Como os nervos espinais, os nervos cranianos são feixes de fibras sensitivas ou motoras que inervam músculos ou glândulas,
conduzem impulsos de receptores sensitivos ou têm uma associação de fibras motoras e sensitivas. São denominados nervos
cranianos porque emergem através de forames ou fissuras no crânio e são cobertos por bainhas tubulares derivadas das
meninges cranianas. Existem 12 pares de nervos cranianos, que são numerados de I a XII, no sentido rostral – caudal (
Figuras 9.1 a 9.3). Seus nomes refletem sua distribuição geral ou função.
Os nervos cranianos conduzem um ou mais dos cinco principais componentes funcionais citados a seguir (Figura 9.3,
Quadro 9.1).
Fibras motoras (eferentes)
Fibras motoras para o músculo voluntário (estriado). Estas incluem os axônios motores somáticos (eferentes
somáticos gerais). De acordo com a derivação embriológica/filogenética de determinados músculos da cabeça e do
pescoço,
1 algumas fibras motoras conduzidas por nervos cranianos para o músculo estriado foram tradicionalmente
classificadas como “viscerais especiais”. Quando apropriado, essas fibras são designadas motoras somáticas
(branquiais), referindo-se ao tecido muscular derivado dos arcos faríngeos no embrião (p. ex., músculos da mastigação)
Fibras motoras que participam da inervação de músculos involuntários (lisos) ou glândulas. Estas incluem axônios
motores viscerais (eferentes viscerais gerais) que constituem o efluxo craniano da parte parassimpática da divisão
autônoma do sistema nervoso (DASN). As fibras pré-sinápticas (pré-ganglionares) que emergem do encéfalo fazem
sinapse fora do sistema nervoso central (SNC) em um gânglio parassimpático. As fibras pós-sinápticas (pósganglionares)
continuam para inervar músculos lisos e glândulas (p. ex., o músculo esfíncter da pupila e a glândula
lacrimal)
Fibras sensitivas (aferentes)
Fibras que conduzem a sensibilidade geral (p. ex., tato, pressão, calor, frio etc.) da pele e túnicas mucosas. Estas
incluem fibras sensitivas gerais (aferentes somáticas gerais), conduzidas principalmente pelo NC V, mas também pelo
NC VII, NC IX e NC X
Fibras que conduzem a sensibilidade das vísceras. Estas incluem fibras sensitivas viscerais (aferentes viscerais gerais)
que conduzem informações do glomo e do seio caróticos (ver Figura 8.17), da faringe, da laringe, da traqueia, dos
brônquios, dos pulmões, do coração e do sistema digestório
Fibras que conduzem sensações peculiares. Estas incluem fibras sensitivas especiais que conduzem o paladar e o
olfato (fibras aferentes viscerais especiais) e aquelas que servem aos sentidos especiais da visão, audição e equilíbrio
(fibras aferentes somáticas especiais).
Os nervos cranianos somáticos são apenas sensitivos, outros são considerados “exclusivamente” motores, e vários são
mistos. NC III, NC IV, NC VI, NC XI, NC XII e raiz motora do NC V são considerados nervos motores puros que parecem
ter se desenvolvido a partir das raízes anteriores primordiais. No entanto, esses nervos também contêm um pequeno número
de fibras sensitivas para propriocepção (percepção não visual de movimento e posição), cujos corpos celulares provavelmente
estão localizados no núcleo mesencefálico do NC V. A raiz sensitiva do NC V é exclusivamente um nervo sensitivo somático
(geral). Quatro nervos cranianos (NC III, NC VII, NC IX e NC X) contêm axônios parassimpáticos pré-ganglionares (motores
viscerais) quando emergem do tronco encefálico. NC V, NC VII, NC IX e NC X são nervos mistos com componentes
motores somáticos (branquiais) e sensitivos somáticos (gerais) e cada nervo supre derivados de um arco faríngeo diferente.
As fibras dos nervos cranianos unem-se centralmente aos núcleos dos nervos cranianos — grupos de neurônios nos
quais terminam as fibras sensitivas ou aferentes e dos quais se originam as fibras motoras ou eferentes (Figura 9.5). Com
exceção do NC I e NC II, que incluem extensões do prosencéfalo, os núcleos dos nervos cranianos estão localizados no
tronco encefálico. Os núcleos de componentes funcionais semelhantes (p. ex., motores somáticos ou viscerais, ou sensitivos
somáticos ou viscerais) geralmente são alinhados em colunas funcionais no tronco encefálico.
NERVO OLFATÓRIO (NC I)
Função: Sensitivo especial (aferente visceral especial) — isto é, o sentido especial do olfato. “Olfato é a percepção de odores
que resulta da detecção de substâncias odoríferas aerossolizadas no ambiente” (Simpson, 2006).
Os corpos celulares dos neurônios receptores olfatórios estão localizados no órgão olfatório (a parte olfatória da túnica
mucosa do nariz ou área olfatória), que está localizado no teto da cavidade nasal e ao longo do septo nasal e parede medial da
concha nasal superior (Figura 9.6). Os neurônios receptores olfatórios são receptores e condutores. As faces apicais dos
neurônios têm cílios olfatórios finos, banhados por uma película de muco aquoso secretado pelas glândulas olfatórias do
epitélio. Os cílios olfatórios são estimulados por moléculas de um gás odorífero dissolvido no líquido.
Figura 9.1 Resumo dos nervos cranianos.
As faces basais dos neurônios receptores olfatórios bipolares da cavidade nasal de um lado dão origem a prolongamentos
centrais reunidos em aproximadamente 20 filamentos do nervo olfatório, constituindo o nervo olfatório direito ou
esquerdo (NC I). Eles atravessam diminutos forames na lâmina cribriforme do etmoide, circundados por bainhas de duramáter
e aracnoide-máter, e entram no bulbo olfatório na fossa anterior do crânio (Figuras 9.2 e 9.3). O bulbo olfatório está
em contato com a face inferior ou orbital do lobo frontal do hemisfério cerebral. As fibras do nervo olfatório fazem sinapse
com células mitrais no bulbo olfatório. Os axônios desses neurônios secundários formam o trato olfatório. Os bulbos e
tratos olfatórios são extensões anteriores do prosencéfalo.
Figura 9.2 Nervos cranianos com relação à face interna da base do crânio. O tentório do cerebelo foi removido e os seios
venosos da dura-máter foram abertos do lado direito. O teto dural da cavidade trigeminal foi removido do lado esquerdo, e NCV1
,
NC III e NC IV foram dissecados da parede lateral do seio cavernoso.
Cada trato olfatório divide-se em estrias olfatórias lateral e medial (faixas de fibras distintas). A estria olfatória lateral
termina no córtex piriforme da parte anterior do lobo temporal e a estria olfatória medial projeta-se através da comissura
anterior até as estruturas olfatórias contralaterais. Os nervos olfatórios são os únicos nervos cranianos que penetram
diretamente no cérebro.
Pontos-chave
NERVO OLFATÓRIO
♦ Os nervos olfatórios (NC I) têm fibras sensitivas relacionadas com o sentido especial do olfato. ♦ Os neurônios receptores
olfatórios estão no epitélio olfatório (túnica mucosa olfatória) no teto da cavidade nasal. ♦ Os prolongamentos centrais dos
neurônios receptores olfatórios ascendem através dos forames na lâmina cribriforme do etmoide para chegar aos bulbos
olfatórios na fossa anterior do crânio. Esses nervos fazem sinapse em neurônios nos bulbos, e os prolongamentos desses
neurônios acompanham os tratos olfatórios até as áreas primárias e associadas do córtex cerebral.
Figura 9.3 Origens superficiais dos nervos cranianos do encéfalo e da medula espinal(exceto o NC IV, que se origina
da face posterior do mesencéfalo).
aA tradicional “raiz craniana do nervo acessório” é considerada aqui como parte do nervo
vago.
bO nervo acessório citado aqui refere-se apenas à tradicional “raiz espinal do nervo acessório”.
Quadro 9.1 Nervos cranianos: conexão com o sistema nervoso central, funções gerais e distribuição.
Nervo craniano Parte do sistema nervoso
central onde o(s) nervo(s)
entra(m) ou de onde emerge(m)
Tipos funcionais
gerais de fibras
1
Distribuição
geral
Número Nome
I Olfatório
Prosencéfalo
Hemisférios
cerebrais
(telencéfalo) Sensitivo especial
Túnica mucosa
olfatória do
nariz
II Óptico Diencéfalo Retina do olho
III Oculomotor Mesencéfalo
Motor
2
Músculos
intrínsecos e
quatro
músculos
extrínsecos do
bulbo do olho
IV Troclear Mesencéfalo
Um músculo
extrínseco do
bulbo do olho
(oblíquo
superior)
V Trigêmeo
Ponte
(metencéfalo)
Misto
Raiz
motora
Derivados do
processo
frontonasal e
1
o arco
faríngeo
Raiz
sensitiva Um músculo
extrínseco do
Tronco
encefálico
bulbo do olho
VI Abducente Motor
2
VII Facial
Junção da ponte e
do bulbo
Misto
Raiz
motora Derivados do
2
o arco
N faríngeo .
intermédio
VIII Vestibulococlear Sensitivo especial
5 Orelha interna
IX Glossofaríngeo
Bulbo
(mielencéfalo) Misto
Derivados do
3
o arco
faríngeo
X Vago
Derivados do
4
o arco
faríngeo
XI Acessório Parte superior da medula espinal Motor
3
Camada
superficial do
pescoço
XII Hipoglosso
Tronco
encefálico
Bulbo
(mielencéfalo)
Motor
4 Músculos da
língua
1Observe que as cores nesta coluna são iguais às dos nervos na Figura 9.3.
2Há controvérsias quanto à existência e à função das fibras aferentes proprioceptivas para os músculos extrínsecos do bulbo do olho.
3O nervo craniano XI é puramente motor quando sai do SNC, mas recebe fibras proprioceptivas e para dor do plexo cervical na região
cervical lateral.
4O nervo craniano XII é puramente motor quando sai do SNC; não são conhecidas vias para propriocepção associadas à língua e essas
vias podem envolver os nervos lingual e glossofaríngeo e os nervos cervicais espinais que se comunicam com NC XII.
5A parte coclear do NC VIII, tradicionalmente conisderada “apenas sensitiva”, na verdade contém algumas fibras eferentes que parecem
modular a sensibilidade sensitiva.
Quadro 9.2 Resumo dos nervos cranianos.
Nervo Componentes
Localização
dos corpos
dos
neurônios
Saída do crânio Principal(is) ação(ões)
Olfatório (NC I) Sensitivo especial
Epitélio
olfatório
(células
olfatórias)
Forames na lâmina
cribriforme do
etmoide
Olfato da túnica mucosa
nasal do teto de cada
cavidade nasal e das partes
laterais superiores do septo
nasal e da concha superior
Óptico (NC II) Sensitivo especial
Retina (células
ganglionares)
Canal óptico
Visão a partir de imagem na
retina
Motor somático Mesencéfalo
Motor para os Mm. reto
superior, reto inferior, reto
medial, oblíquo inferior e
levantador da pálpebra
superior; eleva a pálpebra
Oculomotor (NC III)
Fissura orbital
superior
superior; gira o bulbo do
olho superior, inferior e
medialmente
Motor visceral
Présináptico:
mesencéfalo
Póssináptico:
gânglio ciliar
Inervação parassimpática
para os Mm. esfíncter da
pupila e músculo ciliar que
contraem a pupila e
acomoda a lente do olho
Troclear (NC IV) Motor somático Mesencéfalo
Motor para o M. oblíquo
superior que ajuda a girar o
olho inferolateralmente (ou
inferiormente quando
aduzido)
Trigêmeo (NC V)
Oftálmico (NC V1)
Sensitivo somático
(geral)
Gânglio
trigeminal
Fissura orbital
superior
Sensibilidade da córnea,
pele da fronte, couro
cabeludo, pálpebras, nariz e
túnica mucosa da cavidade
nasal e dos seios paranasais
Maxilar (NC V2) Forame redondo
Sensibilidade da pele da
face sobre a maxila,
inclusive o lábio superior,
dentes maxilares, túnica
mucosa do nariz, seios
maxilares e palato
Mandibular (NC V) Forame oval
Sensibilidade da pele da
face sobre a mandíbula,
incluindo lábio inferior,
dentes mandibulares,
articulação
temporomandibular, túnica
mucosa da boca e dois
terços anteriores da língua
Motor somático
(branquial)
Ponte
Motor para os músculos da
mastigação, milo-hióideo,
ventre anterior do M.
digástrico, M. tensor do véu
palatino e M. tensor do
tímpano
Abducente (NC VI) Motor somático Ponte
Fissura orbital
superior
Motor para o M. reto lateral
que vira o olho lateralmente
Facial (NC VII)
Motor somático
(branquial)
Ponte
Meato acústico
interno; canal facial;
forame
Motor para os músculos da
expressão facial e couro
cabeludo; também supre o
M. estapédio da orelha
média, M. estilo-hióideo e
ventre posterior do M.
digástrico
Sensitivo especial
Gânglio
geniculado
Paladar nos dois terços
anteriores da língua e palato
estilomastóideo
Motor visceral
Pré-ganglionar:
ponte Pósganglionar:
gânglio
pterigopalatino;
gânglio
submandibular
Inervação parassimpática
das glândulas salivares
submandibular e sublingual,
glândula lacrimal e
glândulas do nariz e palato
Vestibulococlear(NC
VIII)
Sensitivo especial
Gânglio
vestibular
Meato acústico
interno
Sensibilidade vestibular dos
ductos semicirculares,
utrículo e sáculo relacionada
com a posição e os
movimentos da cabeça
Vestibular
Gânglio espiral
da cóclea
Audição a partir do órgão
espiral
Coclear
Glossofaríngeo (NC
IX)
Motor somático
(branquial)
Bulbo
Forame jugular
Motor para o M.
estilofaríngeo que ajude na
deglutição
Motor visceral
Pré-ganglionar:
bulbo
Pós-ganglionar:
gânglio ótico
Inervação parassimpática da
glândula parótida
Sensitivo visceral
Gânglio
superior
Sensibilidade visceral da
glândula parótida, dos
glomo e seio caróticos, da
faringe e da orelha média
Sensitivo especial
Gânglio inferior
Paladar no terço posterior
da língua
Sensitivo somático
(geral)
Sensibilidade cutânea da
orelha externa
Motor somático
(branquial)
Bulbo
Motor para os músculos da
faringe (exceto
estilofaríngeo), músculos
intrínsecos da laringe,
músculos do palato (exceto
M. tensor do véu palatino) e
músculo estriado nos dois
terços superiores do
esôfago
Motor visceral
Pré-ganglionar:
bulbo
Pós-ganglionar:
neurônios no
interior das
vísceras, sobre
Inervação parassimpática do
músculo liso e das
glândulas da traqueia, dos
brônquios, do sistema
digestório e nodos do
Vago (NC X)
as vísceras ou
próximo delas
sistema de condução do
coração
Sensitivo visceral
Gânglio
superior
Sensibilidade visceral da
base da língua, faringe,
laringe, traqueia, brônquios,
coração, esôfago, estômago
e intestino até a flexura
esquerda do colo
Sensitivo especial Gânglio inferior
Paladar na epiglote e no
palato
Sensitivo somático
(geral)
Gânglio
superior
Sensibilidade da orelha,
meato acústico externo e
dura-máter da fossa
posterior do crânio
Acessório (NC XI) Motor somático Medula espinal
Motor para os Mm.
esternocleidomastóideo e
trapézio
Hipoglosso (NC XII) Motor somático Bulbo
Canal do N.
hipoglosso
Motor para os músculos
intrínsecos e extrínsecos da
língua (exceto o M.
palatoglosso)
Figura 9.4 Resumo dos gânglios parassimpáticos cranianos.
Quadro 9.3 Gânglios parassimpáticos cranianos: localização, raízes parassimpáticas e simpáticas, distribuição
principal.
Gânglio Localização
Raiz
parassimpática
Raiz simpática Distribuição principal
Ciliar
Entre o N. óptico e o
M. reto lateral,
Ramo inferior do
N. oculomotor
Ramos do plexo
carótico interno no
Fibras pós-ganglionares
parassimpáticas do gânglio
ciliar seguem até os Mm.
ciliar e esfíncter da pupila
na íris; fibras pós-
próximo do ápice da
órbita
(NC III) seio cavernoso ganglionares simpáticas do
gânglio cervical superior
seguem até o M. dilatador
da pupila e os vasos
sanguíneos do olho
Pterigopalatino
Na fossa
pterigopalatina, onde
está suspenso por
ramos ganglionares
do N. maxilar (raízes
sensitivas do gânglio
pterigopalatino);
imediatamente
anterior à abertura
do canal pterigóideo
e inferior ao NC V2
N. petroso maior
do N. facial (NC
VII) via N. do
canal pterigóideo
N. petroso profundo,
um ramo do plexo
carótico interno que é
uma continuação das
fibras pósganglionares
do
tronco simpático
cervical; as fibras do
gânglio cervical
superior atravessam
o gânglio
pterigopalatino e
entram em ramos do
NC V2
Fibras pós-ganglionares
parassimpáticas
(secretomotoras) do
gânglio pterigopalatino
inervam a glândula lacrimal
via ramo zigomático do NC
V2; fibras pós-ganglionares
simpáticas do gânglio
cervical superior
acompanham ramos do N.
pterigopalatino que são
distribuídos para vasos
sanguíneos da cavidade
nasal, palato e partes
superiores da faringe
Ótico
Entre o M. tensor do
véu palatino e o N.
mandibular (NC V3);
situa-se inferiormente
ao forame oval do
esfenoide
N. timpânico do
N.
glossofaríngeo
(NC IX);
continua a partir
do plexo
timpânico como
o N. petroso
menor
Fibras do gânglio
cervical superior
provêm do plexo
sobre a A. meníngea
média
Fibras pós-ganglionares
parassimpáticas do gânglio
ótico são distribuídas para a
glândula parótida via N.
auriculotemporal (ramo do
NC V3); fibras pósganglionares
simpáticas do
gânglio cervical superior
seguem até a glândula
parótida e inervam seus
vasos sanguíneos
Submandibular
Suspenso do N.
lingual por dois
ramos ganglionares
(raízes sensitivas);
situa-se na superfície
do M. hioglosso,
inferiormente ao
ducto submandibular
Fibras
parassimpáticas
unem-se ao N.
facial (NC VII) e
deixam-no em
seu ramo corda
do tímpano, que
se une ao N.
lingual
Fibras simpáticas do
gânglio cervical
superior através do
plexo sobre a A.
facial e o nervo corda
do tímpano
Fibras pós-ganglionares
parassimpáticas
(secretomotoras) do
gânglio submandibular são
distribuídas para as
glândulas sublinguais e
submandibulares; fibras
simpáticas do gânglio
cervical superior suprem as
glândulas sublinguais e
submandibulares
Figura 9.5 Núcleos dos nervos cranianos.
NERVO ÓPTICO (NC II)
Função: Sensitivo especial (aferente somático especial) — isto é, o sentido especial da visão.
Embora sejam, por convenção, considerados oficialmente nervos, os nervos ópticos (NC II) desenvolvem-se de maneira
completamente diferente dos outros nervos cranianos. As estruturas associadas à recepção e à transmissão de estímulos
ópticos (as fibras ópticas e retina neural, juntamente com o epitélio pigmentado do bulbo do olho) desenvolvem-se como
evaginações do diencéfalo. Os nervos ópticos são extensões anteriores pares do prosencéfalo (diencéfalo) e, portanto, são, na
verdade, tratos de fibras do SNC formados por axônios de células ganglionares retinianas (Moore et al., 2012). Em outras
palavras, são neurônios de terceira ordem, cujos corpos celulares estão localizados na retina (Figura 9.7B).
Os nervos ópticos são circundados por extensões das meninges cranianas e pelo espaço subaracnóideo, que é preenchido
por líquido cerebrospinal (LCS). As meninges estendem-se por todo o trajeto até o bulbo do olho. A artéria e a veia centrais
da retina atravessam as camadas meníngeas e seguem na parte anterior do nervo óptico. O NC II começa onde os axônios
amielínicos das células ganglionares da retina perfuram a esclera (a parte opaca da túnica fibrosa externa do bulbo do olho) e
tornam-se mielínicos, profundamente ao disco óptico.
O nervo segue posteromedialmente na órbita, saindo através do canal óptico para entrar na fossa média do crânio, onde
forma o quiasma óptico (Figura 9.7A). Aqui, as fibras da metade nasal (medial) de cada retina decussam no quiasma e se
unem a fibras não cruzadas da metade temporal (lateral) da retina para formar o trato óptico.
O cruzamento parcial das fibras do nervo óptico no quiasma é um requisito para a visão binocular, permitindo percepção
da profundidade do campo (visão tridimensional). Assim, as fibras das metades direitas de ambas as retinas formam o trato
óptico esquerdo. A decussação das fibras nervosas no quiasma permite que o trato óptico direito conduza impulsos do campo
visual esquerdo e vice-versa. O campo visual é o que vê uma pessoa que esteja com os dois olhos abertos e olhando para a
frente. A maioria das fibras dos tratos ópticos termina nos corpos geniculados laterais do tálamo. A partir desses núcleos, os
axônios são retransmitidos para os córtices visuais dos lobos occipitais do encéfalo.
Figura 9.6 Sistema olfatório. A. Este corte sagital através da cavidade nasal mostra a relação entre a túnica mucosa olfatória e
o bulbo olfatório. B. Os corpos dos neurônios receptores olfatórios estão no epitélio olfatório. Esses feixes de axônios são
coletivamente denominados nervo olfatório (NC I).
Pontos-chave
NERVO ÓPTICO
♦ Os nervos ópticos (NC II) têm fibras sensitivas responsáveis pelo sentido especial da visão. ♦ As fibras do nervo óptico
originam-se de células ganglionares na retina. ♦ As fibras nervosas saem da órbita através dos canais ópticos; as fibras da
metade nasal da retina cruzam para o outro lado no quiasma óptico.
♦ Depois, as fibras seguem através dos tratos ópticos até os corpos geniculados do tálamo, onde fazem sinapse em neurônios
cujos processos formam as radiações ópticas para o córtex visual primário do lobo occipital.
NERVO OCULOMOTOR (NC III)
Funções: Motor somático (eferente somático geral) e motor visceral (parassimpático-eferente visceral geral).
Núcleos: Há dois núcleos oculomotores, cada um servindo a um dos componentes funcionais do nervo. O núcleo motor
somático do nervo oculomotor está situado no mesencéfalo (Figura 9.5). O núcleo motor visceral (parassimpático)
acessório (Edinger-Westphal) do nervo oculomotor situa-se dorsal aos dois terços rostrais do núcleo motor somático
(Haines, 2006).
Figura 9.7 Sistema visual. A. Origem, trajeto e distribuição da via visual. Os axônios dos neurônios ganglionares retinianos
conduzem informações visuais para o corpo geniculado lateral do diencéfalo (tálamo) através do nervo óptico (NC II) e trato óptico.
As fibras do corpo geniculado lateral projetam-se para os córtices visuais dos lobos occipitais. Os axônios das células
ganglionares das metades nasais das retinas cruzam-se no quiasma óptico; os axônios das metades temporais não se cruzam. B.
A via visual começa com as células fotorreceptoras (bastonetes e cones) na retina. As respostas dos fotorreceptores são
transmitidas por células bipolares (neurônios que têm dois processos) para as células ganglionares na camada de células
ganglionares da retina. Os prolongamentos centrais desse neurônio de terceira ordem são as fibras conduzidas pelos nervos
ópticos.
•
•
Figura 9.8 Distribuição dos nervos oculomotor (NC III), troclear (NC IV) e abducente (NC VI). NC IV supre o músculo
oblíquo superior, NC VI supre o músculo reto lateral e NC III supre os cinco músculos estriados extrínsecos do bulbo do olho
(músculos levantador da pálpebra superior, reto superior, reto medial, reto inferior e oblíquo inferior) e dois músculos intrínsecos do
bulbo do olho (músculos ciliar e esfíncter da pupila – não mostrados: ver Capítulo 7).
O nervo oculomotor (NC III) tem as seguintes funções (Figura 9.8):
Motor para o músculo estriado de quatro dos seis músculos extrínsecos do bulbo do olho (retos superior, medial e
inferior e oblíquo inferior) e pálpebra superior; daí o nome do nervo
Parassimpático através do gânglio ciliar para o músculo liso do esfíncter da pupila, responsável pela constrição da pupila, e
o músculo ciliar, responsável pela acomodação (permitindo que a lente torne-se mais arredondada) para a visão de perto.
NC III é o principal nervo motor para os músculos intrínsecos e extrínsecos do bulbo do olho. Emerge do mesencéfalo,
perfura a dura-máter lateralmente ao diafragma da sela que serve como teto sobre a hipófise, depois atravessa o teto e a
parede lateralmente do seio cavernoso. NC III deixa a cavidade craniana e entra na órbita através da fissura orbital superior.
Nessa fissura, NC III se segmenta em uma divisão superior (que supre os músculos reto superior e levantador da pálpebra
superior) e uma divisão inferior (que supre os músculos retos inferior e medial e oblíquo inferior). A divisão inferior também
conduz fibras parassimpáticas pré-ganglionares (eferentes viscerais) para o gânglio ciliar, onde fazem sinapse (Figura 9.4;
Quadro 9.3). As fibras pós-ganglionares desse gânglio seguem até o bulbo do olho nos nervos ciliares curtos para inervar o
corpo ciliar e o músculo esfíncter da pupila (ver Capítulo 7).
Pontos-chave
NERVO OCULOMOTOR
♦ Os nervos oculomotores (NC III) enviam fibras motoras somáticas para todos os músculos extrínsecos do bulbo do olho,
exceto o oblíquo superior e o reto lateral. ♦ Esses nervos também enviam fibras parassimpáticas pré-ganglionares para o
gânglio ciliar para inervação do corpo ciliar e do músculo esfíncter da pupila. ♦ Esses nervos originam-se do tronco
encefálico, emergindo medialmente aos pedúnculos cerebrais, e seguem na parede lateral do seio cavernoso. ♦ Esses nervos
entram na órbita através das fissuras orbitais superiores e dividem-se em ramos superior e inferior.
NERVO TROCLEAR (NC IV)
Funções: Motor somático (eferente somático geral) para um músculo extrínseco do bulbo do olho (oblíquo superior).
Núcleo: O núcleo do nervo troclear está situado no mesencéfalo, imediatamente caudal ao núcleo do nervo oculomotor
(Figura 9.5).
O nervo troclear (NC IV) é o menor nervo craniano. Emerge da face posterior (dorsal) do mesencéfalo (é o único nervo
craniano a fazer isso), seguindo anteriormente ao redor do tronco encefálico. Tem o trajeto intracraniano (subaracnóideo)
mais longo dos nervos cranianos. O nervo troclear perfura a dura-máter na margem do tentório do cerebelo e segue
anteriormente na parede lateral do seio cavernoso (Figura 9.8). O NC IV atravessa a fissura orbital superior e entra na órbita,
onde supre o músculo oblíquo superior — o único músculo extrínseco do bulbo do olho que usa uma roldana, ou tróclea, para
redirecionar sua linha de ação (daí o nome do nervo).
Pontos-chave
NERVO TROCLEAR
♦ Os nervos trocleares (NC IV) enviam fibras motoras somáticas para os músculos oblíquos superiores, que abduzem,
deprimem e giram medialmente a pupila. ♦ Os nervos trocleares emergem da face posterior do tronco encefálico.
♦ Os nervos seguem um trajeto intracraniano longo, seguindo ao redor do tronco encefálico para atravessar a dura-máter na
margem livre do tentório do cerebelo, perto do processo clinoide posterior. ♦ Em seguida, os nervos passam na parede lateral
do seio cavernoso, entrando na órbita através das fissuras orbitais superiores.
NERVO TRIGÊMEO (NC V)
Funções: Sensitivo somático (geral) e motor somático (branquial) para derivados do 1
o arco faríngeo.
Núcleos: Existem quatro núcleos trigeminais (Figura 9.5) — um motor (núcleo motor do nervo trigêmeo) e três
sensitivos (núcleos mesencefálico, sensitivo principal e espinal do nervo trigêmeo).
O nervo trigêmeo (NC V) é o maior nervo craniano (se for excluído o nervo óptico atípico). Emerge da face lateral da
ponte por uma grande raiz sensitiva e uma pequena raiz motora (Figura 9.3). As raízes do NC V são comparáveis às raízes
posteriores e anteriores dos nervos espinais. NC V é o principal nervo sensitivo somático (geral) para a cabeça (face, dentes,
boca, cavidade nasal e dura-máter da cavidade craniana). A grande raiz sensitiva do NC V é formada principalmente pelos
prolongamentos centrais dos neurônios pseudounipolares que formam o gânglio trigeminal (Figura 9.9). O gânglio é
achatado, tem formato de crescente (daí seu nome não oficial, gânglio semilunar) e é abrigado em um recesso de dura-máter
(cavidade trigeminal) lateral ao seio cavernoso.
Os prolongamentos periféricos dos neurônios ganglionares formam três nervos ou divisões: o nervo oftálmico (NC V1
), o
nervo maxilar (NC V2
) e o componente sensitivo do nervo mandibular (NC V3
). Os mapas das zonas de inervação cutânea
pelas três divisões assemelham-se aos mapas de dermátomos da inervação cutânea por nervos espinais (Figura 9.9A). Ao
contrário dos dermátomos, porém, há pequena superposição na inervação pelas divisões; as lesões de um único nervo
resultam em áreas de parestesia bem demarcadas.
As fibras da raiz motora do NC V seguem inferiormente ao gânglio trigeminal ao longo do assoalho da cavidade
trigeminal, desviando-se do gânglio (assim como as raízes anteriores dos nervos espinais desviam-se dos gânglios sensitivos
espinais). São distribuídas exclusivamente pelo nervo mandibular (NC V3
), fundindo-se com as fibras sensitivas à medida que
o nervo atravessa o forame oval no crânio. Os ramos seguem até os músculos da mastigação, milo-hióideo, ventre anterior do
músculo digástrico, tensor do véu palatino e tensor do tímpano, que são derivados do 1
o arco faríngeo.
Embora NC V não conduza fibras parassimpáticas pré-gan-glionares do SNC, todos os quatro gânglios parassimpáticos
estão associados a divisões do NC V. As fibras parassimpáticas pós-ganglionares dos gânglios unem-se aos ramos do NC V e
são conduzidas até seus destinos juntamente com as fibras sensitivas e motoras do NC V (Figura 9.9; Quadro 9.3).
Nervo oftálmico (NC V1)
Ao contrário das outras duas divisões do NC V, NC V1 não é um nervo branquial (isto é, não supre derivados de arco
faríngeo). Inerva estruturas derivadas do mesoderma paraxial do processo frontonasal embrionário. A associação do nervo
oftálmico às outras divisões do NC V é secundária. As fibras sensitivas somáticas (gerais) do NC V1 são distribuídas para a
pele, túnicas mucosa e conjuntiva da parte anterior da cabeça e nariz (Figura 9.9).
Teste do NC V1
: A integridade dessa divisão é testada avaliando-se o reflexo corneano — o ato de tocar a córnea, que
também é suprida pelo NC V1
, com um chumaço de algodão provoca um reflexo de piscar se o nervo estiver funcionando
(Quadro 9.4).
Nervo maxilar (NC V2)
NC V2
inerva derivados da proeminência maxilar do 1
o arco faríngeo. Saindo da cavidade craniana através do forame
redondo, suas fibras sensitivas somáticas (gerais) costumam ser distribuídas para a pele e as túnicas mucosas associadas à
maxila. O gânglio pterigopalatino (parassimpático) está associado a essa divisão do NC V, que participa da inervação das
glândulas lacrimais, nasais e palatinas.
Nervo mandibular (NC V3)
NC V3
inerva derivados da proeminência mandibular do 1
o arco faríngeo. NC V3 é a única divisão do NC V a conduzir fibras
motoras somáticas (branquiais), distribuídas para o músculo estriado derivado do mesoderma da proeminência mandibular,
basicamente os músculos da mastigação. Dois gânglios parassimpáticos, o ótico e o submandibular, estão associados a essa
divisão do NC V; ambos estão relacionados com a inervação das glândulas salivares.
Os Quadros 9.1 e 9.2 apresentam um resumo geral do NC V. O Quadro 9.4 resume os ramos das três divisões.
Figura 9.9 Distribuição do nervo trigêmeo (NC V). A. As zonas cutâneas (sensitivas) são inervadas pelas três divisões do
nervo trigêmeo. B. Cada divisão do nervo craniano supre a pele e as túnicas mucosas e envia um ramo para a dura-máter das
fossas anterior e média do crânio. Cada divisão está associada a um ou dois gânglios parassimpáticos e conduz as fibras
parassimpáticas pós-ganglionares daquele gânglio: NC V1
, para o gânglio ciliar; NC V2
, para o gânglio pterigopalatino; e NC V3
,
para os gânglios submandibular e ótico. C. Esta vista em livro aberto mostra a inervação da parede lateral e do septo da cavidade
nasal e palato. NC V1 supre as partes anterossuperiores da cavidade, e NC V2
, as partes posteroinferiores e o palato.
Quadro 9.4 Resumo das divisões do nervo trigêmeo (NC V).
Divisões/Distribuições Ramos
Nervo oftálmico (NC V1)
Somente sensitivo
Atravessa a fissura orbital superior em direção da órbita
N. tentorial (um ramo meníngeo)
N. lacrimal
Ramo comunicante do N. zigomático
N. frontal
N. supraorbital
N. supratroclear
Supre a córnea, túnica conjuntiva superior, túnica mucosa da
cavidade nasal anterossuperior, seios esfenoidal e etmoidal,
dura-máter anterior e supratentorial, pele do dorso do nariz,
pálpebra superior, fronte e couro cabeludo
N. nasociliar
Raiz sensitiva do gânglio ciliar
Nn. ciliares curtos
Nn. ciliares longos
Nn. etmoidais anterior e posterior
Nn. infratrocleares
Nervo maxilar (NC V2)
Somente sensitivo
Atravessa o forame redondo para a fossa pterigopalatina
Supre a dura-máter da parte anterior da fossa média do
crânio; túnica conjuntiva da pálpebra inferior; túnica
mucosa da cavidade nasal posteroinferior, seio maxilar,
palato e parte anterossuperior do vestíbulo da boca; dentes
maxilares; e pele da região lateral do nariz, pálpebra
inferior, parte anterior da bochecha e lábio superior
Ramo meníngeo
N. zigomático
Ramo zigomaticofacial
Ramo zigomaticotemporal
Ramo comunicante para o N. lacrimal
Ramos ganglionares para (raiz sensitiva do) gânglio
pterigopalatino
Ramos alveolares superiores posteriores
N. infraorbital
Ramos alveolares superiores anteriores e médios
Ramos labiais superiores
Ramos palpebrais inferiores
Ramos nasais externos
Nn. palatinos maiores
Nn. nasais laterais posteroinferiores
Nn. palatinos menores
Ramos nasais laterais posterossuperiores
N. nasopalatino
N. faríngeo
Nervo mandibular (NC V3)
Sensitivo e motor
Atravessa o forame oval para a fossa infratemporal
Responsável pela inervação sensitiva da túnica mucosa dos
dois terços anteriores da língua, assoalho da boca, e parte
inferior posterior e anterior do vestíbulo da boca; dentes
mandibulares; e pele do lábio inferior, das regiões bucal,
parotídea e temporal da face; e orelha externa (orelha,
meato acústico externo superior e membrana timpânica)
Inervação motora para 4 músculos da mastigação: M. milohióideo,
ventre anterior do M. digástrico, M. tensor do véu
palatino e M. tensor do tímpano
Ramos sensitivos somáticos (gerais)
Ramo meníngeo
N. bucal
N. auriculotemporal
N. lingual
N. alveolar inferior
Plexo dental inferior
N. mentual
Ramos somáticos (branquiomotores)
N. massetérico
Nn. temporais profundos
Nn. pterigóideos medial e lateral
N. milo-hióideo (ventre anterior do M. digástrico)
N. para o M. tensor do véu palatino
N. para o M. tensor do tímpano
Pontos-chave
NERVO TRIGÊMEO
♦ O nervo trigêmeo (NC V) conduz fibras motoras para os músculos da mastigação, milo-hióideo, ventre anterior do músculo
digástrico, tensor do tímpano e tensor do véu palatino.
♦ Também distribui fibras parassimpáticas pós-ganglionares da cabeça até seus destinos. ♦ NC V é sensitivo para a duramáter
das fossas anterior e média do crânio, pele da face, dentes, gengiva, túnica mucosa da cavidade nasal, seios paranasais
e boca. ♦ NC V origina-se na superfície lateral da ponte por duas raízes: motora e sensitiva. ♦ Essas raízes cruzam a parte
medial da crista da parte petrosa do temporal e entram na cavidade trigeminal da dura-máter lateralmente ao corpo do
esfenoide e ao seio cavernoso. ♦ A raiz sensitiva leva ao gânglio trigeminal; a raiz motora segue paralelamente à raiz
sensitiva, depois passa ao largo do gânglio e torna-se parte do nervo mandibular (NC V3).
NERVO ABDUCENTE (NC VI)
Funções: Motor somático (eferente somático geral) para um músculo extrínseco do bulbo do olho, o reto lateral.
Núcleo: O núcleo abducente está situado na ponte, perto do plano mediano (Figura 9.5).
O nervo abducente (NC VI) emerge do tronco encefálico entre a ponte e o bulbo e atravessa a cisterna pontocerebelar do
espaço subaracnóideo, cavalgando a artéria basilar (Figuras 9.3 e 9.8). A seguir, cada nervo abducente perfura a dura-máter e
segue o trajeto intradural mais longo de todos os nervos cranianos dentro da cavidade craniana — isto é, seu ponto de
entrada na dura-máter que reveste o clivo é o mais distante de sua saída do crânio através da fissura orbital superior. Durante
seu trajeto intradural, faz uma curva aguda sobre a crista da parte petrosa do temporal e depois atravessa o seio cavernoso,
circundado pelo sangue venoso, da mesma forma que a artéria carótida interna, a qual segue paralelamente no seio. O NC VI
atravessa o anel tendíneo comum quando entra na órbita (ver Capítulo 7), seguindo sobre e penetrando a face medial do
músculo reto lateral, que abduz a pupila.
Pontos-chave
NERVO ABDUCENTE
♦ Os nervos abducentes (NC VI) conduzem fibras motoras somáticas para os músculos retos laterais dos bulbos dos olhos.
♦ Os nervos originam-se da ponte, perfuram a dura-máter no clivo, atravessam o seio cavernoso e as fissuras orbitais
superiores e entram nas órbitas.
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NERVO FACIAL (NC VII)
Funções:Sensitivo — sensitivo especial (paladar) e sensitivo somático (geral). Motor — motor somático (branquial) e motor
visceral (parassimpático). Também conduz fibras proprioceptivas dos músculos que inerva.
Núcleos: O núcleo motor do nervo facial é um núcleo branquiomotor na parte ventrolateral da ponte (Figura 9.5). Os
corpos celulares dos neurônios sensitivos primários estão situados no gânglio geniculado (Figura 9.10B). Os prolongamentos
centrais dos neurônios associados ao paladar terminam nos núcleos do trato solitário no bulbo. Os prolongamentos daqueles
relacionados com a sensibilidade geral (dor, tato e temperatura) da região ao redor da orelha externa terminam no núcleo
espinal do nervo trigêmeo (Figura 9.5).
O nervo facial (NC VII) emerge da junção da ponte com o bulbo como duas divisões: a raiz motora e o nervo intermédio.
A raiz motora, maior (nervo facial propriamente dito), inerva os músculos da expressão facial, e o nervo intermédio, menor,
conduz fibras sensitivas somáticas, parassimpáticas e do paladar. Durante seu trajeto, NC VII atravessa a fossa posterior do
crânio, o meato acústico interno, o canal facial, o forame estilomastóideo do temporal e a glândula parótida. Após atravessar o
meato acústico interno, o nervo prossegue por uma curta distância anteriormente no temporal e depois faz uma volta abrupta
posteriormente para seguir ao longo da parede medial da cavidade timpânica. A curva aguda, o joelho do nervo facial,é o
local do gânglio geniculado, gânglio sensitivo do NC VII (Figura 9.10). Ao atravessar o temporal dentro do canal facial, NC
VII dá origem ao:
Nervo petroso maior
Nervo para o músculo estapédio
Nervo corda do tímpano.
Em seguida, após percorrer o mais longo trajeto intraósseo de todos os nervos cranianos, NC VII emerge do crânio
através do forame estilomastóideo; dá origem ao ramo auricular posterior; entra na glândula parótida; e forma o plexo
intraparotídeo, que dá origem aos seguintes cinco ramos motores terminais: temporal, zigomático, bucal, marginal da
mandíbula e cervical.
Motor somático (branquial)
Como nervo do 2
o arco faríngeo, o nervo facial supre músculos estriados derivados de seu mesoderma, principalmente os
músculos da expressão facial e os músculos da orelha. Também supre os ventres posteriores dos músculos digástrico, estilohióideo
e estapédio.
Motor visceral (parassimpático)
A Figura 9.11 mostra a distribuição motora visceral (parassimpática) do nervo facial. NC VII envia fibras parassimpáticas pré-
ganglionares para o gânglio pterigopalatino, para inervação das glândulas lacrimais, e para o gânglio submandibular, para
inervação das glândulas salivares sublinguais e submandibulares. O gânglio pterigopalatino está associado ao nervo maxilar
(NC V2
), que distribui suas fibras pós-ganglionares, enquanto o gânglio submandibular está associado ao nervo mandibular
(NC V3
). As principais características dos gânglios parassimpáticos supridos pelo nervo facial e outros nervos cranianos estão
resumidas na Figura 9.4 e no Quadro 9.3. As fibras parassimpáticas fazem sinapse nesses gânglios, enquanto as fibras
simpáticas e outras os atravessam.
Sensitivo somático (geral)
Algumas fibras do gânglio geniculado suprem uma pequena área da pele da concha da orelha, perto do meato acústico
externo.
Sensitivo especial (paladar)
As fibras conduzidas pelo nervo corda do tímpano se unem ao nervo lingual do NC V3 para conduzir a sensibilidade gustativa
dos dois terços anteriores da língua e do palato mole (Figura 9.10).
Figura 9.10 Distribuição do nervo facial (NC VII). A. O nervo facial in situ mostra o trajeto intraósseo e ramos. B. Distribuição
das fibras do nervo facial. Observe que NC VII supre (1) inervação motora somática (branquial) (azul) para derivados do 2
o arco
faríngeo (músculos da expressão facial, inclusive os músculos auricular e occipitofrontal, além do músculo estapédio e dos ventres
posteriores do músculo digástrico e estilo-hióideo); (2) fibras sensitivas especiais (paladar) e parassimpáticas pré-ganglionares
(secretomotoras) (verde) para a região anterior da língua e o gânglio submandibular através do nervo corda do tímpano; e (3) fibras
parassimpáticas pré-ganglionares (secretomotoras) (roxo) para o gânglio pterigopalatino via nervo petroso maior.
Figura 9.11 Inervação parassimpática envolvendo o NC VII. A. Inervação da glândula lacrimal. B. Inervação das glândulas
submandibular e sublingual.
Pontos-chave
NERVO FACIAL
♦ Os nervos faciais (NC VII) enviam fibras motoras para os músculos estapédio, ventre posterior do músculo digástrico,
estilo-hióideo, faciais e do couro cabeludo. ♦ Também enviam fibras parassimpáticas pré-ganglionares através do nervo
intermédio (raiz menor do NC VII) destinadas aos gânglios pterigopalatino e submandibular através dos nervos petroso
maior e corda do tímpano, respectivamente. ♦ NC VII é sensitivo para parte da pele do meato acústico externo e, através do
nervo intermédio, é sensitivo para o paladar dos dois terços anteriores da língua e o palato mole. ♦ NC VII origina-se da
margem posterior da ponte e atravessa o meato acústico interno e o canal facial na parte petrosa do temporal. ♦ NC VII sai
através do forame estilomastóideo; seu principal tronco forma o plexo nervoso intraparotídeo.
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NERVO VESTIBULOCOCLEAR (NC VIII)
Funções: Sensitivo especial (aferente somático especial) — isto é, o sentido especial da audição, do equilíbrio e do movimento
(aceleração/desaceleração).
Núcleos: Os núcleos vestibulares estão localizados na junção da ponte e do bulbo na parte lateral do assoalho do quarto
ventrículo; os núcleos cocleares anterior e posterior estão no bulbo (Figura 9.5).
O nervo vestibulococlear (NC VIII) emerge da junção da ponte e do bulbo e entra no meato acústico interno (Figuras
9.2 e 9.3). Aí divide-se nos nervos vestibular e coclear (Figura 9.12).
O nervo vestibular é formado pelos prolongamentos centrais de neurônios bipolares no gânglio vestibular. Os
prolongamentos periféricos dos neurônios estendem-se até as máculas do utrículo e sáculo (sensíveis à aceleração
linear e à força da gravidade em relação à posição da cabeça) e até as cristas ampulares dos ductos semicirculares
(sensíveis à aceleração rotacional)
O nervo coclear é formado pelos prolongamentos centrais dos neurônios bipolares no gânglio espiral da cóclea; os
prolongamentos periféricos dos neurônios estendem-se até o órgão espiral para prover o sentido da audição.
Figura 9.12 Nervo vestibulococlear (NC VIII). A. A face interna da base do crânio mostra a localização do labirinto ósseo da
orelha interna no temporal. B. Esta vista dos labirintos ósseo e membranáceo mostra (1) inervação da cóclea pelo nervo coclear
do NC VIII para o sentido da audição e (2) inervação do aparelho vestibular pelo nervo vestibular do NC VIII para equilíbrio e
movimento.
No meato acústico interno, as duas divisões do NC VIII são acompanhadas pela raiz motora e pelo nervo intermédio do
NC VII e pela artéria do labirinto (ver Capítulo 7).
Pontos-chave
NERVO VESTIBULOCOCLEAR
♦ Os nervos vestibulococleares (NC VIII) conduzem fibras relacionadas com os sentidos especiais da audição, do equilíbrio e
do movimento. ♦ Os nervos originam-se do sulco entre a ponte e o bulbo. ♦ Atravessam o meato acústico interno e dividemse
nos nervos coclear e vestibular. ♦ O nervo coclear é sensitivo para o órgão espiral (para o sentido da audição). ♦ O nervo
vestibular é sensitivo para as cristas ampulares dos ductos semicirculares e as máculas do sáculo e utrículo (para o sentido do
equilíbrio e movimento).
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NERVO GLOSSOFARÍNGEO (NC IX)
Funções: Sensitivo — sensitivo somático (geral), sensitivo especial (paladar) e sensitivo visceral. Motor — motor somático
(branquial) e motor visceral (parassimpático) para derivados do 3
o arco faríngeo.
Núcleos: Quatro núcleos no bulbo enviam ou recebem fibras via NC IX: dois motores (núcleo ambíguo e núcleo
salivatório inferior) e dois sensitivos (núcleos principais do nervo trigêmeo [NC V] e núcleos do trato solitário). Três
desses núcleos (em itálico) são compartilhados com o NC X (Figura 9.5).
O nervo glossofaríngeo (NC IX) emerge da face lateral do bulbo, segue anterolateralmente e deixa o crânio através da
face anterior do forame jugular (Figuras 9.13 e 9.14). Neste forame estão os gânglios sensitivos superior e inferior do NC
IX, que contêm os corpos celulares pseudounipolares para os componentes aferentes do nervo. NC IX segue o músculo
estilofaríngeo, o único que o nervo supre, e passa entre os músculos constritores superior e médio da faringe para chegar à
parte oral da faringe e à língua. Envia fibras sensitivas para o plexo faríngeo de nervos. NC IX é aferente da língua e faringe
(daí seu nome) e eferente para o músculo estilofaríngeo e a glândula parótida.
Motor somático (branquial)
As fibras motoras seguem para o músculo estilofaríngeo, derivado do 3
o arco faríngeo.
Motor visceral (parassimpático)
Seguindo um trajeto tortuoso que inicialmente inclui o nervo timpânico, fibras parassimpáticas pré-ganglionares são levadas ao
gânglio ótico para inervação da glândula parótida (Figura 9.15). O gânglio ótico está associado ao nervo mandibular (NC V3
),
cujos ramos conduzem as fibras parassimpáticas pós-ganglionares para a glândula parótida.
Sensitivo somático (geral)
Os ramos sensitivos gerais do NC IX são os seguintes (Figura 9.13):
Nervo timpânico
Nervo do seio carótico para o seio carótico, um baro/pressorreceptor sensível a alterações na pressão arterial, e para o
glomo carótico, um quimiorreceptor sensível aos gases do sangue (níveis de oxigênio e dióxido de carbono)
Nervos faríngeo, tonsilar e lingual para a túnica mucosa da parte oral da faringe e istmo das fauces, inclusive a tonsila
palatina, o palato mole e o terço posterior da língua. Além da sensibilidade geral (tato, dor, temperatura), os estímulos
táteis (reais ou ameaças) considerados incomuns ou desagradáveis podem provocar ânsia de vômito ou até mesmo vômito.
Sensitivo especial (paladar)
Fibras gustativas são conduzidas do terço posterior da língua até os gânglios sensitivos inferiores do NC IX (Figura 9.14). A
Figura 9.13 apresenta detalhes sobre a distribuição do NC IX.
Pontos-chave
NERVO GLOSSOFARÍNGEO
♦ O nervo glossofaríngeo (NC IX) envia fibras motoras somáticas para o músculo estilofaríngeo e fibras motoras viscerais
(parassimpáticas pré-ganglionares) para o gânglio ótico para inervação da glândula parótida. ♦ Também envia fibras
sensitivas para o terço posterior da língua (incluindo paladar), faringe, cavidade timpânica, tuba auditiva, glomo e seio
caróticos. ♦ Os nervos originam-se da extremidade rostral do bulbo e saem do crânio através dos forames jugulares.
♦ Seguem entre os músculos constritores superior e médio da faringe até a fossa tonsilar e entram no terço posterior da
língua.
Figura 9.13 Distribuição do nervo glossofaríngeo (NC IX). A. NC IX é motor para um músculo estriado da faringe, o
estilofaríngeo. Também conduz fibras sensitivas do glomo e do seio caróticos, levando informações sobre pressão arterial e níveis
de gases, bem como sensibilidade somática (geral) da orelha interna, faringe e fauces, e gustativa da parte posterior da língua. B.
O componente parassimpático do NC IX leva fibras secretoras pré-ganglionares para o gânglio ótico; as fibras pós-ganglionares
seguem até a glândula parótida através do nervo auriculotemporal (NC V3
).
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NERVO VAGO (NC X)
Funções: Sensitivo — sensitivo somático (geral), sensitivo especial (paladar), sensitivo visceral. Motor — motor somático
(branquial) e motor visceral (parassimpático).
Sensitivo somático (geral) na parte inferior da faringe e na laringe
Sensitivo visceral nos órgãos torácicos e abdominais
Paladar e sensibilidade somática (geral) a partir da raiz da língua e dos calículos gustatórios na epiglote. Ramos do nervo
laríngeo interno (um ramo do NC X) suprem uma pequena área, principalmente sensitivos somáticos (geral), mas também
responsável por alguma sensibilidade especial (paladar)
Motor somático (branquial) para o palato mole; faringe; músculos intrínsecos da laringe (fonação); e um músculo
extrínseco nominal da língua, o palatoglosso, que é, na verdade, um músculo palatino com base em sua derivação e
inervação
Proprioceptivo para os músculos citados anteriormente
Motor visceral (parassimpático) para as vísceras torácicas e abdominais.
Núcleos:Sensitivos — núcleo principal do nervo trigêmeo (sensitivo somático) e núcleos do trato solitário (paladar e
sensitivo visceral). Motores — núcleo ambíguo (motor somático [branquial]) e núcleo posterior do nervo vago (motor
visceral [parassimpático]) (Figura 9.5).
Figura 9.14 Relação das estruturas que atravessam o forame jugular. NC IX, NC X e NC XI estão, em ordem numérica,
anteriores à veia jugular interna ao atravessarem o forame. Situam-se imediatamente posteriores à artéria carótida interna quando
emergem dela. Os gânglios sensitivos superior e inferior do NC IX e NC X são observados como espessamentos desses nervos
imediatamente inferiores à sua saída do crânio.
O nervo vago (NC X) tem o trajeto mais longo e a distribuição mais extensa de todos os nervos cranianos, na sua maior
parte fora da (inferiormente à) cabeça. O termo vago é derivado do latim vagari que significa “errante”. NC X foi assim
denominado devido à sua extensa distribuição (Quadro 9.5). Origina-se por uma série de radículas da face lateral do bulbo que
se fundem e deixam o crânio através do forame jugular posicionado entre o NC IX e o NC XI (Figuras 9.14 e 9.16).
O que antigamente era denominado “raiz craniana do nervo acessório” é, na verdade, uma parte do NC X (Figura 9.17).
NC X tem um gânglio superior no forame jugular que está relacionado principalmente ao componente sensitivo geral do
nervo. Inferiormente ao forame há um gânglio inferior (gânglio nodoso) associado aos componentes sensitivos especiais e
viscerais do nervo (Figura 9.14). Na região do gânglio superior há conexões para o NC IX e para o gânglio cervical superior
(simpático). NC X continua inferiormente na bainha carótica até a raiz do pescoço (ver Capítulo 8), enviando ramos para o
palato, a faringe e a laringe (Figura 9.16; Quadro 9.5).
Os trajetos dos nervos vagos são assimétricos no tórax, uma consequência da rotação do intestino médio durante o
desenvolvimento (ver Capítulos 1 e 2). NC X envia ramos para o coração, os brônquios e os pulmões. Os nervos vagos
formam troncos vagais anterior e posterior que são continuações do plexo esofágico situado ao redor do esôfago, que
também recebe ramos dos troncos simpáticos. O tronco passa com o esôfago através do diafragma até o abdome, onde os
troncos vagais dividem-se em ramos que inervam o estômago e o sistema digestório até a flexura esquerda do colo.
Pontos-chave
NERVO VAGO
♦ Os nervos vagos (NC X) enviam fibras motoras para os músculos voluntários da laringe e da parte superior do esôfago.
♦ Também enviam fibras motoras viscerais (parassimpáticas pré-ganglionares) para os músculos involuntários e glândulas da:
(1) árvore traqueobronquial e esôfago através dos plexos pulmonar e esofágico, (2) o coração através do plexo cardíaco e (3)
o sistema digestório até a flexura esquerda do colo via troncos vagais. ♦ Os nervos vagos também enviam fibras sensitivas
para a faringe, laringe e vias aferentes reflexas dessas mesmas áreas. ♦ Originam-se de 8 a 10 radículas nas faces laterais do
bulbo do tronco encefálico. Entram no mediastino superior posteriormente às articulações esternoclavicular e veias
braquiocefálicas. ♦ Os nervos dão origem aos nervos recorrentes direito e esquerdo e, então, a partir do plexo esofágico,
transformam-se nos troncos vagais anterior e posterior, que continuam até o abdome.
Figura 9.15 Inervação parassimpática do nervo glossofaríngeo (NC IX). NC IX envia fibras parassimpáticas pré-ganglionares
(secretomotoras) para o gânglio ótico por uma via contorcida; as fibras pós-ganglionares seguem do gânglio até a glândula
parótida via nervo auriculotemporal (Figura 9.13B).
NERVO ACESSÓRIO (NC XI)
Funções: Motor somático para os músculos esternocleidomastóideo e trapézio.
Núcleos: O nervo acessório origina-se do núcleo do nervo acessório, uma coluna de neurônios motores do corno anterior
nos cinco ou seis segmentos cervicais superiores da medula espinal (Figura 9.5).
A tradicional “raiz craniana” do NC XI é, na verdade, uma parte do NC X (Lachman et al., 2002). Pode apresentar-se
unida por uma curta distância ao nervo acessório (NC XI) (Figura 9.17). NC XI emerge como uma série de radículas dos
cinco ou seis primeiros segmentos cervicais da medula espinal. Une-se ao NC X temporariamente durante a travessia do
forame jugular, separando-se novamente depois que saem (Figura 9.14). NC XI desce ao longo da artéria carótida interna,
penetra o músculo esternocleidomastóideo e o inerva, e emerge do músculo perto do meio de sua margem posterior. A seguir,
NC XI cruza a região cervical posterior e passa profundamente à margem superior do trapézio para descer sobre sua face
profunda, enviando vários ramos para o músculo. Os ramos do plexo cervical que conduzem fibras sensitivas dos nervos
espinais C2–C4 unem-se ao nervo acessório na região cervical posterior, dotando esses músculos de fibras álgicas e
proprioceptivas.
Pontos-chave
NERVO ACESSÓRIO
♦ Os nervos acessórios (NC XI) enviam fibras motoras somáticas para os músculos esternocleidomastóideo e trapézio. ♦ Os
nervos originam-se como radículas das laterais da medula espinal nos cinco ou seis segmentos cervicais superiores. ♦
Ascendem até a cavidade craniana através do forame magno e saem através dos forames jugulares, cruzando a região
cervical lateral, onde as fibras proprioceptivas e para dor do plexo cervical se juntam aos nervos.
NERVO HIPOGLOSSO (NC XII)
Funções: Motor somático para os músculos intrínsecos e extrínsecos da língua — estiloglosso, hioglosso e genioglosso.
Quadro 9.5 Resumo do nervo vago (NC X).
Divisões (partes) Ramos
Craniana
Os nervos vagos originam-se por uma série de radículas do
bulbo (inclui a raiz craniana tradicional do NC XI)
Ramo meníngeo para a dura-máter (sensitivo; na verdade,
fibras de neurônios do gânglio espinal de C2 que seguem
junto com o N. vago)
Ramo auricular
Cervical
Sai do crânio/entra no pescoço através do forame jugular; os
Nn. vagos direito e esquerdo entram nas bainhas caróticas e
continuam até a raiz do pescoço
Ramos faríngeos para o plexo faríngeo (motores)
Ramos cardíacos cervicais (parassimpáticos, aferentes
viscerais)
N. laríngeo superior (misto), ramos internos (sensitivos) e
externos (motores)
N. laríngeo recorrente direito (misto)
Torácica
Os nervos vagos entram no tórax através da abertura superior
do tórax; o N. vago esquerdo contribui para o plexo
esofágico anterior; o N. vago direito, para o plexo posterior;
formam os troncos anterior e posterior
N. laríngeo recorrente esquerdo (misto; todos os ramos distais
conduzem fibras parassimpáticas e aferentes viscerais para
estímulos reflexos)
Ramos cardíacos torácicos
Ramos pulmonares
Plexo esofágico
Abdominal
Os troncos vagais anterior e posterior entram no abdome
através do hiato esofágico no diafragma; distribuem-se
assimetricamente
Ramos esofágicos
Ramos gástricos
Ramos hepáticos
Ramos celíacos (do tronco vagal posterior)
Ramo pilórico (do tronco vagal anterior)
Ramos renais
Ramos intestinais (para a flexura esquerda do colo)
Figura 9.16 Distribuição do nervo vago (NC X). Após dar origem aos ramos palatino, faríngeo e laríngeo, NC X desce até o
tórax. Os nervos laríngeos recorrentes ascendem até a laringe, o esquerdo a partir de um nível inferior (torácico). No abdome, os
troncos vagais anterior e posterior mostram assimetria ainda maior ao inervarem a parte terminal do esôfago, estômago e trato
intestinal distalmente até a flexura esquerda do colo.
Figura 9.17 Distribuição do nervo acessório (NC XI).
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Figura 9.18 Distribuição do nervo hipoglosso (NC XII). NC XII deixa o crânio através do canal do nervo hipoglosso e passa
profundamente à mandíbula para entrar na língua, onde supre todos os músculos intrínsecos e extrínsecos da língua, exceto o
palatoglosso. NC XII recebe, imediatamente distal ao canal do nervo hipoglosso, um ramo que conduz fibras da alça de C1 e C2
do plexo cervical. Essas fibras seguem junto com o NC XII, deixando-o como a raiz superior da alça cervical e o nervo para o
músculo tireo-hióideo. Os nervos espinais cervicais, não o NC XII, suprem os músculos infra-hióideos.
O nervo hipoglosso(NC XII) origina-se do bulbo como um nervo exclusivamente motor por meio de várias radículas e
deixa o crânio através do canal do nervo hipoglosso (Figuras 9.2 e 9.3). Após sair da cavidade craniana, NC XII se une a um
ramo ou ramos do plexo cervical que conduzem fibras motoras somáticas gerais dos nervos espinais C1 e C2 e fibras
sensitivas somáticas (gerais) do gânglio sensitivo espinal de C2 (Figura 9.18). Essas fibras nervosas espinais “pegam carona”
com o NC XII para chegar aos músculos hióideos, e algumas das fibras sensitivas seguem retrogradamente para chegar à
dura-máter da fossa posterior do crânio (ver Figura 8.13B). NC XII segue inferiormente, medial ao ângulo da mandíbula, e
depois se curva anteriormente para entrar na língua (Figura 9.18).
NC XII termina em muitos ramos que suprem todos os músculos extrínsecos da língua, exceto o palatoglosso (que é na
verdade um músculo palatino). NC XII tem os seguintes ramos:
Um ramo meníngeo etorna ao crânio através do canal do nervo hipoglosso e inerva a dura-máter no assoalho e parede
posterior da fossa posterior do crânio. As fibras nervosas conduzidas são do gânglio sensitivo do nervo espinal C2, não
sendo, portanto, fibras do nervo hipoglosso
A raiz superior da alça cervical ramifica-se do NC XII para suprir os músculos infra-hióideos (esterno-hióideo,
esternotireóideo e omo-hióideo). Na verdade, esse ramo conduz apenas fibras do plexo cervical (a alça entre os ramos
anteriores de C1 e C2) que se uniram ao nervo fora da cavidade craniana, não às fibras do nervo hipoglosso (Figura 9.18).
Algumas fibras continuam além da origem da raiz superior para chegar ao músculo tíreo-hióideo
Os ramos linguais terminais suprem os músculos estiloglosso, hioglosso, genioglosso e intrínsecos da língua.
Pontos-chave
NERVO HIPOGLOSSO
♦ Os nervos hipoglossos (NC XII) enviam fibras motoras somáticas para os músculos intrínsecos e extrínsecos da língua, com
exceção do palatoglosso (na verdade, um músculo do palato).
♦ Originam-se por várias radículas entre as pirâmides e as olivas do bulbo. ♦ Atravessam os canais dos nervos hipoglossos e
seguem inferior e anteriormente, passando medialmente aos ângulos da mandíbula e entre os músculos milo-hióideo e hipoglosso
para chegar aos músculos da língua.
NERVOS CRANIANOS
Lesões dos nervos cranianos
O Quadro 9.6 resume algumas lesões comuns dos nervos cranianos, indicando o tipo ou local de lesão e os achados
anormais. A lesão dos nervos cranianos é uma complicação frequente da fratura na base do crânio. Além disso, o
movimento excessivo do encéfalo no crânio pode causar ruptura ou contusão das fibras dos nervos cranianos,
sobretudo do NC I. A paralisia dos nervos cranianos causada por traumatismo geralmente pode ser detectada assim que o
estado de consciência do paciente permitir (Brannagan et al., 2010); entretanto, em algumas pessoas, a paralisia pode ser
evidente só após alguns dias.
Em vista de sua localização dentro da cavidade craniana fechada, das posições relativamente fixas e, às vezes, das relações
próximas com estruturas ósseas ou vasculares, as partes intracranianas de alguns nervos cranianos também são suscetíveis à
compressão por um tumor ou aneurisma. Nesses casos, o início dos sintomas geralmente é gradual, e os efeitos dependem
do grau de pressão exercida. Por causa de sua proximidade com o seio cavernoso, NC III, NC IV, NC V1 e principalmente NC
VI são suscetíveis à compressão ou lesão relacionada a doenças (infecções, tromboflebites) do seio.
NERVO OLFATÓRIO
Anosmia | Perda do olfato
Muitas vezes a perda do olfato (anosmia) está associada a infecções respiratórias altas, doenças dos seios paranasais
e traumatismo craniano. Há perda de fibras olfatórias com o envelhecimento. Consequentemente, não raro as
pessoas idosas têm redução da acuidade olfativa, resultante da diminuição progressiva do número de neurônios
receptores olfatórios no epitélio olfatório. A principal queixa da maioria das pessoas com anosmia é perda ou alteração do
paladar; entretanto, estudos clínicos mostram que quase todas as pessoas têm disfunção do sistema olfatório (Simpson,
2006). A razão é que a maioria das pessoas confunde paladar com sabor. O comprometimento olfatório transitório é
decorrente de inflamação da túnica mucosa nasal — rinite alérgica ou viral.
Para avaliar o olfato, a pessoa é vendada e convidada a identificar odores comuns, como café recém-moído colocado perto
das narinas. Uma narina é ocluída e os olhos são fechados. Como a anosmia costuma ser unilateral, cada narina é testada
separadamente. A perda do olfato unilateral pode não ser percebida sem exame clínico.
A lesão da túnica mucosa nasal, das fibras nervosas olfatórias, dos bulbos olfatórios ou dos tratos olfatórios também pode
comprometer o olfato. Nos traumatismos cranianos graves, pode haver separação dos bulbos olfatórios e nervos olfatórios,
ou algumas fibras nervosas olfatórias podem se romper quando atravessam uma lâmina cribriforme fraturada. A ruptura de
todos os feixes nervosos de um lado causa perda completa do olfato naquele lado; consequentemente, a anosmia pode ser
um sinal de fratura da base do crânio e rinorreia liquórica (perda de líquido cerebroespinal através do nariz).
Um tumor e/ou abscesso no lobo frontal do encéfalo ou um tumor das meninges (meningioma) na fossa anterior do
crânio também pode causar anosmia por compressão do bulbo e/ou trato olfatório (Bruce et al., 2010).
Quadro 9.6 Resumo das lesões dos nervos cranianos.
Nervo Tipo(s) e/ou local(is) de lesão Achado(s) anormal(is)
NC I Fratura da lâmina cribriforme Anosmia (perda do olfato); rinorreia liquórica
NC II
Traumatismo direto da órbita ou do bulbo do
olho; fratura com acometimento do canal
óptico
Perda da constrição pupilar
Compressão da via óptica; laceração ou
coágulo intracerebral nos lobos temporal,
parietal ou occipital do encéfalo
Defeitos do campo visual
NC III
Compressão pelo unco herniado sobre o
nervo; fratura envolvendo o seio cavernoso;
aneurismas
Pupila dilatada; ptose; o olho gira para baixo
e para fora; não há reflexo pupilar no lado da
lesão
NC IV
Estiramento do nervo durante seu trajeto ao
redor do tronco encefálico; fratura da órbita
Incapacidade de olhar para baixo quando o
olho é aduzido
Lesão dos ramos terminais (sobretudo NC V2)
Perda das sensibilidades álgica e tátil;
parestesia; os Mm. masseter e temporal não
NC V
no teto do seio maxilar; processos patológicos
que afetam o gânglio trigeminal
se contraem; desvio da mandíbula para o lado
da lesão quando a boca é aberta
NC VI
Base do encéfalo ou fratura com
acometimento do seio cavernoso ou da órbita
O olho não se move lateralmente; diplopia ao
olhar lateralmente
NC VII
Laceração ou contusão na região parotídea
Paralisia dos músculos faciais; o olho
permanece aberto; queda do ângulo da boca;
a fronte não se enruga
Fratura do temporal
Iguais aos citados acima, além do
acometimento associado dos nervos coclear e
corda do tímpano; ressecamento da córnea;
perda do paladar nos dois terços anteriores da
língua
Hematoma intracraniano (“acidente vascular
cerebral”)
A fronte enruga devido à inervação bilateral
do músculo frontal; caso contrário, há
paralisia dos músculos faciais contralaterais
NC VIII Tumor do nervo (neuroma do acústico) Perda auditiva unilateral progressiva; tinido
NC IX
Lesão do tronco encefálico ou laceração
profunda do pescoço
Perda do paladar no terço posterior da língua;
perda da sensibilidade no lado afetado do
palato mole
NC X
Lesão do tronco encefálico ou laceração
profunda do pescoço
Flacidez do palato mole; desvio da úvula para
o lado normal; rouquidão devido à paralisia
da prega vocal
NC XI Laceração do pescoço
Paralisia do M. esternocleidomastóideo e das
fibras superiores do M. trapézio; queda do
ombro
NC XII
Laceração do pescoço; fraturas da base do
crânio
A língua, ao ser protraída, desvia-se para o
lado afetado; disartria moderada (distúrbio da
articulação)
Alucinações olfatórias
Às vezes pode haver alucinações olfatórias (falsas percepções do olfato) associadas a lesões no lobo temporal do
hemisfério cerebral. Uma lesão que irrite a área olfatória lateral (profundamente ao unco) pode causar epilepsia do
lobo temporal ou “convulsões do uncinado”, que são caracterizadas por odores desagradáveis imaginários e
movimentos involuntários dos lábios e da língua.
NERVO ÓPTICO
Doenças desmielinizantes e nervo óptico
Como os nervos ópticos são, na verdade, tratos do SNC, a bainha de mielina que circunda as fibras sensitivas a partir
do ponto no qual as fibras penetram a esclera é formada por oligodendrócitos (células gliais) e não por células de
neurolema (Schwann), como em outros nervos cranianos ou espinais da parte periférica do sistema nervoso.
Consequentemente, os nervos ópticos são suscetíveis aos efeitos das doenças desmielinizantes do SNC, como a esclerose
múltipla (EM), que não costumam afetar outros nervos da parte parassimpática do sistema nervoso.
Neurite óptica
A neurite óptica refere-se a lesões do nervo óptico que causam diminuição da acuidade visual, com ou sem alterações
dos campos visuais periféricos (Brannagan et al., 2010). A neurite óptica pode ser causada por distúrbios
•
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inflamatórios, degenerativos, desmielinizantes ou tóxicos. O disco óptico parece pálido e menor do que o habitual ao exame
oftalmoscópico. Muitas substâncias tóxicas (p. ex., alcoóis metílico e etílico, tabaco, chumbo e mercúrio) também podem lesar
o nervo óptico.
Figura B9.1
Defeitos do campo visual
Os defeitos do campo visual resultam de lesões que afetam diferentes partes da via visual. O tipo de defeito depende
do local de interrupção da via (Figura B9.1):
A secção completa de um nervo óptico resulta em cegueira nos campos visuais temporal (T) e nasal (N) do olho
ipsolateral (representados em preto)
A secção completa do quiasma óptico reduz a visão periférica e resulta em hemianopsia bitemporal, a perda da visão de
metade do campo visual de ambos os olhos
A secção transversa completa do trato óptico direito elimina a visão dos campos visuais temporal esquerdo e nasal direito.
Uma lesão do trato óptico direito ou esquerdo causa hemianopsia homônima contralateral, indicando que a perda visual
ocorre em campos semelhantes. Esse defeito é a forma mais comum de perda do campo visual e é observado com
frequência em pacientes que sofreram acidentes vasculares cerebrais (Swartz, 2009).
Os defeitos visuais decorrentes da compressão da via óptica, que pode ser causada por tumores da hipófise ou aneurismas
saculares das artérias carótidas internas (ver Capítulo 7), podem provocar apenas parte das perdas visuais descritas aqui. Os
pacientes podem só perceber as alterações dos campos visuais numa fase avançada da doença, porque as lesões que afetam
a via visual costumam ser insidiosas.
NERVO OCULOMOTOR
Lesão do nervo oculomotor
A lesão do NC III resulta em paralisia oculomotora ipsilateral, resumida no Quadro 9.6 e discutida em detalhes no
Capítulo 7.
Compressão do nervo oculomotor
Muitas vezes o rápido aumento da pressão intracraniana (p. ex., resultante de um hematoma extradural) comprime o
NC III contra a crista da parte petrosa do temporal. Por serem superficiais, as fibras autônomas do NC III são
afetadas primeiro. Consequentemente, há dilatação progressiva da pupila no lado lesado. Assim, o primeiro sinal de
compressão do NC III é a lentidão ipsilateral da reação pupilar à luz.
Aneurisma da artéria cerebral posterior ou da artéria cerebelar superior
Um aneurisma da artéria cerebral posterior ou da artéria cerebelar superior também pode comprimir o NC III quando
este passa entre esses vasos. Os efeitos dessa pressão dependem de sua intensidade. Como o NC III está na parede
lateral do seio cavernoso, as lesões ou infecções do seio também podem afetar esse nervo.
NERVO TROCLEAR
Raramente há paralisia apenas do NC IV. As lesões do nervo troclear ou de seu núcleo causam paralisia do músculo
oblíquo superior e comprometem a rotação inferomedial do bulbo do olho afetado. NC IV pode se romper nas lesões
cranianas graves em razão de seu longo trajeto intracraniano. O sinal característico da lesão do nervo troclear é a
diplopia (visão dupla) ao olhar para baixo. A diplopia ocorre porque o músculo oblíquo superior normalmente auxilia o
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músculo reto inferior a abaixar a pupila (direcionando o olhar para baixo) e é o único músculo a fazê-lo quando a pupila é
aduzida. Além disso, como o músculo oblíquo superior é o músculo primário que produz intorção do bulbo do olho, não há
oposição ao músculo primário que produz a extorção (o oblíquo inferior) em caso de paralisia do músculo oblíquo superior.
Assim, a direção do olhar e a rotação do bulbo do olho em torno de seu eixo anteroposterior é diferente para os dois olhos
quando se faz uma tentativa de olhar para baixo e, sobretudo, ao olhar para baixo e medialmente. A pessoa pode compensar
a diplopia inclinando a cabeça anterior e lateralmente em direção ao lado do olho normal.
NERVO TRIGÊMEO
Lesão do nervo trigêmeo
NC V pode ser lesado por traumatismo, tumores, aneurismas ou infecções meníngeas (Brannagan et al., 2010). Às
vezes é acometido na poliomielite e na polineuropatia generalizada, uma doença que afeta vários nervos. Os núcleos
sensitivos e motores na ponte e no bulbo podem ser destruídos por tumores intrabulbares ou lesões vasculares. A
esclerose múltipla (EM) também pode causar lesão isolada do trato trigeminal espinal. A lesão do NC V causa:
Paralisia dos músculos da mastigação com desvio da mandíbula para o lado da lesão (Quadro 9.6)
Perda da capacidade de perceber sensações suaves táteis, térmicas ou dolorosas na face
Perda do reflexo corneano (piscar em resposta ao toque na córnea) e do reflexo de espirro (estimulado por irritantes para
limpar as vias respiratórias).
As causas comuns de dormência facial são traumatismo dentário, herpes-zoster oftálmico (infecção causada por um
herpes-vírus), traumatismo craniano, tumores da cabeça e pescoço, tumores intracranianos e neuropatia trigeminal idiopática
(uma doença nervosa de causa desconhecida).
A neuralgia do trigêmeo (tic douloureux), a principal doença que afeta a raiz sensitiva do NC V, provoca dor episódica,
excruciante que geralmente é restrita às áreas supridas pelas divisões maxilar e/ou mandibular desse nervo. (Esse distúrbio é
discutido em detalhes no Capítulo 7.)
Anestesia dentária
Agentes anestésicos são administrados habitualmente por injeção para evitar a dor durante procedimentos dentários.
NC V é muito importante na prática da odontologia porque é o nervo sensitivo da cabeça, servindo aos dentes e à
mucosa da cavidade oral. Como os nervos alveolares superiores (ramos de NC V2) não são acessíveis, os dentes
maxilares são anestesiados localmente injetando-se o agente nos tecidos que circundam as raízes dos dentes e permitindo a
infiltração da solução no tecido para chegar aos ramos nervosos terminais (dentários) que entram nas raízes. Em
contrapartida, o acesso ao nervo alveolar inferior (NC V3) é fácil e provavelmente esse nervo é anestesiado com maior
frequência do que qualquer outro. O procedimento é discutido no boxe azul “Bloqueio do nervo alveolar inferior,” no Capítulo
7.
NERVO ABDUCENTE
Como o NC VI tem um longo trajeto intradural, muitas vezes é distendido quando a pressão intracraniana aumenta,
em parte devido à curva aguda que faz sobre a crista da parte petrosa do temporal após entrar na dura-máter. Uma
lesão expansiva, como um tumor encefálico, pode comprimir o NC VI, causando paralisia do músculo reto lateral. A
paralisia completa do NC VI causa desvio medial do olho afetado — isto é, adução completa por causa da ação sem oposição
do músculo reto medial, deixando a pessoa incapaz de abduzir o olho. Há diplopia em todas as amplitudes de movimento do
bulbo do olho, exceto ao olhar para o lado oposto ao da lesão. A paralisia do NC VI também pode resultar de:
Um aneurisma do círculo arterial do cérebro (na base do encéfalo) (ver Capítulo 7)
Compressão pela artéria carótida interna aterosclerótica no seio cavernoso, onde há íntima relação entre o NC VI e essa
artéria
Trombose séptica do seio subsequente à infecção nas cavidades nasais e/ou seios paranasais.
NERVO FACIAL
Entre os nervos motores, NC VII é o nervo craniano que sofre paralisia com maior frequência. Dependendo da parte
do nervo envolvida, a lesão do NC VII pode causar paralisia dos músculos faciais sem perda do paladar nos dois
terços anteriores da língua, ou alteração da secreção das glândulas lacrimais e salivares.
A lesão do NC VII perto de sua origem ou perto do gânglio geniculado é acompanhada por perda das funções motoras,
gustativas (paladar) e autônomas. A paralisia motora dos músculos faciais acomete as partes superior e inferior ipsilaterais da
face.
A lesão central do NC VII (lesão do SNC) resulta em paralisia de músculos na região inferior contralateral da face;
consequentemente, não há comprometimento visível do enrugamento da fronte porque a inervação dessa região é bilateral.
As lesões entre o gânglio geniculado e a origem do nervo corda do tímpano provocam os mesmos efeitos que a lesão perto
do gânglio, exceto pelo fato de a secreção lacrimal não ser afetada. Como atravessa o canal facial no temporal, o NC VII é
vulnerável à compressão quando uma infecção viral causa inflamação (neurite viral) e edema do nervo logo antes de emergir
do forame estilomastóideo.
Como os ramos do NC VII são superficiais, estão sujeitos à lesão por armas brancas e projéteis de arma de fogo, cortes e
tocotraumatismos. A lesão do NC VII é comum na fratura do temporal e em geral é detectável imediatamente após a lesão.
NC VII também pode ser afetado por tumores do encéfalo e do crânio, aneurismas, infecções meníngeas e herpes-vírus.
Embora as lesões do NC VII causem paralisia dos músculos faciais, a perda de sensibilidade na pequena área de pele na face
posteromedial da orelha e ao redor da abertura do meato acústico externo é rara. Do mesmo modo, a audição geralmente
não é comprometida, mas a orelha pode tornar-se mais sensível a tons baixos quando o músculo estapédio (inervado pelo
NC VII) é paralisado; esse músculo reduz a vibração do estribo (ver Capítulo 7).
A paralisia de Bell é uma paralisia facial unilateral de início súbito resultante de lesão do NC VII. Essa síndrome é ilustrada
e discutida em detalhes no Capítulo 7.
NERVO VESTIBULOCOCLEAR
Lesões do nervo vestibulococlear
Embora os nervos vestibular e coclear sejam praticamente independentes, muitas vezes as lesões periféricas
provocam efeitos clínicos concomitantes devido à sua íntima relação. Portanto, as lesões do NC VIII podem causar
tinido, vertigem e comprometimento ou perda da audição. As lesões centrais podem acometer a divisão coclear ou
vestibular do NC VIII.
Surdez
Há dois tipos de perda auditiva: surdez de condução, que acomete a orelha externa ou média (p. ex., otite média,
inflamação da orelha média) e surdez neurossensorial, resultante de doença na cóclea ou na via desde a cóclea até o
encéfalo.
Neuroma do acústico
O neuroma do acústico (neurofibroma) é um tumor benigno de crescimento lento das células do neurolema
(Schwann). O tumor surge no nervo vestibular enquanto está no meato acústico interno. O sintoma inicial do
neuroma do acústico geralmente é a perda auditiva. Cerca de 70% dos pacientes apresentam desequilíbrio e tinido
(Bruce et al., 2010).
Trauma e vertigem
As pessoas que sofrem traumatismo craniano costumam apresentar cefaleia, tonteira, vertigem e outras
características de lesão pós-traumática. A vertigem é uma alucinação de movimento relacionada com a pessoa ou o
ambiente (Wazen, 2010). Em geral, causa sensação de rotação, mas pode ser percebida como um balanço para frente
e para trás ou queda. Essas manifestações, não raro acompanhadas por náusea e vômito, geralmente estão relacionadas com
lesão periférica do nervo vestibular.
NERVO GLOSSOFARÍNGEO
Lesões do nervo glossofaríngeo
Lesões isoladas do NC IX ou de seus núcleos são raras e não estão associadas a incapacidade perceptível (Brannagan
et al., 2010). O paladar está ausente no terço posterior da língua, e o reflexo do vômito está ausente no lado da
lesão. A fraqueza ipsilateral pode causar alteração perceptível à deglutição.
As lesões do NC IX resultantes de infecção ou tumores geralmente são acompanhadas por sinais de acometimento dos
nervos adjacentes. Como NC IX, NC X e NC XI atravessam o forame jugular, os tumores nessa região causam múltiplas
paralisias dos nervos cranianos, denominadas síndrome do forame jugular. A dor na distribuição do NC IX pode estar
associada ao acometimento do nervo em um tumor no pescoço.
Neuralgia do glossofaríngeo
A neuralgia do glossofaríngeo (tique do glossofaríngeo) é rara e sua causa é desconhecida. A intensificação súbita da
dor é do tipo queimação ou em punhalada. Muitas vezes essas crises de dor são iniciadas pela deglutição, protrusão
da língua, fala ou pelo toque na tonsila palatina (Brannagan et al., 2010). As crises de dor ocorrem durante a
alimentação, quando são estimuladas áreas-gatilho.
NERVO VAGO
Lesões isoladas do NC X são raras. A lesão dos ramos faríngeos do NC X causa disfagia (dificuldade à deglutição). As
lesões do nervo laríngeo superior provocam anestesia da parte superior da laringe e paralisia do músculo
cricotireóideo (ver Capítulo 8). A voz é fraca e cansa com facilidade. A lesão de um nervo laríngeo recorrente pode
ser causada por aneurismas do arco da aorta e pode ocorrer durante cirurgias do pescoço. A lesão do nervo laríngeo
recorrente causa rouquidão e disfonia (dificuldade para falar) secundária à paralisia das pregas vocais. A paralisia dos dois
nervos laríngeos recorrentes causa afonia (perda da voz) e estridor inspiratório (ruído respiratório rude e agudo). A paralisia
dos nervos laríngeos recorrentes geralmente é causada por câncer da laringe e tireoide e/ou por lesão durante cirurgia de
tireoide, pescoço, esôfago, coração e pulmões. Em vista de seu trajeto mais longo, as lesões do nervo laríngeo recorrente
esquerdo são mais comuns do que as do direito. As lesões proximais do NC X também afetam os nervos faríngeo e laríngeo
superior, causando dificuldade para deglutir e falar.
NERVO ACESSÓRIO
Em decorrência de sua passagem quase subcutânea através da região cervical posterior, pode ocorrer lesão
iatrogênica do NC XI durante procedimentos cirúrgicos como biopsia de linfonodos, canulação da veia jugular interna
e endarterectomia da carótida (ver Capítulo 8).
NERVO HIPOGLOSSO
A lesão do NC XII paralisa a metade ipsilateral da língua. Depois de algum tempo, ocorre atrofia da língua, fazendo-a
parecer retraída e enrugada. Ao protrair a língua, o ápice desvia-se em direção ao lado paralisado em consequência
da ação sem oposição do músculo genioglosso no lado normal da língua (ver Capítulo 7).