos espinais e medula espinal). As veias espinais formam plexos venosos ao longo da coluna vertebral dentro e fora do canal vertebral. Esses plexos são os plexos venosos vertebrais internos (plexos venosos peridurais) e plexos venosos vertebrais externos, respectivamente (Figura 4.26). Esses plexos comunicam-se através dos forames intervertebrais. Ambos os plexos são mais densos nas porções anterior e posterior, e são relativamente esparsos lateralmente. As veias basivertebrais, grandes e tortuosas, formam-se nos corpos vertebrais. Elas emergem dos forames nas faces dos corpos vertebrais (principalmente na face posterior) e drenam para os plexos venosos vertebrais externos anteriores e principalmente para os plexos venosos vertebrais internos anteriores, que podem formar grandes seios longitudinais. As veias intervertebrais recebem veias da medula espinal e dos plexos venosos vertebrais enquanto acompanham os nervos espinais através dos forames intervertebrais para drenar nas veias vertebrais do pescoço e veias segmentares (intercostais, lombares e sacrais) do tronco (Figuras 4.26A e 4.27). Figura 4.26 Drenagem venosa da coluna vertebral. A. A drenagem venosa acompanha a irrigação arterial e entra nos plexos venosos vertebrais externos e internos. Também há drenagem anterolateral das faces externas das vértebras para as veias segmentares. B. O denso plexo de vasos de paredes finas no canal vertebral, os plexos venosos vertebrais internos, consiste em anastomoses sem válvulas entre seios venosos longitudinais anteriores e posteriores. Nervos da coluna vertebral Além das articulações dos processos articulares (inervadas por ramos articulares dos ramos mediais dos ramos posteriores, • • • • • • descritos junto com essas articulações), a coluna vertebral é inervada por ramos recorrentes meníngeos dos nervos espinais (Figura 4.27). Esses ramos são os únicos oriundos do nervo espinal misto, originando-se imediatamente após sua formação e antes de sua divisão em ramos anterior e posterior, ou do ramo anterior logo após sua formação. Dois a quatro desses ramos finos originam-se de cada lado em todos os níveis vertebrais. Perto de sua origem, os ramos meníngeos recebem ramos comunicantes dos ramos comunicantes cinzentos próximos. Quando os nervos espinais saem dos forames intervertebrais, a maioria dos ramos meníngeos retorna através dos forames para o canal vertebral (daí o nome recorrente). Entretanto, alguns ramos permanecem fora do canal e são distribuídos para a face anterolateral dos corpos vertebrais e discos intervertebrais. Eles também inervam o periósteo e principalmente os anéis fibrosos e o ligamento longitudinal anterior. No interior do canal vertebral, ramos transversos, ascendentes e descendentes distribuem fibras nervosas para: Figura 4.27 Inervação do periósteo e ligamentos da coluna vertebral e das meninges. Com exceção das articulações dos processos articulares e dos elementos externos do arco vertebral, as estruturas osteofibrosas da coluna vertebral (e as meninges) são supridas pelos ramos recorrentes meníngeos dos nervos espinais. Embora geralmente sejam omitidos de diagramas e ilustrações dos nervos espinais, esses nervos finos são os primeiros ramos originados de todos os 31 pares de nervos espinais e são os nervos que inicialmente conduzem a sensação de dor do dorso causada pela herniação aguda de um disco intervertebral ou por entorses, contusões, fraturas ou tumores da própria coluna vertebral. (Baseada em Frick H, Kummer B, Putz R. WolfHeidegger’s atlas of human anatomy, 4th ed. Basel: Karger AG, 1990:476.) Periósteo (que recobre a face dos corpos vertebrais posteriores, pedículos e lâminas) Ligamentos amarelos Anéis fibrosos da face posterior e posterolateral dos discos intervertebrais Ligamento longitudinal posterior Dura-máter espinal Vasos sanguíneos no canal vertebral. As fibras nervosas para o periósteo, anéis fibrosos e ligamentos proveem receptores de dor. As fibras para os anéis fibrosos e ligamentos também suprem os receptores de propriocepção (sensibilidade sobre a própria posição). As fibras simpáticas para os vasos sanguíneos estimulam a vasoconstrição. COLUNA VERTEBRAL Envelhecimento dos discos intervertebrais Com a idade, os núcleos pulposos desidratam e perdem elastina e proteoglicanas enquanto ganham colágeno. Consequentemente, os discos intervertebrais perdem seu turgor, tornando-se mais rígidos e mais resistentes à deformação. À medida que o núcleo desidrata, as duas partes do disco parecem fundir-se, pois a distinção entre elas torna-se cada vez menor. Com o avanço da idade, o núcleo torna-se seco e granular e pode desaparecer completamente como um elemento distinto. Quando essas alterações ocorrem, o anel fibroso assume uma parte cada vez maior da carga vertical e das tensões e sobrecargas associadas a ela. As lamelas do anel sofrem espessamento e muitas vezes surgem fissuras e cavidades. Embora as margens dos corpos vertebrais adjacentes possam se aproximar mais quando as faces superior e inferior do corpo tornam-se concavidades rasas (a explicação mais provável da discreta perda de altura associada ao envelhecimento), foi demonstrado que os discos intervertebrais aumentam de tamanho com a idade. Além de se tornarem cada vez mais convexos, entre 20 e 70 anos de idade seu diâmetro anteroposterior (AP) aumenta cerca de 10% nas mulheres e 2% nos homens, enquanto a espessura (altura) central aumenta cerca 10% em ambos os sexos. O estreitamento evidente ou acentuado do disco, sobretudo quando é maior do que o ocorrido em discos superiores, sugere doença, não envelhecimento normal (Bogduk, 2012). Hérnia do núcleo pulposo A hérnia (protrusão) do núcleo pulposo gelatinoso para o interior ou através do anel fibroso é uma causa bem reconhecida de lombalgia e de dor no membro inferior (Figura B4.11A e C). No entanto, há muitas outras causas de lombalgia; além disso, as hérnias costumam ser achados casuais em indivíduos assintomáticos. Nas pessoas jovens, os discos intervertebrais são fortes — em geral tão fortes que muitas vezes as vértebras sofrem fratura durante uma queda antes que haja ruptura dos discos. Além disso, o conteúdo de água dos núcleos pulposos é alto (próximo de 90%), conferindo-lhes grande turgor (tumescência). No entanto, a hiperflexão violenta da coluna vertebral pode causar ruptura de um disco intervertebral e fratura dos corpos vertebrais adjacentes. A flexão da coluna vertebral provoca compressão anterior e distensão ou tensão posterior, pressionando o núcleo pulposo posteriormente em direção à parte mais fina do anel fibroso. Em caso de degeneração do anel fibroso, pode haver herniação do núcleo pulposo para o canal vertebral e compressão da medula espinal (Figura B4.11A e B) ou das raízes nervosas da cauda equina (Figura B4.11A e C). Às vezes a hérnia de disco intervertebral é impropriamente denominada “deslizamento de disco”. Em geral, as hérnias do núcleo pulposo estendem-se em direção posterolateral, onde o anel fibroso é relativamente fino e não recebe sustentação dos ligamentos longitudinais posteriores nem anteriores. A hérnia de disco intervertebral posterolateral tem maior tendência a ser sintomática em virtude da proximidade das raízes dos nervos espinais. A dorsalgia localizada de uma hérnia de disco, que geralmente é aguda, resulta da pressão sobre os ligamentos longitudinais e a periferia do anel fibroso e da inflamação local decorrente da irritação química por substâncias do núcleo pulposo roto. A dor crônica resultante da compressão das raízes dos nervos espinais pelo disco herniado geralmente é referida, sendo percebida como se fosse proveniente da área (dermátomo) suprida por aquele nervo. Como os discos intervertebrais são maiores nas regiões lombar e lombossacral, onde os movimentos consequentemente são maiores, as herniações posterolaterais do núcleo pulposo são mais comuns nesse local (Figura B4.11B). Cerca de 95% das hérnias de disco lombares ocorrem nos níveis L IV–L V ou L V–S I. A diminuição acentuada do espaço intervertebral radiológico (isto é, da altura do disco) que pode ser causada pela herniação aguda de um núcleo pulposo também pode provocar estreitamento dos forames intervertebrais, talvez exacerbando a compressão das raízes do nervo espinal, principalmente se também houver hipertrofia do osso adjacente. Como o núcleo pulposo torna-se cada vez mais desidratado e fibroso, ou até mesmo granular ou sólido com o envelhecimento, um diagnóstico de herniação aguda em um paciente com idade avançada deve ser considerado com suspeita. É mais provável que as raízes nervosas estejam sendo comprimidas pela ossificação aumentada do forame intervertebral por onde saem. Figura B4.11 Hérnia do núcleo pulposo. A. Metade direita da articulação lombossacral dividida ao meio e RM da região lombossacral no plano mediano. B. Vistas inferiores, corte transversal e RM no plano transversal do disco intervertebral herniado. C. Vista posterior, cauda equina. As setas nas RM indicam herniações. A dor aguda na região dorsal média e lombar pode ser causada por uma pequena protrusão posterolateral de um disco intervertebral lombar no nível de L V–S I que afeta terminações nociceptivas (de dor) na região, como aquelas associadas ao ligamento longitudinal posterior. O quadro clínico varia muito, mas a dor de início agudo na região lombar é um sintoma inicial comum. Como o espasmo muscular está associado à lombalgia, a região lombar da coluna vertebral torna-se tensa e cada vez mais dolorosa, pois há isquemia relativa, que causa dor ao movimento. A ciatalgia, dor na região lombar e no quadril que se irradia pela face posterior da coxa até a perna, muitas vezes é causada por hérnia de disco intervertebral lombar que comprime e compromete o componente L5 ou S1 do nervo isquiático (Figura 4.11C). Os forames intervertebrais na região lombar diminuem enquanto os nervos lombares aumentam, o que pode explicar por que a ciatalgia é tão comum. Os osteófitos que surgem ao redor das articulações dos processos articulares ou das margens posterolaterais durante o envelhecimento podem estreitar ainda mais os forames, causando dores lancinantes nos membros inferiores. Qualquer manobra que distenda o nervo isquiático, como a flexão da coxa com o joelho estendido (teste de elevação da perna estendida), pode provocar ou exacerbar (mas em alguns indivíduos alivia) a ciatalgia. Os discos intervertebrais também podem ser lesados por rotação violenta (p. ex., durante o jogo de golfe) ou flexão da coluna vertebral. A regra geral é que a protrusão do disco intervertebral geralmente comprime a raiz nervosa de número inferior ao do disco herniado; por exemplo, o nervo L5 é comprimido pela hérnia do disco entre L IV e L V. Lembre-se de que nas regiões torácica e lombar o disco intervertebral forma a metade inferior da margem anterior do forame intervertebral e que a metade superior é formada pelo osso do corpo da vértebra superior (Figura 4.14). As raízes do nervo espinal descem até o forame intervertebral, do qual sairá o nervo espinal formado por sua fusão. O nervo que sai em determinado forame intervertebral atravessa a metade óssea superior do forame e, assim, está acima e não é afetado por uma hérnia de disco naquele nível. No entanto, as raízes nervosas que seguem até o forame intervertebral logo abaixo e mais distante passam diretamente através da área de herniação. As protrusões de disco intervertebral sintomáticas ocorrem na região cervical com frequência quase igual à observada na região lombar. A hiperflexão da região cervical crônica ou subitamente forçada, como pode ocorrer durante uma colisão de cabeça ou durante bloqueio de cabeça ilegal no futebol americano (Figura B4.12), por exemplo, pode causar ruptura posterior do disco intervertebral sem fraturar o corpo vertebral. Nessa região, os discos intervertebrais estão posicionados centralmente na margem anterior do forame intervertebral, e a hérnia de disco comprime o nervo que sai naquele nível (e não no nível abaixo, como ocorre na região lombar). Figura B4.12 Entretanto, lembre-se de que os nervos espinais cervicais saem acima da vértebra de mesmo número, de modo que a relação numérica entre o disco herniado e o nervo afetado é igual (p. ex., os discos cervicais que se rompem com maior frequência são aqueles entre C V e C VI e C VI e C VII, comprimindo as raízes dos nervos espinais C6 e C7, respectivamente). As hérnias de disco cervicais provocam dor no pescoço, ombro, braço e mão. Qualquer esporte ou atividade em que o movimento cause pressão descendente ou torção no pescoço ou região lombar pode causar herniação do núcleo pulposo. Fratura do dente do áxis O ligamento transverso do atlas é mais forte que o dente da vértebra C II. As fraturas do dente do áxis representam cerca de 40% das fraturas de C II. A fratura mais comum do dente do áxis ocorre em sua base — isto é, em sua junção com o corpo do áxis (Figura B4.13A). Não raro, essas fraturas são instáveis (não consolidam) porque o ligamento transverso do atlas interpõe-se entre os fragmentos (Crockard et al., 1993) e porque o fragmento separado (o dente do áxis) não tem mais irrigação sanguínea, com consequente necrose vascular. Quase tão comuns são as fraturas do corpo vertebral inferiormente à base do dente do áxis (Figura B4.13B–E). Esse tipo de fratura consolida mais facilmente porque os fragmentos preservam sua irrigação sanguínea. Outras fraturas do dente do áxis são decorrentes de padrões anormais de ossificação. Figura B4.13 Fraturas do dente do áxis (C II). Ruptura do ligamento transverso do atlas Quando o ligamento transverso do atlas se rompe, o dente do áxis é libertado, resultando em subluxação atlantoaxial — luxação incompleta da articulação atlantoaxial mediana (Figura B4.14A). O enfraquecimento patológico dos ligamentos transverso e adjacente, geralmente resultante de distúrbios do tecido conjuntivo, também pode causar subluxação atlantoaxial (Bogduk e Macintosh, 1984); 20% das pessoas com síndrome de Down apresentam frouxidão ou agenesia desse ligamento. A luxação decorrente de ruptura ou agenesia do ligamento transverso é mais propensa a causar compressão da medula espinal do que aquela resultante da fratura do dente do áxis (Figura B4.14B). Nessa fratura, o fragmento é mantido no lugar contra o arco anterior do atlas pelo ligamento transverso, e o dente do áxis e o atlas movemse como uma unidade. Na ausência de um ligamento competente, a região cervical superior da medula espinal pode ser comprimida entre o arco posterior aproximado do atlas e o dente do áxis (Figura B4.14A), causando paralisia dos quatro membros (quadriplegia), ou no interior do bulbo do tronco encefálico, resultando em morte. Regra dos Terços de Steele: Cerca de um terço do anel do atlas é ocupado pelo dente do áxis, um terço pela medula espinal e o terço restante pelo espaço cheio de líquido e pelos tecidos que circundam a medula (Figura B4.14C e D). Isso explica por que alguns pacientes com deslocamento anterior do atlas podem ser relativamente assintomáticos até que haja alto grau de movimento (maior que um terço do diâmetro do anel do atlas). Às vezes a inflamação na área craniovertebral pode causar enfraquecimento dos ligamentos das articulações craniovertebrais e luxação das articulações atlantoaxiais. A transferência súbita de um paciente da cama para a cadeira, por exemplo, pode causar deslocamento posterior do dente do áxis e lesão da medula espinal. Ruptura dos ligamentos alares Os ligamentos alares são mais fracos do que o ligamento transverso do atlas. Consequentemente, flexão e rotação combinadas da cabeça podem romper um ou ambos os ligamentos alares. A ruptura de um ligamento alar resulta em aumento aproximado de 30% na amplitude de movimento contralateral (Dvorak et al., 1988). Fraturas e luxações das vértebras Embora a estrutura da coluna vertebral permita razoável grau de movimento, além de oferecer suporte e proteção, o movimento excessivo ou violento súbito ou um tipo de movimento não permitido em uma região específica tende a provocar fraturas, luxações ou fraturas–luxações da coluna vertebral. A flexão forçada súbita, como a que ocorre em acidentes automobilísticos ou em golpes violentos na parte posterior da cabeça, costuma causar fratura por esmagamento ou compressão do corpo de uma ou mais vértebras. Em caso de movimento anterior violento da vértebra associado a compressão, pode haver deslocamento anterior da vértebra sobre a vértebra inferior (p. ex., luxação das vértebras C VI ou C VII) (ver, no boxe azul, “Luxação de vértebras cervicais”, anteriormente). Em geral, esse deslocamento causa luxação e fratura das faces articulares entre as duas vértebras e rompe os ligamentos interespinais. Lesões irreparáveis da medula espinal estão associadas às lesões mais graves por flexão da coluna vertebral. Figura B4.14 Ruptura do ligamento transverso do atlas. A. Esta vista lateral esquerda mostra que a subluxação da articulação atlantoaxial mediana é decorrente da ruptura do ligamento transverso do atlas. O atlas se movimenta, mas o dente do áxis permanece fixo. C = medula espinal; D = dente do áxis. B. Esta vista lateral esquerda de uma fratura do dente do áxis mostra que o dente do áxis e o atlas movimentam-se juntos como uma unidade porque o ligamento transverso fixa o dente do áxis ao arco anterior do atlas. C e D. Vista inferior de TC no plano transverso e desenho de interpretação mostrando uma articulação atlantoaxial mediana normal e demonstrando a Regra dos Terços de Steele. A extensão forçada e súbita do pescoço também pode lesar a coluna vertebral e a medula espinal. Cabeçadas ou bloqueios de face ilegais no futebol americano podem causar lesão por hiperextensão do pescoço (Figura B4.15A). Essa hiperextensão violenta tende a ocasionar lesão das partes posteriores das vértebras, com fratura por esmagamento ou compressão dos arcos vertebrais e de seus processos. Nas fraturas das vértebras cervicais pode haver irradiação da dor para a parte posterior do pescoço e região escapular porque os gânglios sensitivos espinais e segmentos da medula espinal que recebem impulsos álgicos das vértebras também participam da inervação dos músculos cervicais. A hiperextensão grave do pescoço (lesão em “chicote”) também ocorre durante colisões na traseira dos automóveis (Figura B4.15B), sobretudo quando o apoio de cabeça é muito baixo, como mostra a figura. Nesses tipos de lesões por hiperextensão, há significativa distensão do ligamento longitudinal anterior, que pode se romper. Também pode haver lesão por hiperflexão da coluna vertebral quando a cabeça “retorna” após a hiperextensão, indo para a frente sobre o tórax. Pode haver “superposição das faces articulares” ou entrelaçamento das vértebras cervicais causado por luxação dos arcos vertebrais (ver, no boxe azul, “Luxação de vértebras cervicais”, anteriormente). A hiperextensão acentuada da cabeça sobre a parte superior do pescoço pode, além de causar espondilólise cervical ou fratura do enforcado (ver, no boxe azul, “Fratura e luxação do áxis”, anteriormente), romper o ligamento longitudinal anterior e o anel fibroso adjacente do disco C II–C III. Se isso ocorrer, o crânio, C I e a parte anterior (dente e corpo) de C II são separados do restante do esqueleto axial (Figura B4.15C) e a medula espinal geralmente é seccionada. As pessoas que sofrem essa lesão grave raramente sobrevivem. O futebol americano, o mergulho, as quedas de cavalos e as colisões automobilísticas causam a maioria das fraturas da região cervical da coluna vertebral. Os sintomas variam de dores vagas a perda progressiva das funções motoras e sensitivas. A transição da região torácica relativamente inflexível para a região lombar muito mais móvel é abrupta. Consequentemente, a vértebra T XI e, sobretudo, T XII (que participa dos movimentos de rotação superiormente, mas apenas da flexão e extensão inferiormente) são as vértebras não cervicais fraturadas com maior frequência. A luxação das vértebras nas regiões torácica e lombar é rara devido ao encadeamento de seus processos articulares. No entanto, quando há espondilólise — a fratura da coluna de ossos que unem os processos articulares superiores e inferiores (a parte interarticular) — o encadeamento é interrompido (Figura B4.16A–C). Subsequentemente, pode haver luxação entre vértebras adjacentes, conhecida como espondilolistese. O colapso ou a fratura das partes interarticulares das lâminas vertebrais de L V (espondilólise de L V) pode resultar em espondilolistese do corpo vertebral de L V em relação ao sacro (vértebra S I) em razão da inclinação descendente da articulação L V/S I (Figura B4.16D). A maioria concorda que a espondilólise de L V, ou a suscetibilidade a ela, provavelmente resulta de ausência de união adequada do centro de L V aos arcos neurais na articulação neurocentral durante o desenvolvimento (ver “Ossificação das vértebras”, anteriormente). A espondilolistese na articulação L V–S I pode (embora não necessariamente) resultar em compressão dos nervos espinais da cauda equina em seu trajeto para a parte superior do sacro, causando dor lombar e nos membros inferiores. Figura B4.15 Lesões por extensão das vértebras cervicais. Figura B4.16 Espondilólise e espondilolistese. Lesão e doença das articulações dos processos articulares (zigapofisárias) As articulações dos processos articulares são de interesse clínico porque estão próximas dos forames intervertebrais, através dos quais os nervos espinais emergem do canal vertebral. Quando há lesão dessas articulações ou surgimento de osteófitos (osteoartrite), os nervos espinais são afetados com frequência (ver Figura B4.9B). Isso causa dor ao longo dos padrões de distribuição dos dermátomos e espasmo nos músculos derivados dos miótomos associados. O miótomo é formado por todos os músculos ou partes de músculos que recebem inervação de um nervo espinal. A desnervação das articulações dos processos articulares lombares é um procedimento usado no tratamento da dor nas costas causada por doença dessas articulações. Os nervos são seccionados perto das articulações ou são destruídos por rizólise percutânea por radiofrequência. A desnervação é direcionada para os ramos articulares de dois ramos posteriores adjacentes dos nervos espinais, porque cada articulação recebe inervação do nervo que sai naquele nível e do nervo acima (Figura 4.19). Dorsalgia A dor nas costas em geral e a dor lombar, em especial, é um enorme problema de saúde, perdendo apenas para o resfriado como motivo de consulta médica. Em termos de fatores da saúde que causam perda de dias de trabalho, a dor nas costas perde apenas para a cefaleia. As bases anatômicas da dor, em especial os nervos inicialmente associados à percepção e à condução da dor da própria coluna vertebral, raramente são descritas. Cinco categorias de estruturas no dorso são inervadas e podem ser fontes de dor: • • • • • Estruturas osteofibrosas: periósteo, ligamentos e anéis fibrosos dos discos intervertebrais Meninges: revestimentos da medula espinal Articulações sinoviais: cápsulas das articulações dos processos articulares Músculos: músculos intrínsecos do dorso Tecido nervoso: nervos espinais ou raízes nervosas que saem dos forames intervertebrais. Dentre essas, as duas primeiras estruturas são inervadas por ramos meníngeos (recorrentes) dos nervos espinais e as duas subsequentes, por ramos posteriores (ramos articulares e musculares). A dor proveniente do tecido nervoso — isto é, causada por compressão ou irritação dos nervos espinais ou das raízes nervosas — é, em geral, dor referida, percebida como se fosse proveniente da área cutânea ou subcutânea (dermátomo) suprida por aquele nervo (ver, no boxe azul, “Hérnia do núcleo pulposo”, anteriormente), mas pode ser acompanhada por dor localizada. A dor relacionada com as meninges é relativamente rara e discutida adiante neste capítulo; geralmente não é considerada um elemento que influencie a dor nas costas. A lombalgia localizada (dor percebida como originada nas costas) geralmente é muscular, articular ou osteofibrosa. A dor muscular geralmente está relacionada com espasmos reflexos que causa isquemia, muitas vezes secundária à defesa (contração dos músculos em antecipação à dor). A dor nas articulações dos processos articulares geralmente está associada ao envelhecimento (osteoartrite) ou à doença (artrite reumatoide) das articulações. A dor nas fraturas e luxações vertebrais não é diferente da dor proveniente dos outros ossos e articulações: a dor aguda após uma fratura é principalmente de origem periosteal, enquanto a dor nas luxações é ligamentar. Sem dúvida, a dor aguda localizada associada a uma hérnia de disco intervertebral é provocada pela ruptura do anel fibroso posterolateral e pela compressão do ligamento longitudinal posterior. A dor em todas essas últimas situações é conduzida inicialmente pelos ramos meníngeos dos nervos espinais. Curvaturas anormais da coluna vertebral Para detectar uma curvatura anormal da coluna vertebral, coloque o indivíduo em posição anatômica. Examine o perfil da coluna vertebral com a pessoa de lado (Figura B4.17A–C) e depois de costas (Figura B4.17D). Com a pessoa inclinada para a frente, observe a capacidade de flexão direta para a frente e se o dorso está todo no mesmo nível na posição fletida (Figura B4.17E). Em algumas pessoas as curvaturas anormais são consequência de anomalias congênitas; em outras, decorrem de processos patológicos. A doença óssea metabólica mais prevalente em idosos, sobretudo em mulheres, é a osteoporose. A hipercifose torácica (na clínica é denominada pela forma abreviada cifose, embora esse termo, na verdade, designe a curvatura normal, e coloquialmente é conhecida como corcova ou corcunda) é caracterizada por acentuação anormal da curvatura torácica; a coluna vertebral curva-se posteriormente (Figura B4.17B e F). Essa anormalidade pode resultar da erosão (causada por osteoporose) da parte anterior de uma ou mais vértebras. Corcova de viúva é um nome coloquial para a hipercifose torácica em mulheres idosas resultante da osteoporose. No entanto, esse tipo de cifose também ocorre em homens idosos (Swartz, 2009). A osteoporose afeta principalmente as trabéculas horizontais do osso trabecular do corpo vertebral (Figura 4.3). As trabéculas verticais não sustentadas, remanescentes, resistem menos à compressão e sofrem fraturas por compressão, resultando em vértebras torácicas curtas e cuneiformes (Figura B4.9A). A erosão progressiva e o colapso das vértebras também resultam em perda da altura. A cifose excessiva causa aumento do diâmetro AP do tórax e diminuição acentuada da capacidade pulmonar dinâmica. A hiperlordose lombar (clinicamente abreviada como lordose, embora mais uma vez esse termo descreva a curvatura normal) é caracterizada por inclinação anterior da pelve (há flexão da parte superior do sacro ou rotação anteroinferior — nutação), com aumento da extensão das vértebras lombares, o que acarreta acentuação anormal da lordose lombar (Figura B4.17C). Essa deformidade por extensão anormal frequentemente está associada a enfraquecimento da musculatura do tronco, sobretudo os músculos anterolaterais do abdome. Para compensar alterações da sua linha normal de gravidade, as mulheres desenvolvem hiperlordose lombar temporária na fase final da gravidez. Essa curvatura lordótica pode causar dor lombar, mas o desconforto normalmente desaparece logo após o parto. A obesidade em ambos os sexos também pode causar hiperlordose lombar e dor lombar devido ao aumento do peso do conteúdo abdominal anterior à linha normal de gravidade. O emagrecimento e o exercício dos músculos anterolaterais do abdome facilitam a correção desse tipo de hiperlordose. A escoliose é caracterizada por curvatura lateral anormal acompanhada por rotação das vértebras (Figura B4.17D, E e G). Os processos espinhosos giram em direção à concavidade da curvatura anormal e, quando o indivíduo curva-se para a frente, as costelas giram posteriormente (projetam-se) no lado da convexidade aumentada. As deformidades da coluna vertebral, como a ausência de desenvolvimento de metade de uma vértebra (hemivértebra), são causas de escoliose estrutural. Às vezes a escoliose estrutural está associada a hipercifose torácica — cifoescoliose —, na qual um diâmetro AP anormal causa restrição grave do tórax e da expansão pulmonar (Swartz, 2009). Cerca de 80% dos casos de escoliose estrutural são idiopáticos, ocorrendo sem que haja outros problemas de saúde associados nem uma causa identificável. A escoliose idiopática surge em meninas entre 10 e 14 anos e em meninos entre 12 e 15 anos. É mais comum e acentuada no sexo feminino. Figura B4.17 Curvaturas anormais da coluna vertebral. Problemas extrínsecos a uma coluna vertebral estruturalmente normal, como fraqueza assimétrica dos músculos próprios do dorso (escoliose miopática) ou uma diferença no comprimento dos membros inferiores com inclinação da pelve para compensação, podem causar escoliose funcional. Quando a pessoa está de pé, inclinação ou desvio evidente para um lado pode ser sinal de escoliose secundária à hérnia de um disco intervertebral. A escoliose postural é supostamente causada pelo hábito de ficar de pé ou sentar em posição imprópria. Quando a escoliose é totalmente postural, desaparece durante a flexão máxima da coluna vertebral. As escolioses funcionais desaparecem após o tratamento correto do problema subjacente. MÚSCULOS DO DORSO A maior parte do peso do corpo situa-se anteriormente à coluna vertebral, sobretudo em pessoas obesas; consequentemente, os muitos músculos fortes fixados aos processos espinhosos e transversos são necessários para sustentar e movimentar a coluna vertebral. Há dois grupos principais de músculos no dorso. Os músculos extrínsecos do dorso incluem músculos superficiais e intermediários, que produzem e controlam os movimentos dos membros e respiratórios, respectivamente. Os músculos próprios (que poderiam ser denominados intrínsecos) do dorso são aqueles que atuam especificamente sobre a coluna vertebral, produzindo seus movimentos e mantendo a postura. Músculos extrínsecos do dorso Os músculos extrínsecos superficiais do dorso (trapézio, latíssimo do dorso, levantador da escápula e romboides) são toracoapendiculares, que unem o esqueleto axial (coluna vertebral) ao esqueleto apendicular superior (cíngulo do membro superior e úmero) e produzem e controlam os movimentos dos membros (Figura 4.28A; ver também Quadro 6.4). Embora estejam localizados na região do dorso, a maioria desses músculos é inervada pelos ramos anteriores dos nervos cervicais e atua no membro superior. O trapézio recebe suas fibras motoras de um nervo craniano, o nervo acessório (NC XI). Os músculos extrínsecos intermediários do dorso (serrátil posterior) são finos, comumente designados músculos respiratórios superficiais, porém são mais proprioceptivos do que motores (Vilensky et al., 2001). São descritos com os músculos da parede torácica (ver Capítulo 1). O músculo serrátil posterior superior situa-se profundamente aos músculos romboides, e o músculo serrátil posterior inferior situa-se profundamente ao músculo latíssimo do dorso. Os dois músculos serráteis são supridos pelos nervos intercostais, o superior pelos quatro primeiros intercostais e o inferior pelos últimos quatro. Músculos próprios do dorso Os músculos próprios do dorso (intrínsecos do dorso) são inervados pelos ramos posteriores dos nervos espinais; eles mantêm a postura e controlam os movimentos da coluna vertebral (Figuras 4.28B e 4.29). Esses músculos, que se estendem da pelve até o crânio, são revestidos por fáscia muscular que se fixa medialmente ao ligamento nucal, às extremidades dos processos espinhosos das vértebras, ao ligamento supraespinal e à crista mediana do sacro. A fáscia fixa-se lateralmente aos processos transversos cervicais e lombares e aos ângulos das costelas. As partes torácica e lombar da fáscia muscular constituem a aponeurose toracolombar. Estende-se lateralmente a partir dos processos espinhosos e forma um revestimento fino para os músculos intrínsecos da região torácica e um revestimento espesso forte para os músculos na região lombar. Os músculos próprios do dorso são classificados em camadas superficial, intermédia e profunda, de acordo com sua relação com a superfície. Pontos-chave COLUNA VERTEBRAL Articulações da coluna vertebral: As vértebras são unidas por discos intervertebrais e articulações dos processos articulares e formam uma coluna semirrígida. ♦ A espessura relativa dos discos determina o grau de mobilidade. ♦ A disposição das articulações dos processos articulares controla o tipo de movimento entre vértebras adjacentes. ♦ O ligamento longitudinal anterior resiste à hiperextensão; todos os outros ligamentos resistem a formas de flexão. ♦ As articulações atlantoccipitais permitem o movimento afirmativo (inclinação) da cabeça. ♦ As articulações atlantoaxiais permitem o movimento negativo (rotação) da cabeça. Os ligamentos alares limitam a rotação. Movimentos da coluna vertebral: As regiões cervical e lombar são mais móveis (e, consequentemente, mais vulneráveis à lesão). ♦ A flexão e a extensão ocorrem principalmente nas regiões cervical e lombar. ♦ A rotação ocorre nas regiões cervical e torácica. Curvaturas da coluna vertebral: As curvaturas primárias (cifoses torácica e sacral) são formadas durante o desenvolvimento; as curvaturas secundárias (lordoses cervical e lombar) são decorrentes da postura ereta humana. ♦ As curvaturas oferecem resiliência (absorção de choque e flexibilidade) ao esqueleto axial. ♦ Os músculos extensores do dorso e os flexores abdominais proporcionam sustentação dinâmica para manter as curvaturas. Vasculatura da coluna vertebral: Os ramos espinais das principais artérias cervicais e segmentares irrigam a coluna vertebral. ♦ Os plexos venosos vertebrais internos e externos recebem sangue das vértebras e drenam, por sua vez, para as veias vertebrais do pescoço e para as veias segmentares do tronco. Nervos da coluna vertebral: As articulações dos processos articulares são inervadas por ramos mediais dos ramos posteriores adjacentes; os ramos meníngeos (recorrentes) dos nervos espinais suprem a maior parte do osso (periósteo), discos intervertebrais e ligamentos, bem como as meninges (revestimentos) da medula espinal. ♦ Esses dois (grupos de) nervos conduzem toda a dor localizada originada na coluna vertebral.

Figura 4.28 Músculos do dorso. A. Músculos extrínsecos superficiais. O músculo trapézio está rebatido para a esquerda a fim de mostrar o nervo acessório (NC XI), que segue em sua face profunda, e os músculos levantador da escápula e romboide. B. Este corte transversal de parte do dorso mostra a localização dos músculos próprios do dorso e as camadas de fáscia associadas a eles. Figura 4.29 Camadas superficial e intermédia dos músculos próprios do dorso: Mm. esplênio e eretor da espinha. Os músculos ECM e levantador da escápula estão rebatidos para mostrar os músculos esplênios da cabeça e do pescoço. No lado direito, o músculo eretor da espinha está intacto (in situ) e podem-se ver as três colunas desse grande músculo. No lado esquerdo, o músculo espinal do tórax, a coluna mais fina e medial do músculo eretor da espinha, é exibido como um músculo separado após rebatimento das colunas do músculo longuíssimo e do músculo iliocostal do músculo eretor da espinha. À medida que ascendem, a direção das fibras é diferente nos três grupos principais de músculos: os músculos superficiais (esplênios) seguem na direção de medial para lateral, os músculos intermédios (eretores da espinha) seguem basicamente em direção vertical, e a direção principal dos músculos próprios (transversoespinais) é de lateral para medial (ver Figura 4.32). Figura 4.30 Camada superficial de músculos próprios do dorso (músculos esplênios). Quadro 4.4 Camada superficial dos músculos próprios do dorso. Músculo Fixação proximal Fixação distal Inervação Principal(is) ação(ões) Esplênio Ligamento nucal e processos espinhosos das vértebras C VII a T VI M. esplênio da cabeça: as fibras seguem superolateralmente ao processo mastoide do temporal e terço lateral da linha nucal superior do occipital M. esplênio do pescoço: tubérculos dos processos transversos das vértebras C I a C III ou C IV Ramos posteriores dos nervos espinais Agindo sozinhos: fletem lateralmente o pescoço e giram a cabeça para o lado dos músculos ativos Agindo juntos: estendem a cabeça e o pescoço CAMADA SUPERFICIAL Os músculos esplênios são espessos e planos e situam-se nas faces lateral e posterior do pescoço, cobrindo os músculos verticais como uma bandagem, o que explica seu nome (Figuras 4.29 e 4.30). Os músculos esplênios originam-se na linha mediana e estendem-se superolateralmente até as vértebras cervicais (músculo esplênio do pescoço) e crânio (músculo esplênio da cabeça). Os músculos esplênios revestem e mantêm os músculos profundos do pescoço em posição. A Figura 4.30 ilustra a camada superficial dos músculos próprios e o Quadro 4.4 contém informações sobre suas fixações, inervação e ações. CAMADA INTERMÉDIA Os fortes músculos eretores da espinha situam-se em um “sulco” de cada lado da coluna vertebral entre os processos espinhosos centralmente e os ângulos das costelas lateralmente (Figura 4.29). O músculo eretor da espinha é o principal extensor da coluna vertebral e é dividido em três colunas: o músculo iliocostal forma a coluna lateral, o músculo longuíssimo forma a coluna intermédia e o músculo espinal, a coluna medial. Cada coluna é dividida regionalmente em três partes, de acordo com as fixações superiores (p. ex., músculo iliocostal do lombo, parte torácica do músculo iliocostal do lombo e músculo iliocostal do pescoço). A origem comum das três colunas do eretor da espinha se faz por um tendão largo que se fixa inferiormente à parte posterior da crista ilíaca, à face posterior do sacro, aos ligamentos sacroilíacos e aos processos espinhosos sacrais e lombares inferiores. Os músculos eretores da espinha frequentemente são denominados “músculos longos” do dorso. Em geral, são músculos dinâmicos (geradores de movimento), que atuam bilateralmente para estender (retificar) o tronco fletido. A Figura 4.31 ilustra os músculos da camada intermédia de músculos próprios isolados e o Quadro 4.5 contém informações sobre suas fixações, inervação e ações. CAMADA PROFUNDA Profundamente ao músculo eretor da espinha há um grupo oblíquo de músculos muito mais curtos, o grupo de músculos transversoespinais, que compreende os músculos semiespinais, multífidos e rotadores. Esses músculos originam-se dos processos transversos das vértebras e seguem até os processos espinhosos de vértebras superiores. Eles ocupam o “sulco” entre os processos transversos e espinhosos e estão fixados a esses processos, às lâminas entre eles e aos ligamentos que os unem (Figura 4.32). O músculo semiespinal é o membro superficial do grupo. Como seu nome indica, origina-se aproximadamente na metade da coluna vertebral. É dividido em três partes, de acordo com as fixações superiores (Quadro 4.6): músculos semiespinal da cabeça, semiespinal do tórax e semiespinal do pescoço. O músculo semiespinal da cabeça forma a saliência longitudinal na região cervical posterior perto do plano mediano (Figura 4.33A). Figura 4.31 Camada intermédia de músculos próprios do dorso (músculos eretores da espinha). Quadro 4.5 Camada intermédia dos músculos próprios do dorso. Músculo Fixação proximal Fixação distal Inervação Principal(is) ação(ões) Eretor da espinha: Iliocostal Longuíssimo Espinal Origina-se por um tendão largo da parte posterior da crista ilíaca, face posterior do sacro, ligamentos sacroilíacos, processos espinhosos sacrais e lombares inferiores e ligamento supraespinal M. iliocostal: parte lombar do M. iliocostal do lombo, parte torácica do M. iliocostal do lombo, M. iliocostal do pescoço; as fibras seguem superiormente até os ângulos das costelas inferiores e processos transversos cervicais M. longuíssimo: do tórax, do pescoço, da cabeça; as fibras seguem superiormente até as costelas entre tubérculos e ângulos até os processos transversos nas regiões torácica e cervical e até o processo mastoide do temporal M. espinal: do tórax, do pescoço, da cabeça; as fibras seguem superiormente até os processos espinhosos na região torácica superior e até o crânio Ramos posteriores dos nervos espinais Agindo bilateralmente: estendem a coluna vertebral e a cabeça; quando o dorso é fletido, controlam o movimento via contração excêntrica Agindo unilateralmente: fletem lateralmente a coluna vertebral Figura 4.32 Camada profunda de músculos próprios do dorso (músculos transversoespinais). O músculo multífido forma a camada média do grupo e consiste em feixes musculares curtos e triangulares que são mais espessos na região lombar (Figura 4.33B). Os músculos rotadores são os mais profundos das três camadas de músculos transversoespinais e são mais desenvolvidos na região torácica. O grupo transversoespinal da camada profunda de músculos próprios do dorso é ilustrado separadamente na Figura 4.33, e os detalhes acerca de suas fixações, inervação e ação são apresentados no Quadro 4.6. Os músculos interespinais, intertransversários e levantadores das costelas são pequenos músculos profundos do dorso, relativamente exíguos na região torácica. Os músculos interespinais e intertransversários unem os processos espinhosos e transversos, respectivamente. Os levantadores das costelas representam os músculos intertransversários posteriores do pescoço. O Quadro 4.6 apresenta detalhes sobre as fixações, inervação e ações dos pequenos músculos da camada profunda de músculos próprios. PRINCIPAIS MÚSCULOS QUE MOVIMENTAM AS ARTICULAÇÕES INTERVERTEBRAIS Os principais músculos que movem as articulações intervertebrais cervicais, torácicas e lombares são ilustrados nas Figuras 4.34 e 4.35, e os detalhes são resumidos nos Quadros 4.7 e 4.8. Muitos dos músculos que atuam sobre as vértebras cervicais são analisados com mais detalhes no Capítulo 8 (Pescoço). Os músculos do dorso permanecem em relativa inatividade na posição de pé relaxada, mas eles (sobretudo a camada profunda de músculos próprios mais curtos) atuam como músculos posturais estáticos (fixadores ou estabilizadores) da coluna vertebral, mantendo a tensão e estabilidade necessárias para a postura ereta. Observe no Quadro 4.8 que todos os movimentos das articulações intervertebrais (isto é, todos os movimentos da coluna vertebral), com exceção da extensão pura, incluem ou são produzidos apenas pela contração concêntrica dos músculos do abdome. No entanto, é preciso ter em mente que nesses movimentos, como em todos os outros, a contração excêntrica (relaxamento controlado) dos músculos antagonistas é fundamental para o movimento suave e controlado (ver “Tecido muscular e sistema muscular”, na Introdução). Assim, na verdade, é a interação dos músculos anteriores (do abdome) e posteriores (do dorso) (bem como os pares contralaterais de cada um) que proporciona estabilidade e produz movimento do esqueleto axial, assim como os cabos que sustentam um poste. Muitas vezes, a tensão crônica nas costas (como aquela causada por hiperlordose lombar) resulta do desequilíbrio dessa sustentação (ausência de tônus dos músculos do abdome no caso de lordose; Figura B4.17C). Pode ser necessário praticar exercício ou perder o excesso de peso distribuído de modo desigual para recuperar o equilíbrio. Figura 4.33 Músculos da camada profunda de músculos próprios do dorso. A. O grupo de músculos transversoespinais está situado profundamente aos músculos eretores da espinha (ver D). A costela lombar curta está se articulando com o processo transverso da vértebra L I. Essa variação comum geralmente não causa problemas; no entanto, aqueles que desconhecem sua possível presença podem pensar em fratura do processo transverso. B. Dissecção mais profunda, mostrando os músculos rotadores. Os músculos levantadores das costelas representam os músculos intertransversários na região torácica. Quadro 4.6 Camadas profundas dos músculos próprios do dorso. Músculo Fixação proximal Fixação distal Inervação Principal(is) ação(ões) Camada profunda Processos transversos Semiespinal: origina-se dos processos transversos das vértebras C IV a T Processos espinhosos das vértebras superiores M. semiespinal: do tórax, do pescoço, da cabeça; as fibras seguem superomedialmente para o occipital e os processos espinhosos nas regiões torácica e cervical, passando Extensão M. semiespinal: Transversoespinais: M. semiespinal M. multífido Mm. rotadores (curto e longo) XII M. multífido: origina-se da face posterior do sacro, espinha ilíaca posterossuperior, aponeurose do m. eretor da espinha, ligamentos sacroilíacos, processos mamilares das vértebras lombares, processos transversos de T I a T III, processos articulares de C IV a C VII Mm. rotadores: originam-se dos processos transversos das vértebras; mais bem desenvolvidos na região torácica por 4 a 6 segmentos M. multífido: mais espesso na região lombar; as fibras seguem obliquamente em sentido superomedial por toda a extensão dos processos espinhosos, localizados 2 a 4 segmentos superiores à fixação proximal Mm. rotadores: as fibras seguem superomedialmente para se fixarem à junção da lâmina e processo transverso ou processo espinhoso da vértebra imediatamente (curto) ou 2 segmentos (longo) superior à vértebra de fixação Ramos posteriores dos nervos espinais a estende a cabeça e as regiões torácica e cervical da coluna vertebral e gira-as para o outro lado M. multífido: estabiliza as vértebras durante movimentos locais da coluna vertebral Mm. rotadores: estabilizam as vértebras e ajudam na extensão local e nos movimentos giratórios da coluna vertebral; podem funcionar como órgãos de propriocepção Camada profunda menor Mm. interespinais Faces superiores dos processos espinhosos das vértebras cervicais e lombares Faces inferiores dos processos espinhosos da vértebra superior à vértebra de fixação proximal Ramos posteriores dos nervos espinais Ajudam na extensão e rotação da coluna vertebral Mm. intertransversários Processos transversos das vértebras cervicais e lombares Processos transversos das vértebras adjacentes Ramos posterior e anterior dos nervos espinais a Ajudam na flexão lateral da coluna vertebral; agindo bilateralmente, estabilizam a coluna vertebral Mm. levantadores das costelas Extremidades dos processos transversos das vértebras C VII e T I–T XI Seguem inferolateralmente e se inserem na costela entre o tubérculo e o ângulo Ramos posteriores dos nervos espinais C8–T11 Elevam as costelas, auxiliando na respiração; ajudam na flexão lateral da coluna vertebral aA maioria dos músculos do dorso é inervada por ramos posteriores dos nervos espinais, mas alguns são inervados por ramos anteriores. Os músculos intertransversários anteriores da região cervical são supridos por ramos anteriores. Os músculos menores geralmente têm maior densidade de fusos musculares (sensores proprioceptivos entrelaçados nas fibras musculares) do que os grandes músculos. Acreditava-se que a maior concentração de fusos ocorresse porque os pequenos músculos produzem os movimentos mais precisos, como movimentos posturais finos ou manipulação e, portanto, exigem mais feedback proprioceptivo. 1 = 2 = 3 = 4 = Os movimentos descritos dos pequenos músculos são deduzidos a partir da localização de suas fixações e da direção das fibras musculares e a partir da medida da atividade por eletromiografia quando são realizados os movimentos. No entanto, músculos como os rotadores são tão pequenos e estão em posições de tamanha desvantagem mecânica que sua capacidade de produzir os movimentos descritos é um tanto questionável. Além disso, não raro esses pequenos músculos são redundantes em relação a outros grandes músculos que têm maior vantagem mecânica. Sendo assim, propôs-se (Buxton e Peck, 1989) que os menores músculos dos pares de músculos pequenos–grandes atuam mais como “monitores cinesiológicos” ou órgãos de propriocepção, e que os maiores músculos são os geradores de movimento. Figura 4.34 Principais músculos que movimentam as articulações intervertebrais cervicais. Quadro 4.7 Principais músculos que movimentam as articulações intervertebrais cervicais. Flexão Extensão Flexão lateral Rotação (não mostrada) Ação bilateral de M. longo do pescoço M. escaleno M. esternocleidomastóideo Músculos profundos do pescoço semiespinal do pescoço e iliocostal do pescoço esplênio do pescoço e levantador da escápula esplênio da cabeça multífido Ação unilateral de M. iliocostal do pescoço Mm. longuíssimos da cabeça e do pescoço Mm. esplênios da cabeça e do pescoço Ação unilateral de Mm. rotadores Mm. semiespinais da cabeça e do pescoço M. multífido 5 = 6 = T = longuíssimo da cabeça semiespinal da cabeça trapézio Mm. intertransversário e escalenos M. esplênio do pescoço Figura 4.35 Principais músculos que movimentam as articulações intervertebrais torácicas e lombares. Quadro 4.8 Principais músculos que movimentam as articulações intervertebrais torácicas e lombares. Flexão Extensão Flexão lateral Rotação Ação bilateral de M. reto do abdome Ação bilateral de M. eretor da espinha Ação unilateral de Partes torácica e lombar do M. iliocostal do lombo M. longuíssimo do tórax M. multífido Ação unilateral de Mm. rotadores M. multífido M. iliocostal M. psoas maior Gravidade M. multífido M. semiespinal do tórax Mm. oblíquos externo e interno do abdome M. quadrado do lombo Mm. romboides M. serrátil anterior M. longuíssimo M. oblíquo externo do abdome agindo em sincronia com o M. oblíquo interno do abdome oposto M. esplênio do tórax Anatomia de superfície dos músculos do dorso O sulco mediano posterior está situado sobre as extremidades dos processos espinhosos das vértebras (Figura 4.36). O sulco é contínuo superiormente com o sulco nucal no pescoço e é mais profundo nas regiões torácica inferior e lombar superior. Os músculos eretores da espinha produzem saliências verticais proeminentes de cada lado do sulco. Na região lombar, são facilmente palpáveis e suas margens laterais coincidem com os ângulos das costelas e são indicadas por sulcos rasos na pele. Quando o indivíduo está de pé, os processos espinhosos lombares podem ser indicados por depressões cutâneas. Esses processos geralmente tornam-se visíveis quando a coluna vertebral é fletida (ver Figuras 4.8A e 4.11A e C). O sulco mediano posterior termina na área triangular achatada que cobre o sacro e é substituído inferiormente pela fenda interglútea. Quando os membros superiores são elevados, as escápulas movem-se lateralmente na parede torácica, tornando visíveis os músculos romboide e redondo maior. Os músculos superficiais trapézio e latíssimo do dorso, que unem os membros superiores à coluna vertebral, também são claramente visíveis (Figura 4.36). Músculos suboccipitais e profundos do pescoço Muitas vezes erroneamente representada como uma região superficial, a região suboccipital é um “compartimento” muscular situado profundamente à parte superior da região cervical posterior, sob os músculos trapézio, esternocleidomastóideo, esplênio e semiespinal. É um espaço piramidal inferior à proeminência occipital externa da cabeça que inclui as faces posteriores das vértebras C I e C II (ilustração de orientação na Figura 4.37). Os quatro pequenos músculos da região suboccipital situam-se profundamente (anteriormente) aos músculos semiespinais da cabeça e são formados por dois músculos retos posteriores da cabeça (maior e menor) e dois músculos oblíquos. Os quatro músculos são inervados pelo ramo posterior de C I, o nervo suboccipital. O nervo emerge quando a artéria vertebral segue profundamente entre o occipital e o atlas (vértebra C I) no trígono suboccipital. Os detalhes acerca dos limites e conteúdo desse trígono e as fixações dos músculos suboccipitais são ilustrados na Figura 4.37 e descritos no Quadro 4.9. Figura 4.36 Anatomia de superfície dos músculos do dorso. Figura 4.37 Músculos suboccipitais e região suboccipital. Quadro 4.9 Músculos suboccipitais e região suboccipital. Músculos suboccipitais Músculo Origem Inserção Reto posterior maior da cabeça Processo espinhoso da vértebra C II Parte lateral da linha nucal inferior do osso occipital Reto posterior menor da cabeça Tubérculo posterior do arco posterior da vértebra C I (atlas) Parte medial da linha nucal inferior do osso occipital Oblíquo inferior da cabeça Tubérculo posterior do arco posterior da vértebra C II (áxis) Processo transverso da vértebra C I (atlas) Oblíquo superior da cabeça Processo transverso da vértebra C I Osso occipital entre as linhas nucais superior e inferior Trígono suboccipital Face do trígono Estruturas Limite superomedial M. reto posterior maior da cabeça Limite superolateral M. oblíquo superior da cabeça Limite inferolateral M. oblíquo inferior da cabeça Assoalho Membrana atlantoccipital posterior e arco posterior da vértebra C I (atlas) Teto M. semiespinal da cabeça Conteúdo A. vertebral e N. suboccipital Quadro 4.10 Principais músculos que movimentam as articulações atlantoccipitais. Flexão Extensão Flexão lateral (não mostrada) M. longo da cabeça M. reto anterior da cabeça Fibras anteriores do M. esternocleidomastóideo Mm. supra-hióideos e infra-hióideos Mm. retos posteriores maior e menor da cabeça M. oblíquo superior da cabeça M. esplênio da cabeça M. longuíssimo da cabeça M. trapézio M. esternocleidomastóideo M. oblíquo superior da cabeça M. reto lateral da cabeça M. longuíssimo da cabeça M. esplênio da cabeça Note que o músculo oblíquo inferior da cabeça é o único músculo “da cabeça” que não tem fixação ao crânio. Esses músculos são principalmente posturais, mas normalmente são descritas as ações de cada músculo em termos de movimentação da cabeça. Os músculos suboccipitais agem na cabeça direta ou indiretamente (explicando a inclusão da palavra cabeça em seus nomes), estendendo-a sobre a vértebra C I e girando-a sobre as vértebras C I e C II. Lembre-se, porém, da discussão sobre o pequeno constituinte do par de músculos pequeno–grande que funciona como monitor cinesiológico para o sentido de propriocepção (ver anteriormente). O resumo dos principais músculos que movimentam as articulações craniovertebrais é apresentado nos Quadros 4.10 e 4.11, e os nervos da região cervical posterior, inclusive a região suboccipital, são ilustrados na Figura 4.38 e resumidos no Quadro 4.12. Quadro 4.11 Principais músculos que movimentam as articulações atlantoaxiais. a Ipsilaterais b Contralaterais M. oblíquo inferior da cabeça Mm. retos posteriores da cabeça, maior e menor M. longuíssimo da cabeça M. esplênio da cabeça M. esternocleidomastóideo M. semiespinal da cabeça aArotação é o movimento especializado nessas articulações. O movimento de uma articulação envolve a outra. b Mesmo lado para o qual a cabeça é girada. Figura 4.38 Nervos da região cervical posterior, inclusive a região (trígono) suboccipital. Quadro 4.12 Nervos da região cervical posterior, inclusive a região suboccipital. Nervo Origem Trajeto Distribuição Suboccipital Ramo posterior do nervo espinal C1 Segue entre o crânio e a vértebra C I para chegar à região suboccipital Músculos da região suboccipital Occipital maior Ramo posterior do nervo espinal C2 Emerge abaixo do M. oblíquo inferior da cabeça e ascende até a parte posterior do couro cabeludo Pele sobre o pescoço e osso occipital Occipital menor Ramos anteriores dos nervos espinais C3–C3 Segue diretamente até a pele Pele da região posterolateral superior do pescoço e couro cabeludo posterior à orelha Ramos posteriores, nervos C3–C7 Ramos posteriores dos nervos espinais C3-C7 Seguem de modo segmentar até os músculos e a pele Músculos próprios do dorso e pele sobrejacente (adjacentes à coluna vertebral) MÚSCULOS DO DORSO Distensões, entorses e espasmos do dorso O aquecimento e o alongamento adequados, bem como exercícios para aumentar o tônus dos “músculos básicos” (músculos da parede anterolateral do abdome — sobretudo o músculo transverso do abdome — que atuam na estabilização lombar), evitam muitas distensões e entorses do dorso, causas comuns de dor lombar. Entorse do dorso é uma lesão na qual há acometimento apenas do tecido ligamentar ou da fixação do ligamento ao osso, sem luxação ou fratura. Resulta de contrações excessivamente fortes relacionadas com os movimentos da coluna vertebral, como a extensão ou rotação excessiva. Distensão do dorso é um problema comum em pessoas que praticam esportes; resulta da contração muscular excessiva. A tensão envolve algum grau de estiramento ou ruptura microscópica das fibras musculares. Os músculos geralmente acometidos são aqueles que movimentam as articulações intervertebrais lombares, principalmente o M. eretor da espinha. A distensão dos músculos ocorre quando o peso não é adequadamente equilibrado sobre a coluna vertebral. O uso do dorso como alavanca ao levantar objetos pesados causa enorme tensão da coluna vertebral e de seus ligamentos e músculos. As tensões podem ser reduzidas se a pessoa se agachar, mantiver o dorso o mais reto possível, e usar os músculos das nádegas e dos membros inferiores para ajudar a levantar o objeto. Como mecanismo de proteção, os músculos do dorso sofrem espasmo após uma lesão ou em resposta à inflamação (p. ex., dos ligamentos). Espasmo é uma contração involuntária súbita de um ou mais grupos musculares, está associado a cãibras, dor e interferência com a função, causando movimento involuntário e deformidade. Diminuição da vascularização do tronco encefálico O trajeto espiralado das artérias vertebrais através dos forames transversários dos processos transversos das vértebras cervicais e através das regiões suboccipitais torna-se clinicamente importante quando há redução do fluxo sanguíneo através dessas artérias, como ocorre na arteriosclerose (enrijecimento das artérias). Nessas condições, a rotação prolongada da cabeça, como ocorre ao dirigir um automóvel de ré, pode causar atordoamento, tonteira e outros sintomas devido à interferência com a irrigação sanguínea do tronco encefálico. Pontos-chave MÚSCULOS DO DORSO Os músculos extrínsecos superficiais do dorso são músculos toracoapendiculares que servem ao membro superior. ♦ Com exceção do músculo trapézio — inervado pelo NC XI — os músculos extrínsecos do dorso são inervados pelos ramos anteriores dos nervos espinais. ♦ Os músculos próprios do dorso unem elementos do esqueleto axial, são inervados principalmente por ramos posteriores dos nervos espinais e são organizados em três camadas: superficial (músculos esplênios), intermédia (músculo eretor da espinha) e profunda (músculos transversoespinais). ♦ Os músculos próprios do dorso permitem basicamente a extensão e a propriocepção da postura e atuam em sinergia com os músculos da parede anterolateral do abdome para estabilizar e movimentar o tronco. ♦ Os músculos suboccipitais estendem-se entre as vértebras C I (atlas) e C II (áxis) e o osso occipital e movimentam — e/ou fornecem informações proprioceptivas sobre — as articulações craniovertebrais.

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