A principal função dos membros inferiores é permitir que a pessoa fique de pé e caminhe. Normalmente, as ações dos
músculos dos membros inferiores são descritas como uma ação isolada do músculo, o que raramente ocorre.
Neste livro, inclusive nos comentários nos quadros, o papel de cada músculo (ou do grupo funcional a que pertence) é
descrito em atividades comuns, sobretudo de pé e durante a marcha. É importante estar familiarizado com os movimentos dos
membros inferiores e as contrações concêntricas e excêntricas dos músculos, como descreve a Introdução deste livro, e ter
conhecimento básico dos processos da postura de pé e da marcha.
Posição de pé relaxada
Quando uma pessoa está de pé, relaxada, com os pés um pouco afastados e girados lateralmente, de modo que os dedos
apontem para fora, apenas alguns músculos do dorso e do membro inferior estão ativos (Figura 5.19). A disposição mecânica
das articulações e dos músculos é tal que é necessário um mínimo de atividade muscular para evitar a queda. Na posição
ortostática relaxada, as articulações do quadril e do joelho são estendidas e estão em suas posições mais estáveis (contato
máximo das faces articulares para transferência de peso, com tensão dos ligamentos de sustentação).
A articulação talocrural é menos estável do que as articulações do quadril e do joelho, e a linha de gravidade está situada
entre os dois membros, logo anterior ao eixo de rotação das articulações talocrurais. Sendo assim, a tendência a cair para a
frente (oscilação para a frente) tem de ser periodicamente neutralizada por contração bilateral dos músculos da panturrilha
(flexão plantar). O afastamento ou a angulação dos pés aumenta a estabilidade lateral. A eventual oscilação lateral, porém, é
neutralizada pelos músculos abdutores do quadril (que agem através do trato iliotibial). O ligamento colateral fibular da
articulação do joelho e os músculos eversores de um lado atuam com os adutores da coxa, o ligamento colateral tibial e os
músculos inversores contralaterais.
Caminhada | O ciclo da marcha
A locomoção é uma função complexa. Os movimentos dos membros inferiores durante a marcha em superfície plana podem
ser divididos em fases alternadas de balanço e de apoio, ilustradas na Figura 5.20 e descritas no Quadro 5.2. O ciclo da
marcha consiste em apenas um ciclo de balanço e apoio por membro. A fase de apoio começa com o toque do calcâneo
(Figura 5.20A), quando o calcâneo toca o solo e começa a sustentar todo o peso do corpo (resposta à carga), e termina com a
saída da parte anterior do pé (propulsão) (Figura 5.20G) – resultante da flexão plantar. (Ver, no boxe azul, “Ausência de
flexão plantar”, mais adiante.)
A fase de balanço começa depois da propulsão, quando os dedos saem do solo, e termina quando o calcanhar toca o solo.
A fase de balanço ocupa cerca de 40% do ciclo da marcha e a fase de apoio, 60%. A fase de apoio da marcha é mais longa do
que a fase de balanço, porque começa e termina com períodos relativamente curtos (cada um, 10% do ciclo) de apoio duplo
(ambos os pés tocam o solo), enquanto o peso é transferido de um lado para o outro, com um período mais longo de apoio
único (apenas um pé no solo sustenta todo o peso do corpo) intermediário, enquanto o membro contralateral avança. Na
corrida, não há período de apoio duplo; consequentemente, o tempo e o percentual do ciclo da marcha representados pela
fase de apoio são reduzidos.
Figura 5.19 Postura de pé relaxada. A. Relação entre a linha de gravidade e os eixos de rotação transversais da pelve e
membro inferior na posição de pé relaxada. São necessários apenas pequenos ajustes posturais, principalmente pelos músculos
extensores do dorso e flexores plantares do tornozelo, para manter a posição, porque os ligamentos do quadril e do joelho estão
sendo tensionados para proporcionar suporte passivo. B. Os pés formam uma plataforma bípede durante a posição de pé
relaxada. O peso do corpo é simetricamente distribuído em torno do centro de gravidade, situado no terço posterior de um plano
mediano entre os pés um pouco afastados e rodados lateralmente, anteriormente aos eixos de rotação das articulações
talocrurais.
A marcha é uma atividade muito eficiente que tira vantagem da gravidade e do impulso, de modo a exigir um mínimo de
esforço físico. É usada mais energia (1) na contração excêntrica dos dorsiflexores no início (resposta de carga) da fase de
apoio (Figura 5.20B) enquanto o calcanhar é abaixado até o solo e depois toca o solo e (2) principalmente no fim da fase de
apoio (apoio terminal; Figura 5.20D), quando há contração concêntrica dos flexores plantares, empurrando a parte anterior
do pé (metatarsais e falanges) para baixo, a fim de permitir a saída, proporcionando, dessa forma, a maior parte da força
propulsiva.
Durante a última parte da fase de apoio (propulsão ou saída dos dedos, Figura 5.20E), os dedos são flexionados para se
fixarem ao solo e potencializarem a propulsão iniciada na região da planta subjacente às cabeças dos dois metatarsais mediais.
Os músculos flexores longos e intrínsecos do pé estabilizam a parte anterior do pé e os dedos de forma a maximizar o efeito
da flexão plantar no tornozelo e a flexão dos dedos.
A fase de balanço também exige flexão do quadril para que a aceleração do membro livre seja maior do que o movimento
anterior do corpo. Durante o balanço inicial (Figura 5.20F), há flexão quase simultânea do joelho, em razão do impulso (sem
gasto energético), seguida por dorsiflexão (elevação da parte anterior do pé) na articulação talocrural. Os dois últimos
movimentos encurtam o membro livre, de modo que ele saia do solo enquanto avança. No balanço médio, a extensão do
joelho se soma à flexão e ao impulso da coxa para realizar o balanço anterior completo.
Há contração excêntrica dos músculos extensores do quadril e dos flexores do joelho no fim da fase de balanço (balanço
terminal; Figura 5.20G) para desacelerar o avanço, enquanto os músculos extensores do joelho (músculo quadríceps femoral)
contraem-se o necessário para estender a perna até o comprimento desejado da passada e para posicionar o pé (apresentação
do calcanhar) para o contato inicial do calcâneo.
A contração dos músculos extensores do joelho é mantida durante o contato inicial do calcâneo até a fase de carga para
absorver o choque e evitar a deformação do joelho até que haja extensão completa. Como o lado não sustentado do quadril
tende a cair durante a fase de balanço (o que anularia o efeito de encurtamento do membro), os músculos abdutores no lado
de apoio contraem-se fortemente durante a subfase de apoio único (Figura 5.20F e G), tracionando o fêmur fixo para resistir à
inclinação e manter a pelve nivelada. Esses mesmos músculos também giram (avançam) o outro lado da pelve para a frente,
ao mesmo tempo que ocorre o balanço do membro livre.
Evidentemente, todas essas ações alternam-se entre os lados a cada passo. Os músculos extensores do quadril
normalmente contribuem pouco para a marcha no plano. Basicamente, o quadril é submetido à extensão passiva pela força
durante o apoio, exceto na aceleração ou marcha rápida, e torna-se cada vez mais ativo com o aumento da inclinação durante
a marcha em aclive ou ao subir escadas. A flexão concêntrica do quadril e a extensão do joelho são usadas durante a fase de
balanço da marcha em superfície plana e, portanto, não são ações de sustentação de peso; entretanto, são afetadas pelo peso
do corpo quando a contração excêntrica é necessária para desaceleração ou na marcha em declive ou descida de escadas.
A estabilização e a resiliência são importantes durante a locomoção. Os inversores e eversores do pé são os principais
estabilizadores do pé durante a fase de apoio. Seus tendões longos, junto com os tendões dos flexores dos dedos, também
ajudam a sustentar os arcos do pé durante a fase de apoio, auxiliando os músculos intrínsecos da planta.
Figura 5.20 Ciclo da marcha. A atividade de um membro entre dois eventos repetidos de marcha. Normalmente são descritas
oito fases; duas delas foram associadas em (F) para simplificar.
Quadro 5.2 Ação muscular durante o ciclo da marcha.
Fase da
marcha
Objetivos
mecânicos
Grupos
musculares
ativos
Exemplos
Toque do
calcâneo
(contato
inicial)
Tocar o solo
com a parte
anterior do
pé
Dorsiflexores
do tornozelo
(contração
excêntrica)
M. tibial anterior
Desaceleração
contínua
(reverter o
avanço)
Extensores do
quadril
M. glúteo máximo
Preservar o
arco
longitudinal
do pé
Músculos
intrínsecos do
pé
M. flexor curto dos dedos
Tendões
longos do pé
M. tibial anterior
Resposta à
carga (pé
apoiado)
Aceitar o
peso
Extensores do
joelho
M. quadríceps femoral
Desacelerar a
massa
(retardar a
dorsiflexão)
Flexores
plantares do
tornozelo
M. tríceps sural (sóleo e gastrocnêmio)
Estabilizar a
pelve
Abdutores do
quadril
Mm. glúteos médio e mínimo; tensor da
fáscia lata
FASE DE
APOIO
Preservar o
arco
longitudinal
do pé
Músculos
intrínsecos do
pé
M. flexor curto dos dedos
Tendões
longos do pé
M. tibial posterior; Mm. flexores longos dos
dedos
Apoio médio
Estabilizar o
joelho
Extensores do
joelho
M. quadríceps femoral
Controlar a
dorsiflexão
(preservar o
momento)
Flexores
plantares do
tornozelo
(contração
excêntrica)
M. tríceps sural (sóleo e gastrocnêmio)
Estabilizar a
pelve
Abdutores do
quadril
Mm. glúteos médio e mínimo, tensor da
fáscia lata
Preservar o
arco
longitudinal
do pé
Músculos
intrínsecos do
pé
M. flexor curto dos dedos
Tendões
longos do pé
M. tibial posterior; Mm. flexores longos dos
dedos
Apoio
terminal
(saída do
calcâneo)
Acelerar a
massa
Flexores
plantares do
tornozelo
(contração
concêntrica)
M. tríceps sural (sóleo e gastrocnêmio)
Estabilizar a
pelve
Abdutores do
quadril
Mm. lúteos médio e mínimo, tensor da
fáscia lata
Preservar os
arcos do pé;
fixar a parte
anterior do pé
Músculos
intrínsecos do
pé
M. adutor do hálux
Tendões
longos do pé
M. tibial posterior; Mm. flexores longos dos
dedos
Pré-balanço
(saída dos
dedos)
Acelerar a
massa
Flexores
longos dos
dedos
M. flexor longo do hálux; M. flexor longo dos
dedos
Preservar os
arcos do pé;
fixar a parte
anterior do pé
Músculos
intrínsecos do
pé
M. adutor do hálux
Tendões
longos do pé
M. tibial posterior; Mm. flexores longos dos
dedos
Desacelerar a
coxa; preparar
Flexor do
quadril
(contração
M. iliopsoas; M. reto femoral
para o balanço excêntrica)
FASE DE
BALANÇO
Balanço
inicial
Acelerar a
coxa; variar
a cadência
Flexor do
quadril
(contração
concêntrica)
M. iliopsoas; M. reto femoral
Elevar o pé Dorsiflexores
do tornozelo
M. tibial anterior
Balanço
médio
Elevar o pé Dorsiflexores
do tornozelo
M. tibial anterior
Balanço
terminal
Desacelerar a
coxa
Extensores do
quadril
(contração
excêntrica)
M. glúteo máximo; Mm. isquiotibiais
Desacelerar a
perna
Flexores do
joelho
(contração
excêntrica)
Mm. isquiotibiais
Posicionar o
pé
Dorsiflexores
do tornozelo
M. tibial anterior
Estender o
joelho para
posicionar o
pé
(controlar a
passada);
preparar
para contato
Extensores
do joelho
M. quadríceps femoral
COMPARTIMENTOS ANTERIOR E MEDIAL DA COXA
Organização da parte proximal do membro inferior
Durante a evolução, o desenvolvimento de uma região glútea proeminente está intimamente associado à presunção do
bipedalismo e da postura ereta. A região glútea proeminente é exclusiva dos seres humanos. A modificação do formato do
fêmur necessária para a marcha bípede e a corrida (especificamente o “encurvamento” do osso, que cria o ângulo de
inclinação e os trocanteres, ver anteriormente) permite o posicionamento superior dos músculos abdutores da coxa na região
glútea.
Os demais músculos da coxa são organizados em três compartimentos por septos intermusculares que seguem
profundamente entre os grupos musculares, da face interna da fáscia lata até a linha áspera do fêmur (Figura 5.13D). Os
compartimentos são anterior ou extensor, medial ou adutor, e posterior ou flexor, denominados de acordo com a localização
ou ação na articulação do joelho. Em geral, o grupo anterior é suprido pelo nervo femoral, o grupo medial pelo nervo
obturatório e o grupo posterior pela parte tibial do nervo isquiático. Embora os compartimentos variem em tamanho absoluto e
relativo dependendo do nível, o compartimento anterior é o maior, de modo geral, e inclui o fêmur.
Para facilitar a continuidade e seguir uma abordagem comum em aulas de dissecção, são abordados primeiro os
compartimentos anterior e medial da coxa, seguidos pelo exame da face posterior da parte proximal do membro: região glútea
e compartimento posterior da coxa. Em seguida, são apresentadas a fossa poplítea e a perna.
Músculos anteriores da coxa
O grande compartimento anterior da coxa contém os músculos anteriores da coxa, os flexores do quadril (Figura 5.21A
a D) e os extensores do joelho (Figura 5.21E a I). As fixações, a inervação e as principais ações desses músculos são
apresentadas no Quadros 5.3.I e 5.3.II. Os músculos anteriores da coxa são pectíneo, iliopsoas, sartório e quadríceps
femoral.
1
Figura 5.21 Músculos anteriores da coxa: flexores da articulação do quadril. Músculos anteriores da coxa: extensores
do joelho.
Quadro 5.3.I Músculos anteriores da coxa: flexores da articulação do quadril.
Músculo(s)
Fixação
proximal
a
Fixação
distal
Inervação
b Principal(is) ação(ões)
Pectíneo (Figura
5.21A e B)
Ramo superior
do púbis
Linha pectínea
do fêmur,
imediatamente
inferior ao
trocanter
menor
N. femoral
(L2, L3);
pode receber
um ramo do
N. obturatório
Aduz e flete a coxa; auxilia a rotação medial
da coxa
Iliopsoas
(Figura 5.21A
e C) Psoas
maior
Laterais das
vértebras T XII
a L V e discos
situados entre
elas; processos
transversos de
todas as
vértebras
lombares
Trocanter
menor do
fêmur
Ramos
anteriores dos
Nn. lombares
(L1, L2, L3)
Atuam conjuntamente na flexão da coxa na
articulação do quadril e na estabilização dessa
articulação
c
Psoas menor
Laterais das
vértebras T XII
a L I e discos
intervertebrais
Linha
pectínea,
eminência
iliopectínea
através do
arco
iliopectíneo
Ramos
anteriores dos
Nn. lombares
(L1, L2)
Ilíaco
Crista ilíaca,
fossa ilíaca, asa
do sacro e
ligamentos
sacroilíacos
anteriores
Tendão do M.
psoas maior,
trocanter
menor e parte
do fêmur
distal a ele
N. femoral
(L2, L3)
Sartório (Figura
5.21A e D)
Espinha ilíaca
anterossuperior
e parte
superior da
incisura inferior
a ela
Parte superior
da face medial
da tíbia
N. femoral
(L2, L3)
Flete, abduz e gira lateralmente a coxa na
articulação do quadril; flete a perna na
articulação do joelho, (fazendo a rotação
medial da perna quando o joelho está
fletido)
d
aApalavra latina insertio significa fixação. Os termos inserção e origem não foram usados aqui (nem em outras partes), já que mudam com
a função.
bÉ indicada a inervação segmentar da medula espinal (p. ex., “L1, L2, L3” significa que os nervos que suprem o M. psoas maior são
derivados dos três primeiros segmentos lombares da medula espinal). Os números em negrito (L1, L2) indicam a inervação segmentar
principal. A lesão de um ou mais dos segmentos da medula espinal relacionados ou das raízes nervosas motoras originadas deles resulta
em paralisia dos músculos associados.
cO M. psoas maior também é um músculo postural que ajuda a controlar o desvio do tronco e é ativo na posição de pé.
dAs quatro ações do M. sartório têm como resultado a posição sentada de pernas cruzadas usada antigamente pelos alfaiates, daí seu
nome.
Os principais músculos do compartimento anterior tendem a sofrer atrofia rapidamente com a doença e, muitas vezes, há
necessidade de fisioterapia para restabelecer a força, o tônus e a simetria com o membro oposto após imobilização da coxa ou
perna.
MÚSCULO PECTÍNEO
O M. pectíneo é quadrangular e plano, está localizado na parte anterior da face superomedial da coxa (Figura 5.21A e B;
Quadro 5.3.I). Com frequência, parece ser formado por duas camadas, superficial e profunda, em geral supridas por dois
nervos diferentes. Devido à inervação dupla e às ações (o músculo pectíneo aduz, flete e auxilia na rotação medial da coxa), é,
na verdade, um músculo de transição entre os compartimentos anterior e medial.
Quadro 5.3.II Músculos anteriores da coxa: extensores do joelho.
Músculo
Fixação
proximal
Fixação
distal
Inervação
a Principal ação
Quadríceps
femoral
(Figura 5.21E
a H)
Reto
femoral
Espinha ilíaca
anteroinferior e
ílio superior ao
acetábulo
Por fixações
tendíneas
comuns
(tendão do M.
quadríceps
femoral) e
independentes
à base da
patela;
indiretamente
pelo
ligamento da
patela à
tuberosidade
da tíbia; os
Mm. vastos
medial e
lateral
também se
fixam à tíbia e
à patela por
aponeuroses
(retináculos
medial e
lateral da
patela)
Nervo femoral
(L2, L3, L4)
Estende a perna na articulação do joelho; o
M. reto femoral também estabiliza a
articulação do quadril e ajuda o M. iliopsoas
a fletir a coxa
Vasto
lateral
Trocanter maior
e lábio lateral
da linha áspera
do fêmur
Vasto
medial
Linha
intertrocantérica
e lábio medial
da linha áspera
do fêmur
Vasto
intermédio
Faces anterior e
lateral do corpo
do fêmur
aÉ indicada a inervação segmentar da medula espinal (p. ex., “L1, L2, L3” significa que os nervos que suprem o M. quadríceps femoral são
derivados dos três primeiros segmentos lombares da medula espinal). Os números em negrito (L3, L4) indicam a inervação segmentar
principal. A lesão de um ou mais segmentos da medula espinal relacionados ou das raízes nervosas motoras originadas deles resulta em
paralisia dos músculos associados.
MÚSCULO ILIOPSOAS
O M. iliopsoas, o principal flexor da coxa, é o mais forte dos flexores do quadril, com a maior amplitude. Embora seja um
dos músculos mais fortes do corpo, fica relativamente oculto, estando a maior parte de sua massa localizada na parede
posterior do abdome e na pelve maior. A parte lateral larga, o músculo ilíaco, e sua parte medial longa, o músculo psoas
maior, originam-se da fossa ilíaca e das vértebras lombares, respectivamente (Figura 5.21C; Quadro 5.3.I). Sendo assim, é o
único músculo que está fixado à coluna vertebral, à pelve e ao fêmur. Está em uma posição especial, não só para produzir
movimento, mas também para estabilizar. Entretanto, também pode perpetuar e até mesmo contribuir para a deformidade e a
incapacidade em caso de malformação (sobretudo se estiver encurtado), disfunção ou doença.
A contração concêntrica do músculo iliopsoas costuma movimentar o membro livre, produzindo flexão no quadril para
elevar o membro e iniciar seu balanço para a frente durante a marcha (isto é, durante as fases de pré-balanço e de balanço
inicial), enquanto o membro oposto recebe o peso (Figura 5.20E e F) ou para elevar o membro durante a escalada. Mas
também é capaz de movimentar o tronco. A contração bilateral dos músculos iliopsoas inicia a flexão do tronco no quadril
sobre a coxa fixa – como ocorre ao se fazerem (incorretamente) exercícios abdominais – e aumenta a lordose lombar da
coluna vertebral. É ativo durante a caminhada em declive, quando sua contração excêntrica resiste à aceleração.
O M. iliopsoas também é um músculo postural, ativo durante a postura de pé, mantendo a lordose lombar normal (e
indiretamente a cifose torácica compensatória; ver Capítulo 4) e resistindo à hiperextensão da articulação do quadril (ver
Figura 5.19).
MÚSCULO SARTÓRIO
O M. sartório é longo e semelhante a uma fita. Segue em sentido lateral e medial através da parte anterossuperior da coxa
(Figura 5.21D; Quadro 5.3.I). O músculo sartório está em posição superficial no compartimento anterior, dentro de sua
própria bainha fascial relativamente distinta. Desce até a face medial do joelho.
O M. sartório, o músculo mais longo do corpo, atua em duas articulações. Flete a articulação do quadril e participa da
flexão do joelho. Também realiza abdução fraca e rotação lateral da coxa. As ações dos músculos sartórios colocam os
membros inferiores na posição sentada com as pernas cruzadas. Nenhuma das ações do M. sartório é forte; portanto, é
principalmente um sinergista, que atua com outros músculos da coxa que produzem esses movimentos.
MÚSCULO QUADRÍCEPS FEMORAL
O M. quadríceps femoral representa o principal volume dos músculos anteriores da coxa e, no todo, é o maior e um dos
mais fortes músculos do corpo. Cobre quase toda a face anterior e as laterais do fêmur (Figura 5.21E a I). O músculo
quadríceps femoral tem quatro partes: (1) M. reto femoral, (2) M. vasto lateral, (3) M. vasto intermédio e (4) M. vasto
medial. Como um todo, o M. quadríceps femoral é biarticular, capaz de produzir movimento no quadril e no joelho.
O M. quadríceps femoral é o grande extensor da perna. A contração concêntrica desse músculo para estender o joelho
contra a gravidade é importante para se levantar a partir da posição sentada ou agachada, escalar e subir escadas, e para o
movimento de aceleração e projeção (correr e saltar) quando se está levantando ou deslocando o peso do corpo. Desse modo,
pode ser três vezes mais forte do que os antagonistas, os músculos isquiotibiais.
Na marcha em superfície plana, o músculo quadríceps femoral torna-se ativo no fim da fase de balanço, preparando o
joelho para aceitar o peso (Figura 5.20G; Quadro 5.2). O músculo quadríceps femoral é responsável basicamente pela
absorção do choque do impacto do calcanhar, e sua atividade continua à medida que sustenta o peso no início da fase de
apoio (resposta à carga). Também atua na maior parte do tempo como fixador durante esportes que exigem flexão do joelho,
como esqui e tênis, e contrai-se excentricamente durante a marcha em declive e ao descer escadas.
Os tendões das quatro partes do músculo quadríceps femoral unem-se na parte distal da coxa para formar um tendão
único, forte e largo (Figura 5.21F). O ligamento da patela, fixado à tuberosidade da tíbia, é a continuação do tendão do
músculo quadríceps femoral no qual a patela está inserida. Assim, a patela é o maior osso sesamoide no corpo.
Os músculos vastos medial e lateral também têm fixação independente à patela e formam aponeuroses, os retináculos
medial e lateral da patela, que reforçam a cápsula articular do joelho de cada lado da patela no trajeto até a fixação na
margem anterior do platô tibial. Os retináculos também ajudam a manter a patela alinhada sobre a face articular patelar do
fêmur.
A patela tem uma superfície óssea capaz de resistir à compressão do tendão do M. quadríceps femoral quando a pessoa se
ajoelha e ao atrito que ocorre quando o joelho é fletido e estendido durante a corrida. A patela também proporciona alavanca
suplementar para o músculo quadríceps femoral mediante posicionamento anterior do tendão, mais distante do eixo articular,
causando sua aproximação da tíbia a partir de uma posição que propicia maior vantagem mecânica. O ápice da patela voltado
para baixo indica o nível do plano articular do joelho quando a perna é estendida e o ligamento da patela está tenso (Figura
5.22C).
O teste do quadríceps
2 é realizado com a pessoa em decúbito dorsal e flexão parcial do joelho. A pessoa estende o joelho
contra resistência. Durante o teste, a contração do músculo reto femoral deve ser observável e palpável se o músculo estiver
agindo normalmente, o que indica que seu suprimento nervoso está intacto.
Músculo reto femoral. O músculo reto femoral tem esse nome porque desce reto na coxa. Em vista de suas fixações
ao osso do quadril e à tíbia através do ligamento da patela (Figura 5.21E e F), cruza duas articulações; portanto, é capaz de
fletir a coxa na articulação do quadril e estender a perna na articulação do joelho. O músculo reto femoral é a única parte do
M. quadríceps femoral que cruza a articulação do quadril e, como flexor do quadril, atua com o músculo iliopsoas durante as
fases de pré-balanço e balanço inicial da marcha (Figura 5.20F; Quadro 5.2).
A capacidade do músculo reto femoral de estender o joelho é comprometida durante a flexão do quadril, mas contribui
para a força de extensão durante a fase de saída dos dedos, quando a coxa é estendida. É bastante eficiente em movimentos
•
•
•
que associam extensão do joelho e flexão do quadril a partir de uma posição de hiperextensão do quadril e flexão do joelho,
como na posição preparatória para chutar uma bola de futebol. O músculo reto femoral é suscetível à lesão e avulsão da
espinha ilíaca anteroinferior durante o chute. A perda de função do músculo reto femoral pode reduz em até 17% a força de
flexão da coxa.
Músculos vastos. Os nomes dos três grandes músculos vastos indicam sua posição em torno do corpo do fêmur
(Figura 5.21E–I; Quadro 5.3.II):
M. vasto lateral, o maior componente do músculo quadríceps femoral situa-se na face lateral da coxa
M. vasto medial cobre a face medial da coxa
M. vasto intermédio situa-se profundamente ao músculo reto femoral, entre o M. vasto medial e o M. vasto lateral.
É difícil isolar a função dos três músculos vastos.
Figura 5.22 Bolsa suprapatelar e músculo articular do joelho. Em A e B, a bolsa suprapatelar, normalmente um espaço
potencial que se estende entre o músculo quadríceps femoral e o fêmur (exagerada no esquema em C), é representada como se
tivesse sido administrada uma injeção de látex.
O pequeno e plano músculo articular do joelho, um derivado do M. vasto intermédio, geralmente tem número variável
de alças musculares que se fixam superiormente à parte inferior da face anterior do fêmur e inferiormente à membrana
sinovial da articulação do joelho e à parede da bolsa suprapatelar (Figuras 5.21E e 5.22). O músculo articular do joelho
traciona a membrana sinovial superiormente durante a extensão da perna, evitando, assim, que pregas da membrana sejam
comprimidas entre o fêmur e a patela na articulação do joelho.
Músculos mediais da coxa
Os músculos do compartimento medial da coxa formam o grupo adutor, que inclui o M. adutor longo, o M. adutor curto, o
M. adutor magno, o M. grácil e o M. obturador externo (Figura 5.23). Em geral, há fixação proximal na face anteroinferior
externa da pelve óssea (púbis, ramo isquiopúbico e túber isquiático) e na membrana obturadora adjacente, e distal à linha
áspera do fêmur (Figura 5.23A; Quadro 5.4).
Todos os músculos adutores, exceto os isquiotibiais do M. adutor magno e parte do M. pectíneo, são supridos pelo nervo
obturatório (L2–L4). Os músculos isquiotibiais são supridos pela parte tibial do nervo isquiático (L4). O Quadro 5.4 apresenta
os detalhes sobre a fixação, a inervação e as ações dos músculos.
MÚSCULO ADUTOR LONGO
O M. adutor longo é grande, em forma de leque, e é o mais anterior do grupo adutor. O músculo adutor longo triangular
origina-se por um tendão forte da face anterior do corpo do púbis imediatamente inferior ao tubérculo púbico (ápice do
triângulo) e expande-se para se fixar à linha áspera do fêmur (base do triângulo) (Figura 5.23A e B); ao fazê-lo, cobre as faces
anteriores do músculo adutor curto e a face média do M. adutor magno.
MÚSCULO ADUTOR CURTO
O M. adutor curto situa-se profundamente aos músculos pectíneo e adutor longo, onde se origina do corpo e do ramo
inferior do púbis. Alarga-se enquanto segue distalmente para se fixar à parte superior da linha áspera (Figura 5.23A, C e D).
Quando emerge do canal obturatório para entrar no compartimento medial da coxa, o nervo obturatório dá origem a uma
divisão anterior e outra posterior. As duas divisões seguem anterior e posteriormente ao músculo adutor curto. Essa relação
especial ajuda a identificar o músculo na dissecção e em cortes transversais anatômicos.
MÚSCULO ADUTOR MAGNO
O M. adutor magno é o maior, mais forte e posterior no grupo adutor. É um músculo triangular composto com uma margem
espessa e medial que tem uma parte adutora e uma parte isquiotibial. As duas partes diferem em suas fixações, inervação e
principais ações (Quadro 5.4).
A parte adutora abre-se em leque para fixação distal aponeurótica ao longo de toda a extensão da linha áspera do fêmur,
estendendo-se em sentido inferior até a crista supracondilar medial (Figura 5.23A, E e F). A parte isquiotibial tem uma fixação
distal tendínea no tubérculo adutor.
MÚSCULO GRÁCIL
O M. grácil é longo, em forma de correia, e o mais medial na coxa. É o músculo mais superficial do grupo adutor e o mais
fraco. É o único do grupo a cruzar as articulações do joelho e do quadril. O M. grácil une-se a dois outros músculos
biarticulares dos outros dois compartimentos (os músculos sartório e semitendíneo) (Figura 5.24). Assim, os três músculos
são supridos por três diferentes nervos. Eles têm uma inserção tendínea comum, a pata de ganso, na parte superior da face
medial da tíbia.
Figura 5.23 Músculos mediais da coxa: adutores da coxa.
Quadro 5.4 Músculos mediais da coxa: adutores da coxa.
Músculo
a Fixação
proximal
Fixação
distal
Inervação
b Principal ação
Adutor
longo (Figura
5.23E e G)
Corpo do
púbis inferior
à crista púbica
Terço médio
da linha
áspera do
fêmur
N.
obturatório,
ramo da
divisão
anterior (L2,
L3, L4)
Aduz a coxa
Adutor curto Corpo e ramo
Linha pectínea
e parte
(Figura 5.23F
e G)
inferior do
púbis
proximal da
linha áspera
do fêmur
Aduz a coxa; flete-a parcialmente
Adutor
magno
(Figura 5.23C,
D e G)
Parte adutora:
ramo inferior
do púbis,
ramo do
ísquio
Parte
associada aos
músculos
isquiotibiais:
túber
isquiático
Parte adutora:
tuberosidade
glútea, linha
áspera, linha
supracondilar
medial
Parte
associada aos
músculos
isquiotibiais:
tubérculo
adutor do
fêmur
Parte adutora:
N. obturatório
(L2, L3, L4),
ramos da
divisão
anterior
Parte
associada aos
músculos
isquiotibiais:
parte tibial do
N. isquiático
(L4)
Aduz a coxa
Parte adutora: flete a coxa
Parte associada aos músculos isquiotibiais:
estende a coxa
Grácil (Figura
5.23H)
Corpo e ramo
inferior do
púbis
Parte superior
da face medial
da tíbia
N. obturatório
(L2, L3)
Aduz a coxa; flete a perna; auxilia a rotação
medial da perna
Obturador
externo
Margens do
forame
obturado e
membrana
obturadora
Fossa
trocantérica
do fêmur
N. obturatório
(L3, L4)
Roda lateralmente a coxa; estabiliza a cabeça
do fêmur no acetábulo
aColetivamente, os cinco músculos relacionados são os adutores da coxa, mas suas ações são mais complexas (p. ex., agem como
flexores da articulação do quadril durante a flexão da articulação do joelho e são ativos durante a marcha).
bÉ indicada a inervação segmentar da medula espinal (p. ex., “L2, L3, L4” significa que os nervos que suprem o adutor longo são derivados
do segundo ao quarto segmentos lombares da medula espinal). Os números em negrito (L3) indicam a inervação segmentar principal. A
lesão de um ou mais dos segmentos da medula espinal relacionados ou das raízes nervosas motoras originadas deles resulta em paralisia
dos músculos associados.
Figura 5.24 Pata de ganso. A. Músculos constituintes. B. Formação da pata de ganso por tendões convergentes.
O M. grácil é sinergista na adução da coxa, flexão do joelho e rotação medial da perna quando o joelho está fletido. Atua
com os outros dois músculos da “pata de ganso” para aumentar a estabilidade da face medial do joelho estendido, muito
semelhante à ação dos músculos glúteo máximo e tensor da fáscia lata, através do trato iliotibial, na face lateral.
•
•
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MÚSCULO OBTURADOR EXTERNO
O M. obturador externo é plano, relativamente pequeno, em forma de leque, em posição profunda na parte superomedial da
coxa. Estende-se da face externa da membrana obturadora e osso adjacente da pelve até a face posterior do trocanter maior,
seguindo diretamente sob o acetábulo e colo do fêmur (Figura 5.23H).
AÇÕES DO GRUPO DE MÚSCULOS ADUTORES
A partir da posição anatômica, a principal ação do grupo de músculos adutores é tracionar a coxa medialmente, em direção ao
plano mediano, ou além dele. Três adutores (longo, curto e magno) são usados em todos os movimentos de adução das coxas
(p. ex., pressão ao cavalgar).
Também atuam na estabilização na postura de pé apoiada nos dois pés, na correção do balanço lateral do tronco ou
quando há desvio lateral da superfície sobre a qual a pessoa está de pé (um barco balançando ou uma prancha de equilíbrio).
Esses músculos também são usados para chutar com a face medial do pé no futebol e para nadar. Por fim, contribuem para a
flexão da coxa estendida e a extensão da coxa fletida durante corrida ou contra resistência.
Os adutores como grupo têm uma grande massa muscular. Embora sejam importantes em muitas atividades, foi
demonstrado que a redução de até 70% de sua função acarreta apenas comprometimento leve a moderado da função do
quadril (Markhede e Stener, 1981).
A avaliação dos músculos mediais da coxa é realizada com a pessoa em decúbito dorsal com o joelho reto. O indivíduo
aduz a coxa contra resistência e, se os adutores forem normais, é possível palpar com facilidade as extremidades proximais
dos músculos grácil e adutor longo.
HIATO DOS ADUTORES
O hiato dos adutores é uma abertura entre a fixação distal aponeurótica da parte adutora do músculo adutor magno e a
fixação distal tendínea da parte isquiotibial (Figura 5.23E). Dá passagem a artéria e veia femorais provenientes do canal dos
adutores na coxa até a fossa poplítea, posterior ao joelho. A abertura está localizada imediatamente lateral e superior ao
tubérculo do adutor do fêmur.
Estruturas neurovasculares e relações no compartimento anteromedial da
coxa
TRÍGONO FEMORAL
O trígono femoral, um espaço subfascial, é um ponto de referência triangular útil na dissecção e na compreensão das
relações na região inguinal (Figura 5.25A e B). Em pessoas vivas apresenta-se como uma depressão triangular inferior ao
ligamento inguinal quando se faz a flexão, abdução e rotação lateral da coxa (Figura 5.25A). O trígono femoral é limitado
(Figura 5.25B):
Superiormente, pelo ligamento inguinal (a margem inferior espessa da aponeurose do músculo oblíquo externo do
abdome) que forma a base do trígono femoral
Medialmente, pela margem lateral do músculo adutor longo
Lateralmente, pelo músculo sartório; o ápice do trígono femoral é o ponto onde a margem medial do M. sartório cruza a
margem lateral do M. adutor longo.
O assoalho do trígono femoral, muscular, é formado pelo músculo iliopsoas lateralmente e pelo músculo pectíneo
medialmente. O teto do trígono femoral é formado pela fáscia lata e fáscia cribriforme, tela subcutânea e pele.
Na verdade, o ligamento inguinal atua como retináculo dos flexores, contendo estruturas que passam anteriormente à
articulação do quadril contra a articulação durante a flexão da coxa. Profundamente ao ligamento inguinal, o espaço
retroinguinal (criado quando o ligamento inguinal atravessa o espaço entre as duas proeminências ósseas às quais se fixa, a
EIAS e o tubérculo púbico) é uma importante passagem que une o tronco/cavidade abdominopélvica ao membro inferior
(Figura 5.26A e B).
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Figura 5.25 Anatomia de superfície do trígono femoral. A. Anatomia de superfície. B. Estruturas subjacentes.
O espaço retroinguinal é dividido em dois compartimentos por um espessamento da fáscia iliopsoas, o arco iliopectíneo,
que passa entre a face profunda do ligamento inguinal e a eminência iliopúbica (ver Figura 5.6B). Lateralmente ao arco
iliopectíneo há o compartimento muscular do espaço retroinguinal, atravessado pelo músculo iliopsoas e nervo femoral no
trajeto entre a pelve maior e o compartimento anterior da coxa (Figura 5.26A e B). Medial ao arco, o compartimento
vascular do espaço retroinguinal dá passagem às principais estruturas vasculares (veias, artéria e vasos linfáticos) entre a
pelve maior e o trígono femoral do compartimento anterior da coxa. Ao entrarem no trígono femoral, os nomes dos vasos
mudam de ilíacos externos para femorais.
O conteúdo do trígono femoral, da região lateral para a medial, é (Figuras 5.26B e 5.27A e B):
Nervo femoral e seus ramos (terminais)
Bainha femoral e seu conteúdo:
Artéria femoral e vários de seus ramos
Veia femoral e suas tributárias proximais (p. ex., as veias safena magna e femoral profunda)
Linfonodos inguinais profundos e vasos linfáticos associados.
O trígono femoral é dividido ao meio pela artéria e pela veia femorais, que entram e saem do canal dos adutores
inferiormente no ápice do trígono (Figura 5.27A). O canal dos adutores é uma passagem intermuscular, situada
profundamente ao músculo sartório, pela qual o feixe neurovascular principal da coxa atravessa o terço médio da coxa
(Figuras 5.27B e 5.30).
NERVO FEMORAL
O nervo femoral (L2–L4) é o maior ramo do plexo lombar. O nervo origina-se no abdome dentro do músculo psoas maior e
desce em sentido posterolateral através da pelve até aproximadamente o ponto médio do ligamento inguinal (Figuras 5.26B e
5.27A). Depois, segue profundamente a esse ligamento e entra no trígono femoral, lateralmente aos vasos femorais.
Depois de entrar no trígono femoral, o nervo femoral divide-se em vários ramos para os músculos anteriores da coxa.
Também envia ramos articulares para as articulações do quadril e do joelho e provê vários ramos cutâneos para a face
anteromedial da coxa (Quadro 5.1).
O ramo cutâneo terminal do nervo femoral, o nervo safeno, desce através do trígono femoral, lateralmente à bainha
femoral contendo os vasos femorais (Figuras 5.26B e 5.27B; Quadro 5.1). O nervo safeno acompanha a artéria e a veia
femorais através do canal dos adutores e torna-se superficial, passando entre os músculos sartório e grácil quando os vasos
femorais atravessam o hiato dos adutores na extremidade distal do canal. Segue em sentido anteroinferior para suprir a pele e
a fáscia nas faces anteromediais do joelho, da perna e do pé.
BAINHA FEMORAL
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A bainha femoral é um tubo fascial afunilado de comprimento variável (geralmente 3 a 4 cm) que passa profundamente ao
ligamento inguinal e reveste o compartimento vascular do espaço retroinguinal (Figura 5.28). Termina inferiormente fundindose
à túnica adventícia dos vasos femorais. A bainha reveste as partes proximais dos vasos femorais e cria o canal femoral
medialmente a eles (Figuras 5.26B e 5.28B).
A bainha femoral é formada por um prolongamento inferior das fáscias transversal e iliopsoas do abdome. A bainha
femoral não reveste o nervo femoral porque este atravessa o compartimento muscular. Quando há uma bainha femoral longa
(maior extensão distal), sua parede medial é perfurada pela veia safena magna e pelos vasos linfáticos (Figura 5.28).
A bainha femoral permite que a artéria e a veia femorais deslizem profundamente ao ligamento inguinal durante
movimentos da articulação do quadril.
A bainha femoral que reveste o compartimento vascular é subdividida internamente em três compartimentos menores por
septos verticais de tecido conjuntivo extraperitoneal que se estendem do abdome ao longo dos vasos femorais (Figuras 5.26B
e 5.28B). Os compartimentos da bainha femoral são:
Compartimento lateral para a artéria femoral
Compartimento intermédio para a veia femoral
Compartimento medial, que é o canal femoral.
Figura 5.26 Espaço retroinguinal; estrutura e conteúdo da bainha femoral. A. Compartimentos do espaço retroinguinal e
estruturas que o atravessam para entrar no trígono femoral. B. Essa dissecção da extremidade superior da face anterior da coxa
direita mostra a continuação distal das estruturas seccionadas em A. Observe os compartimentos na bainha femoral. A
extremidade proximal (abertura abdominal) do canal femoral é o anel femoral.
O canal femoral é o menor dos três compartimentos da bainha femoral. É cônico, curto (aproximadamente 1,25 cm) e
situa-se entre a margem medial da bainha femoral e a veia femoral. O canal femoral:
Estende-se em sentido distal até o nível da margem proximal do hiato safeno
•
•
Permite que a veia femoral se expanda quando o retorno venoso do membro inferior aumenta, ou quando o aumento da
pressão intra-abdominal causa estase venosa temporária (como durante a manobra de Valsalva, isto é, inspiração seguida
por interrupção da respiração, frequentemente enquanto se faz força para baixo)
Figura 5.27 Estruturas do trígono femoral. A. Limites e conteúdo do trígono femoral. O trígono é limitado pelo ligamento
inguinal superiormente, o músculo adutor longo medialmente e o músculo sartório lateralmente. O nervo e os vasos femorais
entram na base do trígono superiormente e saem de seu ápice inferiormente. B. Nessa dissecção mais profunda, foram removidas
partes do músculo sartório e dos vasos e nervo femorais. Observe os músculos que formam o assoalho do trígono femoral: o
iliopsoas lateralmente e o pectíneo medialmente. Das estruturas neurovasculares no ápice do trígono femoral, os dois vasos
anteriores (artéria e veia femorais) e os dois nervos entram no canal dos adutores (anterior ao músculo adutor longo), e os dois
vasos posteriores (artéria e veia femorais profundas) seguem profundamente (posteriores) ao músculo adutor longo.
Figura 5.28 Dissecção da bainha femoral no trígono femoral. A. A fáscia lata inferior ao ligamento inguinal, inclusive a
margem falciforme do hiato safeno, é seccionada e rebatida inferiormente, de modo que se possa observar a continuação inferior
da fáscia ilíaca. O nervo femoral, observado através de uma janela na fáscia ilíaca, situa-se externamente e lateral à bainha
femoral, enquanto a artéria e a veia femorais ocupam a bainha, como é mostrado no local de incisão da bainha (B).
Contém tecido conjuntivo frouxo, gordura, alguns vasos linfáticos e, às vezes, um linfonodo inguinal profundo (linfonodo
lacunar).
A base do canal femoral é o anel femoral oval formado pela abertura proximal pequena (cerca de 1 cm de largura) em
sua extremidade abdominal. Essa abertura é fechada por tecido adiposo extraperitoneal que forma o septo femoral orientado
transversalmente (Figura 5.28A). A face abdominal do septo é coberta por peritônio parietal. O septo femoral é perfurado por
•
•
•
•
vasos linfáticos que conectam os linfonodos inguinais e ilíacos externos.
Os limites do anel femoral são (Figura 5.26B):
Lateralmente, o septo vertical entre o canal femoral e a veia femoral
Posteriormente, o ramo superior do púbis coberto pelo músculo pectíneo e sua fáscia
Medialmente, o ligamento lacunar
Anteriormente, a parte medial do ligamento inguinal.
ARTÉRIA FEMORAL
Os detalhes acerca da origem, do trajeto e da distribuição das artérias da coxa são ilustrados na Figura 5.29 e descritos no
Quadro 5.5.
A artéria femoral, a continuação da artéria ilíaca externa distal ao ligamento inguinal, é a principal artéria do membro
inferior (Figuras 5.26 a 5.29; Quadro 5.5). Entra no trígono femoral profundamente ao ponto médio do ligamento inguinal (a
meio caminho entre a EIAS e o tubérculo púbico), lateral à veia femoral (Figura 5.30A). As pulsações da artéria femoral são
palpáveis no trígono em razão de sua posição relativamente superficial, profunda (posterior) em relação à fáscia lata. A artéria
está situada sobre as margens adjacentes dos músculos iliopsoas e pectíneo, que formam o assoalho do trígono, e desce sobre
elas. A artéria epigástrica superficial, as artérias circunflexas ilíacas superficiais (e às vezes as profundas) e as artérias
pudendas externas superficiais e profundas originam-se na face anterior da parte proximal da artéria femoral.
A artéria femoral profunda é o maior ramo da artéria femoral e a principal artéria da coxa (Figura 5.29). Origina-se da
face lateral ou posterior da artéria femoral no trígono femoral. No terço médio da coxa, onde está separada da artéria e veia
femorais pelo músculo adutor longo (Figuras 5.27B e 5.30B), emite 3 a 4 artérias perfurantes que passam ao redor da face
posterior do fêmur (Figura 5.29; Quadro 5.5). As artérias perfurantes suprem músculos dos três compartimentos fasciais
(Mm. adutor magno, isquiotibiais e vasto lateral).
As artérias circunflexas femorais circundam a parte superior do corpo do fêmur e se anastomosam entre si e com outras
artérias, que suprem os músculos da coxa e a extremidade superior (proximal) do fêmur. A artéria circunflexa femoral
medial é muito importante, porque é responsável pela maior parte da vascularização para a cabeça e o colo do fêmur através
de seus ramos, as artérias retinaculares posteriores.* As artérias retinaculares costumam ser laceradas quando há fratura do
colo do fêmur ou luxação da articulação do quadril. A artéria circunflexa femoral lateral, menos capaz de suprir a cabeça e
o colo do fêmur quando passa lateralmente através da parte mais espessa da cápsula articular do quadril, supre principalmente
os músculos na face lateral da coxa.
Figura 5.29 Artérias anteriores e mediais da coxa.
Quadro 5.5 Artérias dos compartimentos anterior e medial da coxa.
Artéria Origem Trajeto Distribuição
Femoral
Continuação da A. ilíaca
externa distal ao ligamento
inguinal
Desce através do trígono
femoral, dividindo-o ao
meio; depois atravessa o
canal dos adutores;
termina quando atravessa
o hiato dos adutores, onde
passa a se chamar A.
poplítea
Ramos suprem as faces
anteriores e anteromedial
da coxa
Femoral profunda
A. femoral 1 a 5 cm
inferior ao ligamento
inguinal
Segue profundamente
entre os Mm. pectíneo e
adutor longo; descendo
posteriormente a este
último na face medial do
fêmur
Três a quatro artérias
perfurantes atravessam o
músculo adutor magno,
espiralando-se ao redor do
fêmur para suprir músculos
nas partes medial,
posterior e lateral dos
compartimentos anteriores
Circunflexa femoral
medial
A. femoral profunda; pode
originar-se da A. femoral
Segue medial e
posteriormente entre os
Mm. pectíneo e iliopsoas;
entra na região glútea e dá
origem às Aa. retinaculares
posteriores; depois termina
dividindo-se em ramos
transverso e ascendente
Supre a maior parte do
sangue para a cabeça e o
colo do fêmur; o ramo
transverso participa da
anastomose cruzada da
coxa; o ramo ascendente
une-se à A. glútea inferior
Circunflexa femoral
lateral
Segue em sentido lateral,
profundamente aos Mm.
sartório e reto femoral,
dividindo-se em ramos
ascendente, transverso e
descendente
O ramo ascendente supre a
parte anterior da região
glútea; o ramo transverso
espirala-se ao redor do
fêmur; o ramo
descendente une-se à rede
articular do joelho
Obturatória
A. ilíaca interna ou (em
aproximadamente 20%)
como uma A. obturatória
acessória ou substituta da
A. epigástrica inferior
Atravessa o forame
obturado; entra no
compartimento medial da
coxa e divide-se em ramos
anterior e posterior, que
seguem para os respectivos
lados do M. adutor curto
O ramo anterior supre os
Mm. obturador externo,
pectíneo, adutores da coxa
e grácil; o ramo posterior
supre os músculos fixados
ao túber isquiático
•
•
•
Figura 5.30 Canal dos adutores na parte medial do terço médio da coxa. A. Desenho de orientação mostra o canal dos
adutores e o nível do corte mostrado na parte B. B. Este corte transversal da coxa mostra os músculos que limitam o canal dos
adutores e o conteúdo neurovascular.
Artéria obturatória. A artéria obturatória ajuda a artéria femoral profunda a suprir os músculos adutores através dos
ramos anteriores e posteriores, que se anastomosam. O ramo posterior emite um ramo acetabular que supre a cabeça do
fêmur.
VEIA FEMORAL
A veia femoral é a continuação da veia poplítea proximal ao hiato dos adutores. Em sua ascensão através do canal dos
adutores, a veia femoral situa-se posterolateral e depois posteriormente à artéria femoral (Figuras 5.26B e 5.27A e B). A veia
femoral entra na bainha femoral lateralmente ao canal femoral e termina posteriormente ao ligamento inguinal, onde se torna a
veia ilíaca externa.
Na parte inferior do trígono femoral, a veia femoral recebe a veia femoral profunda, a veia safena magna e outras
tributárias. A veia femoral profunda, formada pela união de três ou quatro veias perfurantes, entra na veia femoral cerca de
8 cm abaixo do ligamento inguinal e cerca de 5 cm antes do término da veia safena magna.
CANAL DOS ADUTORES
O canal dos adutores (canal de Hunter) é uma passagem longa (cerca de 15 cm) e estreita no terço médio da coxa. Estendese
do ápice do trígono femoral, onde o músculo sartório cruza sobre o músculo adutor longo, até o hiato dos adutores no
tendão do músculo adutor magno (Figura 5.30A).
O canal dos adutores proporciona uma passagem intermuscular para a artéria e a veia femorais, o nervo safeno e o nervo
ligeiramente maior para o músculo vasto medial, levando os vasos femorais até a fossa poplítea, onde se tornam os vasos
poplíteos.
O canal dos adutores é limitado (Figura 5.30B):
Anterior e lateralmente pelo músculo vasto medial
Posteriormente pelos músculos adutores longo e magno
Medialmente pelo músculo sartório, situado sobre o sulco entre os músculos acima, formando o teto do canal.
No terço inferior até a metade do canal, uma fáscia subsartorial ou vastoadutora resistente estende-se entre os músculos
adutor longo e vasto medial, formando a parede anterior do canal situado profundamente ao músculo sartório. Como essa
fáscia tem margem superior distinta, pessoas inexperientes que dissecam essa área frequentemente supõem, ao ver os vasos
femorais passando profundamente à fáscia, que estão atravessando o hiato dos adutores. Entretanto, o hiato dos adutores está
localizado em um nível inferior, imediatamente proximal à crista supracondilar medial. Esse hiato é uma abertura entre as
fixações aponeuróticas e as fixações tendíneas isquiotibiais do músculo adutor magno (Figura 5.23E).
Anatomia de superfície dos compartimentos anterior e medial da coxa
Em indivíduos muito musculosos, podem-se observar alguns músculos volumosos do compartimento anterior da coxa. Os
músculos proeminentes são o quadríceps e o sartório, enquanto lateralmente o M. tensor da fáscia lata é palpável, assim
como o trato iliotibial ao qual esse músculo está fixado (Figura 5.31A).
Três das quatro partes do quadríceps são visíveis ou podem ser avaliadas de modo aproximado (Figura 5.31A e B). A
quarta parte (M. vasto intermédio) está situada profundamente e quase oculta pelos outros músculos e não pode ser palpada.
O M. reto femoral pode ser facilmente observado como uma crista que desce pela coxa quando o membro inferior é
elevado do solo na posição sentada. Observe as grandes saliências formadas pelos músculos vastos lateral e medial no joelho
(Figura 5.31B). O ligamento da patela é facilmente observado, sobretudo em pessoas magras, como uma faixa espessa que
vai da patela até a tuberosidade da tíbia. Também é possível palpar os corpos adiposos infrapatelares, as massas de tecido
adiposo frouxo situadas de cada lado do ligamento da patela.
Na face medial da parte inferior da coxa, os músculos grácil e sartório formam uma proeminência bem marcada, que é
separada por uma depressão da grande saliência formada pelo vasto medial (Figura 5.31A e B). Profundamente nessa área
deprimida, o grande tendão do M. adutor magno pode ser palpado enquanto segue até sua fixação no tubérculo adutor do
fêmur.
São feitas medidas do membro inferior para detectar encurtamento (p. ex., resultante de uma fratura do fêmur). Para fazer
essas medidas, compare o membro afetado com o membro correspondente. O encurtamento real do membro é detectado
•
•
•
comparando-se as medidas da EIAS à extremidade distal do maléolo medial de ambos os lados.
Para determinar se o encurtamento é na coxa, a medida é feita do topo da EIAS até a margem distal do côndilo lateral do
fêmur nos dois lados. Tenha em mente que pequenas diferenças entre os dois lados – como uma diferença de 1,25 cm no
comprimento total do membro – podem ser normais.
Os dois terços proximais de uma linha traçada do ponto médio do ligamento inguinal até o tubérculo do adutor quando a
coxa está fletida, abduzida e rodada lateralmente representam o trajeto da artéria femoral (Figura 5.30A). O terço proximal da
linha representa essa artéria quando atravessa o trígono femoral, enquanto o terço médio representa a artéria quando está no
canal dos adutores. Aproximadamente 3,75 cm ao longo dessa linha, distal ao ligamento inguinal, a artéria femoral profunda
origina-se da artéria femoral.
A veia femoral situa-se (Figuras 5.26B e 5.27A):
Medialmente à artéria femoral, na base do trígono femoral (indicada pelo ligamento inguinal)
Posteriormente à artéria femoral, no ápice do trígono femoral
Posterolateralmente à artéria no canal dos adutores.
O trígono femoral, na face anterossuperior da coxa, não é uma característica de superfície proeminente na maioria das
pessoas. Quando algumas pessoas sentam-se com as pernas cruzadas, os músculos sartório e adutor longo tornam-se
proeminentes, delimitando o trígono femoral. A anatomia de superfície do trígono femoral é clinicamente importante em razão
de seu conteúdo (Figura 5.26B).
Figura 5.31 Anatomia de superfície anterior e medial da coxa.
A artéria femoral pode ser palpada pulsando imediatamente inferior para o ponto medioinguinal. Ao se palpar o pulso
femoral, a veia femoral está logo medial, o nervo femoral está situado quatro dedos lateral, e a cabeça do fêmur está logo
posterior. A artéria femoral segue um trajeto superficial de 5 cm através do trígono femoral antes de ser coberta pelo músculo
sartório no canal dos adutores.
A veia safena magna entra na coxa posteriormente ao côndilo medial do fêmur e segue superiormente ao longo de uma
linha que vai do tubérculo do adutor até o hiato safeno. O ponto central dessa abertura, onde a veia safena magna entra na
veia femoral, está localizado 3,75 cm inferiormente e 3,75 cm lateralmente ao tubérculo púbico (Figura 5.27A).
COMPARTIMENTOS ANTERIOR E MEDIAL DA COXA
Contusões do quadril e da coxa
Os locutores esportivos e treinadores costumam se referir à “contusão do quadril”, que é uma contusão da crista ilíaca
que geralmente ocorre em sua parte anterior (p. ex., no local de fixação do músculo sartório na EIAS). Essa é uma
das lesões mais comuns da região do quadril, e geralmente está associada a esportes de contato, como as várias
formas de futebol, hóquei no gelo e voleibol.
As contusões causam hemorragia por ruptura dos capilares e infiltração de sangue nos músculos, tendões e outros tecidos
moles. O termo contusão do quadril também pode se referir à avulsão de fixações musculares ósseas, por exemplo, dos
músculos sartório ou reto femoral às espinhas ilíacas anterossuperior e anteroinferior, respectivamente, ou dos músculos
isquiotibiais do ísquio. Entretanto, essas lesões devem ser chamadas fraturas por avulsão.
Outro termo usado com frequência é “cãibra muscular”, que pode se referir à cãibra de um músculo individual da coxa
causada por isquemia ou contusão e ruptura de vasos sanguíneos suficientes para formar um hematoma. A lesão geralmente
é consequência da ruptura de fibras do músculo reto femoral; às vezes também há ruptura parcial do tendão do M.
quadríceps femoral. O local mais comum de um hematoma da coxa é o músculo quadríceps femoral. A cãibra muscular está
associada a dor localizada e/ou rigidez muscular e muitas vezes sucede o traumatismo direto (p. ex., um golpe de bastão de
hóquei ou ao ser derrubado no futebol americano).
Abscesso do músculo psoas
O músculo psoas maior origina-se no abdome a partir dos discos intervertebrais, partes laterais das vértebras T XII a
L V e seus processos transversos (ver Figura B2.35, no Capítulotulo 2). O ligamento arqueado medial do diafragma
curva-se obliquamente sobre a parte proximal do músculo psoas maior. A fáscia transversal na parede abdominal
interna é contínua com a fáscia do músculo psoas, onde forma um revestimento fascial para o músculo psoas maior que
acompanha o músculo até a região anterior da coxa.
A tuberculose (TB) está ressurgindo na África, Ásia e outros lugares. Uma infecção piogênica (formadora de pus)
retroperitoneal no abdome ou pelve maior, que caracteristicamente ocorre associada à TB da coluna vertebral, ou
secundariamente à enterite regional do íleo (doença de Crohn), pode resultar na formação de um abscesso do músculo
psoas. Quando o abscesso segue entre o músculo psoas e sua fáscia até as regiões inguinal e proximal da coxa, pode haver
dor intensa referida no quadril, na coxa ou no joelho. O abscesso do músculo psoas sempre deve ser cogitado quando há
edema na parte proximal da coxa. Esse abscesso pode ser palpado ou observado na região inguinal, imediatamente inferior
ou superior ao ligamento inguinal, e pode ser confundido com uma hérnia inguinal indireta ou uma hérnia femoral,
linfadenopatia inguinal, ou uma variz safena. A margem lateral do músculo psoas costuma ser visível em radiografias do
abdome; o desaparecimento dessa margem é um sinal de doença abdominal.
Paralisia do músculo quadríceps femoral
Uma pessoa com paralisia do músculo quadríceps femoral não consegue estender a perna contra resistência e
geralmente pressiona a extremidade distal da coxa durante a marcha para evitar flexão inadvertida do joelho.
A fraqueza dos músculos vastos medial ou lateral, resultante de artrite ou traumatismo da articulação do joelho,
pode resultar em movimento anormal da patela e perda da estabilidade articular.
Condromalacia patelar
A condromalacia patelar (joelho de corredor) é um problema comum em maratonistas. Essa sobrecarga do joelho
também pode ocorrer em esportes que incluem corrida como o basquete. A sensibilidade e a dor ao redor da patela,
ou sob ela, resultam do desequilíbrio do músculo quadríceps femoral. A condromalacia patelar também pode ser
causada por um golpe na patela ou flexão extrema do joelho (p. ex., durante o agachamento ao levantar peso).
Fraturas da patela
Um golpe direto na patela pode fraturá-la em dois ou mais fragmentos (Figura B5.12). As fraturas transversas da
patela podem resultar de um golpe no joelho ou contração súbita do músculo quadríceps femoral (p. ex., quando
uma pessoa escorrega e tenta evitar uma queda de costas). O fragmento proximal é tracionado para cima com o
tendão do quadríceps femoral, e o fragmento distal permanece com o ligamento da patela.
Figura B5.12
Ossificação anormal da patela
Ao nascimento, a patela é cartilaginosa. A ossificação ocorre durante os 3
o a 6
o anos, frequentemente a partir de
mais de um centro de ossificação. Embora geralmente haja coalescência desses centros e formação de um único
osso, eles podem permanecer separados de um ou ambos os lados, dando origem a uma patela bipartida ou
tripartida (Figura B5.13). Um observador incauto poderia interpretar essa situação em uma radiografia ou TC como uma
fratura da patela. As anormalidades da ossificação são quase sempre bilaterais; portanto, as imagens diagnósticas devem ser
examinadas de ambos os lados. Se forem bilaterais, os defeitos provavelmente são anormalidades da ossificação.
Figura B5.13
Reflexo patelar
A percussão do ligamento da patela com um martelo de reflexo (Figura B5.14) normalmente produz o reflexo patelar.
Esse reflexo miotático (tendíneo profundo) é avaliado rotineiramente durante o exame físico, colocando-se a pessoa
sentada com as pernas pendentes. Um golpe firme sobre o ligamento, com um martelo de reflexo, geralmente causa
extensão da perna. Se o reflexo for normal, a mão sobre o M. quadríceps femoral da pessoa deve sentir a contração do
músculo. Esse reflexo tendíneo avalia a integridade do nervo femoral e dos segmentos espinais L2–L4.
A percussão do ligamento ativa fusos musculares no quadríceps. Os impulsos aferentes dos fusos seguem no nervo
femoral até os segmentos L2–L4 da medula espinal. A partir daí, os impulsos eferentes são transmitidos através de fibras
motoras no nervo femoral até o músculo quadríceps femoral, resultando em contração muscular espasmódica e extensão da
perna na articulação do joelho.
A diminuição ou ausência do reflexo patelar pode resultar de qualquer lesão que interrompa a inervação do músculo
quadríceps femoral (p. ex., doença do nervo periférico).
Figura B5.14
Transplante do músculo grácil
Como o músculo grácil é um membro relativamente fraco do grupo de músculos adutores, pode ser removido sem perda
notável de suas ações sobre a perna. Os cirurgiões costumam transplantar o M. grácil, ou parte dele, com seu nervo
e seus vasos sanguíneos para substituir um músculo lesado na mão, por exemplo. Depois do transplante do músculo,
logo há boa flexão e extensão dos dedos.
Libertado de sua fixação distal, o músculo também pode ser transferido e reposicionado para substituir um músculo
esfíncter externo do ânus não funcional.
Distensão da virilha
Locutores esportivos referem-se à “distensão da virilha” ou “lesão da virilha”. Esses termos significam que houve
distensão, estiramento e provavelmente alguma ruptura das fixações proximais dos músculos anteromediais da coxa.
A lesão geralmente acomete os músculos flexores e adutores da coxa. As fixações proximais desses músculos estão
na região inguinal (virilha), a junção da coxa com o tronco.
A distensão da virilha geralmente ocorre em esportes que exigem partidas rápidas (p. ex., corrida de curta distância,
roubo de base no beisebol) ou alongamento extremo (p. ex., ginástica).
Lesão do músculo adutor longo
As distensões do músculo adutor longo acometem cavaleiros e causam dor. Às vezes há ossificação nos tendões
desses músculos porque os cavaleiros aduzem ativamente as coxas para não caírem dos animais. Em algumas
ocasiões, os tendões ossificados são erroneamente denominados “ossos dos cavaleiros”.
Palpação, compressão e canulação da artéria femoral
A parte inicial da artéria femoral, proximal à ramificação da artéria femoral profunda, encontra-se superficial,
tornando-a bastante acessível e útil para vários procedimentos clínicos. Alguns cirurgiões vasculares referem-se a
essa parte da artéria femoral como a artéria femoral comum e à sua continuação distal como a artéria femoral
superficial. Essa terminologia não é recomendada pelo Federative International Committee on Anatomical Terminology
(Comissão Federativa Internacional da Terminologia Anatômica), porque é uma artéria profunda. O termo não é usado neste
livro porque pode dar margem a mal-entendidos.
Com a pessoa em decúbito dorsal, o pulso femoral é palpado a meio caminho entre a EIAS e a sínfise púbica (Figura
B5.15A e B). Colocando-se a ponta do dedo mínimo (da mão direita ao examinar o lado direito) sobre a EIAS e a ponta do
polegar sobre o tubérculo púbico, o pulso femoral pode ser palpado com a região média da palma logo inferior ao ponto
médio do ligamento inguinal mediante compressão firme. Normalmente, o pulso é forte; entretanto, a oclusão parcial das
artérias ilíacas comum ou externa causa diminuição do pulso.
A compressão da artéria femoral também pode ser feita nesse local mediante compressão direta em sentido posterior
contra o ramo superior do púbis, músculo psoas maior e cabeça do fêmur (Figura B5.15C). A compressão nesse ponto
reduzirá o fluxo sanguíneo pela artéria femoral e por seus ramos, como a artéria femoral profunda.
A artéria femoral pode ser canulada imediatamente inferior ao ponto médio do ligamento inguinal. Na angiografia cardíaca
esquerda, um cateter longo e delgado é inserido na artéria, passando pela artéria ilíaca externa, artéria ilíaca comum e aorta
até o ventrículo esquerdo do coração. A mesma técnica é usada para visualizar as artérias coronárias na arteriografia
coronariana.
Figura B5.15
Também se pode colher sangue da artéria femoral para gasometria arterial (a determinação das concentrações de oxigênio
e dióxido de carbono e das pressões com o pH do sangue).
Laceração da artéria femoral
A posição superficial da artéria femoral no trígono femoral também a torna vulnerável à lesão traumática, sobretudo
à laceração (ver Figura 5.26B). Muitas vezes, há laceração da artéria e da veia femorais em feridas anteriores da coxa
porque estão próximas. Em alguns casos, há um shunt arteriovenoso em virtude da comunicação entre os vasos
lesados.
Quando é necessário ligar a artéria femoral, a anastomose de ramos da artéria femoral com outras artérias que cruzam a
articulação do quadril pode suprir o membro inferior. A anastomose cruzada é um encontro comum tetradirecional das
artérias circunflexas femorais medial e lateral com a artéria glútea inferior superiormente e a primeira artéria perfurante
inferiormente posterior ao fêmur (Figura 5.29; Quadro 5.5); é menos comum do que indica sua frequente menção.
Erro de nomenclatura que pode ser fatal
Equipes clínicas, alguns laboratórios vasculares e mesmo alguns livros-texto e de consulta usam o termo “veia
femoral superficial” ao se referirem à veia femoral antes de se unir às veias acompanhantes da artéria femoral
profunda (veias femorais profundas). Alguns médicos do atendimento primário podem não ter aprendido e/ou
podem não perceber que a denominada veia femoral superficial é, na verdade, uma veia profunda e que a trombose aguda
desse vaso pode ser fatal. O adjetivo superficial não deve ser usado. A maioria dos êmbolos pulmonares origina-se em veias
profundas, não em veias superficiais. O risco de embolia pode ser muito reduzido por tratamento anticoagulante. O uso de
linguagem imprecisa cria a possibilidade de que uma trombose aguda desse vaso realmente profundo seja negligenciada
como uma questão clínica aguda, provocando risco à vida.
Variz safena
Uma dilatação localizada da parte terminal da veia safena magna, denominada variz safena, pode causar edema no
trígono femoral. Uma variz da veia safena pode ser confundida com outras tumefações como abscesso do músculo
psoas; mas deve-se considerar a variz quando há veias varicosas em outras partes do membro inferior.
Localização da veia femoral
A veia femoral geralmente não é palpável, mas pode-se identificar sua posição inferior ao ligamento inguinal
palpando-se as pulsações da artéria femoral, que está situada imediatamente lateral à veia. Em pessoas magras, a
veia femoral está próxima à superfície e ser confundida com a veia safena magna. Portanto, é importante saber que a
veia femoral não tem tributárias nesse nível, exceto a veia safena magna, que se une a ela aproximadamente 3 cm
inferiormente ao ligamento inguinal. Nas cirurgias de varizes, evidentemente é importante a identificação correta da veia
safena magna para não ligar a veia femoral por engano.
Canulação da veia femoral
Para colher amostras de sangue e fazer registros da pressão das câmaras do lado direito do coração e/ou da artéria
pulmonar e para realizar angiografia cardíaca direita, um cateter longo e fino é introduzido na veia femoral em sua
passagem através do trígono femoral. Sob controle fluoroscópico, o cateter é avançado para cima pelas veias ilíacas
externa e comum até a veia cava inferior e o átrio direito do coração. A punção da veia femoral também pode ser usada para
a administração de líquido.
Hérnias femorais
O anel femoral é uma área fraca na parede anterior do abdome que normalmente tem tamanho suficiente para
permitir a passagem do dedo mínimo (Figura B5.16). O anel femoral é o local de origem habitual de uma hérnia
femoral, uma protrusão das vísceras abdominais (frequentemente uma alça de intestino delgado) através do anel
femoral para o canal femoral. A hérnia femoral apresenta-se como massa, amiúde dolorosa, no trígono femoral, inferolateral
ao tubérculo púbico.
Figura B5.16
A hérnia é limitada pela veia femoral lateralmente e pelo ligamento lacunar medialmente. O saco herniário comprime o
conteúdo do canal femoral (tecido conjuntivo frouxo, gordura e vasos linfáticos) e distende a parede do canal. Inicialmente, a
hérnia é pequena porque está contida no canal, mas pode aumentar seguindo para baixo através do hiato safeno até a tela
subcutânea da coxa.
As hérnias femorais são mais comuns em mulheres por causa de suas pelves mais largas. Pode haver estrangulamento de
uma hérnia femoral devido aos limites rígidos e bem definidos do anel femoral, sobretudo a margem côncava do ligamento
lacunar. O estrangulamento de uma hérnia femoral interfere com a vascularização do intestino herniado. Esse
comprometimento vascular pode resultar em necrose.
Artéria obturatória substituta ou acessória
Um ramo púbico aumentado da artéria epigástrica inferior assume o lugar da artéria obturatória (artéria
obturatória substituta) ou une-se a ela como uma artéria obturatória acessória em cerca de 20% das
pessoas (Figura B5.17). Essa artéria segue próximo do anel femoral, ou através dele, para chegar ao forame
obturado e pode estar muito próxima ao colo de uma hérnia femoral. Consequentemente, poderia ser comprometida por
uma hérnia femoral estrangulada. Os cirurgiões que colocam grampos durante o reparo endoscópico de hérnias inguinais e
femorais também precisam estar atentos à possível existência dessa variante arterial comum.
Figura B5.17
Pontos-chave
COMPARTIMENTOS ANTERIOR E MEDIAL DA COXA
Compartimento anterior: O grande compartimento anterior da coxa inclui os músculos flexores do quadril e extensores
do joelho, sendo a maioria dos músculos supridos pelo nervo femoral. ♦ O músculo quadríceps femoral representa a maior
parte da massa desse compartimento. Ele circunda três lados do fêmur e tem um tendão comum de fixação na tíbia, que
inclui a patela como osso sesamoide. ♦ Os grandes músculos desse compartimento sofrem rápida atrofia em caso de doença
ou desuso, exigindo fisioterapia para preservar ou restaurar a função.
Compartimento medial: O local de fixação proximal dos músculos do compartimento medial da coxa é a pelve óssea
anteroinferior e o local de fixação distal é a linha áspera do fêmur. ♦ Esses músculos são adutores da coxa, inervados
principalmente pelo nervo obturatório. O uso desses músculos como agonistas é relativamente limitado. ♦ O feixe
neurovascular primário da coxa, como o do braço, está posicionado na face medial do membro para ser protegido.
Estruturas neurovasculares e relações na região anteromedial da coxa: No terço superior da coxa, o feixe
neurovascular é mais superficial quando entra profundamente ao ligamento inguinal. Essa posição relativamente superficial é
importante para procedimentos clínicos. ♦ Embora sejam praticamente adjacentes, o nervo femoral atravessa as lacunas
musculares do espaço subinguinal, enquanto os vasos femorais atravessam as lacunas vasculares na bainha femoral. ♦ Os
vasos femorais dividem o trígono femoral ao meio, onde os vasos principais da coxa, a artéria e veia femorais profundas,
começam e terminam, respectivamente. ♦ O nervo femoral propriamente dito termina dentro do trígono femoral. Entretanto,
dois de seus ramos, um ramo motor (nervo para o músculo vasto medial) e um ramo sensitivo (nervo safeno), fazem parte
do feixe neurovascular que atravessa o canal dos adutores no terço médio da coxa. ♦ Em seguida, as estruturas vasculares
atravessam o hiato dos adutores, passando a se chamar poplíteas e localizadas na região distal da coxa/posterior do joelho.
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