quinta-feira, 3 de maio de 2018

VÍSCERAS ABDOMINAIS

Considerações gerais sobre as vísceras abdominais e o sistema digestório As vísceras do abdome abrangem a maior parte do sistema digestório: são a parte terminal do esôfago, o estômago, os intestinos, o baço, o pâncreas, o fígado, a vesícula biliar, os rins e as glândulas suprarrenais (Figuras 2.30 e 2.31). Quando a cavidade abdominal é aberta para estudar esses órgãos, torna-se evidente que o fígado, o estômago e o baço ocupam quase toda a cúpula do diafragma. Como eles se salientam para a cavidade torácica, recebem proteção da parte inferior da caixa torácica. Também é observado que o ligamento falciforme normalmente se fixa ao longo de uma linha contínua da parede anterior do abdome até o umbigo. Divide o fígado superficialmente em lobos direito e esquerdo. O omento maior cheio de gordura, quando em sua posição típica, oculta quase todo o intestino. A vesícula biliar projeta-se inferiormente à margem aguda do fígado (Figura 2.31A).
Figura 2.30 Considerações gerais sobre vísceras torácicas e abdominais. A e B. Alguns órgãos abdominais estendem-se superiormente até a caixa torácica e são protegidos por ela. Parcialmente protegido pelas costelas inferiores, o rim direito é mais baixo do que o esquerdo, devido à massa do fígado no lado direito. Uma grande parte do intestino delgado está na pelve. Figura 2.31 Conteúdo abdominal in situ e em relação ao sistema digestório. A. Conteúdo abdominal intacto. As paredes anteriores do abdome e do tórax foram retiradas. O ligamento falciforme foi seccionado em sua fixação à parede anterior do abdome. B. Visão geral do sistema digestório, desde a boca até o ânus, com todas as suas glândulas acessórias e órgãos. O alimento segue da boca e faringe, pelo esôfago, até o estômago, onde se mistura com as secreções gástricas (Figura 2.31B). A digestão ocorre principalmente no estômago e no duodeno. A peristalse, uma série de ondas de contração anulares que começa aproximadamente no meio do estômago e se desloca devagar em direção ao piloro, é responsável pela mistura do alimento mastigado aos sucos gástricos e pelo esvaziamento do conteúdo gástrico no duodeno. A absorção de substâncias químicas ocorre principalmente no intestino delgado, um tubo espiralado, com 5 a 6 m de comprimento (mais curto em vida, quando existe tônus, do que no cadáver) formado pelo duodeno, jejuno e íleo. A peristalse também ocorre no jejuno e no íleo; entretanto, não é forte, exceto se houver obstrução. O estômago é contínuo com o duodeno, que recebe as aberturas dos ductos do pâncreas e fígado, as principais glândulas do sistema digestório. O intestino grosso é formado pelo ceco (que recebe a parte terminal do íleo), apêndice vermiforme, colo (ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e canal anal. A maior parte da reabsorção ocorre no colo ascendente. As fezes se formam nos colos descendente e sigmoide e acumulam-se no reto antes da defecação. O esôfago, o estômago e os intestinos grosso e delgado constituem o sistema digestório e são derivados do intestino anterior primitivo, do intestino médio e do intestino posterior. A irrigação do sistema digestório provém da parte abdominal da aorta. Os três principais ramos da aorta que irrigam o intestino são o tronco celíaco e as artérias mesentéricas superior e inferior (Figura 2.32A). A veia porta é formada pela união das veias mesentérica superior e esplênica (Figura 2.32B). É o principal canal do sistema venoso porta, que recebe sangue da parte abdominal do sistema digestório, pâncreas, baço e da maior parte da vesícula biliar, e o conduz ao fígado. Esôfago O esôfago é um tubo muscular (aproximadamente 25 cm de comprimento) com um diâmetro médio de 2 cm, que conduz alimento da faringe para o estômago (Figura 2.33A). A fluoroscopia (radiografia usando fluoroscópio) após ingestão de bário (Figura 2.34) mostra que o esôfago normalmente tem três constrições, onde estruturas adjacentes deixam impressões: Figura 2.32 Irrigação arterial e drenagem venosa das partes abdominais do sistema digestório. A. A figura mostra a irrigação arterial. Os três ramos ímpares da parte abdominal da aorta irrigam, em sequência, os derivados dos intestinos anterior, médio e posterior. B. Drenagem venosa. O sangue rico em nutrientes do sistema digestório e o sangue do baço, pâncreas e vesícula biliar drenam para o fígado pela veia porta. A seta preta indica a comunicação da veia esofágica com o sistema venoso ázigo (sistêmico). • • • Figura 2.33 o esôfago e suas relações. A. Esta vista mostra toda a extensão do esôfago e as estruturas relacionadas com ele. O esôfago começa no nível da cartilagem cricóidea palpável e desce posteriormente à traqueia. Deixa o tórax através do hiato esofágico do diafragma. B. O corte transversal do esôfago mostra as camadas muscular dupla e mucosa pregueada de sua parede. C. Corte coronal da parte inferior do esôfago, diafragma e parte superior do estômago. O ligamento frenicoesofágico une o esôfago ao diafragma de maneira flexível; limita o movimento superior do esôfago enquanto permite algum movimento durante a deglutição e a respiração. Constrição cervical (esfíncter superior do esôfago): em seu início na junção faringoesofágica, a aproximadamente 15 cm dos dentes incisivos; causada pela parte cricofaríngea do músculo constritor inferior da faringe (ver Capítulo 8) Constrição broncoaórtica (torácica): uma constrição combinada, no local onde ocorre primeiro o cruzamento do arco da aorta, a 22,5 cm dos dentes incisivos, e depois o cruzamento pelo brônquio principal esquerdo, a 27,5 cm dos dentes incisivos; a primeira constrição é observada em vistas anteroposteriores, a segunda em vistas laterais Constrição diafragmática: no local onde atravessa o hiato esofágico do diafragma, a aproximadamente 40 cm dos dentes incisivos (Figura 2.33A). • • • • • O conhecimento dessas constrições é importante ao introduzir instrumentos no estômago através do esôfago e ao examinar radiografias de pacientes com disfagia (dificuldade para engolir). O esôfago: Segue a curva da coluna vertebral ao descer através do pescoço e do mediastino — a divisão mediana da cavidade torácica (Figura 2.33A) Tem lâminas musculares circulares internas e longitudinais externas (Figura 2.33B). Em seu terço superior, a lâmina externa consiste em músculo estriado voluntário; o terço inferior é formado por músculo liso, e o terço médio tem os dois tipos de músculo Atravessa o hiato esofágico elíptico no pilar muscular direito do diafragma, logo à esquerda do plano mediano, no nível da vértebra T X Termina entrando no estômago no óstio cárdico do estômago (Figura 2.33C), à esquerda da linha mediana, no nível da 7 a cartilagem costal esquerda e da vértebra T XI É circundado pelo plexo nervoso esofágico distalmente (Figura 2.35). O alimento atravessa o esôfago rapidamente em razão da ação peristáltica de sua musculatura, auxiliado pela gravidade, mas não depende dela (é possível engolir de cabeça para baixo). O esôfago está fixado às margens do hiato esofágico no diafragma pelo ligamento frenicoesofágico (Figura 2.33C), uma extensão da fáscia diafragmática inferior. Esse ligamento permite o movimento independente do diafragma e do esôfago durante a respiração e a deglutição. Figura 2.34 Radiografia do esôfago após ingestão de bário. Esta incidência oblíqua posterior esquerda (OPE) mostra duas das três “constrições” (impressões) normais, causadas pelo arco da aorta e brônquio principal esquerdo. A ampola frênica, que é observada apenas à radiografia, é a parte distensível do esôfago superior ao diafragma. (Cortesia do Dr. E. L. Lansdown, Professor of Medical Imaging, University of Toronto, Toronto, ON, Canada.) A parte abdominal do esôfago, em forma de trompete, com apenas 1,25 cm de comprimento, vai do hiato esofágico no pilar direito do diafragma até o óstio cárdico do estômago, alargando-se à medida que se aproxima em posição anterior e à esquerda na sua descida. A face anterior é coberta por peritônio da cavidade peritoneal, contínuo com aquele que reveste a face anterior do estômago. Encaixa-se em um sulco na face posterior (visceral) do fígado. A face posterior da parte abdominal do esôfago é coberta por peritônio da bolsa omental, contínuo com aquele que reveste a face posterior do estômago. A margem direita do esôfago é contínua com a curvatura menor do estômago; entretanto, sua margem esquerda é separada do fundo gástrico pela incisura cárdica existente entre o esôfago e o fundo gástrico (Figura 2.37A). A junção esofagogástrica situa-se à esquerda da vértebra T XI no plano horizontal que atravessa a extremidade do processo xifoide. Os cirurgiões e endoscopistas designam a linha Z (Figura 2.33C), uma linha irregular em que há mudança abrupta da mucosa esofágica para a mucosa gástrica, como a junção. Imediatamente superior a essa junção, a musculatura diafragmática que forma o hiato esofágico funciona como um esfíncter inferior do esôfago fisiológico que se contrai e relaxa. Exames radiológicos mostram que o alimento para momentaneamente nesse lugar e que o mecanismo esfincteriano normalmente é eficiente para evitar refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. Quando uma pessoa não está comendo, o lúmen do esôfago normalmente encontra-se colapsado acima desse nível para evitar a regurgitação de alimentos ou suco gástrico para o esôfago. • Os detalhes sobre a rede neurovascular das partes cervical e torácica do esôfago são fornecidos nos Caps. 1 e 8. A irrigação arterial da parte abdominal do esôfago é feita pela artéria gástrica esquerda, um ramo do tronco celíaco, e pela artéria frênica inferior esquerda (Figura 2.32A). A drenagem venosa das veias submucosas dessa parte do esôfago se faz para o sistema venoso porta, através da veia gástrica esquerda (Figura 2.32B), e para o sistema venoso sistêmico, pelas veias esofágicas que entram na veia ázigo. A drenagem linfática da parte abdominal do esôfago se faz para os linfonodos gástricos esquerdos (Figura 2.35); os vasos linfáticos eferentes desses linfonodos drenam principalmente para os linfonodos celíacos. O esôfago é inervado pelo plexo esofágico, formado pelos troncos vagais (que se tornam os ramos gástricos anteriores e posterior) e pelos troncos simpáticos torácicos por meio dos nervos esplâncnicos (abdominopélvicos) maiores e plexos periarteriais ao redor das artérias gástrica esquerda e frênica inferior. (Ver também “Resumo da inervação das vísceras abdominais”, mais adiante). Estômago O estômago é a parte expandida do sistema digestório entre o esôfago e o intestino delgado (Figura 2.31B). É especializado para o acúmulo do alimento ingerido, que ele prepara química e mecanicamente para a digestão e passagem para o duodeno. O estômago mistura os alimentos e atua como reservatório; sua principal função é a digestão enzimática. O suco gástrico converte gradualmente a massa de alimento em uma mistura semilíquida, o quimo, que passa rapidamente para o duodeno. O estômago vazio tem calibre apenas ligeiramente maior que o do intestino grosso; entretanto, é capaz de se expandir muito e pode conter 2 a 3 litros de alimento. POSIÇÃO, PARTES E ANATOMIA DE SUPERFÍCIE DO ESTÔMAGO O tamanho, o formato e a posição do estômago podem variar bastante em pessoas com diferentes tipos corporais (biotipos) e podem mudar até no mesmo indivíduo, de acordo com os movimentos do diafragma durante a respiração, o conteúdo (vazio ou após uma grande refeição) e a posição da pessoa. Na posição de decúbito dorsal, o estômago costuma estar nos quadrantes superiores direito e esquerdo, ou no epigástrio, região umbilical, hipocôndrio e flanco esquerdos (Figura 2.36A). Na posição ereta, o estômago desloca-se para baixo. Em indivíduos astênicos (magros), o corpo gástrico pode estender-se até a pelve (Figura 2.36B). O estômago tem quatro partes (Figuras 2.36A e 2.37A a C). Cárdia: a parte que circunda o óstio cárdico, a abertura superior do estômago. Em decúbito dorsal, o óstio cárdico geralmente está situado posteriormente à 6 a cartilagem costal esquerda, a 2 a 4 cm do plano mediano, no nível da vértebra T XI Figura 2.35 Nervos e linfáticos da parte abdominal do esôfago e do estômago. Os nervos vagos (NC X) dividem-se em ramos que formam o plexo (nervoso) esofágico ao redor da parte inferior do esôfago. Os ramos gástricos anterior e posterior do plexo acompanham o esôfago através do hiato esofágico para distribuição nas faces anterior e posterior do estômago. Os ramos anteriores também se estendem até o piloro e o fígado. As fibras nervosas simpáticas pós-ganglionares do plexo celíaco são distribuídas para esses órgãos por intermédio o dos plexos periarteriais. Os vasos linfáticos do estômago seguem um padrão semelhante ao das artérias, embora o fluxo ocorra no sentido oposto. Assim, a linfa do estômago e da parte abdominal do esôfago drena para os linfonodos gástricos e, depois, para os linfonodos celíacos. Figura 2.36 Anatomia de superfície e efeito do biotipo sobre a disposição e o formato do estômago. A. Posição mais comum do estômago em uma pessoa de biotipo médio em decúbito dorsal ou ventral. B. No indivíduo hiperestênico de constituição pesada, com tórax curto e abdome longo, o estômago tende a assumir posição alta e mais transversal. Nas pessoas com constituição física astênica e magra, o estômago tende a apresentar-se baixo e vertical. Figura 2.37 Parte abdominal do esôfago e estômago. A. O estômago foi inflado com ar. A parte esquerda do fígado foi • • • • • removida para permitir a visão do omento menor e do forame omental. A extensão do fígado intacto é indicada pelas linhas tracejadas mais longas. B. Partes do estômago. C. Radiografia do estômago após ingestão de bário. As ondas peristálticas circulares iniciam-se no corpo gástrico e seguem em direção ao canal pilórico, mostrados em E (pontas de seta), onde elas cessam. Pode-se ver gás no cárdia e no fundo gástrico deste paciente em decúbito dorsal. D. O piloro é a parte terminal, bastante estreitada, do estômago. O óstio pilórico é a abertura distal do canal pilórico para o duodeno. E. A radiografia mostra a região pilórica do estômago e a parte superior do duodeno. (C e E são cortesia do Dr. E. L. Lansdown, Professor of Medical Imaging, University of Toronto, Toronto, ON, Canada.) Fundo gástrico: a parte superior dilatada que está relacionada com a cúpula esquerda do diafragma, limitada inferiormente pelo plano horizontal do óstio cárdico. A incisura cárdica está situada entre o esôfago e o fundo gástrico. O fundo gástrico pode ser dilatado por gás, líquido, alimento ou pela combinação destes. Em decúbito dorsal, o fundo gástrico geralmente está situado posteriormente à costela VI esquerda, no plano da LMC (Figura 2.36A) Corpo gástrico: a parte principal do estômago, entre o fundo gástrico e o antro pilórico Parte pilórica: a região afunilada de saída do estômago; sua parte mais larga, o antro pilórico, leva ao canal pilórico, sua parte mais estreita (Figura 2.37A a E). O piloro é a região esfincteriana distal da parte pilórica. É um espessamento acentuado da camada circular de músculo liso que controla a saída do conteúdo gástrico através do óstio pilórico (abertura inferior do estômago) para o duodeno (Figura 2.37D). Há esvaziamento intermitente do estômago quando a pressão intragástrica supera a resistência do piloro. Normalmente, o piloro encontra-se em estado de contração tônica, de modo que o óstio pilórico é reduzido, exceto quando dá passagem ao quimo (massa semilíquida). A intervalos irregulares, a peristalse gástrica faz o quimo atravessar o canal e o óstio pilórico até o intestino delgado, onde continua a mistura, digestão e absorção. Em decúbito dorsal, a parte pilórica do estômago está no nível do plano transpilórico, a meio caminho entre a incisura jugular superiormente e a crista púbica inferiormente (Figura 2.36A). O plano corta a 8 a cartilagem costal e a vértebra L I. Em posição ortostática, a localização da parte pilórica do estômago varia da vértebra L II à vértebra L IV. O óstio pilórico está cerca de 1,25 cm à direita da linha mediana. O estômago também tem duas curvaturas (Figura 2.37A a C): Curvatura menor: forma a margem direita côncava mais curta do estômago. A incisura angular, parte inferior da curvatura, indica a junção do corpo gástrico com a parte pilórica do estômago (Figura 2.37A e B). A incisura angular situase logo à esquerda da linha mediana Curvatura maior: forma a margem convexa mais longa do estômago. Segue inferiormente à esquerda da junção do 5 o espaço intercostal e LMC; a seguir, curva-se para a direita, passando profundamente à 9 a ou à 10 a cartilagem esquerda enquanto continua medialmente para alcançar o antro pilórico. Em razão dos comprimentos diferentes da curvatura menor à direita e da curvatura maior à esquerda, na maioria das pessoas o estômago tem formato semelhante ao da letra J. INTERIOR DO ESTÔMAGO A superfície lisa da mucosa gástrica é castanho-avermelhada no indivíduo vivo, exceto na parte pilórica, onde é rósea. Em vida, é coberta por uma camada de muco contínua que protege sua superfície contra o ácido gástrico secretado pelas glândulas gástricas. Quando contraída, a mucosa gástrica forma estrias longitudinais denominadas pregas gástricas (Figura 2.38A e B); estas são mais acentuadas em direção à parte pilórica e ao longo da curvatura maior. Durante a deglutição, formase um sulco ou um canal gástrico temporário entre as pregas longitudinais ao longo da curvatura menor, que pode ser visto por radiografia e endoscopia. O canal gástrico se deve à firme fixação da túnica mucosa gástrica à túnica muscular, que não tem uma lâmina oblíqua nesse local. A saliva e pequenas quantidades de alimento mastigado e outros líquidos drenam ao longo do canal gástrico para o canal pilórico quando o estômago está quase vazio. As pregas gástricas diminuem e desaparecem quando o estômago está distendido. Figura 2.38 Face interna do estômago. A. A parede anterior do estômago foi retirada para mostrar seu interior. As pregas gástricas longitudinais desaparecem quando distendidas. Ao longo da curvatura menor, várias pregas mucosas longitudinais estendem-se do esôfago até o piloro, formando o canal gástrico, ao longo do qual seguem os líquidos ingeridos. (Cortesia do Dr. J. Helsin, Toronto, ON, Canada.) B. Radiografia do estômago após ingestão de bário. Observe a onda peristáltica no estômago e as pregas gástricas longitudinais da túnica mucosa. RELAÇÕES DO ESTÔMAGO O estômago é coberto por peritônio, exceto nos locais em que há vasos sanguíneos ao longo de suas curvaturas e em uma pequena área posterior ao óstio cárdico (Figura 2.36A). As duas lâminas do omento menor estendem-se ao redor do estômago e separam-se de sua curvatura maior como o omento maior (Figuras 2.28, 2.31 e 2.37A). Anteriormente, o estômago relaciona-se com o diafragma, o lobo hepático esquerdo e a parede anterior do abdome. Posteriormente, o estômago relaciona-se com a bolsa omental e o pâncreas; a face posterior do estômago forma a maior parte da parede anterior da bolsa omental (Figura 2.39A). O colo transverso tem relação inferior e lateral com o estômago e segue ao longo da curvatura maior do estômago até a flexura esquerda do colo. Figura 2.39 Bolsa omental e leito do estômago. A. A bolsa omental, o omento maior e o ligamento gastroesplênico foram seccionados ao longo da curvatura maior do estômago, e o estômago foi rebatido superiormente para abrir a bolsa anteriormente. Na extremidade direita da bolsa, podem ser vistos dois limites do forame omental: a raiz inferior do ligamento hepatoduodenal (contendo a tríade portal) e o lobo caudado do fígado. B. O estômago e a maior parte do omento menor foram excisados, e o peritônio da parede posterior da bolsa omental que cobre o leito do estômago foi removido em grande parte para mostrar os órgãos no leito. Embora aderências, como as que unem o baço ao diafragma nesta figura, sejam achados post mortem comuns, não representam a anatomia normal. O leito do estômago, sobre o qual se apoia o estômago em decúbito dorsal, é formado pelas estruturas que formam a parede posterior da bolsa omental. Da região superior para a inferior, o leito do estômago é formado pela cúpula esquerda do diafragma, baço, rim e glândula suprarrenal esquerdos, artéria esplênica, pâncreas e mesocolo transverso (Figura 2.39B). VASOS E NERVOS DO ESTÔMAGO A abundante irrigação arterial do estômago tem origem no tronco celíaco e em seus ramos (Figura 2.40; Quadro 2.7). A maior parte do sangue provém de anastomoses formadas ao longo da curvatura menor pelas artérias gástricas direita e esquerda, e ao longo da curvatura maior pelas artérias gastromentais direita e esquerda. O fundo gástrico e a parte superior do corpo gástrico recebem sangue das artérias gástricas curtas e posteriores. As veias gástricas acompanham as artérias em relação à posição e ao trajeto (Figura 2.41). As veias gástricas direita e esquerda drenam para a veia porta; as veias gástricas curtas e as veias gastromentais esquerdas drenam para a veia esplênica, que se une à veia mesentérica superior (VMS) para formar a veia porta. A veia gastromental direita drena para a • • • VMS. Uma veia pré-pilórica ascende sobre o piloro até a veia gástrica direita. Como essa veia é facilmente visível em pessoas vivas, os cirurgiões a utilizam para identificação do piloro. Os vasos linfáticos gástricos (Figura 2.42A) acompanham as artérias ao longo das curvaturas maior e menor do estômago. Eles drenam linfa de suas faces anterior e posterior em direção às suas curvaturas, onde estão localizados os linfonodos gástricos e gastromentais. Os vasos eferentes desses linfonodos acompanham as grandes artérias até os linfonodos celíacos. A seguir, é apresentado um resumo da drenagem linfática do estômago: A linfa dos dois terços superiores do estômago drena ao longo dos vasos gástricos direito e esquerdo para os linfonodos gástricos; a linfa do fundo gástrico e da parte superior do corpo gástrico também drena ao longo das artérias gástricas curtas e dos vasos gastromentais esquerdos para os linfonodos pancreaticoesplênicos A linfa dos dois terços direitos do terço inferior do estômago drena ao longo dos vasos gastromentais direitos até os linfonodos pilóricos A linfa do terço esquerdo da curvatura maior drena para os linfonodos pancreaticoduodenais, que estão situados ao longo dos vasos gástricos curtos e esplênicos. A inervação parassimpática do estômago (Figura 2.42B) provém dos troncos vagais anterior e posterior e de seus ramos, que entram no abdome através do hiato esofágico. O tronco vagal anterior, derivado principalmente do nervo vago (NC X) esquerdo, geralmente entra no abdome como um ramo isolado situado na face anterior do esôfago. Segue em direção à curvatura menor do estômago, onde emite ramos hepáticos e duodenais, que se separam do estômago no ligamento hepatoduodenal. O restante do tronco vagal anterior continua ao longo da curvatura menor, dando origem aos ramos gástricos anteriores. O tronco vagal posterior, maior, derivado principalmente do nervo vago direito, entra no abdome na face posterior do esôfago e segue em direção à curvatura menor do estômago. O tronco vagal posterior envia ramos para as faces anterior e posterior do estômago. Emite um ramo celíaco, que segue para o plexo celíaco, e depois continua ao longo da curvatura menor, dando origem aos ramos gástricos posteriores. Figura 2.40 Artérias do estômago, duodeno e baço. A irrigação arterial da parte abdominal do esôfago, estômago, parte alta do duodeno (porções superior e descendente alta) e baço provém do tronco celíaco. Os ramos diretos do tronco celíaco estão impressos em negrito. Quadro 2.7 Irrigação arterial dos derivados abdominais do intestino anterior: esôfago, estômago, fígado, vesícula biliar, pâncreas e baço. Artéria Origem Trajeto Distribuição Tronco celíaco Parte abdominal da aorta (no nível do hiato aórtico) Após curto trajeto anteroinferior, bifurca-se nas Aa. esplênica e hepática comum Esôfago, estômago, parte proximal do duodeno, fígado/vias biliares, pâncreas Ascende no retroperitônio até o hiato esofágico, dando origem a um ramo esofágico; depois, desce Parte distal (principalmente abdominal) do esôfago e Gástrica esquerda Tronco celíaco ao longo da curvatura menor para se anastomosar com a A. gástrica direita curvatura menor do estômago Esplênica Segue retroperitonealmente ao longo da margem superior do pâncreas; atravessa o ligamento esplenorrenal até o hilo esplênico Corpo do pâncreas, baço e curvatura maior e parte posterior do corpo gástrico Gástrica posterior A. esplênica posterior ao estômago Ascende retroperitonealmente ao longo da parede posterior da bolsa omental menor para entrar no ligamento gastrofrênico Parede posterior do estômago e fundo gástrico Gastromental esquerda A. esplênica no hilo esplênico Segue entre lâminas do ligamento gastroesplênico para o estômago, depois ao longo da curvatura maior no omento maior para se anastomosar com a artéria gastromental direita Porção esquerda da curvatura maior do estômago Gástrica curta (n = 4 a 5) Passa entre lâminas do ligamento gastroesplênico até o fundo gástrico Fundo gástrico Hepática a Tronco celíaco Segue retroperitonealmente para chegar ao ligamento hepatoduodenal; passando entre as lâminas até a porta do fígado; bifurca-se nas Aa. hepáticas direita e esquerda Fígado, vesícula biliar e ductos biliares, estômago, duodeno, pâncreas e respectivos lobos do fígado Cística A. hepática direita Origina-se no ligamento hepatoduodenal (no trígono cistohepático — triângulo de Calot) Vesícula biliar e ducto cístico Gástrica direita A. hepática Segue ao longo da curvatura menor do estômago para se anastomosar com a A. gástrica esquerda Porção direita da curvatura menor do estômago Gastroduodenal Desce no retroperitônio, posterior à junção gastroduodenal Estômago, pâncreas, primeira parte do duodeno e parte distal do ducto colédoco Gastromental direita A. gastroduodenal Segue entre lâminas do omento maior ao longo da curvatura maior do estômago para se anastomosar com a A. gastromental esquerda Porção direita da curvatura maior do estômago Pancreaticoduodenal superior Divide-se nos ramos anterior e posterior que descem de cada lado da cabeça do pâncreas, anastomosando-se com ramos semelhantes da A. Porção proximal do duodeno e parte superior da cabeça do pâncreas • • • • pancreaticoduodenal inferior Pancreaticoduodenal inferior A. mesentérica superior Divide-se nos ramos anterior e posterior que ascendem de cada lado da cabeça do pâncreas, anastomosando-se com ramos semelhantes da A. pancreaticoduodenal superior Porção distal do duodeno e cabeça do pâncreas aPara fins descritivos, a artéria hepática frequentemente é dividida em artéria hepática comum, desde sua origem até a origem da artéria gastroduodenal, e artéria hepática própria, formada pelo restante do vaso. Figura 2.41 Veias do estômago, duodeno e baço. A drenagem venosa da parte abdominal do esôfago, estômago, parte superior do duodeno (partes superior e descendente alta), pâncreas e baço se faz para a veia porta, direta ou indiretamente através da veia esplênica ou mesentérica superior (VMS). As veias gástricas acompanham a posição e o trajeto das artérias. A inervação simpática do estômago, proveniente dos segmentos T6 a T9 da medula espinal, segue para o plexo celíaco por intermédio do nervo esplâncnico maior e é distribuída pelos plexos ao redor das artérias gástricas e gastromentais. (Ver também “Resumo da inervação das vísceras abdominais”, mais adiante). Intestino delgado O intestino delgado, formado pelo duodeno, jejuno e íleo (Figura 2.43), é o principal local de absorção de nutrientes dos alimentos ingeridos. Estende-se do piloro até a junção ileocecal, onde o íleo une-se ao ceco (a primeira parte do intestino grosso). A parte pilórica do estômago esvazia-se no duodeno, sendo a admissão duodenal controlada pelo piloro. DUODENO O duodeno, a primeira e mais curta (25 cm) parte do intestino delgado, também é a mais larga e mais fixa. O duodeno segue um trajeto em formato de C ao redor da cabeça do pâncreas (Figuras 2.43C e 2.44A e C); começa no piloro no lado direito e termina na flexura (junção) duodenojejunal no lado esquerdo (Figuras 2.44B e C). Essa junção ocorre aproximadamente no nível da vértebra L II, 2 a 3 cm à esquerda da linha mediana. A junção geralmente assume a forma de um ângulo agudo, a flexura duodenojejunal. A maior parte do duodeno está fixada pelo peritônio a estruturas na parede posterior do abdome e é considerada parcialmente retroperitoneal. O duodeno é dividido em quatro partes (Figuras 2.44C e 2.45; Quadro 2.8): Parte superior (primeira): curta (aproximadamente 5 cm), situada anterolateralmente ao corpo da vértebra L I Parte descendente (segunda): mais longa (7 a 10 cm), desce ao longo das faces direitas das vértebras L I a L III Parte inferior (terceira): 6 a 8 cm de comprimento, cruza a vértebra L III Parte ascendente (quarta): curta (5 cm), começa à esquerda da vértebra L III e segue superiormente até a margem superior da vértebra L II. Os primeiros 2 cm da parte superior do duodeno, imediatamente distais ao piloro, têm mesentério e são móveis. Essa parte livre, chamada ampola (bulbo duodenal), tem uma aparência diferente do restante do duodeno quando observada radiologicamente usando-se meio de contraste (Figura 2.37C e E). Os 3 cm distais da parte superior e as outras três partes do duodeno não têm mesentério e são imóveis porque são retroperitoneais. As principais relações do duodeno são mostradas nas Figuras 2.44 e 2.45 e resumidas no Quadro 2.8. A parte superior do duodeno ascende a partir do piloro e é superposta pelo fígado e pela vesícula biliar. O peritônio cobre sua face anterior, mas não há peritônio posteriormente, com exceção da ampola. A parte proximal tem o ligamento hepatoduodenal (parte do omento menor) fixado superiormente e o omento maior fixado inferiormente (ver Figura 2.26). A parte descendente do duodeno segue inferiormente, curvando-se ao redor da cabeça do pâncreas (Figuras 2.44 e 2.45; Quadro 2.8). Inicialmente, situa-se à direita da VCI e paralela a ela. Os ductos colédoco e pancreático principal entram em sua parede posteromedial. Esses ductos geralmente se unem para formar a ampola hepatopancreática, que se abre em uma eminência, chamada papila maior do duodeno, localizada posteromedialmente na parte descendente do duodeno. A parte descendente do duodeno é totalmente retroperitoneal. A face anterior de seus terços proximal e distal é coberta por peritônio; entretanto, o peritônio é refletido de seu terço médio para formar o mesentério duplo do colo transverso, o mesocolo transverso. Figura 2.42 Drenagem linfática e inervação do estômago e do intestino delgado. A. As setas indicam o sentido do fluxo linfático para os linfonodos. B. O estômago tem inervação parassimpática, pelos nervos vagos (NC X) via plexo esofágico, e simpática, via nervo esplâncnico maior (abdominopélvico), plexo celíaco e plexos periarteriais. Figura 2.43 Intestinos delgado e grosso. A. Observe as alças do intestino delgado in situ, circundadas nos três lados pelo intestino grosso e reveladas pelo rebatimento do omento maior. B. As alças do intestino delgado foram afastadas superiormente para mostrar o mesentério. C. Este desenho de orientação do sistema digestório mostra a posição geral e as relações dos intestinos. D. Irrigação sanguínea da região ileocecal. A parte inferior (horizontal) do duodeno segue transversalmente para a esquerda, passando sobre a VCI, a aorta e a vértebra L III. É cruzada pela artéria e veia mesentéricas superiores e pela raiz do mesentério do jejuno e íleo. Superiormente a ela está a cabeça do pâncreas e seu processo uncinado. A face anterior da parte horizontal é coberta por peritônio, exceto na parte em que é cruzada pelos vasos mesentéricos superiores e pela raiz do mesentério. Posteriormente, é separada da coluna vertebral pelo músculo psoas maior direito, VCI, aorta e vasos testiculares ou ováricos direitos. A parte ascendente do duodeno segue superiormente e ao longo do lado esquerdo da aorta para alcançar a margem inferior do corpo do pâncreas. Aí, ela se curva anteriormente para se unir ao jejuno na flexura duodenojejunal, sustentada pela fixação de um músculo suspensor do duodeno (ligamento de Treitz). Esse músculo é formado por uma alça de músculo esquelético do diafragma e uma faixa fibromuscular de músculo liso da terceira e quarta partes do duodeno. A contração desse músculo alarga o ângulo da flexura duodenojejunal, facilitando o movimento do conteúdo intestinal. O músculo suspensor do duodeno passa posteriormente ao pâncreas e à veia esplênica e anteriormente à veia renal esquerda. Figura 2.44 Duodeno, pâncreas e baço. A. Duodeno, pâncreas e baço, junto com sua irrigação sanguínea, são revelados pela retirada do estômago, colo transverso e peritônio. B. Face anterior do duodeno, pâncreas e vascularização relacionada. O duodeno é moldado ao redor da cabeça do pâncreas. C. Face posterior do duodeno e do pâncreas. A parte abdominal da aorta e a veia cava inferior ocupam a concavidade vertical posteriormente à cabeça do pâncreas e à terceira parte do duodeno. O processo uncinado é a extensão da cabeça do pâncreas que passa posteriormente aos vasos mesentéricos superiores. O ducto colédoco desce em uma fissura (aberta) na parte posterior da cabeça do pâncreas. VCI = veia cava inferior; VMS = veia mesentérica superior. As artérias do duodeno originam-se do tronco celíaco e da artéria mesentérica superior (Figura 2.44). O tronco celíaco, por intermédio da artéria gastroduodenal e seu ramo, a artéria pancreaticoduodenal superior, supre a parte do duodeno proximal à entrada do ducto colédoco na parte descendente do duodeno. A artéria mesentérica superior, por meio de seu ramo, a artéria pancreaticoduodenal inferior, supre o duodeno distal à entrada do ducto colédoco. As artérias pancreaticoduodenais situam-se na curvatura entre o duodeno e a cabeça do pâncreas e irrigam as duas estruturas. A anastomose das artérias pancreaticoduodenais superior e inferior (i. e., entre o tronco celíaco e a artéria mesentérica superior) ocorre entre a entrada do ducto biliar (colédoco) e a junção das partes descendente e inferior do duodeno. Aqui ocorre uma importante transição na irrigação do sistema digestório: na parte proximal, estendendo-se oralmente (em direção à boca) até inclusive a parte abdominal do esôfago, o sistema digestório é irrigado pelo tronco celíaco; na região distal, estendendo-se • • • aboralmente (afastando-se da boca) até a flexura esquerda do colo, o sangue provém da AMS. A base dessa transição na irrigação sanguínea é embriológica; esse é o local da junção do intestino anterior com o intestino médio. As veias do duodeno acompanham as artérias e drenam para a veia porta, algumas diretamente e outras indiretamente, pelas veias mesentérica superior e esplênica (Figura 2.41). Os vasos linfáticos do duodeno acompanham as artérias. Os vasos linfáticos anteriores drenam para os linfonodos pancreaticoduodenais, localizados ao longo das artérias pancreaticoduodenais superior e inferior, e para os linfonodos pilóricos, situados ao longo da artéria gastroduodenal (Figura 2.46). Os vasos linfáticos posteriores seguem posteriormente à cabeça do pâncreas e drenam para os linfonodos mesentéricos superiores. Os vasos linfáticos eferentes dos linfonodos duodenais drenam para os linfonodos celíacos. Os nervos do duodeno derivam do nervo vago e dos nervos esplâncnicos (abdominopélvicos) maior e menor por meio dos plexos celíaco e mesentérico superior. Os nervos seguem para o duodeno via plexos periarteriais que se estendem até as artérias pancreaticoduodenais (ver também “Resumo da inervação das vísceras abdominais”, mais adiante). JEJUNO E ÍLEO A segunda parte do intestino delgado, o jejuno, começa na flexura duodenojejunal, onde o sistema digestório volta a ser intraperitoneal. A terceira parte do intestino delgado, o íleo, termina na junção ileocecal, a união da parte terminal do íleo e o ceco (Figuras 2.43C e 2.47). Juntos, o jejuno e o íleo têm 6 a 7 m de comprimento, o jejuno representa cerca de dois quintos e o íleo cerca de três quintos da parte intraperitoneal do intestino delgado. A maior parte do jejuno está situada no quadrante superior esquerdo (QSE) do compartimento infracólico, ao passo que a maior parte do íleo está no quadrante inferior direito (QID). A parte terminal do íleo geralmente está na pelve, de onde ascende, terminando na face medial do ceco. Embora não haja uma linha de demarcação nítida entre o jejuno e o íleo, eles têm características distintas, que são cirurgicamente importantes (Figura 2.48B a E; Quadro 2.9). O mesentério é uma prega de peritônio em forma de leque que fixa o jejuno e o íleo à parede posterior do abdome (Figuras 2.43B e 2.48A). A origem ou raiz do mesentério (com aproximadamente 15 cm de comprimento) tem direção oblíqua, inferior e para a direita (Figura 2.49A). Estende-se da flexura duodenojejunal no lado esquerdo da vértebra L II até a junção ileocólica e a articulação sacroilíaca direita. O comprimento médio do mesentério, desde a raiz até a margem do intestino, é de 20 cm. A raiz do mesentério cruza (sucessivamente) as partes ascendente e horizontal do duodeno, parte abdominal da aorta, VCI, ureter direito, músculo psoas maior direito e vasos testiculares ou ováricos direitos. Entre as duas camadas do mesentério estão os vasos mesentéricos superiores, linfonodos, uma quantidade variável de gordura e nervos autônomos. A artéria mesentérica superior (AMS) irriga o jejuno e o íleo via artérias jejunais e ileais (Figura 2.49B). A AMS geralmente origina-se da parte abdominal da aorta no nível da vértebra L I, cerca de 1 cm inferior ao tronco celíaco, e segue entre as camadas do mesentério, enviando 15 a 18 ramos para o jejuno e o íleo (ver também Figuras 2.54 e 2.55). As artérias se unem para formar alças ou arcos, chamados arcos arteriais, que dão origem a artérias retas, denominadas vasos retos (Figuras 2.48B e 2.49B). A veia mesentérica superior drena o jejuno e o íleo (Figura 2.49B). Situa-se anteriormente e à direita da AMS na raiz do mesentério (Figura 2.49A). A VMS termina posteriormente ao colo do pâncreas, onde se une à veia esplênica para formar a veia porta (Figura 2.44C). Os vasos linfáticos especializados nas vilosidades intestinais (pequenas projeções da túnica mucosa) que absorvem gordura são denominados lactíferos. Eles drenam seu líquido leitoso para os plexos linfáticos nas paredes do jejuno e do íleo. Por sua vez, os vasos lactíferos drenam para os vasos linfáticos entre as camadas do mesentério. No mesentério, a linfa atravessa sequencialmente três grupos de linfonodos (Figura 2.50): Linfonodos justaintestinais: localizados perto da parede intestinal Linfonodos mesentéricos: dispersos entre os arcos arteriais Linfonodos centrais superiores: localizados ao longo da parte proximal da AMS. Os vasos linfáticos eferentes dos linfonodos mesentéricos drenam para os linfonodos mesentéricos superiores. Os vasos linfáticos da parte terminal do íleo seguem o ramo ileal da artéria ileocólica até os linfonodos ileocólicos. A AMS e seus ramos são circundados por um plexo nervoso periarterial por meio do qual os nervos são conduzidos até as partes do intestino irrigadas por essa artéria (Figura 2.51). As fibras simpáticas nos nervos para o jejuno e o íleo originamse nos segmentos T8 a T10 da medula espinal e chegam ao plexo mesentérico superior por intermédio dos troncos simpáticos e nervos esplâncnicos (maior, menor e imo) torácicos abdominopélvicos. As fibras simpáticas pré-ganglionares fazem sinapse nos corpos celulares dos neurônios simpáticos pós-ganglionares nos gânglios celíaco e mesentérico superior (pré-vertebral). As fibras parassimpáticas nos nervos para o jejuno e íleo provêm dos troncos vagais posteriores. As fibras parassimpáticas pré-ganglionares fazem sinapse com os neurônios parassimpáticos pós-ganglionares nos plexos mioentérico e submucoso na parede intestinal (ver também “Resumo da inervação das vísceras abdominais”, mais adiante). Figura 2.45 Relações do duodeno. O duodeno segue um trajeto em formato de C ao redor da cabeça do pâncreas. VCI = veia cava inferior. Quadro 2.8 Relações do duodeno. Parte do duodeno Anterior Posterior Medial Superior Inferior Nível vertebral Superior (1 a parte) (A e B) Peritônio Vesícula biliar Lobo quadrado do fígado Ducto colédoco A. gastroduodenal Veia porta VCI Piloro Colo da vesícula biliar Colo do pâncreas Anterolateral à vértebra L I Descendente (2 a parte) (C) Colo transverso Mesocolo transverso Alças do intestino delgado Hilo renal direito Vasos renais Ureter M. psoas maior Cabeça do pâncreas Ducto pancreático Ducto colédoco Parte superior do duodeno Parte inferior do duodeno Direita das vértebras L II e L III Inferior (horizontal) (3 a AMS VMS M. psoas maior direito VCI Cabeça e processo uncinado do pâncreas Alças de intestino Anterior à vértebra L III parte) (D) Alças de intestino delgado Aorta Ureter direito Vasos mesentéricos superiores delgado (ílio) Ascendente (4 a parte) (E) Início da raiz do mesentério Alças de jejuno M. psoas maior esquerdo Margem esquerda da aorta AMS, VMS, processo uncinado do pâncreas Corpo do pâncreas Alças de jejuno Esquerda da vértebra L III AMS = artéria mesentérica superior; VCI = veia cava inferior; VMS = veia mesentérica superior. Figura 2.46 Drenagem linfática e inervação do duodeno, pâncreas e baço. A proximidade desses órgãos resulta em compartilhamento total ou parcial dos vasos sanguíneos, vasos linfáticos e vias nervosas. Figura 2.47 Jejuno e íleo. O jejuno começa na flexura duodenojejunal e o íleo termina no ceco. O termo combinado jejunoíleo é usado às vezes como expressão do fato de que não há linha externa nítida de demarcação entre o jejuno e o íleo. QSE = quadrante superior esquerdo; QID = quadrante inferior direito. A estimulação simpática reduz a atividade peristáltica e secretora do intestino e atua como um vasoconstritor, reduzindo ou interrompendo a digestão e disponibilizando sangue (e energia) para “fugir ou lutar”. A estimulação parassimpática aumenta a atividade peristáltica e secretora do intestino, restaurando o processo de digestão após uma reação simpática. O intestino delgado também tem fibras sensitivas (aferentes viscerais). O intestino é insensível à maioria dos estímulos dolorosos, inclusive incisão e queimadura; entretanto, é sensível à distensão que é percebida como cólica (dor abdominal espasmódica). Intestino grosso O intestino grosso é o local de absorção da água dos resíduos indigeríveis do quimo líquido, convertendo-o em fezes semissólidas, que são temporariamente armazenadas e acumuladas até que haja defecação. O intestino grosso é formado pelo ceco; apêndice vermiforme; colos ascendente, transverso, descendente e sigmoide; reto e canal anal (Figura 2.52). O intestino grosso pode ser distinguido do intestino delgado por: Figura 2.48 Estrutura e mesentério do intestino delgado: características distintivas do jejuno e íleo. A. O mesentério é uma prega bilaminar de peritônio visceral que suspende o intestino e conduz vasos e nervos oriundos da parede posterior do corpo. B a E. Ilustração das características do jejuno e do íleo apresentadas no Quadro 2.9. Quadro 2.9 Características que diferenciam o jejuno e o íleo no corpo vivo (Figura 2.48). Característica Jejuno (B e D)* Íleo (C, E e F)* Cor Vermelho-vivo Rosa-claro Calibre 2 a 4 cm 2 a 3 cm Parede Espessa e pesada Fina e leve Vascularidade Maior Menor Vasos retos Longos Curtos Arcos Algumas alças grandes Muitas alças curtas Gordura no mesentério Menos Mais Pregas circulares Grandes, altas e bem próximas (D) Baixas e esparsas (E); ausentes na parte distal (F) Nódulos linfoides (placas de Peyer) Poucos Muitos (F) *As letras entre parênteses referem-se às figuras individuais na Figura 2.48. Figura 2.49 Irrigação arterial e mesentérios dos intestinos. A. Irrigação arterial do intestino grosso. Os mesocolos transverso e sigmoide e o mesentério do jejuno e do íleo foram seccionados em suas raízes. As artérias ileocólica e cólica direita no lado direito e as artérias cólica esquerda e sigmóidea no lado esquerdo originalmente seguiam nos mesentérios (mesocolos ascendente e descendente) que, depois, se fundiram à parede posterior; é possível fazer o restabelecimento cirúrgico. B. Irrigação arterial e drenagem venosa do intestino delgado. Com exceção da porção proximal do duodeno, todo o intestino mostrado em B é • • • • irrigado pela AMS (bem como a maior parte do colo transverso, não mostrado). A VMS drena o sangue das mesmas partes do intestino para a veia porta. Figura 2.50 Linfonodos mesentéricos. Os linfonodos mesentéricos superiores formam um sistema no qual os linfonodos centrais, na raiz da artéria mesentérica superior, recebem linfa dos linfonodos mesentéricos, ileocólicos, cólicos direitos e cólicos médios, que, por sua vez, recebem linfa dos linfonodos justaintestinais. Os linfonodos justaintestinais adjacentes ao intestino são mais abundantes. Há menos linfonodos ao longo das artérias. Apêndices omentais do colo: projeções pequenas, adiposas, semelhantes ao omento Tênias do colo: três faixas longitudinais distintas: (1) tênia mesocólica, à qual se fixam os mesocolos transverso e sigmoide; (2) tênia omental, à qual se fixam os apêndices omentais; e (3) tênia livre, à qual não estão fixados mesocolos nem apêndices omentais Saculações: saculações da parede do colo entre as tênias Calibre (diâmetro interno) muito maior. As tênias do colo (faixas espessas de músculo liso que representam a maior parte da camada longitudinal) começam na base do apêndice vermiforme como a camada longitudinal espessa do apêndice vermiforme que se divide para formar três faixas. As tênias seguem por todo o comprimento do intestino grosso, com alargamento abrupto e nova fusão na junção retossigmoide, formando uma camada longitudinal contínua ao redor do reto. Como sua contração tônica encurta a parte da parede associada, o colo adquire uma aparência sacular ou “de bolsas” entre as tênias, formando as saculações. CECO E APÊNDICE VERMIFORME O ceco é a primeira parte do intestino grosso; é contínuo com o colo ascendente. É uma bolsa intestinal cega, que mede aproximadamente 7,5 cm de comprimento e largura. Situa-se na fossa ilíaca do quadrante inferior direito do abdome, inferiormente à sua junção com a parte terminal do íleo (Figuras 2.52 e 2.53). Quando distendido por fezes ou gases, o ceco pode ser palpável através da parede anterolateral do abdome. O ceco geralmente está situado a 2,5 cm do ligamento inguinal; é quase totalmente revestido por peritônio e pode ser levantado livremente. Entretanto, não tem mesentério. Em vista de sua relativa liberdade, pode ser deslocado da fossa ilíaca, mas costuma estar ligado à parede lateral do abdome por uma ou mais pregas cecais de peritônio (Figura 2.53B). A parte terminal do íleo entra no ceco obliquamente e invagina-se em parte para o seu interior. Na dissecção, o óstio ileal entra no ceco entre os lábios ileocólico e ileocecal (superior e inferior), pregas que se encontram lateralmente e formam cristas chamadas de frênulos do óstio ileal (Figura 2.53A). Acreditava-se que quando o ceco fosse distendido ou quando se contraísse, ocorreria contração ativa dos frênulos, que fecharia a válvula para evitar refluxo do ceco para o íleo. No entanto, a observação direta por endoscopia em pessoas vivas não confirma essa descrição. O músculo circular é mal desenvolvido ao redor do óstio; portanto, é improvável que a válvula tenha alguma ação esfincteriana que controle a passagem do conteúdo intestinal do íleo para o ceco. O óstio, porém, geralmente é fechado por contração tônica, apresentando-se como uma papila ileal no lado cecal (Figura 2. 53B). A papila provavelmente atua como uma válvula unidirecional relativamente passiva, que impede o refluxo do ceco para o íleo quando houver contrações para impulsionar o conteúdo para o colo ascendente e colo transverso (Magee e Dalley, 1986). O apêndice vermiforme é um divertículo intestinal cego (6 a 10 cm de comprimento) que contém massas de tecido linfoide. Origina-se na face posteromedial do ceco, inferiormente à junção ileocecal. O apêndice vermiforme tem um mesentério triangular curto, o mesoapêndice, originado da face posterior do mesentério da parte terminal do íleo (Figura 2.52A). O mesoapêndice fixa-se ao ceco e à parte proximal do apêndice vermiforme. A posição do apêndice vermiforme é variável, mas geralmente é retrocecal (Figura 2.53C). As correlações clínicas associadas ao apêndice vermiforme são apresentadas no boxe azul, mais adiante. A irrigação arterial do ceco é realizada pela artéria ileocólica, o ramo terminal da AMS (Figuras 2.54 e 2.55; Quadro 2.10). A artéria apendicular, um ramo da artéria ileocólica, irriga o apêndice vermiforme. A drenagem venosa do ceco e do apêndice vermiforme segue por uma tributária da VMS, a veia ileocólica (Figura 2.56A). A drenagem linfática do ceco e do apêndice vermiforme segue até os linfonodos no mesoapêndice e até os linfonodos ileocólicos situados ao longo da artéria ileocólica (Figura 2. 56B). Os vasos linfáticos eferentes seguem até os linfonodos mesentéricos superiores. A inervação do ceco e do apêndice vermiforme provém dos nervos simpáticos e parassimpáticos do plexo mesentérico superior (Figura 2.56C). As fibras nervosas simpáticas originam-se na parte torácica inferior da medula espinal, e as fibras nervosas parassimpáticas provêm dos nervos vagos. As fibras nervosas aferentes do apêndice vermiforme acompanham os nervos simpáticos até o segmento T10 da medula espinal (ver também “Resumo da inervação das vísceras abdominais”, mais adiante). Figura 2.51 Inervação do intestino delgado. As fibras nervosas simpáticas pré-ganglionares originam-se dos segmentos T8 ou T9 até os segmentos T10 ou T11 da medula espinal e chegam ao plexo celíaco por intermédio dos troncos simpáticos e nervos esplâncnicos (abdominopélvicos) maior e menor. Após fazer sinapse nos gânglios celíacos e mesentéricos superiores, as fibras nervosas pós-ganglionares acompanham as artérias até o intestino. As fibras aferentes estão relacionadas com reflexos e dor. Os nervos parassimpáticos pré-ganglionares (vago) originam-se no bulbo e seguem até o intestino via tronco vagal posterior. Eles fazem sinapse com neurônios pós-ganglionares intrínsecos localizados na parede intestinal. AMS = artéria mesentérica superior. COLO O colo é dividido em quatro partes — ascendente, transversa, descendente e sigmoide — que sucedem uma à outra formando um arco (Figuras 2.43C e 2.52). O colo circunda o intestino delgado, o colo ascendente à direita do intestino delgado, o colo transverso superior e/ou anteriormente a ele, o colo descendente à esquerda e, por fim, o colo sigmoide inferiormente a ele. O colo ascendente é a segunda parte do intestino grosso. Segue para cima na margem direita da cavidade abdominal, do ceco até o lobo hepático direito, onde vira para a esquerda na flexura direita do colo (flexura hepática). Essa flexura situase profundamente às costelas IX e X e é superposta pela parte inferior do fígado. O colo ascendente é mais estreito do que o ceco e é secundariamente retroperitoneal ao longo da face direita da parede posterior do abdome. O colo ascendente é coberto por peritônio anteriormente e nas suas laterais; entretanto, tem um mesentério curto em aproximadamente 25% das pessoas. O colo ascendente é separado da parede anterolateral do abdome pelo omento maior. Um sulco vertical profundo revestido por peritônio parietal, o sulco paracólico direito, situa-se entre a face lateral do colo ascendente e a parede adjacente do abdome (Figura 2.49A). Figura 2.52 Parte terminal do íleo e intestino grosso (incluindo apêndice vermiforme). A. As tênias, as saculações e os apêndices omentais gordurosos, característicos do colo, não estão associados ao reto. B. Para examinar o colo, foi administrado um enema baritado após enema de limpeza para eliminação do material fecal intestinal. Os exames contrastados simples com bário mostram as pregas semilunares que demarcam as saculações. C. Após o exame com contraste simples, o paciente evacuou o bário e o colo foi distendido com ar para este exame com contraste duplo. A superfície do lúmen ainda está revestida por uma fina camada de bário. A = colo ascendente; C = ceco; D = colo descendente; G = colo sigmoide; H = flexura direita do colo ou hepática; R = reto; S = flexura esquerda do colo ou esplênica; T = colo transverso; U = saculações. (B cortesia do Dr. C. S. Ho, Professor of Medical Imaging, University of Toronto, Toronto, ON, Canada; C cortesia do Dr. E. L. Lansdown, Professor of Medical Imaging, University of Toronto, Toronto, ON, Canada.) Figura 2.53 Parte terminal do íleo, ceco e apêndice vermiforme. A. O ceco foi enchido de ar até secar e, depois, aberto. Observe a papila ileal e o óstio ileal. O frênulo é uma prega (mais evidente em cadáveres) que se inicia na papila ileal e segue ao longo da parede na junção do ceco e colo ascendente. B. Interior do ceco, mostrando a aparência endoscópica (no indivíduo vivo) da papila ileal. C. Incidências aproximadas de várias localizações do apêndice vermiforme, com base na análise de 10.000 casos. A irrigação arterial do colo ascendente e da flexura direita do colo provém de ramos da AMS, as artérias ileocólica e cólica direita (Figuras 2.54 e 2.55; Quadro 2.10). Essas artérias anastomosam-se entre si e com o ramo direito da artéria cólica média, o primeiro de uma série de arcos anastomóticos que é continuado pelas artérias cólica esquerda e sigmóidea para formar um canal arterial contínuo, o arco justacólico (artéria marginal). Essa artéria é paralela ao colo e acompanha todo seu comprimento perto de sua margem mesentérica. A drenagem venosa do colo ascendente segue por meio de tributárias da VMS, as veias cólica direita e ileocólica (Figura 2.56A). A drenagem linfática segue primeiro até os linfonodos epicólicos e paracólicos, perto dos linfonodos cólicos direitos intermediários e ileocólicos, e daí para os linfonodos mesentéricos superiores (Figura 2.56B). A inervação do colo ascendente é derivada do plexo mesentérico superior (Figura 2.56C). Figura 2.54 Irrigação arterial do intestino. Quadro 2.10 Irrigação arterial dos intestinos. Artéria Origem Trajeto Distribuição Mesentérica superior Parte abdominal da aorta Segue na raiz do mesentério até a junção ileocecal Parte do sistema digestório derivada do intestino médio Intestinal (jejunal e Jejuno e íleo ileal) (n = 15 a 18) Artéria mesentérica superior Passa entre duas camadas de mesentério Cólica média Ascende no retroperitônio e passa entre camadas de mesocolo transverso Colo transverso Cólica direita Segue no retroperitônio para chegar ao colo ascendente Colo ascendente Ileocólica Ramo terminal da A. mesentérica superior Segue ao longo da raiz do mesentério e divide-se em ramos ileal e cólico Íleo, ceco e colo ascendente Apendicular A. ileocólica Passa entre as camadas de mesoapêndice Apêndice vermiforme Mesentérica inferior Parte abdominal da aorta Desce no retroperitônio à esquerda da parte abdominal da aorta Irriga parte do sistema digestório derivada do intestino posterior Cólica esquerda Artéria mesentérica inferior Segue no retroperitônio para a esquerda do colo descendente Colo descendente Sigmóidea (n = 3 a 4) Segue no retroperitônio para a esquerda do colo descendente Colos descendente e sigmoide Retal superior Ramo terminal da artéria mesentérica inferior Desce no retroperitônio até o reto Parte proximal do reto Retal média Artéria ilíaca interna Segue no retroperitônio até o reto Parte média do reto Retal inferior Artéria pudenda interna Cruza a fossa isquioanal para chegar ao reto Parte distal do reto e canal anal Figura 2.55 Arteriografia mesentérica superior. Um contraste radiopaco foi injetado na corrente sanguínea por um cateter introduzido na artéria femoral e avançado através das artérias ilíacas e da aorta até a abertura da artéria mesentérica superior. (Cortesia do Dr. E. L. Lansdown, Professor of Medical Imaging, University of Toronto, Toronto, ON, Canada.) O colo transverso é a terceira parte do intestino grosso, a mais longa e mais móvel (Figura 2.52). Atravessa o abdome da flexura direita do colo até a flexura esquerda do colo, onde se curva para baixo e dá origem ao colo descendente. A flexura esquerda do colo (flexura esplênica) geralmente é superior, mais aguda e menos móvel do que a flexura direita do colo. Situa-se anteriormente à parte inferior do rim esquerdo e fixa-se ao diafragma através do ligamento frenocólico (ver Figura 2.26). O colo transverso e seu mesentério, o mesocolo transverso, faz uma volta para baixo, amiúde inferior ao nível das cristas ilíacas (Figura 2.57B). O mesentério adere à parede posterior da bolsa omental ou se funde com ela. A raiz do mesocolo transverso (ver Figura 2.49A) situa-se ao longo da margem inferior do pâncreas e é contínua com o peritônio parietal posteriormente. Sendo livremente móvel, a posição do colo transverso é variável, geralmente pendendo até o nível do umbigo (nível da vértebra L III) (Figura 2.57A). No entanto, em pessoas magras e altas, o colo transverso pode estender-se até a pelve (Figura 2.57B). A irrigação arterial do colo transverso provém principalmente da artéria cólica média (Figuras 2.54 e 2.55; Quadro 2.10), um ramo da AMS. Entretanto, o colo transverso também pode receber sangue arterial das artérias cólicas direita e esquerda por meio de anastomoses, parte da série de arcos anastomóticos que coletivamente formam o arco justacólico (artéria marginal). A drenagem venosa do colo transverso é feita pela VMS (Figura 2.56A). A drenagem linfática do colo transverso se dá para os linfonodos cólicos médios, que, por sua vez, drenam para os linfonodos mesentéricos superiores (Figura 2. 56B). A inervação do colo transverso provém do plexo mesentérico superior via plexos periarteriais das artérias cólicas direita e média (Figura 2.56C). Esses nervos conduzem fibras nervosas simpáticas, parassimpáticas (vagais) e aferentes viscerais (ver também “Resumo da inervação das vísceras abdominais”, mais adiante). O colo descendente ocupa posição secundariamente retroperitoneal entre a flexura esquerda do colo e a fossa ilíaca esquerda, onde é contínua com o colo sigmoide (Figura 2.52). Assim, o peritônio cobre o colo anterior e lateralmente e o liga à parede posterior do abdome. Embora retroperitoneal, o colo descendente, sobretudo na fossa ilíaca, tem mesentério curto em aproximadamente 33% das pessoas; entretanto, em geral não é longo o suficiente para causar vólvulo (torção) do colo. Ao descer, o colo passa anteriormente à margem lateral do rim esquerdo. Como o colo ascendente, o colo descendente tem um sulco paracólico (o esquerdo) em sua face lateral (Figura 2.49A). O colo sigmoide, caracterizado por sua alça em forma de S com comprimento variável, une o colo descendente ao reto (Figura 2.52). O colo sigmoide estende-se da fossa ilíaca até o terceiro segmento sacral (S III), onde se une ao reto. O fim das tênias do colo, a aproximadamente 15 cm do ânus, indica a junção retossigmoide. O colo sigmoide geralmente tem mesentério longo — o mesocolo sigmoide — e, portanto, tem grande liberdade de movimento, principalmente sua parte média. (Ver, no boxe azul, “Vólvulo do colo sigmoide”, adiante.) A raiz do mesocolo sigmoide tem fixação em formato de V invertido, que se estende primeiro medial e superiormente ao longo dos vasos ilíacos externos e, depois, medial e inferiormente a partir da bifurcação dos vasos ilíacos comuns até a face anterior do sacro. O ureter esquerdo e a divisão da artéria ilíaca comum esquerda situam-se no retroperitônio, posteriormente ao ápice da raiz do mesocolo sigmoide. Os apêndices omentais do colo sigmoide são longos (Figura 2.52A); eles desaparecem quando o mesocolo sigmoide termina. As tênias do colo também desaparecem quando o músculo longitudinal na parede do colo se alarga para formar uma camada completa no reto. A irrigação arterial do colo descendente e do colo sigmoide provém das artérias cólica esquerda e sigmóidea, ramos da artéria mesentérica inferior (Figura 2.54; Quadro 2.10). Assim, aproximadamente na flexura esquerda do colo, há uma segunda transição na irrigação da parte abdominal do sistema digestório: a AMS que irriga a parte oral (proximal) à flexura (derivado do intestino médio embrionário), e a AMI que irriga a parte aboral (distal) à flexura (derivada do intestino posterior embrionário). As artérias sigmóideas descem obliquamente para a esquerda, onde se dividem em ramos ascendentes e descendentes. O ramo superior da artéria sig-móidea superior anastomosa-se com o ramo descendente da artéria cólica esquerda, assim formando uma parte da artéria marginal. A drenagem venosa do colo descendente e do colo sigmoide é feita pela veia mesentérica inferior, geralmente fluindo para a veia esplênica e, depois, para a veia porta em seu trajeto até o fígado (Figuras 2.56A e 2.75B). A drenagem linfática do colo descendente e do colo sigmoide é conduzida por vasos que seguem até os linfonodos epicólicos e paracólicos e depois através dos linfonodos cólicos intermediários ao longo da artéria cólica esquerda (Figura 2.56B). A linfa desses linfonodos segue para os linfonodos mesentéricos inferiores situados ao redor da AMI. Entretanto, a linfa proveniente da flexura esquerda do colo também pode drenar para os linfonodos mesentéricos superiores. Oralmente (em direção à boca ou proximal) à flexura esquerda do colo, as fibras simpáticas e parassimpáticas seguem juntas a partir do plexo aórtico abdominal através dos plexos periarteriais para chegarem à parte abdominal do trato alimentar (Figura 2.56C); entretanto, aboralmente (em sentido oposto à boca ou distal) à flexura, seguem vias distintas. A inervação simpática dos colos descendente e sigmoide provém da parte lombar do tronco simpático via nervos esplâncnicos lombares (abdominopélvicos), do plexo mesentérico superior e dos plexos periarteriais que acompanham a artéria mesentérica inferior e seus ramos. A inervação parassimpática provém dos nervos esplâncnicos pélvicos através do plexo e nervos hipogástricos (pélvicos) inferiores, que ascendem retroperitonealmente a partir do plexo, independentemente da irrigação arterial para essa parte do sistema digestório (Figura 2.56D). Oralmente à porção média do colo sigmoide, fibras aferentes viscerais que conduzem a sensação de dor seguem retrogradamente com fibras simpáticas para os gânglios sensitivos dos nervos espinais toracolombares, enquanto aquelas que conduzem informações reflexas seguem com as fibras parassimpáticas para os gânglios sensitivos vagais. Aboralmente à porção média do colo sigmoide, todas as fibras aferentes viscerais acompanham as fibras parassimpáticas retrogradamente até os gânglios sensitivos dos nervos espinais S2–S4 (ver também “Resumo da inervação das vísceras abdominais”, mais adiante). Figura 2.56 Veias, linfonodos e nervos do intestino grosso. A. A drenagem venosa pelas veias mesentéricas superior e inferior corresponde ao padrão das artérias mesentéricas superior e inferior. B. A linfa do intestino grosso flui em sequência para os linfonodos epicólicos (sobre o intestino), linfonodos paracólicos (ao longo da margem mesentérica), linfonodos cólicos médios (ao longo das artérias cólicas) e, depois, para os linfonodos mesentéricos superiores ou inferiores e os troncos intestinais. C. A inervação do colo é feita por plexos periarteriais mistos que se estendem a partir dos gânglios mesentéricos superiores e inferiores ao longo das respectivas artérias. D. As fibras parassimpáticas dos níveis S2–S4 da medula espinal ascendem independentemente a partir dos plexos hipogástricos inferiores (pélvicos) até chegarem ao colo sigmoide, colo descendente e parte distal do colo transverso. Figura 2.57 Efeito do biotipo sobre a disposição do colo transverso. A. Indivíduo hiperestênico de constituição pesada, com tórax curto e abdome longo tende a apresentar colo transverso em posição alta. B. Os indivíduos com físico astênico e magro tendem a apresentar um colo transverso baixo ou pélvico. RETO E CANAL ANAL O reto é a parte terminal fixa (basicamente retroperitoneal e subperitoneal) do intestino grosso. É contínuo com o colo sigmoide no nível da vértebra S III. A junção ocorre na extremidade inferior do mesentério do colo sigmoide (Figura 2.52). O reto é contínuo inferiormente com o canal anal. Essas partes do intestino grosso são descritas com a pelve no Capítulo 3. ESÔFAGO E ESTÔMAGO Varizes esofágicas Como drenam para os sistemas venosos porta e sistêmico, as veias submucosas da parte inferior do esôfago constituem uma anastomose portossistêmica. Na hipertensão porta (aumento anormal da pressão arterial no sistema venoso porta), o sangue não consegue atravessar o fígado através da veia porta, causando inversão do fluxo na tributária esofágica. O grande volume de sangue causa aumento acentuado das veias submucosas, com formação de varizes esofágicas (Figura B2.7). Esses canais colaterais distendidos podem se romper e causar hemorragia grave, com risco à vida e difícil controle cirúrgico. As varizes esofágicas são frequentes em portadores de cirrose alcoólica do fígado (ver, no boxe azul, “Cirrose hepática”). Pirose A pirose ou “azia” é o tipo mais comum de desconforto esofágico ou dor subesternal. A sensação de queimação na parte abdominal do esôfago geralmente é causada pela regurgitação de pequenas quantidades de alimento ou líquido gástrico para a parte inferior do esôfago (distúrbio de refluxo gastresofágico; DRGE). A pirose também pode estar associada à hérnia de hiato (ver “Hérnia de hiato”). A pirose frequentemente é percebida como uma sensação torácica (versus abdominal). Figura B2.7 Deslocamento do estômago Os pseudocistos pancreáticos e abscessos na bolsa omental podem empurrar o estômago anteriormente. Esse deslocamento geralmente é visível em incidências laterais do estômago e outras imagens diagnósticas, como a tomografia computadorizada (TC). Após pancreatite (inflamação do pâncreas), a parede posterior do estômago pode aderir à parte da parede posterior da bolsa omental que cobre o pâncreas. Essa aderência se deve à proximidade entre a parede posterior do estômago e o pâncreas. Hérnia de hiato A hérnia de hiato é a protrusão de uma parte do estômago para o mediastino através do hiato esofágico do diafragma. As hérnias são mais frequentes após a meia-idade, possivelmente devido ao enfraquecimento da parte muscular do diafragma e alargamento do hiato esofágico. Embora clinicamente haja vários tipos de hérnias de hiato, os dois tipos principais são a hérnia de hiato paraesofágica e a hérnia de hiato por deslizamento (Skandalakis et al., 1996). Na hérnia de hiato paraesofágica, menos comum, o cárdia permanece em sua posição normal (Figura B2.8A). Entretanto, uma bolsa de peritônio, frequentemente contendo parte do fundo gástrico, estende-se através do hiato esofágico anteriormente ao esôfago. Nesses casos, geralmente não há regurgitação do conteúdo gástrico porque o óstio cárdico está em sua posição normal. Na hérnia de hiato por deslizamento, mais comum, a parte abdominal do esôfago, o cárdia e partes do fundo gástrico deslizam superiormente através do hiato esofágico para o tórax, sobretudo quando a pessoa se deita ou se curva para a frente (Figura B2.8B). É possível que haja alguma regurgitação do conteúdo gástrico para o esôfago, pois a ação de clampeamento do pilar direito do diafragma na extremidade inferior do esôfago é fraca. Pilorospasmo A contração espasmódica do piloro ocorre às vezes em lactentes, geralmente entre 2 e 12 semanas de idade. O pilorospasmo é caracterizado por incapacidade de relaxamento normal das fibras musculares lisas que circundam o canal pilórico. Consequentemente, há dificuldade na passagem de alimento do estômago para o duodeno e o estômago fica cheio demais, em geral resultando em desconforto e vômito. Estenose pilórica hipertrófica congênita A estenose pilórica hipertrófica congênita é um espessamento acentuado do músculo liso (hipertrofia) no piloro que afeta aproximadamente 1 em cada 150 lactentes do sexo masculino e 1 em cada 750 lactentes do sexo feminino (Moore, Persaud e Torchia, 2012). Normalmente, a peristalse gástrica empurra o quimo através do canal e do óstio pilórico até o intestino delgado, a intervalos irregulares (Figura B2.9A). Nos neonatos com estenose pilórica, o piloro superdesenvolvido e alongado é duro e o canal pilórico é estreito (Figura B2.9B), causando resistência ao esvaziamento gástrico. Pode haver dilatação da parte proximal do estômago secundária à estenose (estreitamento) pilórica. Embora a causa de estenose pilórica hipertrófica congênita seja desconhecida, parece haver participação de fatores genéticos devido à alta incidência desse distúrbio em gêmeos monozigóticos. Carcinoma do estômago Quando o corpo ou a parte pilórica do estômago contém um tumor maligno, a massa pode ser palpável. Usando um gastroscópio, os médicos podem examinar a mucosa do estômago insuflado com ar, permitindo a observação de lesões gástricas e a realização de biopsias (Figura B2.10). A extensa drenagem linfática do estômago e a impossibilidade de remover todos os linfonodos criam um problema cirúrgico. Figura B2.8 Figura B2.9 Estenose pilórica hipertrófica congênita. A. Passagem normal através do músculo esfíncter do piloro. B. Interrupção do fluxo causada por estenose. Os linfonodos ao longo dos vasos esplênicos podem ser excisados por remoção do baço, dos ligamentos gastroesplênico e esplenorrenal, e do corpo e da cauda do pâncreas. Os linfonodos acometidos ao longo dos vasos gastromentais podem ser removidos por ressecção do omento maior; entretanto, a retirada dos linfonodos aórticos e celíacos, e daqueles ao redor da cabeça do pâncreas, é difícil. Gastrectomia e ressecção de linfonodos A gastrectomia total (retirada de todo o estômago) é rara. A gastrectomia parcial (retirada de parte do estômago) pode ser realizada para remover uma região do estômago acometida por um carcinoma, por exemplo. Como as anastomoses das artérias que irrigam o estômago proporcionam boa circulação colateral, pode-se ligar uma ou mais artérias durante esse procedimento sem comprometer seriamente a irrigação sanguínea para a parte do estômago que permanece. Ao remover o antro pilórico, por exemplo, a incisão do omento maior é paralela e inferior à artéria gastromental direita, exigindo a ligadura de todos os ramos omentais dessa artéria. Entretanto, não há degeneração do omento devido às anastomoses com outras artérias, como os ramos omentais da artéria gastromental esquerda, que ainda estão intactos. A gastrectomia parcial para remover um carcinoma geralmente também requer retirada de todos os linfonodos regionais envolvidos. Como o câncer costuma ocorrer na região pilórica, a retirada dos linfonodos pilóricos e dos linfonodos gastromentais direitos que também recebem drenagem linfática dessa região é muito importante. Quando o câncer gástrico torna-se mais avançado, a disseminação linfogênica de células malignas acomete os linfonodos celíacos, para os quais drenam todos os linfonodos gástricos. Figura B2.10 Úlceras gástricas, úlceras pépticas, Helicobacter pylori e vagotomia As úlceras gástricas são lesões abertas da mucosa gástrica, ao passo que as úlceras pépticas são lesões da mucosa do canal pilórico ou, na maioria das vezes, do duodeno. A maioria das úlceras do estômago e duodeno está associada à infecção por uma bactéria específica, Helicobacter pylori (H. pylori). As pessoas com ansiedade crônica grave são mais propensas a desenvolverem úlceras pépticas. Com frequência têm taxas de secreção de ácido gástrico muito acima do normal entre as refeições. Acredita-se que o elevado conteúdo de ácido no estômago e no duodeno supere o bicarbonato normalmente produzido pelo duodeno e reduza a eficácia do revestimento mucoso, deixando-o vulnerável ao H. pylori. As bactérias causam erosão do muco protetor que reveste o estômago, inflamando a túnica mucosa e tornando-a vulnerável aos efeitos do ácido gástrico e das enzimas digestivas (pepsina) produzidas pelo estômago. Figura B2.11 Vagotomia. Vagotomia troncular (A), gástrica seletiva (B) e proximal seletiva (C). Os traços vermelhos indicam o local de secção cirúrgica do nervo. Se a úlcera causar erosão das artérias gástricas, pode haver sangramento com risco à vida. Como a secreção de ácido pelas células parietais do estômago é controlada principalmente pelo nervo vago, é realizada vagotomia (secção cirúrgica dos nervos vagos) em algumas pessoas com úlceras crônicas ou recorrentes para reduzir a produção de ácido. A vagotomia também pode ser associada à ressecção da área ulcerada (antrectomia, ou ressecção do antro pilórico) para reduzir a secreção de ácido. A vagotomia troncular (secção cirúrgica dos troncos vagais) raramente é realizada, porque a inervação de outras estruturas abdominais também é sacrificada (Figura B2.11A). Na vagotomia gástrica seletiva, o estômago é desnervado, mas são preservados os ramos vagais para o piloro, fígado e ductos biliares, intestino e plexo celíaco (Figura B2.11B). A vagotomia proximal seletiva tenta desnervar ainda mais especificamente a área em que estão localizadas as células parietais, esperando afetar as células produtoras de ácido e ao mesmo tempo poupar outra função gástrica (motilidade) estimulada pelo nervo vago (Figura B2.11C). Uma úlcera gástrica posterior pode causar erosão da parede do estômago para o pâncreas, resultando em dor referida para o dorso. Nesses casos, a erosão da artéria esplênica resulta em hemorragia grave para a cavidade peritoneal. Os impulsos álgicos do estômago são conduzidos por fibras aferentes viscerais que acompanham os nervos simpáticos. Esse fato é evidente porque a dor de uma úlcera péptica recorrente pode persistir após vagotomia completa, enquanto pacientes submetidos à simpatectomia bilateral podem ter uma úlcera péptica perfurada e não sentir dor. Dor visceral referida A dor é uma sensação desagradável associada à lesão tecidual real ou potencial e mediada por fibras nervosas específicas para o encéfalo, onde sua avaliação consciente pode ser modificada. A dor orgânica originada de um órgão como o estômago varia de difusa a intensa; entretanto, a dor é mal localizada. Irradia-se até o nível do dermátomo, que recebe fibras aferentes viscerais do órgão relacionado. A dor referida visceral de uma úlcera gástrica, por exemplo, é referida na região epigástrica porque o estômago é suprido por fibras aferentes de dor que chegam aos gânglios sensitivos dos nervos espinais T7 e T8 e a segmentos da medula espinal via nervo esplâncnico maior (Figura B2.12). O encéfalo interpreta a dor como se a irritação tivesse ocorrido na pele da região epigástrica, que também é suprida pelos mesmos gânglios sensitivos e segmentos da medula espinal. A dor originada no peritônio parietal é do tipo somático e geralmente é intensa. O local de sua origem pode ser identificado. A base anatômica para essa localização da dor é que o peritônio parietal é inervado por fibras sensitivas somáticas por intermédio dos nervos torácicos, ao passo que uma víscera como o apêndice vermiforme é inervada por fibras aferentes viscerais no nervo esplâncnico menor. O peritônio parietal inflamado é extremamente sensível ao estiramento. Quando se aplica pressão com o dedo à parede anterolateral do abdome sobre o local da inflamação, há estiramento do peritônio parietal. Quando os dedos são subitamente retirados, geralmente há dor localizada extrema, conhecida como dor à descompressão súbita. INTESTINOS DELGADO E GROSSO Úlceras duodenais As úlceras duodenais (úlceras pépticas) são erosões inflamatórias da túnica mucosa duodenal. A maioria (65%) das úlceras duodenais ocorre na parede posterior da parte superior do duodeno, a 3 cm do piloro. Às vezes, uma úlcera perfura a parede duodenal, permitindo a entrada do conteúdo na cavidade peritoneal e causando peritonite. Como a parte superior do duodeno está intimamente relacionada ao fígado, vesícula biliar e pâncreas, qualquer uma dessas estruturas pode aderir ao duodeno inflamado; também podem sofrer ulceração quando a lesão causa erosão do tecido adjacente. Embora o sangramento nas úlceras duodenais seja comum, a erosão da artéria gastroduodenal (uma relação posterior da parte superior do duodeno) por uma úlcera duodenal resulta em hemorragia grave para a cavidade peritoneal e subsequente peritonite. Figura B2.12 Alterações congênitas no mesoduodeno Durante o período fetal inicial, todo o duodeno tem um mesentério; entretanto, a maior parte dele funde-se à parede posterior do abdome devido à pressão do colo transverso subjacente. Como a fixação do mesoduodeno à parede é secundária (ocorreu mediante a formação de umafáscia de fusão; analisada em “Embriologia da cavidade peritoneal”, anteriormente), o duodeno e o pâncreas intimamente associados podem ser separados (cirurgicamente mobilizados) das vísceras retroperitoneais subjacentes durante cirurgias do duodeno sem colocar em risco a vascularização do rim ou do ureter. Hérnias paraduodenais Existem duas ou três pregas e recessos (fossas) inconstantes ao redor da flexura duodenojejunal (Figura B2.13). A prega e o recesso paraduodenais são grandes e estão à esquerda da parte ascendente do duodeno. Se uma alça de intestino entrar nesse recesso, pode sofrer estrangulamento. Durante o reparo de uma hérnia paraduodenal, deve-se ter cuidado para não lesar os ramos da artéria e veia mesentéricas inferiores ou os ramos ascendentes da artéria cólica esquerda, que estão intimamente relacionados com a prega e o recesso paraduodenais. Breve revisão da rotação embriológica do intestino médio O conhecimento da rotação do intestino médio permite compreender a organização do intestino no adulto. O intestino primitivo é formado pelo intestino anterior, intestino médio e intestino posterior. A dor originada nos derivados do intestino anterior — esôfago, estômago, pâncreas, duodeno, fígado e ductos biliares — localiza-se na região epigástrica. A dor originada nos derivados do intestino médio — o intestino delgado distal ao ducto colédoco, ceco, apêndice vermiforme, colo ascendente e a maior parte do colo transverso — está localizada na região periumbilical. A dor originada nos derivados do intestino posterior — a parte distal do colo transverso, colo descendente, colo sigmoide e reto — está localizada na região hipogástrica (ver Tabela 2.1). Figura B2.13 Durante 4 semanas, o intestino médio em rápido crescimento, irrigado pela AMS, sofre herniação fisiológica para a parte proximal do cordão umbilical (Figura B2.14A). Está fixado ao saco vitelino (vesícula umbilical) pelo ducto onfalomesentérico (pedículo vitelino). Quando retorna para a cavidade abdominal, o intestino médio gira 270° em torno do eixo da AMS (Figura B2.14B e C). Como o tamanho relativo do fígado e dos rins diminui, o intestino médio retorna à cavidade abdominal, pois há mais espaço disponível. Quando as partes do intestino assumem suas posições definitivas, suas fixações mesentéricas sofrem modificação (Figura B2.14D e E). Alguns mesentérios encurtam e outros desaparecem (p. ex., a maior parte do mesentério duodenal). A má rotação do intestino médio resulta em várias anomalias congênitas como vólvulo (torção) do intestino (Moore et al., 2012). Orientação no intestino delgado Quando partes do intestino delgado saem através de uma ferida cirúrgica, as extremidades proximal (oral — em direção à boca) e distal (aboral — em direção oposta à boca) de uma alça intestinal não são distinguíveis. Se você tentar acompanhar o intestino em determinada direção (p. ex., tentar acompanhar o íleo até a junção ileocecal), é importante saber qual é a extremidade. Pode não haver peristalse normal para fornecer uma indicação. Coloque as mãos de cada lado do intestino e seu mesentério, e depois acompanhe o mesentério com os dedos até sua raiz (sua fixação à parede posterior do abdome), destorcendo a alça do intestino quando necessário. Quando o mesentério e o intestino são retificados em relação à direção da raiz, a extremidade cranial deve ser a extremidade oral, e a extremidade caudal, a aboral. Isquemia do intestino A oclusão dos vasos retos (ver Figura 2.48B) por êmbolos (p. ex., coágulos sanguíneos) resulta em isquemia da parte do intestino acometida. Se a isquemia for grave, há necrose do segmento acometido e desenvolvimento de íleo paralítico. O íleo paralítico é acompanhado por dor intensa em caráter de cólica, juntamente com distensão abdominal, vômito e muitas vezes febre e desidratação. O diagnóstico precoce do distúrbio (p. ex., por meio da arteriografia mesentérica superior) permite desobstruir cirurgicamente a parte obstruída do vaso. Divertículo ileal O divertículo ileal (de Meckel) é uma anomalia congênita que ocorre em 1 a 2% da população. Um remanescente da parte proximal do ducto onfalomesentérico embrionário (pedículo vitelino), o divertículo geralmente apresenta-se como uma bolsa digitiforme (Figura B2.15A). Está sempre no local de fixação do ducto onfalomesentérico na margem antimesentérica (margem oposta à fixação mesentérica) do íleo. O divertículo geralmente está localizado a 30 a 60 cm da junção ileocecal em lactentes e a 50 cm em adultos. Pode estar livre (74%) ou fixado ao umbigo (26%) (Figura B2.15B). Embora sua túnica mucosa seja principalmente do tipo ileal, também pode incluir áreas de tecido gástrico produtor de ácido, tecido pancreático, ou mucosa jejunal ou colônica. Um divertículo ileal pode inflamar e causar dor semelhante àquela causada pela apendicite. Figura B2.14 Figura B2.15 Posição do apêndice vermiforme O apêndice retrocecal estende-se superiormente em direção à flexura direita do colo e geralmente é livre (ver Figura 2.53C). Às vezes situa-se sob o revestimento peritoneal do ceco, onde não raro está fundido ao ceco ou à parede posterior do abdome. O apêndice vermiforme pode projetar-se inferiormente em direção à margem da pelve ou através dela. Sua posição anatômica determina os sintomas e o local de espasmo muscular e dor à palpação em caso de inflamação. A base do apêndice vermiforme situa-se profundamente a um ponto que está a um terço do trajeto ao longo da linha oblíqua que une a EIAS direita ao umbigo (ponto de McBurney na linha espinoumbilical). Apendicite A inflamação aguda do apêndice vermiforme, apendicite, é uma causa comum de abdome agudo (dor abdominal intensa e súbita). Em geral, a compressão digital sobre o ponto de McBurney provoca dor abdominal máxima. A apendicite em jovens geralmente é causada por hiperplasia dos folículos linfáticos no apêndice vermiforme, o que oclui o lúmen. Em pessoas idosas, a obstrução geralmente é causada por um fecálito (coprólito), uma concreção que se forma ao redor de um núcleo de material fecal. Quando as secreções do apêndice vermiforme não conseguem sair, há edema do apêndice vermiforme, que distende o peritônio visceral. No início, a apendicite geralmente causa dor vaga na região periumbilical, porque as fibras álgicas aferentes entram na medula espinal no nível de T X. Mais tarde, a dor intensa no quadrante inferior direito é provocada pela irritação do peritônio parietal que reveste a parede posterior do abdome. A extensão da coxa na articulação do quadril causa dor. A infecção aguda do apêndice vermiforme pode resultar em trombose na artéria apendicular, o que costuma resultar em isquemia, gangrena (morte do tecido) e perfuração de um apêndice vermiforme com inflamação aguda. A ruptura do apêndice vermiforme resulta em infecção do peritônio (peritonite), aumento da dor abdominal, náusea e/ou vômito, e rigidez abdominal (enrijecimento dos músculos abdominais). A flexão da coxa direita alivia a dor porque causa relaxamento do músculo psoas, um flexor da coxa. Apendicectomia A retirada cirúrgica do apêndice vermiforme (apendicectomia) pode ser realizada mediante incisão transversa ou oblíqua (divulsão muscular) com centro no ponto de McBurney no quadrante inferior direito (ver, no boxe azul, “Incisões cirúrgicas abdominais”, anteriormente). Tradicionalmente é usada a incisão oblíqua perpendicular à linha espinoumbilical, mas a incisão transversal também é usada muitas vezes. A escolha do local e do tipo de incisão é feita pelo cirurgião. Embora o apêndice vermiforme inflamado geralmente esteja situado profundamente ao ponto de McBurney, os locais de maior intensidade de dor e de dor à palpação indicam a localização real. A apendicectomia laparoscópica tornou-se um procedimento padrão empregado seletivamente para retirada do apêndice vermiforme. Primeiro, a cavidade peritoneal é insuflada com gás dióxido de carbono, distendendo a parede abdominal para propiciar visualização e espaço de trabalho. O laparoscópio é introduzido por uma pequena incisão na parede anterolateral do abdome (p. ex., perto do umbigo ou através dele). É preciso fazer mais uma ou duas pequenas incisões para permitir acesso cirúrgico ao apêndice vermiforme e vasos relacionados. Nos casos raros de má rotação do intestino, ou ausência de descida do ceco, o apêndice vermiforme não está no quadrante inferior direito (QID). Quando o ceco está em posição alta (ceco sub-hepático), o apêndice vermiforme está no hipocôndrio direito (ver Quadro 2.1) e a dor está no mesmo lugar, não no QID. Colo ascendente móvel Quando a parte inferior do colo ascendente tem mesentério, o ceco e a parte proximal do colo apresentam mobilidade anormal. Essa condição, encontrada em aproximadamente 11% das pessoas, pode causar vólvulo do colo, obstrução do intestino resultante de torção. A cecopexia (fixação) pode evitar vólvulo e possível obstrução do colo. Nesse procedimento de fixação, uma tênia do colo no ceco e o colo ascendente proximal são suturados à parede do abdome. Colite, colectomia, ileostomia e colostomia A inflamação crônica do colo (colite ulcerativa, doença de Crohn) é caracterizada por inflamação intensa e ulceração do colo e do reto. Em alguns casos é realizada uma colectomia, na qual são removidos a parte terminal do íleo e o colo, bem como o reto e o canal anal. Em seguida, é construída uma ileostomia para estabelecer uma abertura entre o íleo e a pele da parede anterolateral do abdome (Figura B2.16A). A extremidade do íleo é exteriorizada e suturada à periferia de uma abertura na parede anterolateral do abdome para permitir a saída de seu conteúdo. Após a colectomia parcial, é feita uma colostomia ou sigmoidostomia para criar uma abertura cutânea artificial para a parte terminal do colo (Figura B2.16B). Figura B2.16 A. Ileostomia. B. Colostomia. Colonoscopia O interior do colo pode ser observado e fotografado em um procedimento denominado colonoscopia ou coloscopia, que usa um endoscópio de fibra óptica longo e flexível (colonoscópio) inserido através do ânus e do reto (Figura B2.17A). Por meio do colonoscópio é possível introduzir pequenos instrumentos, que são usados para facilitar pequenos procedimentos cirúrgicos, como biopsias ou retirada de pólipos. A maioria dos tumores do intestino grosso ocorre no colo sigmoide e no reto; muitas vezes surgem perto da junção retossigmóidea. O interior do colo sigmoide é observado com um retossigmoidoscópio, um endoscópio mais curto, em um procedimento chamado retossigmoidoscopia. Diverticulose A diverticulose é um distúrbio no qual surgem vários falsos divertículos (evaginações externas da mucosa do colo) ao longo do intestino. Afeta principalmente pessoas de meia-idade e idosas. A diverticulose é comum no colo sigmoide (Figura B2.17C e D). Os divertículos do colo não são divertículos verdadeiros, porque são formados por protrusões apenas da mucosa, evaginadas através de pontos fracos que surgem entre as fibras musculares, e não incluem toda a parede do colo. São mais comuns na face mesentérica das duas tênias do colo não mesentéricas, onde artérias nutrícias perfuram a túnica muscular para chegar à tela submucosa. Os divertículos podem sofrer infecção e ruptura, o que leva à diverticulite, que pode causar distorção e erosão das artérias nutrícias, com consequente hemorragia. As dietas ricas em fibras têm benefícios comprovados na diminuição da ocorrência de diverticulose. Figura B2.17 Exame do intestino grosso. A. O procedimento colonoscópico. B. Diverticulose do colo, fotografada por meio de um colonoscópio. C. As partes de um colonoscópio. As fotografias podem ser feitas por uma câmera acoplada ao colonoscópio. D. Divertículos no colo sigmoide. Vólvulo do colo sigmoide A rotação e a torção da alça móvel do colo sigmoide e do mesocolo — o vólvulo do colo sigmoide (Figura B2.18) — resulta em obstrução do lúmen do colo descendente e de qualquer parte do colo sigmoide proximal ao segmento torcido. Há constipação e isquemia da alça do colo sigmoide, que pode evoluir para impactação fecal (acúmulo irremovível de fezes comprimidas ou endurecidas) do colo e possível necrose (morte tecidual) do segmento acometido, se não for tratado. Figura B2.18 Vólvulo do colo sigmoide. Pontos-chave ESÔFAGO E ESTÔMAGO Esôfago: O esôfago é um tubo que conduz o alimento da faringe até o estômago. ♦ O esôfago penetra o diafragma no nível da vértebra T X, atravessando seu pilar direito, que cruza ao seu redor para formar o esfíncter inferior fisiológico do esôfago. ♦ A parte abdominal em forma de trompete, formada apenas por músculo liso inervado pelo plexo nervoso esofágico, entra no cárdia. ♦ A parte abdominal do esôfago recebe sangue dos ramos esofágicos da artéria gástrica esquerda (ramo do tronco celíaco). ♦ As veias submucosas drenam para os sistemas venosos sistêmico e porta e assim, constituem anastomoses portocavas que podem tornar-se varicosas na presença de hipertensão porta. ♦ Internamente, no ser vivo, o esôfago é demarcado do estômago por uma transição abrupta da túnica mucosa, a linha Z. Estômago: O estômago é a porção dilatada do sistema digestório situada entre o esôfago e o duodeno, especializado para acumular alimentos ingeridos e prepará-los química e mecanicamente para a digestão. ♦ A posição do estômago na cavidade abdominal é assimétrica, à esquerda da linha mediana e geralmente no quadrante superior esquerdo. No entanto, a posição do estômago pode variar muito em pessoas de diferentes biotipos. ♦ A parte abdominal do esôfago entra no cárdia, e sua parte pilórica leva à saída para o duodeno. ♦ O esvaziamento gástrico é controlado pelo piloro. ♦ Na pessoa viva, a face interna do estômago é coberta por uma camada protetora de muco, sobre as pregas gástricas que desaparecem quando o órgão é distendido. ♦ O estômago é intraperitoneal, com o omento menor (que reveste as anastomoses entre os vasos gástricos direito e esquerdo) fixado à curvatura menor, e o omento maior (que reveste as anastomoses entre os vasos gastromentais direitos e esquerdos) fixado à curvatura maior. ♦ Os vasos de suas curvaturas servem ao corpo e ao antro pilórico do estômago. A parte superior do corpo e o fundo são irrigados por vasos gástricos curtos e posteriores. ♦ O músculo liso trilaminar do estômago e as glândulas gástricas recebem inervação parassimpática do nervo vago; a inervação simpática do estômago é vasoconstritora e antiperistáltica. INTESTINOS DELGADO E GROSSO Intestino delgado: O duodeno é a primeira parte do intestino delgado e recebe o quimo misturado com ácido gástrico e pepsina diretamente do estômago através do piloro. ♦ O duodeno segue um trajeto em formato de C, secundariamente retroperitoneal em sua maior parte, ao redor da cabeça do pâncreas. ♦ A parte descendente do duodeno recebe os ductos colédoco e pancreático. ♦ Nesse nível ou imediatamente distal a ele, há uma transição na irrigação sanguínea da parte abdominal do sistema digestório. A parte proximal a esse ponto é irrigada por ramos do tronco celíaco; a parte distal a esse ponto é suprida por ramos da artéria mesentérica superior. O jejuno e o íleo formam as alças do intestino delgado que ocupam a maior parte da divisão infracólica da cavidade peritoneal. ♦ O jejuno está situado principalmente na parte superior esquerda e o íleo, na parte inferior direita. Juntos, eles têm 3 a 4 m de comprimento (no cadáver; menos em pessoas vivas devido à tonicidade das estruturas). Os dois quintos orais (proximais em relação à boca) são o jejuno e os três quintos aborais (distais) formam o íleo, embora não haja linha de transição nítida. O diâmetro do intestino delgado diminui progressivamente enquanto o quimo semilíquido progride. ♦ Seus vasos sanguíneos também se tornam menores, mas o número de fileiras dos arcos aumenta enquanto o comprimento dos vasos retos diminui. ♦ A gordura na qual os vasos estão entranhados no mesentério aumenta, dificultando a visualização dessas características. ♦ O íleo é caracterizado por abundância de tecido linfoide, reunido em nódulos (placas de Peyer). ♦ A porção intraperitoneal do intestino delgado (jejuno e íleo) está suspensa pelo mesentério, cuja raiz estende-se da junção duodenoje-junal, à esquerda da linha mediana no nível de L II, até a junção ileocecal, na fossa ilíaca direita. ♦ O divertículo ileal é uma anomalia congênita presente em 1 a 2% da população. Tem 3 a 6 cm de comprimento e tipicamente está a 50 cm da junção ileocecal em adultos. Intestino grosso: O intestino grosso é formado pelo ceco; apêndice vermiforme; colos ascendente, transverso, descendente e sigmoide; reto e canal anal. ♦ O intestino grosso é caracterizado por tênias do colo, saculações, apêndices omentais e grande calibre. ♦ O intestino grosso começa na papila ileal; mas sua primeira parte, o ceco, é uma bolsa pendente inferior à papila ileal. ♦ O ceco semelhante a uma bolsa e a parte mais larga do intestino grosso é completamente intraperitoneal e não tem mesentério, de modo que é móvel na fossa ilíaca direita. ♦ A papila ileal é uma associação de válvula e esfíncter fraco, cuja abertura ativa periódica permite a entrada do conteúdo ileal e forma uma válvula unidirecional essencialmente passiva entre o íleo e o ceco, que impede o refluxo. ♦ O apêndice vermi-forme é um divertículo intestinal, rico em tecido linfoide, que entra na face medial do ceco, em geral profundamente à junção do terço lateral com os dois terços mediais da linha espinoumbilical. Na maioria das vezes, o apêndice vermiforme é retrocecal, mas em 32% dos casos desce para a pelve menor. ♦ O ceco e o apêndice vermiforme são irrigados por ramos dos vasos ileocecais. O colo tem quatro partes: ascendente, transverso, descendente e sigmoide. ♦ O colo ascendente é uma continuação superior, secundariamente retroperitoneal do ceco, que se estende entre o nível da papila ileal e a flexura direita do colo. ♦ O colo transverso, suspenso pelo mesocolo transverso entre as flexuras direita e esquerda do colo, é a parte mais longa e mais móvel do intestino grosso. O nível de descida depende principalmente do biotipo. ♦ O colo descendente ocupa posição secundariamente retroperitoneal entre a flexura esquerda do colo e a fossa ilíaca esquerda, onde é contínuo com o colo sigmoide. ♦ O colo sigmoide, com formato de S típico, suspenso pelo mesocolo sigmoide, tem comprimento e disposição muito variáveis, terminando na junção retossigmóidea. As tênias, saculações e apêndices omentais terminam najun-ção localizada anteriormente ao terceiro segmento sacral. A parte do intestino grosso oral (proximal) à flexura esquerda do colo (ceco, apêndice vermiforme e colos ascendente e transverso) é irrigada por ramos dos vasos mesentéricos superiores. Na parte aboral (distal) à flexura, a maior parte do intestino grosso restante (colos descendente e sigmoide e parte superior do reto) é irrigada por ramos dos vasos mesentéricos inferiores. ♦ A flexura esquerda do colo também marca a divisão entre a inervação parassimpática cranial (vagal) e sacral (esplâncnica pélvica) do sistema digestório. ♦ As fibras simpáticas são conduzidas para o intestino grosso por intermédio de nervos esplâncnicos abdominopélvicos (menor e lombar), através dos gânglios pré-vertebrais (mesentéricos superior e inferior) e plexos periarteriais. ♦ A parte média do colo sigmoide marca uma divisão na inervação sensitiva da parte abdominal do sistema digestório: oralmente, as fibras aferentes viscerais da dor seguem em sentido retrógrado com fibras simpáticas para os gânglios sensitivos dos nervos espinais, ao passo que as fibras que conduzem informações reflexas seguem com as fibras parassimpáticas para os gânglios sensitivos vagais; aboralmente, os dois tipos de fibras aferentes viscerais seguem com as fibras parassimpáticas até os gânglios sensitivos espinais. 

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